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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Cancioneiro Popular Português, Teófilo Braga

Cancioneiro Popular Portuguez,

Theophilo Braga, 1911 (2.ª ed. ampliada).


Propostas de atividades para o ensino da literatura popular na sala de aula 

Por: Anamarija Marinovic


Esta série de quadras foi escolhida aleatoriamente e estruturada assim para ter uma história. Organizei-as desta forma para tentar ver de que maneiras poderia ser explorada a literatura popular na sala de aula.

Estas quadras poderiam ser dadas no [ensino básico] para as crianças conhecerem um pouco da sua literatura oral, mas também na escola secundária para se ver que alguns autores cultos recorriam ao uso de motivos e temas folclóricos nas suas obras. Devido ao facto de não conhecer bem o sistema escolar português, não sei dizer para que anos estes conteúdos seriam adequados. A introdução da literatura popular na sala de aula pode ajudar a que os alunos se lembrem de alguns provérbios e dos valores que ensinam. Pode também ser útil para desenvolver a criatividade e imaginação dos alunos, e para ser um primeiro passo que os conduza às obras de autores eruditos. Proponho algumas atividades para esta matéria ser tratada na sala de aula. 


Lê atentamente as cantigas que se seguem e depois responde às perguntas:


Pus-me a chorar saudades

Ao pé de uma sepultura

Uma voz me respondeu:

“Mal de amores não tem cura!”

 

Mal de amores não tem cura?

Mal de amores cura tem!

Juntem-se dois amores

E o mal de amores cura-se bem.

 

A ausência tem uma filha

Que se chama Saudade,

Eu sustento uma e outra

Bem contra a minha vontade

 

Se as saudades matassem

Muita gente morreria

Mas as saudades não matam

Se não no primeiro dia.

 

Amei, fui desgraçado,

Jurei nunca mais amar,

Fizeram-me esses teus olhos

As minhas juras quebrar.

 

Amar e saber amar

Amar e saber a quem

Amar a luz dos teus olhos

E não amar mais ninguém.

 

Amar e escolher amores

Ensinou-me quem podia

Amar foi a natureza

Escolher foi a simpatia.

 

Palavra de Deus não mente

Ouve o que digo eu

Ouvi uma voz do céu:

“José, tu has-de ser meu!”

 

Ana quero, Ana amo,

Ana trago no sentido,

Quando me falam em Ana

Falam-me no meu alívio

 

José quero, José amo,

José trago no sentido,

Por causa de ti José

Eu trago o sono perdido.

 

Quem tem amores não dorme

Se não com olhos abertos,

Eu durmo com os meus fechados,

Que os meus amores estão certos.

 

Esta noite sonhei eu

Contigo, minha beleza,

Acordei, achei-me só:

Nos sonhos não há firmeza.

 

O açúcar para ser doce

Deve ser de além-mar,

A mulher para ser boa

Ana se há-de chamar.

 

A rosa para ser rosa

Deve ter folha e pé,

O amor para ser firme

Há-de se chamar José.

 

Amor com amor se paga

Nunca vi coisa mais justa.

Paga-me contigo mesma,

Meu amor, pouco te custa.

 

Amor com amor se paga,

Tem cuidado, meu amor,

Olha que Deus não perdoa

A quem é mau pagador!

 

Meu amor, anda daí

À igreja dar a mão

Calar as bocas do mundo,

Descansar o coração.

 

Tu és peixe mais lindo

Que anda na funda lancha,

Só quando contigo casar

É que meu coração descansa.

 

1) Darias algum título a esta série de cantigas? Justifica.

 

2) Quais são os elementos que fazem com que esta história tenha um fio condutor e uma estrutura narrativa?

 

3) Em que se assemelham estas quadras às cantigas de desafio?

 

4) Qual é a imagem habitual que a literatura tradicional dá sobre os papéis do homem e da mulher na sociedade e sobre os seus comportamentos amorosos? Nestas cantigas a imagem corresponde ao estereótipo?  Por que razão?

 

5) Encontra provérbios nestas cantigas.

 

6) Qual é o tema dominante desses provérbios? Em que situações se aplicam?

 

7) Encontra outras frases com o tom moralizador no texto.

 

8) Quando é que os protagonistas das cantigas ganham uma identidade? Por que razão?

 

9) Quais são as características que o José e a Ana têm em comum?

 

10) Caracteriza o José e a Ana separados, ao longo das cantigas.

 

11) Qual é a posição do José e da Ana em relação à saudade?

 

12) Qual é a posição do José e da Ana em relação ao dormir/sonhar e dormir/estar acordado?

 

13) Tenta organizar estas quadras por outra ordem. Qual seria então o desenvolvimento desta história: acrescenta mais personagens, mais nomes e mais cantigas.

 

14) Escreve esta história como se fosse um conto.

 

15) Em que esta história se assemelha a um conto tradicional?

 

16) Nem todas destas cantigas foram recolhidas por Teófilo Braga. Nos cancioneiros que conheces procura outras quadras e faz uma história organizando-as pela ordem que te parecer melhor.

 

17) Escreve um poema ou um conto que tenha por título um dos provérbios citados nas cantigas.

 

18) Encontra contrastes, comparações e metáforas nas cantigas aqui transcritas.

 

19) Encontra paralelismos que se referem ao José e à Ana.

 

20) Qual é a função das vozes do além que os protagonistas ouvem?

 

21) Que sabes sobre Teófilo Braga?

 

22) Faz um desenho que tenha por tema a Primeira República Portuguesa.

 

23) O que sabes sobre este acontecimento?

 

24) Encontra nos cancioneiros de Teófilo Braga três provérbios que falam sobre ciúmes?

 

25) Qual é a visão que as cantigas políticas oferecem sobre algumas figuras da história portuguesa? Por que?

 

26) Explica com as tuas palavras o provérbio “quem desdenha quer comprar?”

 

27) Faz um desenho em que ilustres o provérbio “quem desdenha quer comprar?”

 

28) Explica o provérbio “Cantigas-leva as o vento”. Qual é o papel dos jovens para o vento do esquecimento não levar as vossas lindas cantigas, contos e provérbios?

 

29) Que santo popular se menciona mais nas cantigas do cancioneiro? Sabes explicar por que?

 

30) Encontra nos cancioneiros de Braga provérbios que tenham esta estrutura:

 

   QBQ SP___________________________

   QCSME, __________________________

   OHF HF___________________________

 

31) Escreve um conto ou poema inspirado na seguinte cantiga:

 

“Foste pedir-me ao meu pai

Sem saber o querer meu

O pai em tudo governa

Mas nisso governo eu”

 

32) Escreve um conto ou poema inspirado num dos seguintes provérbios:

a) Só não muda a amizade que se funda na virtude

b) quem nesta vida não ama noutra não se salvou

c) Deus do céu é que nos conhece

 

33) Conheces um provérbio parecido com “tanto dá a água na pedra que a faz amolecer”? Explica o seu significado.

 

34) Depois de teres lido várias cantigas, escreve uma

 

35) As cantigas amorosas são as mais bonitas da poesia popular portuguesa. Aprende de cor e declama pelo menos três.

 

36) Dedica uma cantiga a alguém muito especial para ti.

 

37) Qual é a opinião que a sabedoria popular exprime sobre o “amor primeiro”? Conheces alguma cantiga ou provérbio que falem sobre isso. Qual é a tua opinião?

 

38) Conheces alguma cantiga ou provérbio com os meses do ano?

 

39) Desenha um provérbio sobre os meses.

 

40) Conheces alguma cantiga do cancioneiro sagrado? O que te ensina?

 

41) Qual é a visão que o povo tem de Deus nos seus provérbios? Conheces alguns?

 

42) Escreve um conto ou poema sobre “madrasta-o nome lhe basta”. A madrasta é mesmo sempre má? Pensa nisso.

 

43) Informa-te um pouco com a ajuda dos teus pais, avós ou livros sobre Teófilo Braga e escreve algumas frases sobre ele.

 

44) Conheces alguma expressão idiomática ou frase feita em português? Consegues explicá-la?

 

45) Encontra nos cancioneiros de Teófilo Braga algumas cantigas sobre a saudade. Escreve um conto ou poema com este tema

 

46) Completa os provérbios com as palavras que faltam:

     O amor  que é entendido__________________________

     Quem___________sempre_________________________

     Não há__________que por_______________não venha

 

47) O primeiro provérbio faz-te lembrar um outro mais conhecido? Explica-º

 

48) Completa a cantiga: “Não há sol como o de Maio....”

 

49) com que flor se igualam as raparigas e com que os rapazes nas cantigas populares portuguesas?

 

50) O provérbio “correcto” é “quem tem amores não dorme“. O que significa? Qual seria o seu significado se fosse conhecido como: “Quem tem amores dorme bem e sonha melhor”?

 

51) No cancioneiro de Teófilo Braga há cantigas com erros gramaticais. Lê com atenção e corrige-os.



Fonte: Teófilo Braga e a Poesia Popular. Análise linguística, estilística, literária e proverbial do Cancioneiro Popular Portuguez e dos Cantos Populares do Arquipélago Açoriano, Anamarija Marinović. Portugal, Edição de Autor, 2015. ISBN: 978-989-20-6109-2

Esta obra pretende focar os aspectos políticos, literário, etnográfico e paremiográfico do trabalho de Teófilo Braga, com um olhar especial para a poesia popular, reunida no Cancioneiro Popular Portuguez e nos Cantos populares do Arquipélago Açoriano.

A figura de Teófilo Braga é importante em Portugal não apenas como um dos Presidente da República Portuguesa, mas também como pessoa que se dedicou à recolha e preservação de uma parte do património imaterial português. 

Através da análise de questões relativas ao estilo, linguagem e material fraseológico e proverbial, pretendemos aproximar os públicos (o académico e o mais geral) do tesouro da língua portuguesa e sua cultura popular e fazê-los reflectir sobre os valores universais que nelas se encontram e que através dela são transmitidos.




CARREIRO, José. “Cancioneiro Popular Português, Teófilo Braga”. Portugal, Folha de Poesia, 11-09-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/09/cancioneiro-popular-portugues-teofilo.html


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