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sexta-feira, 17 de abril de 2009

É só um vazio imenso (Juan Luis Panero)

            
              
               
ANOS DEPOIS DE SEPARAR-NOS
         
Eram duas estrelas sobre um cenário, cada uma actuando diante de um público de duas pessoas: a paixão com que jogavam a mascarada criava a realidade.
         
FRANCIS SCOTT FIFZGERALD
         
          
Restam sim, cidades, paisagens, sensações de calor ou de frio, a neve de Nova Iorque, o sol implacável de Cartagena das Índias.
Restam quadros perdidos em museus ou em casas,
como postais de outro tempo, sem brilho,
conversações com amigos ou talvez inimigos,
encontros que por um momento deram valor à nossa vida,
tardes de touros, filmes, canções,
copos vazios, cães, casas abandonadas, bugigangas mexicanas.
Resta um cenário perfeito,
com todos os detalhes cuidados até ao limite,
para representar a obra tanto tempo ensaiada,
a parelha estelar enfim triunfadora.
Mas hoje, todos o sabem, nem tu nem eu actuamos.
E uma cenografia, por brilhante que seja,
nada é sem palavras, sem um alento humano.
É só um vazio imenso ou, sejamos modestos,
uma cartolina cinzenta onde irreflectidamente se cola
— nem vaias nem aplausos — os bilhetes da estreia,
velhas fotografias que a ninguém interessam, de dois rostos idos.
E as luzes apagam-se e fecham-se as portas.
            
JUAN LUIS PANERO, ANTES QUE CHEGUE A NOITE
Versões de António Cabrita e Teresa Noronha
Lisboa, Fenda, 2000, p. 40.
          
         
              
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2009/04/17/vazio.aspx]

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