PASTORAL
Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.
Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.
Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.
Nas formas presentes,
nos atos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.
Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.
É dessas que eu sou.
António Gedeão, Teatro
do mundo. Coimbra: Oficinas da Atlântida, 1958
Sobre o
poema
António Gedeão começa por constatar que não há
duas folhas iguais em todo o Universo, aludindo desta forma à grande
diversidade biológica que também nelas se manifesta. Mesmo naquelas que parecem
ser iguais, há com certeza uma diferença: é o que o poeta pretende dizer quando
afirma “ou nervura a menos, ou célula a mais, não há, de certeza, duas folhas
iguais”.
Depois passa à descrição da morfologia da folha e
à sua classificação quanto ao recorte da margem, à forma da folha e à
consistência. Na quadra seguinte reafirma que, apesar de as folhas poderem ser
classificadas e separadas, mesmo entre aquelas que têm mesma forma −
“semelhantes”− há sempre diferenças que as tornam únicas.
António Gedeão revela neste poema um bom
conhecimento da morfologia e classificação botânica das folhas, mas comete um
lapso comum ao afirmar que todas as folhas têm limbo. Embora seja verdade para
a maioria, há algumas exceções, como por exemplo, as folhas da acácia.
Recorda que as folhas podem cair e …”jazem sem
movimento”, referindo‐se às
folhas caducas, e às outras que “nem jazem, nem caem” as folhas perenes.
Por fim classifica‐se
a si próprio como pertencendo ao grupo
das “folhas”
que “não jazem, nem caem, nem gritam, apenas volitam nas dobras do vento”, isto
é, como uma pessoa resistente e com personalidade.
Maria Cristina Gusmão
Pinheiro, Ciência em poetas portugueses do século XX:
implicações
na comunicação da Ciência. Universidade de Aveiro, 2007
Classificação das folhas quanto à constituição
De acordo com a leitura do poema “Pastoral”, de António Gedeão,
classifica cada afirmação que se segue como verdadeira ou falsa. Procede à
correção das afirmações falsas.
1.
O
poema “Pastoral” celebra a diversidade e singularidade das folhas.
2.
O
poema destaca que não há duas folhas iguais em toda a criação e enfatiza a
individualidade de cada ser.
3.
O
poema sugere que todas as folhas possuem limbo sem exceção.
4.
No
poema sugere-se que todas as folhas têm bainha.
5.
As
folhas que "jazem sem movimento" no poema referem-se às folhas
perenes.
6.
A
enumeração é uma técnica estilística presente no poema, especialmente na
descrição das diferentes formas das folhas.
7.
As
folhas mencionadas no poema representam apenas características botânicas, sem
nenhuma alegoria para a condição humana.
8.
As
folhas que “não jazem, nem caem, nem gritam” representam a efemeridade da vida.
9.
O
poema sugere que as folhas que "volitam nas dobras do vento" são um
símbolo de resignação e derrota.
10.
O
sujeito poético descreve folhas que se adaptam e resistem, comparando-as à sua
própria personalidade.
Respostas:
1. Verdadeiro
2. Verdadeiro
3. Verdadeiro. Embora Gedeão escreva
isso no poema, na realidade, há exceções como mencionado na análise de Maria
Cristina Gusmão Pinheiro.
4. Falso. Afirma-se que
"bainha nem todas," indicando que nem todas as folhas possuem bainha.
5. Falso. No poema, as folhas
que "jazem sem movimento" referem-se às folhas caducas, que caem e
ficam imóveis.
6. Verdadeiro.
7. Falso. As folhas
simbolizam também diferentes formas de existência e individualidade humana.
8. Falso. Essas folhas
simbolizam a resistência e a persistência diante das adversidades.
9. Falso. Estas folhas
simbolizam resiliência e a capacidade de adaptação, qualidades com as quais o
sujeito poético se identifica.
10. Verdadeiro.
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