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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Variações sobre cantares de D. Dinis, por Jorge de Sena



VARIAÇÕES SOBRE CANTARES DE D. DINIS

Ramo verde florido,
florido de bela flor,
do meu amor tão querido,
onde está o meu amor?

Diz-me aonde ele está,
aonde está o meu amor,
p'ra que eu buscá-lo vá
florido de bela flor.

Ramo verde tão querido,
tão querido do meu amor,
de belas flores florido,
florido de bela flor...

...Diz-me aonde ele está,
florido de bela flor,
p'ra que eu buscá-lo vá
aonde ele está, o meu amor.

Ramo verde florido,
florido de bela flor,
do meu amor tão querido,
tão querido do meu amor.

17/5/1938

Jorge de Sena, 40 Anos de Servidão,
Lisboa: Moraes Editores, 1979;
2.ª edição, Lisboa: Edições 70, 1989, p. 21




Jorge de Sena — um Trovador da Modernidade
[…] um dos primeiros poemas de inspiração cancioneiril data de 1938, ou seja, antecede a estreia literária de Sena, ocorrida por altura dos seus 19 anos. É interessante salientar que este poema da juventude vai abrir uma obra póstuma, organizada por Mécia de Sena "como um raminho de flores de campo na porta duma casa senhorial, uma cantiga de amigo" (Picchio, 1984:226,227), inspirada nas do verde pinho" do rei trovador, intitulada "Variações sobre Cantares de D. Dinis".
Esta composição de estrutura paralelística recorre ao dobre e aos jogos quiasmáticos, à variação sinonímica, ao estrofismo popularizante da quadra aliada ao metro da redondilha maior. Além disso, a enunciação feminina, a voz da donzela que questiona o ancestral ramo verde florido/florido de bela de flor" pelo seu amor também aproxima o poema à cantiga de amigo dionisíaca. Porém, como vimos, Jorge de Sena não se limita a um decalque replicativo: inversamente, subverte o tom inocente da cantiga, numa exploração simbólica do erotismo e da virilidade, como salienta Luciana Stegnano Picchio: “que a Tradição popular em que ele saudosamente, ironicamente, se insertava, mais do que ao pino do amigo da tradição poética ilustre, com todas as suas implicações freudianamente eróticas, se cingiria ao correlato deste pinheiro longínquo, dentro da convenção do paralelismo galego-português: se cingiria ao ramo do amado. O pinheiro, solidariamente, orgulhosamente, olha para o céu com suas flores não desabrochadas." (Picchio, 1984: 230,231)


Un Chant Novel: A inspiração (neo)trovadoresca na poética de Jorge de Sena, Sílvia Marisa dos Santos Almeida CunhaUniversidade de Aveiro- Departamento de Línguas e Culturas, 2008.




Ligações externas com sugestões de leitura:


Cantigas medievais galego-portuguesas – projeto Litteraa presente base de dados disponibiliza, aos investigadores e ao público em geral, a totalidade das cantigas medievais presentes nos cancioneiros galego-portugueses, as respetivas imagens dos manuscritos e ainda a música (quer a medieval, quer as versões ou composições originais contemporâneas que tomam como ponto de partida os textos das cantigas medievais)






Un Chant Novel: A inspiração (neo)trovadoresca na poética de Jorge de Sena, Sílvia Marisa dos Santos Almeida CunhaUniversidade de Aveiro- Departamento de Línguas e Culturas, 2008.


Ler Jorge de Sena® 2010 Universidade Federal do Rio de Janeiro


O essencial sobre Jorge de Sena, Jorge Fazenda Lourenço. 2.ª edição revista e aumentada, INCM, 2019



LUSOFONIA Plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/



CARREIRO, José. “Variações sobre cantares de D. Dinis, por Jorge de Sena”. Portugal, Folha de Poesia, 07-05-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/05/variacoes-sobre-cantares-de-d-dinis-por.html


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