DIA DE ANOS
Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado…
Agora, o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo. Coitado!
Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que, em suma,
Não fazer coisa nenhuma
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua
E fá-los queira ou não queira!
João de Deus, Campo de
Flores (1830-1896)
O poema
"Dia de Anos" de João de Deus oferece uma visão satírica sobre a celebração dos aniversários.
Através
de um tom jocoso e familiar, o sujeito poético questiona a racionalidade de
comemorar o passar dos anos, associando essa prática a tolices e desenganos que
apenas evidenciam o envelhecimento.
A
estrutura do poema, com as suas rimas emparelhadas e redondilhas maiores,
contribui para o tom leve e humorístico, tornando a crítica mais acessível e
envolvente.
Em última
análise, o poema convida os leitores a refletirem sobre o valor das tradições e
a inevitabilidade do tempo, sugerindo que há outras formas mais significativas
de aproveitar a vida sem se prender a convenções que podem trazer mais desânimo
do que alegria.
Sem comentários:
Enviar um comentário