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quinta-feira, 13 de julho de 2023

Confidência do itabirano, Carlos Drummond de Andrade


 

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

 

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...


Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

 

Carlos Drummond de Andrade, O Sentimento do Mundo, 1940

 

Questionário sobre o poema “Confidência do itabirano”:

1. O sujeito poético autocaracteriza-se.

1.1 Identifique os seus traços caracterizadores.

1.2 Como os justifica?

2 «Tive ouro, tive gado, tive fazendas» (v. 15)

2.1 Refira as figuras de estilo presentes na expressão e explique o seu valor expressivo.

3. Que sentimentos dominam o «eu» no tempo presente?

4. Você está de acordo com o título? Porquê?

5. Mostre que, no poema, o passado alterna com o presente.

5.1. Justifique essa alternância.

6. Explicite a razão pela qual a palavra Itabira se repete ao longo do texto, sendo também substituída pelo adjetivo gentílico «itabirana».

6.1 Identifique as formas verbais da 1.ª pessoa que se repetem.

6.1.1 Justifique a repetição.

 

 

Chave de correção:

1.1 Triste, orgulhoso, duro, solitário, carente de afecto, sofredor, sentimentalista, crente, tímido, saudoso da sua terra natal e de tudo o que possuiu.

1.2. Como «produto» das características da terra onde nasceu e viveu alguns anos.

2.1. É a repetição anafórica e enumeração. Consiste na reiteração da ideia de posse. Esta reiteração intensifica a valorização da perda que se reflecte no presente.

3. Nostalgia de um passado de que resta «uma fotografia na parede».

4. Sim. Porque o texto é autobiográfico, é um registo da identificação do «eu» poético com o espaço onde nasceu.

5. Passado (Pretérito Perfeito): vivi (v. 1); «nasci» (v. 2); «trouxe» (v. 11); «tive» (v. 15).

Presente (Presente do Indicativo): «é» (v. 6); «paralisa” (v. 7); «vem» (v. 8); «diverte» (v. 9); «é» (v. 10); «sou» (v. 16); «é» (v. 17); «dói» (v. 18).

5.1. Essa alternância deve-se ao facto de o sujeito poético no presente estar a recordar o seu passado.

6. Esta repetição, além de assegurar a coesão lexical, intensifica a importância que a sua terra de origem tem para ele.

6.1. As formas verbais que se repetem são: «sou» e «tive».

6.1.1. «sou»: identificação pessoal. «tive»: posse de bens materiais.

(Página Seguinte – Português 10.º Ano, Filomena Martins e Graça Moura. Lisboa, Texto Editora, 2007, p. 232)

 

Sugestão bibliográfica:

Confidência do Itabirano: uma leitura do país”, Alexandre Simões Pilati. In: Colóquio Marx e Engels, Campinas, 2005.

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