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quarta-feira, 17 de julho de 2024

Vivo numa outra terra, Sérgio Godinho


 

VIVO NUMA OUTRA TERRA

Contigo, na nossa terra
quisera eu bailar
contigo, eu trocara a jura
de a gente se amar
contigo, na nossa terra
quisera eu viver
mas vivo numa outra terra
a trabalhar
e a ganhar
p´ra viver
e a viver
p´ra ganhar

Eu sei que na minha terra
há gente a lutar
quisera eu estar lá com eles
sem ter que emigrar
mas tanto atirei semente
sem ter colher
que pedi um passaporte
para emigrar
e ganhar
p´ra viver
e viver
p´ra ganhar

Eu fui lavar saudades ao Tejo
a aguinha doce deu-me logo um beijo
eu fui lavar saudades ao Douro
abraços desses valem mais do que ouro

Aqui em terra distante
vivo mal e bem
sinto saudades imensas
de quem me quer bem
tenho um salário melhor
não há que duvidar
mas era na minha terra
que eu queria estar
e ganhar
p´ra viver
e não ter
que emigrar

Haja um dia que vem vindo
quem dera que já
em que eu faça uma viagem
de cá para lá
e que o trabalho me renda
sem ter de emigrar
que eu viva na minha terra
a trabalhar
e ganhar
p´ra viver
e não ter
que emigrar

Eu fui lavar saudades ao Tejo
a aguinha doce deu-me logo um beijo
eu fui lavar saudades ao Douro
abraços desses valem mais do que ouro

 

Letra, música e interpretação de Sérgio Godinho, do álbum Campolide. Editora Orfeu, 1979

 

QUESTIONÁRIO

1. Estabelece a correspondência entre cada uma das estrofes indicadas na coluna da esquerda e o seu assunto, na coluna da direita:

1.ª estrofe

2.ª estrofe

4.ª estrofe

5.ª estrofe

A.   O sujeito poético descreve a sua vida atual. 

B.   O sujeito poético manifesta um desejo para o futuro. 

C.   O sujeito poético revela um desejo e explica por que razão não pode ser realizado. 

D.  O sujeito poético explica a causa da sua situação atual. 

 

2. De acordo com a leitura da letra da canção “Vivo numa outra terra”, de Sérgio Godinho, classifica cada afirmação que se segue como verdadeira ou falsa. Procede à correção das afirmações falsas.

2.1. O título sugere o tema da emigração.

2.2. O tema do poema é a vida em terra estrangeira e o desejo de retornar à terra natal.

2.3. O sujeito poético está dividido entre viver mal (devido ao baixo salário) e bem (por estar quase na sua terra).

2.4. Na quinta estrofe, o sujeito poético expressa o desejo de ir e voltar da sua terra natal.

2.5. O sentimento dominante no poema é o desejo de enriquecer, expresso principalmente na terceira, quarta e sexta estrofes.

2.6. O tempo verbal predominante na quinta estrofe é o pretérito perfeito.

2.7. Há três refrões no poema: os quatro versos finais das estrofes 1 e 2; as estrofes 3 e 6; os quatro versos finais das estrofes 4 e 5.

2.8. Conclui-se que o sujeito poético está satisfeito com a sua vida na terra estrangeira.

 

RESPOSTAS

1.Chave de correção: C-D-A-B

1.ª estrofe: O sujeito poético revela um desejo e explica por que razão não pode ser realizado. 

2.ª estrofe: O sujeito poético explica a causa da sua situação atual. 

4.ª estrofe: O sujeito poético descreve a sua vida atual. 

5.ª estrofe: O sujeito poético manifesta um desejo para o futuro. 

2.1. Verdadeiro.

2.2. Verdadeiro.

2.3.  Falso. O sujeito poético está dividido entre viver mal (por estar longe da sua terra) e bem (devido ao salário melhor).

2.4. Falso. Na quinta estrofe, o sujeito poético expressa o desejo de um dia poder voltar à sua terra natal e trabalhar lá sem precisar emigrar.

2.5. Falso. O sentimento dominante no poema é a saudade, expressa principalmente na terceira, quarta e sexta estrofes.

2.6. Falso.O tempo verbal predominante na quinta estrofe é o presente do conjuntivo, que é usado para expressar um desejo ou vontade.

2.7. Verdadeiro.

2.8. Falso. O sujeito poético não está totalmente satisfeito com a sua vida na terra estrangeira, pois sente saudades imensas da sua terra natal e de quem lhe quer bem. 

(Adaptado de: Diálogos 7, Fernanda Costa e Luísa Mendonça. Porto Editora, 2011)




CAMPOLIDE (1979), Sérgio Godinho

A imagem é um retrato quase banal: um homem e uma caixa de viola numa estação de comboios, um relógio onde ainda não são duas horas, um cartaz na parede com o mesmo homem e a mesma viola, gente normal em volta. O homem da viola é Sérgio Godinho, a estação, lê-se no painel de azulejo sobre a porta, é Campolide. Há 35 anos, o homem, a viola e a estação tornaram-se num disco com dez canções sem tempo.

«Campolide» é o sexto álbum de originais de Sérgio Godinho, quarto gravado e publicado após o 25 de Abril e o regresso a Portugal do compositor. É, também, o segundo e último que grava para a etiqueta Orfeu, de Arnaldo Trindade.

«Campolide», porém, não é sequer o título de qualquer das canções deste álbum. Chama-se assim, apenas, porque foi gravado nos estúdios localizados no 103-C da Rua de Campolide, ao tempo propriedade da empresa de Arnaldo Trindade e conhecidos como «estúdios de Campolide», onde gravaram algumas das mais importantes figuras da música portuguesa.

Foi aqui, por exemplo, que em 1969 Adriano Correia de Oliveira registou o histórico «O Canto e As Armas», sobre poemas de Manuel Alegre. Adriano cumpria o serviço militar, tal como Rui Pato, que o acompanhou à viola: «O disco foi gravado durante duas noites de patrulha da polícia militar do alferes Adriano, com ele fardado e com a pistola, o capacete e a braçadeira poisados em cima do piano, e o jipe a passear por Lisboa, com a cumplicidade de certos militares amigos», contaria Rui Pato, muitos anos depois.

Adriano foi apenas uma das vozes que se fizeram ouvir nos estúdios de Campolide, que durante anos estiveram para Lisboa um pouco como os estúdios de Abbey Road para a capital inglesa. De Zeca Afonso a Fausto Bordalo Dias, passando por Carlos Mendes, Maria da Fé ou Tony de Matos, praticamente não houve nome grande da música portuguesa que por ali não tenha passado. Não admira, pois, que acabasse por ser nome próprio de um disco. Este, de Sérgio Godinho.

«Campolide», publicado em 1979, tem uma ficha técnica de luxo: Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Pedro Osório, Guilherme Inês, Luís Caldeira ou José Eduardo são alguns dos participantes, a que se juntam as colaborações especiais de Adriano Correia de Oliveira, Fausto, José Afonso e Vitorino. Dos dez temas desse disco, destacam-se “Arranja-me um Emprego”, “Cuidado com as Imitações”, “Espectáculo” ou “Lá em Baixo”. Ou “Quatro Quadras Soltas”, o único registo que reúne de uma assentada Sérgio, Fausto, Adriano e Zeca.

De resto, não é gratuito dizer que a vida musical de Sérgio Godinho está, desde o início ligada a Campolide: foi para a Sassetti, outra editora histórica, sedeada na Avenida Conselheiro Fernando de Sousa, que gravou dois discos a partir do exílio («Os Sobreviventes», em 1971, e «Pré-Histórias», em 72) e os dois primeiros após a revolução («À Queima-Roupa», em 74, e «De Pequenino se Torce o Destino», em 76) . Depois, já na Orfeu, é nos estúdios de Campolide que grava o aclamado «Pano-Cru», de que fazem parte algumas das suas canções mais emblemáticas, como “Balada da Rita”, “A Vida é Feita de Pequenos Nadas”, “Feiticeira” e, principalmente, “O Primeiro Dia”. E, finalmente, «Campolide».

Criados nos anos 60, os estúdios de Campolide viriam mais tarde a mudar de mãos, mas não de rumo. Como Estúdios Rádio Triunfo, depois Namouche, e finalmente Xangrilá, o 103-C da Rua de Campolide continuou até há pouco tempo a acolher vozes e personagens importantes da música portuguesa. Agora, restam as memórias de algumas gravações que fizeram história. Como o disco de Sérgio Godinho.

Notícias de Campolide, setembro de 2014. Disponível em: https://viriatoteles.com/imprensa/imprensa-2010/269-um-disco-um-estudio-uma-historia.html


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