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segunda-feira, 16 de março de 2020

COVID-19, Coronavírus




A coisa veio de mansinho
Até parecia a gozar
Um vírus vindo da China
Todo lampeiro a matar

Ninguém levou muito a sério
Que a China fica no boda
Mas depois saltou barreiras
E é dono da porra toda

Chama-se Coronavírus
Que parece um nome querido
Não se deixem enganar
Que este sacana é fodi#%
Agora que já cá está
Não vamos fingir que não
É fazer o que é preciso
E dar conta do cabrão

Lavem muito essas manitas
E evitem espaços fechados
Espirrar é só para a manga
Não queremos mais infectados
Caso sintam coisas estranhas
O hospital é pra esquecer
Liguem prá Linha Saúde
Que algum dia hão de atender

Se vier a quarentena
Vamos ter de recolher
Mas em calhando é melhor isso
Do que, sei lá, falecer
É o bicho, é o bicho
Mas aqui não manda nada
Que nós somos portugueses
E somos bons prá porrada

Ainda assim, meus fofinhos
Nada como acautelar
Se todos fizermos isto
O Corona vai a andar
Ah, e só mesmo para acabar
Parem lá de açambarcar
Tenham calma com o papel
O rabo dá pra lavar

Partilhado em: A Pipoca Mais DoceAna Garcia Martins, 2020-03-12.

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«Corōna» e «vīrus» em tempo de coronavírus

Duas palavras gregas (com roupagem latina) dominam a actualidade mundial. Se, por um lado, a formulação que ouvimos todos os dias («coronavírus») fere os meus ouvidos de helenista/latinista - pois como é que um substantivo («corōna») pode qualificar outro substantivo («vīrus»)? -, por outro lado tenho-me entretido com os pensamentos ziguezagueantes sobre estas duas palavras, suscitados pela sua repetição permanente. Sentado ontem ao balcão de um pequeno restaurante de Coimbra, enquanto o noticiário televisivo repetia em tons histéricos o nome «coronavírus», dei por mim a pensar como as palavras têm a sua história; e como as pessoas a quem o ensino actual nega a possibilidade de estudar Grego e Latim passam ao lado dessa história. Por via da herança grega e latina, palavras como «corōna» e «vīrus» têm uma história milenar, cuja viagem (pelo menos a reconstruível) começa com Homero e tem ponto de passagem no Novo Testamento.

À partida, quando olhamos para as palavras latinas «corōna» e «vīrus», diríamos que nada têm a ver uma com a outra: a primeira tem como sentido primário «grinalda», «coroa»; a segunda tem como sentido primário «veneno». No entanto, na utilização mais antiga que se conhece destas duas palavras, elas estão estranhamente ligadas por um denominador comum: o arco do qual se disparam flechas.

À imagem do arco está associada a palavra grega «korōnē» (donde deriva em latim «corōna») desde a Ilíada, poema em que o termo serve para designar a ponta do arco.
Por seu lado, a palavra latina «vīrus» é a forma itálica da palavra grega «īós» (que no tempo de Homero talvez ainda se pronunciasse «wīós»). Esta palavra «īós», antepassada da nossa palavra «vírus», é objecto de fascínio para os helenistas, porque tem três sentidos à primeira vista diferentes: «flecha»; «veneno»; «ferrugem».

Podemos questionar hoje se, linguisticamente, a etimologia de «īós» no sentido de «flecha» é a mesma de «īós» no sentido de «veneno» e «ferrugem»; mas os antigos não tinham essa consciência. Se perguntássemos a Homero a razão de as palavras para «flecha» e «veneno» serem homógrafas, ele responder-nos-ia certamente que, muitas vezes, as flechas são portadoras de veneno pelo facto de serem envenenadas. O arco do qual a primeira flecha da Ilíada é disparada (arco esse, justamente, cuja descrição no Canto 4 nos dá a primeira atestação da palavra «korōnē») é tacitamente suspeito de disparar flechas envenenadas.

Porquê? Porque o médico militar nesse canto da Ilíada, «quando viu a ferida, onde embatera a seta aguda, / chupou dela o sangue e, bom conhecedor, nela pôs fármacos / apaziguadores» (Ilíada 4.217-219).

Depois de Homero, «korōnē» e «īós» seguiram caminhos divergentes. No que diz respeito a «korōnē», há que referir a sua acepção ornitológica («corvo»), o que terá talvez conduzido à acepção de «coroa», quiçá inspirada pela crista de algum pássaro. No entanto, em grego a acepção de «coroa» é rara. Quando os soldados romanos tecem uma coroa de espinhos para pôr na cabeça de Jesus, a palavra grega é «stéphanos» (στέφανος); na Vulgata, no entanto, lemos «corōna».

Por seu lado, a palavra grega «īós» («veneno»), correspondente a «vīrus» em latim, está praticamente ausente do Novo Testamento, embora surja de modo curioso na Epístola de Tiago, onde a primeira ocorrência aponta para a acepção de «veneno» (Tiago 3:8) e a segunda para a acepção de «ferrugem» (5:2). Note-se que a conotação associada a «īós» em grego é quase sempre negativa; mas temos uma excepção curiosa na expressão para designar o mel, que Píndaro inventa num dos seus poemas: «veneno [īós] inofensivo das abelhas».

Também em latim, «vīrus» tem quase sempre uma conotação negativa; contudo, o poeta Estácio, no séc. I d.C., surpreende-nos ao referir um «vírus benigno» com propriedades medicinais, que pode ser colhido «nos campos dos Árabes» (Estácio, «Silvae», 1.4.104).

Que «vīrus» será esse em concreto? Estácio não nos diz. O facto de lhe chamar «benigno» leva a crer que será bem diferente do nosso coronavírus, que, fiel à história mais antiga das palavras que o compõem, tem percorrido em flecha o mundo inteiro.

Um último pensamento: vários autores romanos (Horácio, Plínio [tio], Marcial) aplicaram ao substantivo «vírus» o adjectivo «grave». Esperemos que este vírus que agora nos ocupa se reveja mais na sua identidade homérica de flecha... e que acabe por se tornar, já agora, como escreveu Píndaro, μεμφής: inofensivo.

Frederico Lourenço, Coimbra, 2020-03-07
***

Lembra-se do que sentiu quando, a meio da infância ou no princípio da adolescência, lhe oferecerem aquele caderno com um pequeno cadeado, onde supostamente poderiam caber todos os seus segredos e pelo caminho tudo o que lhe viesse à cabeça? Quem sabe, voltar a esta experiência talvez funcione como um antídoto para os dias de incerteza em que agora mergulhámos e, por isso, lhe deixamos este desafio: comece a escrever um diário, se possível já a partir de hoje.

Pode aproveitar um caderno que tenha por casa ou utilizar o seu “fiel” computador. O meio para o caso não é relevante. O que importará mesmo é fazer o seu relato deste tempo que poderá ser único pelas piores razões, mas que também nos vai desafiar a darmos o que de melhor possamos ser capazes.

E sabe que escrever um diário pode ajudar a que tal aconteça? Foi o que descobriu uma equipa de psicólogos norte-americanos, num estudo realizado no princípio do século. Afirmam eles, num artigo publicado no Journal of Experimental Psychology, que quando se está passar por um acontecimento traumático ou particularmente stressante, “a nossa capacidade de concentração não é a que deveria ser” e por isso se torna muito difícil definir “estratégias de enfrentamento” que permitam lidar com situações que escapam de todo à rotina e para as quais não existem respostas automáticas.

Mas depois de terem trabalhado com cerca de uma centena de voluntários, esta mesma equipa chegou à conclusão que para isto há um remédio fácil à mão: “Uma coisa tão simples como escrever cerca de 20 minutos sobre os problemas que nos estão a afectar pode ter efeitos importantes não só na saúde física e mental, como também em termos de capacidades cognitivas” e permitir assim enfrentar melhor situações que sejam particularmente difíceis.

Por outro lado, escrever um diário vai permitir-lhe que se lembre mais tarde dos pormenores de que estes dias também irão ser feitos e passar o testemunho a outros. Como se tem vindo a comprovar, para o curso da História também têm entrado a concurso estes pequenos “nadas” do quotidiano. Que só permanecem no tempo se foram registados: a memória acaba por não ser uma boa amiga para este efeito.

Está à espera de quê? Não aproveite estes dias de confinamento para tentar resolver tudo o que se foi acumulando por fazer em casa e comece a escrever sobre este novo quotidiano. Até porque neste mundo em overdose de imagens, as palavras poderão ter sempre “um poder curativo”.

Clara Viana, “Escrever um diário é um antídoto para tempos de incerteza”, Público, 2020-03-16

***


Francesca Morelli: ecco cosa ci sta spiegando il virus

Credo che il cosmo abbia il suo modo di riequilibrare le cose e le sue leggi, quando queste vengono stravolte.
Il momento che stiamo vivendo, pieno di anomalie e paradossi, fa pensare...
In una fase in cui il cambiamento climatico causato dai disastri ambientali è arrivato a livelli preoccupanti, la Cina in primis e tanti paesi a seguire, sono costretti al blocco; l'economia collassa, ma l'inquinamento scende in maniera considerevole. L'aria migliora; si usa la mascherina, ma si respira...
In un momento storico in cui certe ideologie e politiche discriminatorie, con forti richiami ad un passato meschino, si stanno riattivando in tutto il mondo, arriva un virus che ci fa sperimentare che, in un attimo, possiamo diventare i discriminati, i segregati, quelli bloccati alla frontiera, quelli che portano le malattie. Anche se non ne abbiamo colpa. Anche se siamo bianchi, occidentali e viaggiamo in business class.
In una società fondata sulla produttività e sul consumo, in cui tutti corriamo 14 ore al giorno dietro a non si sa bene cosa, senza sabati nè domeniche, senza più rossi del calendario, da un momento all'altro, arriva lo stop.
Fermi, a casa, giorni e giorni. A fare i conti con un tempo di cui abbiamo perso il valore, se non è misurabile in compenso, in denaro. Sappiamo ancora cosa farcene?
In una fase in cui la crescita dei propri figli è, per forza di cose, delegata spesso a figure ed istituzioni altre, il virus chiude le scuole e costringe a trovare soluzioni alternative, a rimettere insieme mamme e papà con i propri bimbi. Ci costringe a rifare famiglia.
In una dimensione in cui le relazioni, la comunicazione, la socialità sono giocate prevalentemente nel "non-spazio" del virtuale, del social network, dandoci l'illusione della vicinanza, il virus ci toglie quella vera di vicinanza, quella reale: che nessuno si tocchi, niente baci, niente abbracci, a distanza, nel freddo del non-contatto.
Quanto abbiamo dato per scontato questi gesti ed il loro significato?
In una fase sociale in cui pensare al proprio orto è diventata la regola, il virus ci manda un messaggio chiaro: l'unico modo per uscirne è la reciprocità, il senso di appartenenza, la comunita, il sentire di essere parte di qualcosa di più grande di cui prendersi cura e che si può prendere cura di noi. La responsabilità condivisa, il sentire che dalle tue azioni dipendono le sorti non solo tue, ma di tutti quelli che ti circondano. E che tu dipendi da loro.
Allora, se smettiamo di fare la caccia alle streghe, di domandarci di chi è la colpa o perché è accaduto tutto questo, ma ci domandiamo cosa possiamo imparare da questo, credo che abbiamo tutti molto su cui riflettere ed impegnarci.
Perchè col cosmo e le sue leggi, evidentemente, siamo in debito spinto. Ce lo sta spiegando il virus, a caro prezzo.

“Ecco cosa ci sta spiegando il vírus”, Francesca Morelli, 2020-03-10





Reflexão da psicóloga Francesca Morelli
(Tradução)

Acredito que o cosmos tem sua própria maneira de equilibrar as coisas e suas leis, quando elas estão perturbadas.
O momento em que estamos a viver, cheio de anomalias e paradoxos, faz-nos pensar...
Numa época em que as mudanças climáticas causadas pelos desastres ambientais atingiram níveis preocupantes, a China em primeiro lugar, e muitos países depois, são forçados a congelar; a economia entra em colapso, mas a poluição diminui consideravelmente. O ar melhora; você usa a máscara, mas respira...
Num momento histórico em que certas ideologias e políticas discriminatórias, com fortes referências a um passado mesquinho, estão sendo reativadas em todo o mundo, chega um vírus que nos faz experimentar que, em um instante, podemos nos tornar os discriminados, os segregados, os presos na fronteira, os portadores de doenças. Mesmo que a culpa não seja nossa. Mesmo que sejamos brancos, ocidentais e viajando em classe executiva.
Numa sociedade baseada na produtividade e no consumo, em que todos corremos 14 horas por dia atrás do desconhecido, sem sábados nem domingos, sem mais vermelhos no calendário, de um momento para o outro, vem a paragem.
Parados, em casa, dias e dias. Para contar com um tempo cujo valor perdemos, se não for mensurável em compensação, em dinheiro.
Ainda sabemos o que fazer com ele?
Numa fase em que o crescimento dos filhos é, por necessidade, muitas vezes delegado a outras figuras e instituições, o vírus fecha as escolas e obriga-as a encontrar soluções alternativas, para voltar a colocar mães e pais junto dos filhos. Obriga-nos a começar uma nova família.
Numa dimensão onde as relações, a comunicação, a sociabilidade são jogadas principalmente no "não-espaço" da rede social virtual, dando-nos a ilusão de proximidade, o vírus tira-nos a verdadeira proximidade, a verdadeira proximidade: sem tocar, sem beijar, sem abraçar, à distância, no frio do não-contacto.
Quanto é que tomámos estes gestos e o seu significado como garantidos?
Numa fase social em que pensar no próprio jardim se tornou a regra, o vírus envia-nos uma mensagem clara: a única saída é a reciprocidade, o sentido de pertença, a comunidade, o sentimento de fazer parte de algo maior para cuidar e que pode cuidar de nós. A responsabilidade partilhada, o sentimento de que o destino não é só de vocês, mas de todos à vossa volta depende das vossas ações. E que tu dependes deles.
Então, se pararmos de fazer caça às bruxas, pensando de quem é a culpa ou por que tudo isso aconteceu, mas pensando no que podemos aprender com isso, acho que todos nós temos muito o que pensar e nos comprometer.
Porque com o cosmos e suas leis, obviamente, temos uma dívida de gratidão.
O vírus está a explicar-nos, a um grande custo.


“Isto é o que nos explica o vírus”, Francesca Morelli. Título original: “Ecco cosa ci sta spiegando il vírus”, VITA.IT, 2020-03-10










Lisboa ainda



Lisboa não tem beijos nem abraços

não tem risos nem esplanadas

não tem passos

nem raparigas e rapazes de mãos dadas

tem praças cheias de ninguém

ainda tem sol mas não tem

nem gaivota de Amália nem canoa

sem restaurantes sem bares nem cinemas

ainda é fado ainda é poemas

fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa

cidade aberta

ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste

e em cada rua deserta

ainda resiste.


Manuel Alegre, poema escrito em 20 de março de 2020



A VIDA TRIUNFA EM CASA 

 

Esta ausência não foi por nós pedida, 

este silêncio não é da nossa lavra, 

já nem Pessoa conversa com Pessoa, 

com o feitiço sempre imenso da palavra 

Este tempo só é o nosso tempo 

porque é nossa a dor que nos sufoca 

e faz de cada dia a ferida entreaberta 

do assombro que esquivando-se nos toca 

Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós, 

é a casa alquebrada pelo medo, 

é a febre a arder na nossa voz 

por saber que o mal a magoa em segredo 

Este silêncio é um sussurro tão antigo 

que mata como a peste já matava; 

vem de longe sem nada ter de amigo 

com a mesma angústia que nos castigava 

Esta ausência é uma pátria revoltada 

que se fecha em casa sempre à espera 

que a febre não a vença nem lhe roube 

a luz mansa que lhe traz a Primavera 

Esta casa somos nós de sentinela,

à espera que a rua de novo nos console 

e que festeje debruçada à janela 

a alegria que só nasce com o sol 

Esta ausência mais tarde há-de ter fim, 

por nada lhe faltar nem inocência; 

que se escute o desejo de saúde 

anunciando que vai pôr fim à inclemência 

Que se abram as portas e as janelas, 

que o medo, derrotado, parta sem destino 

por ser esse o sonho colorido 

que ilumina o riso de um menino. 

 

José Jorge Letria, 20 de março de 2020

https://expresso.pt/coronavirus/2020-03-21-Jose-Jorge-Letria-escreve-poema-sobre-o-covid-19-A-Vida-Triunfa-em-Casa



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NÓS 

I
Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E a Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

II
Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas
(Até então nós só tivéramos sarampo),
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!

III
Se acaso o conta, ainda a fronte  se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar  dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvamo-nos na fuga.

IV
Na parte mercantil, foco da epidemia,
Um pânico! Nem um navio entrava a barra,
A alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.

V
Pela manhã, em vez dos trens  dos baptizados,
Rodavam sem cessar as seges  dos enterros.
Que triste a sucessão dos armazéns fechados!
Como um domingo inglês na city, que desterros!

VI
Sem canalização, em muitos burgos  ermos,
Secavam dejecções cobertas de mosqueiros.
E os médicos, ao pé dos padres e coveiros,
Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!

VII
Uma iluminação a azeite de purgueira ,
De noite amarelava os prédios macilentos.
Barricas de alcatrão ardiam; de maneira
Que tinham tons de inferno outros arruamentos.

VIII
Porém, lá fora, à solta, exageradamente,
Enquanto acontecia essa calamidade,
Toda a vegetação, pletórica , potente,
Ganhava imenso com a enorme mortandade!

IX
Num ímpeto de seiva os arvoredos fartos,
Numa opulenta fúria as novidades todas,
Como uma universal celebração de bodas,
Amaram-se! E depois houve soberbos partos.

X
Por isso, o chefe antigo e bom da nossa casa,
Triste de ouvir falar em órfãos e em viúvas,
E em permanência olhando o horizonte em brasa,
Não quis voltar senão depois das grandes chuvas.

XI
Ele, dum lado, via os filhos achacados ,
Um lívido flagelo e uma moléstia  horrenda!
E via, do outro lado, eiras , lezírias , prados,
E um salutar refúgio e um lucro na vivenda!

XII
E o campo, desde então, segundo o que me lembro,
É todo o meu amor de todos estes anos!
Nós vamos para lá; somos provincianos,
Desde o calor de Maio aos frios de Novembro!


Cesário Verde

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CARREIRO, José. “COVID-19, Coronavírus”. Portugal, Folha de Poesia, 16-03-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/03/covid-19-coronavirus.html


 

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