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sábado, 20 de julho de 2019

Quem fala de partir, de despedidas, Jorge de Sena

JORGE DE SENA


1    Quem fala de partir, de despedidas...
2    Quantas vezes parti na minha vida,
3    me despedi de vez de gente e de lugares
4    a que voltei para encontrá-los outros...
5    Nem contar posso. E às vezes despedir
6    foi só pisar com vã melancolia
7    as ruas de cidades onde não deixava
8    ninguém que me lembrasse. Às vezes foi
9    apenas receber por um relance vago
10   a imagem de um recanto ou de uma luz
11   iluminando nevoentos muros...
12   Não muitos terão tido a vida inteira
13   esta febre de andar por vários mundos
14   buscando ansioso o nada nosso e deles
15   que ao menos nada finge em gente e coisas...
16   E não terão, portanto, na memória
17   o tanto haver partido para longe,
18   para saberem que se parte sempre,
19   e não se volta nunca. O mesmo amor
20   que fiel aguarda o regressarmos não
21   é o mesmo já, mesmo se mais ardente
22   sob os cabelos que lhe são mais brancos.
Londres, 15/3/1973
Jorge de Sena, Poesia 2, edição de Jorge Fazenda Lourenço, Lisboa, Guimarães, 2015, pp. 726-727.


QUESTIONÁRIO:

1. Refira dois dos traços que caracterizam a figura de viajante representada no poema.
2. Indique o sentido da expressão «vã melancolia» (verso 6).
3. Neste texto, o sujeito poético realça a diferença entre a sua experiência e a experiência de outros.
Justifique esta afirmação, tendo em conta os versos 12 a 19.
4. Explicite dois aspetos do tema do regresso, tal como é tratado neste poema.

CENÁRIOS DE RESPOSTA:

1. Na resposta, referem-se, adequadamente, dois dos traços que caracterizam a figura de viajante representada no poema, pelo que devem ser desenvolvidos dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
A figura de viajante representada no poema:
sente uma atração irresistível pela descoberta de «vários mundos» (v. 13);
conhece bem, por experiência própria, o que é partir e regressar;
considera que o facto de muito viajar marca a sua personalidade.

2. Na resposta, indica-se o sentido da expressão, desenvolvendo, adequadamente, dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
A expressão «vã melancolia» (v. 6) remete para:
a tristeza absurda de uma despedida em que não se diz adeus a ninguém;
a inutilidade de se despedir de um lugar a que se é por completo estranho;
o sentimento de partir de uma cidade onde ninguém lembrará aquele que parte.

3. Na resposta, justifica-se a afirmação, desenvolvendo, adequadamente, dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
O sujeito poético realça a diferença entre a sua experiência e a experiência de outros:
sugerindo que faz parte de um grupo restrito («Não muitos» – v. 12), com características próprias;
considerando que quem não integra o grupo restrito a que ele pertence não poderá entender a experiência de «tanto haver partido para longe» (v. 17) e de regressar, pois não o faz com a mesma frequência nem o sente com a mesma intensidade;
supondo que a sua propensão para a viagem não será partilhada por muitos.

4. Na resposta, explicitam-se dois aspetos do tema do regresso, desenvolvendo, adequadamente, dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
Tal como é tratado neste poema, o tema do regresso convoca os seguintes aspetos:
o regresso revela toda a mudança que ocorreu durante a ausência;
o pleno regresso é impossível, pois, ao voltar, o lugar que se deixou encontra-se sempre diferente;
mesmo os que aguardam fielmente o regresso de quem partiu já não são os mesmos.

Fonte: Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa, 11.º Ano de Escolaridade. Prova 734 (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho; Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho).  Instituto de Avaliação Educativa, I.P. (IAVE), 2019, 2ª fase.




     Ligações externas:
           



Quem fala de partir, de despedidas, Jorge de Sena” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 20-07-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2019/07/quem-fala-de-partir-de-despedidas-jorge.html


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