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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Cancioneiro de Natal, David Mourão-Ferreira


Banksy, "A cicatriz de Belém", Cisjordânia, 2019


Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira, Cancioneiro de Natal, 1971


Banksy, Birmingham, 2019



CARREIRO, José. “Cancioneiro de Natal, David Mourão-Ferreira”. Portugal, Folha de Poesia, 25-12-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2019/12/cancioneiro-de-natal-david-mourao.html


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