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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Dia de anos, João de Deus


 

DIA DE ANOS

 

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado…
Agora, o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo. Coitado!

Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que, em suma,
Não fazer coisa nenhuma
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua
E fá-los queira ou não queira!

 

João de Deus, Campo de Flores (1830-1896)

 

O poema "Dia de Anos" de João de Deus oferece uma visão satírica sobre a celebração dos aniversários.

Através de um tom jocoso e familiar, o sujeito poético questiona a racionalidade de comemorar o passar dos anos, associando essa prática a tolices e desenganos que apenas evidenciam o envelhecimento.

A estrutura do poema, com as suas rimas emparelhadas e redondilhas maiores, contribui para o tom leve e humorístico, tornando a crítica mais acessível e envolvente.

Em última análise, o poema convida os leitores a refletirem sobre o valor das tradições e a inevitabilidade do tempo, sugerindo que há outras formas mais significativas de aproveitar a vida sem se prender a convenções que podem trazer mais desânimo do que alegria.

 


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