LACRIMAE RERUM
(A Tommazzo Cannizzarro)
Noite, irmã da Razão e irmã da Morte,
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!
Aonde são teus sóis, como corte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem porque vaga desolado
E em vão busca a certeza que o conforte?
Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...
É tudo, em torno a mim, dúvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das coisas tenebrosas...
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!
Aonde são teus sóis, como corte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem porque vaga desolado
E em vão busca a certeza que o conforte?
Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...
É tudo, em torno a mim, dúvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das coisas tenebrosas...
(entre 1860 e 1884)
Antero de Quental, Sonetos Completos
TEXTO DE APOIO / LINHAS DE LEITURA
«Lágrimas das Coisas». Cf. Virgílio, Eneida, I, 462: «Sunt lacrymae rerum» (As próprias coisas humanizadas vertem lágrimas). – Note-se o sentido virgiliano, aliado à conceção cristã, expressa em São Paulo, Epístola aos Romanos, VIII, 22. – Cf. V. 20. – É um dos sonetos mais pessimistas de Antero de Quental.
v. 1. Cf. o v. 1 do soneto «Hino à Razão».
vv. 7-14. A Noite torna-se uma personagem do drama anteriano, um interlocutor mudo, mas cuja presença é poeticamente real. A ela se dirige o «monólogo interrogativo», mas cuja presença é poeticamente real. A ela se dirige o «monólogo interrogativo» do poeta (2ª quadra), sem que obtenha resposta para as suas dúvidas (1º terceto). No último terceto, resume-se o tema do soneto: perante a incapacidade da inteligência humana para desvendar o mistério, o ignoto, só resta ao homem o mundo das aparências que a sua curiosidade tenta desvendar.
Toda a estrutura do soneto repousa num alegorismo ainda renascentista e bocagiano. Repare-se ainda que a adjetivação nada tem de sensorial nem de variada: é mesmo monótona. Mas o ritmo é novo – há uma alternância de ritmos frásicos, um jogo de timbres, uma linha melódica que se alarga, espraia-se e vem morrer, quebrada, no último terceto, adaptando-se fielmente ao ritmo psicológico e à situação sugerida.
Maria Ema Tarracha Ferreira, Antologia Literária Comentada. Século XIX. Do Romantismo ao Realismo. Poesia,
Lisboa, Editora Ulisseia, 1985, 2ª edição.
COMENTÁRIO DE TEXTO
Analise o poema, tendo em conta os seguintes tópicos:
· a aproximação Noite/Razão/Morte;
· a relação Noite («verbo», «oráculo»)/Destino;
· relação eu/noite (interrogar inquietante vs. mudez);
· sentimentos do eu;
· características românticas.
Ser em Português 12ºA (coord. A. Veríssimo, Areal Ed.,1999).
SUGESTÃO DE LEITURA:
à Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões
para análise literária de textos de Antero de Quental, por José Carreiro. In:
Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo, 2021
(3.ª edição) <https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/Lit-Acoriana/antero-de-quental>
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/10/15/lacrimae.rerum.aspx]
Excelente passei no exame do 12 ano porque copiei deste site
ResponderEliminarobg ajudou no tpc haha
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