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quinta-feira, 16 de março de 2023

Estes sítios! (Almeida Garrett)

 


     ESTES SÍTIOS! 





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Olha bem estes sítios queridos,
Vê-os bem neste olhar derradeiro...
Ai! o negro dos montes erguidos,
Ai! o verde do triste pinheiro!
Que saudades que deles teremos...
Que saudade! ai, amor, que saudade!
Pois não sentes, neste ar que bebemos,
No acre1 cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocência e vigor!
Oh! aqui, aqui só se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui só vive Amor2.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o níveo3 candor4,
E na frente arrugada lhe cresta5
A inocência infantil do pudor.
E oh! deixar tais delícias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razão à impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono à vaidade,
Ter de rir nas angústias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade...
Ai! não, não... nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou.
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize à sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,
Dize-o a todos os sítios queridos
Desta rude, feroz soledade,
Paraíso onde livres vivemos,
Oh! saudades que dele teremos,
Que saudade! ai, amor, que saudade!

Flores sem Fruto e Folhas Caídas de Almeida Garrett, edição de Paula Morão, 3.ª ed., Lisboa, Editorial Comunicação, 1984, pp. 112-113.

 

___________

1 acre (verso 8) – que produz uma forte impressão olfativa; que tem sabor ácido, amargo.

2 Amor (verso 13) – divindade representada sob a forma de uma criança, geralmente alada.

3 níveo (verso 15) – que é relativo à neve ou próprio dela; que é da cor da neve.

4 candor (verso 15) – brancura extrema; qualidade do que é puro, inocente.

5 cresta (verso 16) – queima superficialmente.

 

Questionário sobre o poema “Estes sítios”, de Almeida Garrett.

1. Explique a importância de olhar «estes sítios queridos», tendo em conta os versos 1 a 6.

2. O sujeito poético exprime uma visão subjetiva do espaço campestre.

Explicite dois aspetos significativos que comprovem esta afirmação.

3. Caracterize a «cidade» (verso 20) representada no poema, fundamentando a resposta com citações relevantes.

4. Analise dois efeitos expressivos do adjetivo «triste», que, nos versos 4 e 30, qualifica o «pinheiro».

5. Apresente, por palavras suas, as ideias expostas por Almeida Garrett no excerto seguinte da «Advertência» a Folhas Caídas.

«As presentes Folhas Caídas representam o estado de alma do poeta nas variadas, incertas e vacilantes oscilações do espírito, que, tendendo ao seu fim único, a posse do Ideal, ora pensa tê-lo alcançado, ora estar a ponto de chegar a ele – ora ri amargamente porque reconhece o seu engano – ora se desespera de raiva impotente por sua credulidade vã.»

Flores sem Fruto e Folhas Caídas de Almeida Garrett, edição de Paula Morão, 3.ª ed., Lisboa, Editorial Comunicação, 1984, p. 81.

 

Explicitação de cenários de resposta:

1. Para explicar a importância de olhar «estes sítios queridos», tendo em conta os versos 1 a 6, devem ser desenvolvidos três dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

− a forte relação emotiva criada com esse espaço;

− a circunstância da despedida, que confere ao apelo do sujeito poético um tom de lamento («neste olhar derradeiro…» – v. 2; «Ai! O verde do triste pinheiro!» – v. 4);

− a antecipação de um sentimento de saudade partilhado («que saudades que deles teremos…» – v. 5; «Que saudade! ai, amor, que saudade!» – v. 6);

− a tentativa de reter na memória um espaço ligado a um tempo de felicidade («Olha bem» – v. 1; «Vê-os bem» – v. 2).

2. Para explicitar dois aspetos significativos que comprovam a afirmação, devem ser desenvolvidos dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

− a intensidade de sensações que provoca, como os cheiros e as cores (vv. 3, 4 e 8);

− o horizonte aberto, que serve uma vida de liberdade (vv. 9 e 33);

− a possibilidade de contacto com a natureza pura, que a «rosa selvagem» (v. 12) simboliza;

− o ambiente natural propício à alegria (v. 13).

3. Para caracterizar a cidade representada no poema, devem ser desenvolvidos os três tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

− um cativeiro em que se perde a liberdade («inferno da escrava cidade», v. 20);

− um lugar insalubre em que se vive no «ar queimado das salas» (v. 14);

− um lugar que proporciona uma experiência moralmente repugnante, porque obriga à «impostura» (v. 21), à «mentira» (v. 22), à «vaidade» (v. 23) e à hipocrisia («Ter de rir nas angústias da morte» – v. 24; «chamar vida ao terror da verdade» – v. 25).

4. Para analisar dois efeitos expressivos do adjetivo «triste», que, nos versos 4 e 30, qualifica o «pinheiro», devem ser desenvolvidos dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

− sugere que o sujeito poético atribui um valor sentimental a essa árvore;

− mostra de que modo a tristeza do olhar se reflete e se amplifica na própria paisagem;

− revela a profunda ligação entre os que partem e aqueles «sítios queridos» (vv. 1 e 31).

5. Para apresentar as ideias expostas por Almeida Garrett no excerto transcrito, deve ser produzida uma paráfrase. O texto seguinte constitui apenas um exemplo.

O poeta afirma que as Folhas Caídas representam as emoções que acompanham a busca do seu espírito pelo «Ideal». Esse objetivo, porém, nunca é alcançado, apesar de, por vezes, o poeta ter a ilusão disso. Por consequência, troça de si mesmo, vendo o seu equívoco, ou lamenta-se pela sua ingenuidade e pela sua pretensão.

 

Fonte: Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa. Prova 734 | 1.ª Fase | Ensino Secundário | 2018 | 11.º Ano de Escolaridade | Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho. República Portuguesa – Educação / IAVE-Instituto de Avaliação Educativa, I.P.

 

 


CARREIRO, José. “Estes sítios! (Almeida Garrett)”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 16-03-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/03/estes-sitios-almeida-garrett.html


terça-feira, 14 de março de 2023

Não és tu, Almeida Garrett

 



                NÃO ÉS TU





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Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.

Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.

Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.

Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.

Mas não és tu... ai! não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.

 

Flores sem Fruto e Folhas Caídas de Almeida Garrett, edição de Paula Morão, 3.ª ed., Lisboa, Comunicação, 1984, pp. 116-117

 

_________

1 semblante (verso 8) – rosto.

2 boninas (verso 23) – florzinhas campestres.

3 Singelas (verso 24) – simples.

 

I - Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Na primeira estrofe do poema, o «eu» começa a desenvolver uma comparação entre a imagem feminina dos sonhos e a mulher real.

Explicite os aspetos que evidenciam essa comparação, tendo em conta a estrofe referida.

2. Indique um dos efeitos de sentido produzidos pela anáfora presente nos versos 5 e 6.

3. Refira quatro das características da figura que surge na «visão» do sujeito poético.

4. Analise a relação que a última estrofe do texto estabelece com as anteriores.

 

Explicitação de cenários de resposta

1. Explicita, adequadamente, os aspetos que evidenciam a comparação estabelecida na primeira estrofe do poem.

A imagem que constitui o sonho do sujeito poético, e que começa a ser descrita na primeira estrofe, é a de uma mulher que lembra a figura da amada devido às semelhanças existentes entre ambas, como se constata pela ocorrência das palavras «mesma» (vv. 2-3) e «mesmo» (v. 2). Assim, a imagem feminina vista no sonho apresenta o modo de «olhar» (v. 1) particular da mulher amada, uma atitude graciosa similar («A mesma graça, o mesmo ar» – v. 2), bem como timidez e recato idênticos («Corava da mesma cor» – v. 3).

2. Indica, adequadamente, um dos efeitos de sentido produzidos pela anáfora presente nos versos 5 e 6.

Sendo uma figura de repetição, a anáfora reforça o sentido dos versos, enfatizando-o. Neste caso, em particular, produz os seguintes efeitos de sentido:

− marca o tempo do sonho (passado), quando o «eu» teve a «visão» (v. 4);

− salienta o efeito da figura feminina sobre o «eu»;

− sublinha o enamoramento do sujeito poético pela mulher com que sonhou;

− reitera a importância do amor vivido «em sonhos», conferindo um eco melódico aos versos.

3. Refere, adequadamente, quatro das características da figura que surge na «visão» do sujeito poético.

A imagem feminina que surgia nos sonhos do sujeito poético caracteriza-se por ser:

− graciosa («graça» – v. 2);

− recatada («Corava» – v. 3);

− altiva («porte altivo» – v. 7);

− meditativa («semblante pensativo» – v. 8);

− melancólica («suave tristeza» – v. 9);

− delicada («Que lhe adoçava a beleza» – v. 12);

− ingénua, com discurso simples («o seu falar, / Ingénuo e quase vulgar» – vv. 3-14);

− racional («poder da razão» – v. 15), capaz de persuadir, mais que de seduzir («Que penetra, não seduz» – v. 16);

− celestial («luz» – v. 17; «rosas celestes / Rosas brancas, puras, finas» – vv. 21-22);

− esplendorosa («Viçosas» – v. 23);

− simples, como as flores campestres, sem ser rude («Singelas sem ser agrestes» – v. 24);

− sensível ao amor do sujeito poético («tinha coração» – v. 29).

4. Analisa, adequadamente, a relação que a última estrofe do texto estabelece com as anteriores.

A relação que a última estrofe do poema estabelece com as anteriores é de oposição, introduzida pela conjunção coordenativa adversativa «Mas» (v. 25), colocada no início da sextilha. Essa conjunção e as expressões de negação, sucessivamente repetidas (vv. 25, 27 e 28), remetem para o fim do sonho, constatando o sujeito poético que o «Tu» não é a mulher idealizada no passado. Enquanto esta tem «coração» (v. 29), tal não acontece com a mulher real («Não és aquela que eu vi, / Não és a mesma visão» – vv. 27-28). Assim, o sonho do sujeito transformou-se numa realidade decetiva («Não és a mesma visão, / Que essa tinha coração» – vv. 28-29), acentuando-se a oposição sonho/realidade.

 

Fonte: Exame Final Nacional do Ensino Secundário n.º 734 - 11.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). Prova Escrita de Literatura Portuguesa. Portugal, IAVE-Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2014, 2.ª Fase

 




II - Elabore um comentário do poema que integre o tratamento dos seguintes tópicos:

- partes lógicas constitutivas do texto;

- caracterização física e psicológica do «tu»;

- recursos estilísticos relevantes;

- traços característicos do Romantismo.

 

Explicitação de cenários de resposta

 

Partes lógicas constitutivas do texto

O poema estrutura-se em duas partes, correspondendo a primeira aos versos 1-24 e a segunda aos versos 25-30, separadas pela conjunção adversativa «Mas», que marca uma mudança no discurso.

Ao longo da primeira parte, a sujeito poético desenvolve uma comparação entre a imagem resplandecente da figura feminina vislumbrada «em sonhos» «de amor» e o «tu» que, aparentemente, possui os mesmos atributos e provoca os mesmos efeitos da «visão». Na segunda parte, a contraposição da positividade dessa «visão» à negatividade da presença real do «tu» torna irremediável a confissão de um profundo desencanto, de uma desilusão sentida.

 

Caracterização física e psicológica do «tu»

A figura central consiste numa mulher possuidora de uma beleza assinalável («graça», «porte altivo») e dotada de um forte magnetismo (vv. 13-18). Certos traços psicológicos, que denunciam retraimento e introversão («Corava da mesma cor», «O semblante pensativo, / E uma suave tristeza / Que por toda ela descia»), combinam-se com uma imagem física mais vívida e sensorial («o seu falar, / Ingénuo e quase vulgar», «No seio o mesmo perfume, / Um cheiro a rosas celestes, / Rosas brancas, puras, finas»), embora não menos espiritualizada. Assim, nas quatro primeiras estrofes, os processos utilizados na caracterização resultam numa vibrante exaltação da figura feminina, elevando-a ao nível celeste de anjo.

Mas a verdadeira natureza do «tu» revela-se na última estrofe do poema: à aparência angelical exterior, intensificada no passado pelo carácter velado da representação do «tu» («um véu que lhe envolvia, / Que lhe adoçava a beleza»), opõe-se, no presente, uma imagem indelevelmente marcada pela ausência de sentimentos, de «coração».

 

Recursos estilísticos relevantes

Exemplos de recursos estilísticos:

- adjetivação – «porte altivo», «semblante pensativo», «suave tristeza», «Ingénuo e quase vulgar», «rosas celestes, / Rosas brancas, puras, finas, / Viçosas»;

- comparação – «Como um véu que lhe envolvia, / Que lhe adoçava a beleza», «Viçosas como boninas»;

- metáfora - «Não era fogo, era luz / Que mandava ao coração», «Nos olhos tinha esse lume»;

- anáfora - «Quando eu sonhava de amor, / Quando em sonhos me perdi», «Não és aquela que eu vi, / Não és a mesma visão»;

- …

 

Traços característicos do Romantismo

Destacam-se, entre outros, os seguintes traços:

- imagem dúplice da mulher (angelical/demoníaca);

- sentimento de perdição provocado pelo amor;

- confessionalismo;

- tom melancólico;

- …

 

Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 637. Curso Complementar Licear Nocturno. Prova Escrita de Português (Índole Literária). Portugal, 1999, Militares

 

 


CARREIRO, José. “Não és tu, Almeida Garrett”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 14-03-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/03/nao-es-tu-almeida-garrett.html


segunda-feira, 13 de março de 2023

Pescador da barca bela, Almeida Garrett


 

 

            BARCA BELA

 






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Pescador da barca bela,
Onde vás1 pescar com ela,
       Que é tão bela,
       Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela2?
       Colhe3 a vela,
       Oh pescador!

Deita o lanço4 com cautela,
Que a sereia canta bela...
       Mas cautela,
       Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
       Só de vê-la,
       Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
       Foge dela
       Oh pescador!

 

Flores sem Fruto e Folhas Caídas de Almeida Garrett, edição de Paula Morão, 4.ª ed., Lisboa, Comunicação, 1987

 

__________

1 vás – vais.

2 vela – encobre; esconde.

3 Colhe – recolhe; baixa.

4 Deita o lanço – lança a rede.

 

I – Questionário sobre o poema “Barca Bela”, de Almeida Garrett.

1. Na primeira estrofe, o pescador é questionado sobre o rumo que dará à «barca bela».

De que modo a referência à «estrela», na segunda estrofe, reforça a ideia de que, ao partir para o mar, o pescador coloca a barca em perigo?

2. Relê os versos de 9 a 16.

2.1. Que situação pode conduzir à perda do «remo» e da «vela»?

2.2. Que consequência pode ter, para o pescador, a perda do «remo» e da «vela»?

3. Para responderes aos itens de 3.1. a 3.5., escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

3.1. No verso 13, usa-se um recurso expressivo para acentuar o perigo em que o pescador pode ver-se envolvido.

Esse recurso expressivo é uma

(A) enumeração.

(B) anáfora.

(C) aliteração.

(D) ironia.

3.2. Na expressão «foge dela» (verso 18), a palavra «dela» refere-se

(A) à estrela.

(B) à rede.

(C) à vela.

(D) à sereia.

3.3. Na última estrofe, o sujeito poético, interpretando a situação em que se encontra o pescador, considera que este

(A) escusa de ir pescar mais longe.

(B) está irremediavelmente perdido.

(C) é incapaz de enfrentar o mar.

(D) pode salvar-se do perigo.

3.4. Em cada estrofe, os quatro versos têm, respetivamente,

(A) 7, 7, 3 e 3 sílabas métricas.

(B) 7, 7, 3 e 4 sílabas métricas.

(C) 8, 8, 4 e 3 sílabas métricas.

(D) 8, 8, 5 e 4 sílabas métricas.

3.5. Todas as quadras do poema apresentam um esquema rimático que corresponde à sequência

(A) AAAB.

(B) AABC.

(C) ABAB.

(D) ABCC.

4. Seleciona todas as afirmações verdadeiras, de acordo com o poema.

Escreve o número do item e as letras que identificam as opções escolhidas.

(A) A rima em «ela» associa-se à importância que a figura feminina assume no poema.

(B) O refrão exprime a tranquilidade do sujeito poético em relação à situação do pescador.

(C) O canto da sereia pode salvar o pescador dos perigos que ele corre no mar.

(D) A musicalidade deste poema assenta, entre outros aspetos, na regularidade do ritmo e da rima.

(E) Este poema pode ser interpretado como um aviso a quem se deixa levar pela paixão.

5. Lê a afirmação.

Neste poema, o pescador representa alguém que se deixa atrair por um grande perigo, apesar dos avisos que lhe são dirigidos.

Explica por que razão esta afirmação é verdadeira, de acordo com o sentido global do poema.

Fundamenta a tua resposta com exemplos do texto.

 

Explicitação de cenários de resposta:

1. Explica, de forma completa, o modo como a referência à «estrela» reforça a ideia de que, ao partir para o mar, o pescador coloca a barca em perigo, mencionando os aspetos seguintes:

– o céu mais escuro / o agravamento do estado do tempo / a ausência de pontos de referência;

– o aumento do perigo para a navegação.

Exemplos:

  • O facto de a última estrela estar a ficar encoberta significa que o tempo está a piorar, o que faz com que o perigo seja maior.

  • Se a última estrela está a ficar encoberta, isso significa que o céu está a ficar cada vez mais escuro, aumentando o perigo para a navegação.

  • O pescador vai ficar sem pontos de referência, o que torna o perigo ainda maior.

2.1. Refere, de forma plausível e completa, a situação que pode conduzir à perda do «remo» e da «vela», mencionando a sereia enquanto elemento central dessa situação.

Exemplos:

  • Se o pescador não lançar a rede com cautela, a rede pode enredar-se na sereia, o que pode conduzir à perda do «remo» e da «vela».

  • Se o pescador se deixar atrair pela sereia, perderá o «remo» e a «vela».

2.2. Explicita, de forma plausível e completa, a consequência que a perda do «remo» e da «vela» pode ter para o pescador, associando essa perda à perdição do pescador.

Exemplos:

  • Se o pescador perder o «remo» e a «vela», não tem hipótese de se salvar.

  • Sem «remo» nem «vela», o pescador não pode navegar, logo está perdido.

3.1. C

3.2. D

3.3. D

3.4. B

3.5. A

4. A; D; E.

5. Explica, de forma plausível e completa, por que razão a afirmação é verdadeira, de acordo com o sentido do poema, fazendo referência à sereia enquanto motivo principal dos avisos feitos ao pescador e apresentando, pelo menos, um desses avisos.

Exemplos:

  • No poema, o pescador representa alguém que se deixa atrair pela sereia, apesar de lhe serem dirigidos avisos sobre o perigo que ela constitui. Por exemplo, o sujeito poético diz-lhe para fugir dela.

  • O sujeito poético faz repetidos avisos ao pescador relacionados com a sereia, que é perigosa, dizendo-lhe, por exemplo, que deite «o lanço com cautela». No entanto, o pescador parece ignorar esses avisos.

 

Fonte: Prova de Aferição de Português | 8.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 17/2016, de 4 de abril). República Portuguesa - Educação, IAVE-Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2017. Prova n.º 85 e critérios de classificação disponíveis em https://iave.pt/provas-e-exames/arquivo/arquivo-provas-de-afericao-eb/?ano=2017

 




II - Elabore um comentário deste poema, extraído das Folhas Caídas, que integre o tratamento dos seguintes aspetos:

- valor simbólico do espaço e dos objetos;

- representação do elemento feminino;

- efeitos de sonoridade mais importantes;

- traços característicos do Romantismo.

 

Explicitação de cenários de resposta:

Valor simbólico do espaço e dos objetos

Relativamente ao espaço, deve notar-se que a terra constitui o elemento de segurança por oposição ao mar, que representa o elemento de perigo. O «céu» aparece associado ao mar, já que é nele que se localiza a «estrela» que as nuvens vêm esconder.

No que respeita aos objetos, a «barca» e a «vela» conduzem o sujeito ao perigo da destruição.

O «lanço» e a «rede» concorrem igualmente para a demanda do objeto («sereia») pelo sujeito («pescador»), sugerindo igualmente maior proximidade e envolvimento físico entre ambos e, assim, a consumação da perda do segundo pelo primeiro. O «remo» representa a possibilidade de fuga do sujeito, mas também a inexorabilidade do perigo, já que o mesmo objeto poderá vir a perder a sua utilidade («perdido»).

Representação do elemento feminino

A «estrela» é uma primeira representação do feminino no seu fascínio sensual, que conduz o sujeito à perda. Depois, a «sereia» constitui um símbolo de beleza, de sensualidade e de sedução, segundo a dimensão literária que adquire nas obras da literatura universal. A «sereia» protagoniza o perigo da destruição do sujeito («pescador»), de aniquilamento de toda a sua proteção («barca», «remo», «vela»).

Efeitos de sonoridade maia importantes

- Efeito de eco dos sons das duas últimas sílabas das palavras finais dos três primeiros versos de cada estrofe («bela» / «ela» / «bela»... ), concorrendo para a sugestão de perigo que advém da presença da «sereia»;

- repetição Integral do verso «Oh pescador», que passa de uma entoação ascendente (frase interrogativa) a uma entoação descendente (frase exclamativa), o que reforça a emotividade do sujeito perante a ameaça da ação da «sereia» sobre o «pescador»;

- …

Traços característicos do Romantismo

Aspetos temáticos

- Ambiente e personagens do imaginário popular («pescador», «barca»), bem como o próprio motivo marinho, que se encontram, com algumas variações, nos romances populares;

- o amor enquanto sentimento que pode conduzir o homem à perdição;

- …

Aspetos formais

- Reutilização da redondilha maior nos dois versos monórrimos, que concorre para a construção do ritmo alternado e dançante, sendo o último verso de cada estrofe o refrão;

- …

Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 637. Curso Complementar Licear Nocturno. Prova Escrita de Português (Índole Literária). Portugal, 1999, 1.ª Fase, 1.ª Chamada

 


 


III - Elabore um comentário global do texto transcrito, focando os seguintes aspetos:

- interrogações e recomendações do sujeito lírico;

- particularidades da estrutura externa;

- expressividade das repetições;

- enquadramento do poema na época e no movimento literário;

- ponto de vista pessoal sobre o texto (o que se diz e como se diz).

 

Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 437. Disciplina Específica. Cursos Complementares Diurnos (11.º ano). Formação Geral – Área D. Prova Escrita de Português. Portugal, 1997, 1.ª Fase, 2.ª Chamada



 

 


CARREIRO, José. “Pescador da barca bela, Almeida Garrett”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 13-03-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/03/pescador-da-barca-bela-almeida-garrett.html