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segunda-feira, 23 de julho de 2018

«Medusa», de Capicua com Valete (Beat: Roger Plexico)


MEDUSA


(Capicua)
Ela é medusa.
A vítima que toda a gente acusa.
E de quem a vida abusa.
Ela é Medusa e recua e recusa
E resiste, ele insiste e arranca-lha a blusa e usa-a
Escusa, ela acua, sozinha na rua
Seminua
Semi-sua
Semi- morta
Porque mais ninguém se importa!
Ela é Medusa
O corpo pra que toda a gente aponta
Que posta, não gosta, 
faz troça, desmonta
Comenta, ali exposta na montra,
De fita métrica pronta
Examina-se a carne
E critica-se a “coisa”.
O resto não conta
É uma sombra...
É uma sombra...
É uma sombra...
_

Por cada vítima acusada
E transformada em monstro
Em cada casa, cada caso, 
Cada cara e cada corpo 
Em mais um dedo apontado ao outro, 
Cresce a ira da Medusa que me vês no rosto 
_

(Valete)
Em cima da ponte está a tua irmã desaparecida
em interação com aqueles instintos suicidas
abatida na depressão duma história nunca esquecida
vencida por um trauma de uma violação aos 15
Em cima da ponte está a mulher que bombardeiam
Por usar a liberdade sexual tão proclamada
Degolada por tantas ofensas que vocês fraseiam
Exterminada por aquele nojo daqueles que a rodeiam
Em cima da ponte está Maria Conceição
Vítima de uma relação e de um amor tirano
Marcada pela opressão e traumatismos cranianos
Golpeada por quase 20 anos de agressão doméstica
Em cima da ponte está a tua vizinha acanhada
Há muito aniquilada por esperanças que se esfumam
Há muito rebaixada por vexames que se avolumam
Envergonhada pelo próprio corpo que todos repugnam
Em cima da ponte...
_

Por cada vítima acusada
E transformada em monstro
Em cada casa, cada caso, 
cada cara e cada corpo 
em mais um dedo apontado ao outro, Oh!’
Cresce a ira da Medusa que me vês no rosto 
_
(Capicua)
Ela é Medusa
A miúda de que toda a gente fala.
Na rua, na sala de aula, e à baila
Vem ela, a cadela, a perdida, sem trela, 
Vadia, cautela com ela, 
Que é livre, e vive
A vida dela
Como se atreve? 
Aquela...
Como se atreve? 
Aquela...
Como se atreve? 
Aquela...
Ela é Medusa
Aquela de que mais ninguém tem pena
Que apanha, sem queixa, que deixa e aguenta
Aquela que pensa que o amor é pra sempre, 
E na crença, sofre em silêncio...
Só. 
Completamente só. 
Esconde a nódoa negra com o pó.
Só. 
Completamente só. 
Esconde a nódoa negra com o pó.
_

Por cada vítima acusada
E transformada em monstro
Em cada casa, cada caso, 
cada cara e cada corpo 
em mais um dedo apontado ao outro, Oh!’
Cresce a ira da Medusa que me vês no rosto 
é a minha ira, a nossa ira, a ira...
a minha ira, a nossa ira, a ira...
a minha ira, a nossa ira, a ira...


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