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quinta-feira, 28 de abril de 2016

A Poesia não tem Grades


Intervenção artística em ambiente prisional.

“A Poesia não tem grades” existe desde 2003 e é uma iniciativa coordenada por Filipe Lopes, apoiada pelo Grupo O Contador de Histórias e pela CULTIV – Associação de Ideias para a Cultura e Cidadania. Tem vindo a desenvolver sessões de promoção da leitura junto dos reclusos com o objetivo de promover a experimentação artística e assim contribuir para o desenvolvimento intelectual e pessoal daquela população. É considerado de relevante interesse pela Direção Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais e tem merecido a aceitação e a participação empenhada dos reclusos. Foi apoiado financeiramente pela atual Direção Geral do Livro e das Bibliotecas nas primeiras edições, sendo posteriormente um trabalho realizado de forma inteiramente voluntária, com todos os custos suportados pela estrutura. Em 2013, foi adicionada uma vertente formativa com o projeto “Palavra-Chave” que procura formar e coordenar voluntários, motivando-os para a intervenção nos Estabelecimentos Prisionais da sua área de residência. Neste âmbito já decorreram ações em Bragança, Lamego, Grândola, Ponta Delgada e Lisboa.




Depoimento:
Omitindo alguns pormenores para garantir a privacidade, reproduzimos um e-mail que nos chegou de um participante numa das nossas ações.
"Já andava há algum tempo para escrever, mas ainda não tinha tido capacidade para pôr em palavras o que queria dizer. De certeza que não se lembra de mim, mas conheci o Filipe o ano passado no EP (...) e eu nem queria ir. Estava muito revoltado, tinham-me dito para me inscrever, mas eu no dia em que ia acontecer também fui informado que afinal já não ia sair na data que estava a pensar. E eu disse para mim, que é que vale andar a participar nas atividades todas, andar no ensino e portar-me bem se depois não tenho nenhum benefício e não posso sair mais cedo?
Quando fui para a sala ia a pensar nestas coisas e achar que ia apanhar mais uma valente seca. Nunca gostei de poesia. E há muita gente que vai à prisão fazer a boa ação do dia: tratam o recluso como se fosse um coitadinho, não percebem nada do que estamos a passar, mas gostam de se ouvir a dizer coisas bonitas e saem de lá satisfeitas com elas mesmas, porque já vão para o céu.
Mas depois de ouvir o Filipe a falar e de perceber que não estava ali como se fosse melhor que nenhum de nós, mas estava porque a poesia lhe tinha salvado a vida e acreditava que podia funcionar para nós, ficou tudo diferente. Foi uma hora e pouco que passou a correr, eu não falei, mas alguns companheiros deram as suas opiniões e nenhum esteve a ser julgado por dizer o que sentia. Acho que não devia dizer que é uma aula de poesia, já estive com muitos psicólogos e acho que foi mais isso que estivemos a fazer estivemos a pensar sobre nós mesmos, a olhar para o que somos e queremos ser. Mas se calhar nas vezes que estive com psicólogos nunca consegui perceber tanto de mim mesmo como naquela hora e no que levei de lá.
Gostei muito daquele poema da família à mesa mas aquele que diz que lhe salvou a vida ficou guardado na minha cabeça desde aquele dia. Uma das primeiras coisas que fiz quando sai foi tentar encontrar o poema mas não sabia qual era autor mas agora já tenho o livro de Charles Baudelaire! À minha filhota já não compro tantas vezes brinquedos comecei a comprar livros e gosto muito de os ler com ela.
Descobri finalmente o site na internet e queria dizer que nem sempre agradecemos como deve ser. Não sou muito bom com as palavras mas o dia em que esteve connosco foi diferente de todos os outros que lá passei por isso muito obrigado. Não faz ideia do bem que faz a quem lá está assim. (...) E nunca mais me esqueci de encontrar os poemas dentro das músicas e a poesia nas árvores ao vento. (...)"








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