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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

VERSOS A UMA CABRINHA QUE EU TIVE (Vitorino Nemésio)


Picasso
Picasso
 
        
        

(VERSOS A UMA CABRINHA QUE EU TIVE)
     
Com seu focinho húmido
Esta cabrinha colhe
Qualquer sinal de noite
De que a erva se molhe.
     
Daquela flor pendente
Pra que seu passo apela
Parece que a semente
É o badalinho dela.
    
Sua pelerina escura
Vela-a da noite sentida;
Tem cada pêlo uma gota,
Com passos, poeira, vida.
    
De silêncio, silvas, fome,
Compõe nos úberos cheios
Toda a razão do seu nome
E fruto de seus passeios.
    
Assim já marcha grave
Como os navios entrando,
Pesada dos pensamentos
Da sua vida suave.
    
E enfim, no puro penedo
De seus casquinhos tocado,
Está como O ovo e a ave:
Grande segredo
Equilibrado.
    
Vitorino Nemésio, Eu Comovido a Oeste, 1940
     




ORIENTAÇÃO DE LEITURA
    
Faça a análise interpretativa do poema, considerando os seguintes aspetos:

• a memória da infância de raiz rural;

• a presentificação do passado;

• o elemento evocado: o animal que estabelece a cadeia com o vegetal e o mineral;

• o equilíbrio e a totalidade do ovo;

• a promessa do voo da ave;

• os diminutivos que sugerem a linguagem infantil;

• as metáforas, as comparações, as aliterações;

• a estrutura poética quase regular.
        
(Plural 12, E. Costa, V. Baptista, A. Gomes, Lisboa Editora, 1999)
         


         


[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/08/NEMESIO.cabrinha.aspx]

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