domingo, 26 de novembro de 2006

CESARINY vs O VIRGEM NEGRA





        
Mário Cesariny de Vasconcelos morreu de madrugada, Domingo, dia 26 de Novembro, em sua casa, em Lisboa, cerca das 5h30, aos 83 anos.
                                  
Fernando Martinho Guimarães, no blogue INCOMUNIDADE, criou-lhe um verbete bem humorado e informado também:
           
             

Cesariny, Mário. Mário Cesariny         


Verbete: Cesariny, Mário. Vasconcelos também. Poeta e pintor português, nascido em 1923, em Lisboa. Ex-futuro ourives, mestre de ofício que nunca se esforçou por ter. Vadio. Profundo conhecedor de costumes a quem Salazar garantia, a quem deles assiduamente frequentava, regulares visitas ao domicílio, num exercício real de policiamento de proximidade. Para relapsos e contumazes, facultava-se-lhes prolongadas estadas em dormitórios onde as palmadinhas nas costas do «tenha juízo e comporte-se» eram exercidas com a sofisticação que só alguns privilegiados mereciam. Aos costumes, a posteridade assegurará que disse nada. É mentira. Disse tudo. Os costumes é que não gostaram.


Assombrado e desassombrado, a Cesariny deu-lhe para ser poeta. E com isso o caso muda de figura. Ainda se lhe desse para laudas, vá que não vá, que mereceria láudano e, em assinando compromissos de que nada no seu versejar revelaria comprometimento, teria emprego garantido numa dependência terrestre do Espírito Santo, talvez mesmo a escrituração de rigorosos e objectivos almanaques sobre a felicidade de pertencer a essa grande família que se estendia do Minho a Timor.


Mas o raio do homem tinha o diabo no corpo. E vendo-se com um pau de grafite entre o polegar e o indicador logo lhe dava para conspurcar o que laboriosamente tinha sido construído em 2000 anos de História. À ruindade faz-se como à erva daninha ou ao lixo tóxico: elimina-se ou exporta-se. Na falta de co-incineração, amanda-se para fora «do Minho a Timor», que haverá uma altura em que se dirão loas de diásporas, de exílios tristes, de longos passeios ao correr do Sena e do Tamisa, nos quais, de cabeça baixa se diz pensativo, quando na realidade se fareja beata no chão ou, se a sorte for grande e o pobre não desconfiar, um cigarro fumado a metade.


Dos exílios há que aproveitar o que de melhor têm: o encontro dos desencontrados, a exaltação da descoberta daqueles que dão o melhor de si – na arte, no ensino, nas fábricas, na investigação histórica e literária, na ciência. Por isso, Vieira da Silva esperava, como sonho dentro de sonho, que Cesariny a ela aportasse, apesar do Arpad com as suas crises de ciumeira – o que só abona a seu favor. A Paula Rego teria de esperar uns anitos.


Controverso, insubmisso porque assim o decidiu ser, ao verso haveria de apor o adverso., até ao dia em que a Musa lhe haveria de por os cornos. A haver adversidade, só da parte da Poesia há razão de queixa – a escrita, porque a «soprada» nunca levantou auto de contra-ordenação. A tintura que, vai-se lá saber porquê, a tradição teima em designar por pintura, nunca lhe faltou para automatismos de arre-medo: «Que afinal o que importa é não ter medo/ de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:/ Gerente! Este leite está azedo!»


Do mal, o menos. Que se salve, num país de tristes, a paródia. Abençoado por Baktine – exemplarmente demonstrado por José Cândido Martins –, ao poeta exige-se, como a qualquer menino de boa família, que se lhe bote linhagem. Cadáveres esquisitos somos todos nós. Afinal, se ao Almada lhe deu para, pijamado ao modo de arlequim, ler poemas em cima de uma mesa de um Café sito ao Chiado, nada obsta a que, na falta de um Café que em Lisboa se chame Voltaire, se adopte um com nome incendiário. Para Café, «Gelo» não está mal de todo. De resto, Lisboa é quase um país. E os poetas românticos do Porto hão-de perdoar com certeza.


Os piqueniques não se fazem só no campo e, em o homem querendo, a obra há-de nascer. Ah, mas são verdes. Quer dizer, é verde. O «como duas rolas» é um acrescento que um espírito avisado se absteria de dizer. Ao rubro, sim, está bem visto. Até porque para brasa pouco falta. Entretanto, Fernando Pessoa ia ardendo em lume brando. Os paradoxímoros (obrigado, Aurelino!) têm idiossincrasias que nem o diabo as entende, embora se suspeite que as apologias amarantinas resguardem luciferinas clarividências, telúricas verbosidades. Em todo o caso, foi uma festa pegada. Ou seja, uma folia que os in-fólios futuros tentarão encaixar em cronologias expositivas, dissenços amuados para toda a vida, «cravanços» à Pacheco, amizades a-filiadas com um poeta que haveria de se exilar na barra do Douro e que, para além do culto da beleza, partilhava ronronares de gato.


As afinidades, electivas ou não, não se reduzem às criações domésticas. Estendem-se ao que na Europa estava já em descenso. Os herdeiros de Leautréamont, Apollinaire e Tristan Tzara insistirão em incendiar uma Europa que, por autofagia, fazia questão em se fazer acompanhar pelo resto do mundo na tarefa de se autodestruir. A «drôle de guerre» de Sartre incubava confirmações a que nem mesmo o surrealismo saberia encontrar a adequada blague. A máquina de costura do primeiro, só por malícia pespontaria futurismos à Marinetti. Não é de espantar a ruptura entre António Pedro e Cesariny que, aliás, não mais se remendaria. Do lado da França, a morte de Jacques Vaché quase punha Breton a falar sozinho. Do lado de Portugal, a morte de António Maria Lisboa destinava Casariny a insubordinadas filiações. Mesmo que genialmente acompanhado – Alexandre O’Neill e Herberto Helder –, o surrealismo de Cesariny desobriga-se de elegias que não se encaixariam em nenhum panteão. Para além disso, o país que somos já se contentaria com que a madame não permitisse que o seu cãozinho pusesse as patas na mesa. No mais, os poderes estabelecidos retribuíram como é de costume: guardaram-se para o fim.


Se necessidade houver de perguntar o que de tudo isto sobrou, que se responda com as palavras de António Domingues quando, numa tarde de Maio de 1998, ao dar-me a ler um poema seu, me diz: «Vês Fernando, vendo bem, não vendo mal».


Fernando Martinho Guimarães
http://incomunidade.blogspot.com/2006/12/cesariny-mrio-mrio-cesariny.html

            
           
            
                   
E muda mesmo. Ora leiam, por exemplo, em jeito de homenagem a Cesariny, o poema "Vem, Vulva antiquíssima e idêntica” de um livro de 1989 que parodia um espectro que tem assombrado os poetas portugueses: Fernando PessoaO Virgem Negra.
        
        
Vem, Vulva antiqüíssima e idêntica
Vulva Rainha nascida destronada morta
Vulva igual por dentro ao silêncio, Vulva
Com teus pentelhos lantejoulas rápidas
No teu Ôlho franjado de infinito.
Vem mortamente
Vem pesadamente
Vem sòzinha, solène, com as mãos caídas,
Ao teu lado, vem
E traz as camas longínqüas para o pé das uréteras próximas
Faz da montanha um bloco só do teu corpo
Funde na regra tua todas as àguas que vejo
Todos os nervos com que és escura por dentro
Todas as luzes brancas como noivo e noiva
E deixa só um mu, e outro mu, e outro
Na distância imprecisa e subitamente perturbadora
Na distância subitamente impossível de percorrer.
Nossa Senhora
Das coisas imposssíveis que procuramos em vão
E que doem por sabermos que só assim as teremos,
No espelho baço do aposento não nosso,
Madre do Deus das terras infelizes
Mater Dolorosa das angústias dos tímidos
Sancta Virgo Virginum das pernas dos prisioneiros
Turris Eburnea dos olhos dos paneleiros
Sancta Dei Generectrix dos filhos das meretrizes
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo,
Apanha-me do meu pénis, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Norte
Onde estão as cidades que eu tanto amei,
Outra folha de mim lança para o Sul
Onde estão os mares que os Navegadores abriram,
Outra folha de mim atira ao Ocidente
Onde o demónio da acção cobriu tudo
Sem deixar sombra onde eu nasça
Ou possa, sequer, descansar
Reclinando a cabeça em minha própria nação,
E o resto, o resto de mim atira ao Oriente,
Ao Oriente de onde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Çiva-Parvati talvez
realmente viva,
Onde Ardhanarishwar talvez exista realmente e man-
dando tudo...
        
        
"Vem, Vulva antiquíssima e idêntica” é uma reescrita em forma de paródia do conhecido poema de Álvaro de Campos "Vem, Noite, antiquíssima e idêntica", datado de 30/6/1914 e publicado na Revista de Portugal, nº 4, Julho de 1938, anterior ao da Ática.
«O poema que começa com “Vem Vulva antiquíssima” é exemplar tanto pelo aberto tom paródico, como pela sexualização dos elementos que, na poesia de Pessoa, costumam ser abstractos. Através de um quadro comparativo, em anexo a este ensaio, podemos ver os poemas lado a lado, comprovando semelhanças e mudanças feitas por Cesariny.
O substantivo usado por Campos, “Noite”, em maiúsculas, referindo não uma noite singular e específica, mas a Noite como abstracção – a ideia de noite, a súmula de todas as noites – é substituído no poema de Cesariny por “Vulva”. Numa interpretação dos impulsos reprimidos por Pessoa, Cesariny subverte todo o sentido do poema, que termina por ser um canto à cópula ou junção, ao encontro efectivo e positivo dos contrários. Os últimos versos substituem Cristo por “Çiva-Parvati”, deuses indianos que formam, como casal, uma família sagrada (pais de Ganesha, deus da escrita); Deus é substituído pela figura andrógina de Ardhanarishwar, metade homem, metade mulher, composto por Shiva e a sua consorte Shakti (1993: 45). »
                   




        
                             
       
       
DOIS EXCERPTOS DE ODES
(FINS DE DUAS ODES, NATURALMENTE)
       
       
I
        
Vem, Noite antiqüissima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrêlas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
        
Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sôzinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para ao pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe tôdas as diferenças que de longe vejo,
Tôdas as estradas que a sobem,
Tôdas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe,
Tôdas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância sùbitamente impossível de percorrer.
        
Nossa Senhora
Das cousas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que dóem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos,
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiqüíssimo de nós
Onde têm raiz tôdas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.
        
Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.
        
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sôbre a testa em febre dos humildes,
Sabor de água sôbre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Fôlha a fôlha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma fôlha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra fôlha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra fôlha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente d’onde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, brarnânico, sintoísta,
Ao Oriente que é tudo o que nós não temos,
Que é tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...
        
Vem sôbre os mares,
Sôbre os mares maiores,
Sôbre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso de fera,
E acalma-o misteriosamente,
Ó domadora hipnótica das cousas que se agitam muito!
        
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiqüíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jehovah e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.
        
Vem, Noite silenciosa e extáctica,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranqüilamente como um gesto materno afagando,
Com as estrêlas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sôbre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam tôdas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de-repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as côres,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
        
A lua começa a ser real.
            
Álvaro de Campos
        
        
        
Este poema é um apelo à Noite que acaba por se transformar num longo diálogo a uma voz, num ritmo embalatório e dormente. A Noite aparece, assim, como uma entidade eterna, solene e mágica, que seduz e encanta o poeta (este que chega ao fim de um percurso de desistência e que se abandona ao “império”, ao domínio da Noite).
        
Os sentimentos do poeta face à Noite levam a que esta Noite maternal seja também imagem da morte, a “cósmica maternidade da morte”.                 
        
              
        
                
“Brincadeiras de Crianças” (1988),
 
Alfredo Margarido

Vem, Vulva antiqüíssima e idêntica


           
           
          
Como num jogo de espelhos, surge o seguinte poema que, não inocentemente, dialoga com o de Cesariny:
        
        
        
FIGURAS INDIGITADAS
        
I
        
«Ela viu como o corpo dele rimava bem com as colunas
Dóricas», Sophia M. B. Andresen, Ilhas.
        
        
No brônzeo do tronco
o loiro descuidado do cabelo
caía sobre os ombros a roçar a barba
e o peito, equestre.
Ainda sujas estavam as calças
e ela reparou que o não obscureciam:
        
– Houvesse caçadores de olhos que brilham
eis os meus, diria, vivo no desagregar
do princípio das coisas.
Que mão lhe lava a roupa, ensaboa os braços
e fala de perto?
        
        
II
        
«Vem, Vulva antiquíssima e idêntica»
Mário Cesariny, O Virgem Negra
        
        
 Vem, Vulva ancestral e mítica
o terreno é fértil
apascento aí as minhas ovelhas
este campo é sagrado e
é onde eu guardo o meu gado.
        
Sei o que digo e o espaço que enformo
movo-me na sonância rítmica das estações
cresço no olhar e no juízo das coisas belas
límpido nas relações e acautelado nos braços
de minha amante
nada oprime nem castra.
        
        
III
        
Uma coisa é imolada em cada acaso
por lapso do corpo.
Como a estrada larga
e o campo distante
sinto premente
ou tão só incómoda e amarga
a serpente.
Quem transporta e desfaz
o sentido conjunto do acaso,
o endividar do saber?
Quem do alto veio em meu auxílio,
o meu desejo devolvido?
Perdem sentido as minhas ovelhas,
o meu campo, todo o vale.
Tudo se passa como não fosse possível
viver eternamente
nem abrir os braços em toda a dimensão do espaço.
Não, não é lógico perfazer a diatribe
não creio que haja tanta mesura capaz de
desfazer em respostas teu ventre.
Nunca foi minha intenção coriscar,
o corpo apenas cedeu à fragrância do estio.
        
Eu não saio incólume na estação das chuvas.
        
        
IV
        
– Tenho as mãos desnudas e corpo velido.
        
– Tenho os pés descalços e sinto o chão que piso.
És água e vento, coisa que passa.
És fragata e danças para mim.
        
José Maria de Aguiar Carreiro
Chuva de ÉpocaPonta Delgada, 2005.
        
     
        
        
      
       



CARREIRO, José. “Cesariny vs O Virgem Negra”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 26-11-2006. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2006/11/cesariny-vs-o-virgem-negra.html (2.ª edição) (1.ª edição: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2006/11/26/O-VIRGEM-NEGRA-_2D00_-Fernando-Pessoa-explicado-_E000_s-criancinhas-naturais-e-estrangeiras_2C00_-por-Cesariny.aspx)