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domingo, 23 de outubro de 2022

Oriente, Sophia Andresen

Rosa dos ventos desenhada no atelier do arquiteto Luís Cristino da Silva, Lisboa, 1960

 

ORIENTE

 

Este lugar amou perdidamente

Quem o cabo rondou do extremo Sul

E a costa indo seguindo para Oriente

Viu as ilhas azuis do mar azul

………………………………………

Viu pérolas safiras e corais

E a grande noite parada e transparente

Viu cidades nações viu passar gente

De leve passo e gestos musicais

 

Perfumes e tempero descobriu

E danças moduladas por vestidos

Sedosos flutuantes e compridos

E outro nasceu de tudo quanto viu

………………………………………

Sophia de Mello Breyner Andresen, 1988

MUSA, 1.ª ed., 1994, Lisboa, Editorial Caminho • 2.ª ed., 1995, Lisboa, Editorial Caminho • 3.ª ed., 1997, Lisboa, Editorial Caminho • 4 ed., 2001, Lisboa, Editorial Caminho • 5.ª ed., revista, 2004, Lisboa, Editorial Caminho.

 

***

 

Elabore um comentário do poema “Oriente” em que desenvolva os seguintes tópicos:

- traços que caracterizam a personagem representada;

- aspetos da realidade observada e seu significado;

- recursos estilísticos relevantes;

- integração no universo poético de Sophia de Mello Breyner Andresen.

 

 

Explicitação de cenários de resposta:

Desenvolvimento dos tópicos

Traços que caracterizam a personagem representada:

- o primeiro e o último versos referem o sujeito na sua paixão pelo Oriente e no renascimento interior que essa paixão trouxe;

- ele é um viajante por mar,

- ou o português do tempo dos Descobrimentos (v. 3, por exemplo);

- é movido pela curiosidade do exótico (v. 9, por exemplo);

- deslumbrado pelo que descobre («as ilhas azuis», as joias, as «cidades», os «Perfumes e tempero»);

- e transformado pela sua experiência do novo o do diferente (v. 12);

- …

 

Aspetos da realidade observada e seu significado:

- elementos naturais, nos primeiros seis versos do poema: «cabo», «costa», «ilhas», «mar», «corais», «noite»;

- elementos da esfera humana, nos restantes seis versos: «cidades nações», «gente», «tempero», «danças», «vestidos»;

- elementos naturais que são especialmente valorizados na esfera humana: «pérolas safiras», «Perfumes»;

- a significação geral é o brilho, a intensidade eufórica da experiência descrita, a magnificência do lugar descoberto, sublinhada pela graça e pela harmonia que certos adjetivos implicam: noite «transparente», passo «leve», gestos «musicais», vestidos «Sedosos flutuantes»;

- …

 

Recursos estilísticos relevantes:

- repetição: «azuis», «azul», com efeito fónico e de reforço de uma tonalidade;

- anáfora: «Viu» (vv. 4, 5, 7);

- enumeração, marcada pela conjunção copulativa «E» (vv. 3, 6 10);

- sinestesia: «gestos musicais», «danças moduladas por vestidos»;

- hipérbato: «Quem o cabo rondou», «Perfumes e tempero descobriu»;

- perífrase: «o cabo […] do extremos Sul»;

- …

 

Integração no universo poético de Sophia de Mello Breyner Andresen:

- o gosto pelo exótico, pelo diferente;

- o gosto pelos espaços abertos da natureza: o mar, o céu;

- a tendência para o real, o concreto, o que pode ser nomeado e descrito;

- a procura da palavra precisa;

- uma sintaxe que busca a simplicidade;

- o canto lírico das coisas em plena luz (até mesmo a noite é aqui «transparente»);

- …

 

Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 134. 12.º Ano de Escolaridade - Via de Ensino (4.º Curso). Prova Escrita de Literatura Portuguesa – 2.ª fase. Portugal, GAVE, 1998

 

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Oriente, Sophia Andresen”, José Carreiro. Folha de Poesia, 2022-10-23. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/10/oriente-sophia-andresen.html


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