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terça-feira, 24 de julho de 2018

Laurinda



Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
És mais linda do qu'o Sol(e)
Deixa-me dormir uma noite
Nas bordas do teu lençol

Sim, sim, cavalheiro, sim
Sim, sim, cavalheiro, sim
Hoje sim, amanhã não
Meu marido, não esta cá
Foi pr'a feira de Marvão

Onze horas, meia-noite
Onze horas, meia-noite
Marido a porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu

Ou ela está doentinha
Ou ela está doentinha
Ou encontrou outro amor
Ou então procur'a chave
Lá no meio do corredor

De quem é aquele chapéu?
De quem é aquele chapéu?
Debroado a galão
É para ti meu marido
Que fiz eu por minha mão

De quem é aquele casaco?
De quem é aquele casaco?
Que ali vejo pendurado
É para ti meu marido
Que o trazeis bem ganhado(?)

De quem é aquele cavalo?
De quem é aquele cavalo?
Que na minha esquadra entrou
É para ti meu marido
Foi teu pai quem tu mandou

De quem é aquele suspiro?
De quem é aquele suspiro?
Que ao meu leito se atirou
Laurinda, que aquilo ouviu
Caiu no chão desmaiou

Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
Não vale a pena desmaiar
Todo o amor, que t'eu tinha
Vai-se agora acabar

Vai buscar as tuas irmãs
Vai buscar as tuas irmãs
Trá-las todas num andor
Que a mais linda delas todas
Há de ser meu novo amor

Letra e música: popular
Intérprete: Vitorino
(rimance) 

INTERTEXTUALIDADE (PARÓDIA)


Laurinda Anticonjugal

-Ó Laurinda, linda, linda, és linda como o cristal,
deixa-me dormir contigo, numa noite especial.

-Sim, sim, cavalheiro, sim, hoje é a noite ideal,
meu marido está pra fora, foi jogar o futsal.

Onze horas, meia noite, ouve-se um som anormal,
marido bateu à porta, num som nada cordial.

Bateu uma, bateu duas, Laurinda não deu sinal.
- Esconde-te no guarda-fatos, vai ser nosso funeral!

Laurinda lá abre a porta, da maneira habitual:
- Não te ouvia, meu querido, por causa do vendaval.

- De quem é aquele cavalo, que eu ali vi no curral?
- Foi teu pai quem to mandou, é da feira anual.

- De quem é esta camisa, com um padrão vegetal?
- E para ti, meu marido, comprei-a na capital.

- De quem são estes sapatos, com tiras de cabedal?
- Encontrei-os no outro dia, cá no comércio local.

- De quem é aquele suspiro, está no armário um pardal?
Laurinda cai desmaiada, da tensão arterial.

- Que horror, no nosso leito, é tão anticonjugal,
não desmaies, ó Laurinda, por este crime carnal.

Descansa, que não te mato, nem ali ao meu rival,
os males por vezes surgem como forma de sinal,

vai buscar as tuas irmãs, traz, as três num pedestal,
vou escolher a mais bonita, mas ainda não sei qual.

Romanceiro tradicional: versões factícias / Nuno Neves; rev. Fernando Villas-Boas. – 1.ª ed. - Algés: Publicações Serrote, 2011. - 64 p.: il.; 21 cm. - ISBN 978-989-65745-3-3


Imagem da capa


“Laurinda” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 24-07-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/07/laurinda.html


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