São Jorge no horizonte [ilha vista a partir da Terceira], por Jorge Antunes |
Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo
Onde há paisagens que não pode haver.
Tão belas que são como que o veludo
Do tecido que o mundo pode ser.
Bem sei. Vegetações olhando o mar,
Coral, encostas, tudo o que é a vida
Tornado amor e luz, o que o sonhar
Dá à imaginação anoitecida.
Bem sei. Vejo isso tudo. O mesmo vento
Que ali agita os ramos em torpor
Passa de leve por meu pensamento
E o pensamento julga que é amor.
Sei, sim, é belo, é longe, é impossível,
Existe, dorme, tem a cor e o fim,
E, ainda que não haja, é tão visível
Que é uma parte natural de mim.
Sei tudo, sei, sei tudo. E sei também
Que não é lá que há isso que lá está.
Sei qual é a luz que essa paisagem tem
E qual a rota que nos leva lá.
20-09-1934
Poema publicado pela primeira vez em Novas
Poesias Inéditas. Lisboa, Ática, 1973. Esp., env. 62B-25, original
manuscrito a tinta; datado; não assinado.
QUESTIONÁRIO:
1.
Nas três
primeiras estrofes, o sujeito poético descreve um lugar idealizado.
Apresente duas características desse espaço e
exemplifique cada uma delas com uma transcrição pertinente.
2.
Explique
o conteúdo dos versos 3 e 4 e relacione-o com a temática pessoana em evidência
no poema.
3.
Explicite
dois sentidos das anáforas e das suas variantes (versos 1, 5, 9, 13, 17 e 19),
tendo em conta o desenvolvimento temático do poema.
RESPOSTAS:
1. Apresenta, adequadamente, duas características do
espaço descrito no poema, exemplificando cada uma delas com uma transcrição
pertinente (Devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes):
‒ espaço de sonho/espaço da imaginação – «Onde há
paisagens que não pode haver» (v. 2)/«Sei, sim, é belo, é longe, é impossível»
(v. 13)/«E, ainda que não haja» (v. 15);
‒ espaço belo, suave e acolhedor – «Tão belas que são
como que o veludo» (v. 3);
‒ espaço perspetivado como promessa de felicidade –
«tudo o que é a vida / Tornado amor e luz» (vv. 6-7);
‒ espaço propiciador da ilusão do amor – «Passa de leve
por meu pensamento / E o pensamento julga que é amor» (vv. 11-12).
2. Explica o conteúdo dos versos 3 e 4 e relaciona-o com
a temática pessoana em evidência no poema, abordando dois tópicos de resposta
adequadamente (Devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes):
‒ a afirmação da consciência de que o espaço descrito
existe apenas no sonho;
‒ a afirmação da certeza de que o espaço descrito é um
espaço de felicidade, mas também de que, sendo fruto do sonho, é inacessível;
‒ a afirmação da consciência de que o sonho é inerente
à essência do sujeito poético.
3. Explicita, adequadamente, dois sentidos das anáforas
e das suas variantes, tendo em conta o desenvolvimento temático do poema (Devem
ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes):
‒ a afirmação da consciência de que o espaço descrito
existe apenas no sonho;
‒ a afirmação da certeza de que o espaço descrito é um
espaço de felicidade, mas também de que, sendo fruto do sonho, é inacessível;
‒ a afirmação da consciência de que o sonho é inerente
à essência do sujeito poético.
Fonte: Exame Final Nacional de Português. Prova 639, 1.ª
Fase, Ensino Secundário. IAVE - Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2019. 12.º
Ano de Escolaridade - Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho
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- e Folha de
Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
“Bem sei que há ilhas lá ao sul de tudo, Fernando Pessoa” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 18-06-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2019/06/bem-sei-que-ha-ilhas-la-ao-sul-de-tudo.html
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