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terça-feira, 23 de julho de 2024

As meninas, Vasco Graça Moura

 

Snorkellers, William Ireland

as meninas

as minhas filhas nadam. a mais nova
leva nos braços boias pequeninas,
a outra dá um salto e põe à prova
o corpo esguio, as longas pernas finas:

entre risadas como serpentinas,
vai como a formosinha numa trova,
salta a pés juntos, dedos nas narinas,
e emerge ao sol que o seu cabelo escova.

a água tem a pele azul-turquesa
e brilhos e salpicos, e mergulham
feitas pura alegria incandescente.

e ficam, de ternura e de surpresa,
nas toalhas de cor em que se embrulham,
ninfinhas sobre a relva, de repente.

 

Vasco Graça Moura, Antologia dos Sessenta Anos. Porto, Edições Asa, 2002

 

Leitura

A estrutura clássica deste soneto contrasta com a leveza e espontaneidade do conteúdo, que celebra a alegria e a inocência da infância.

Na primeira quadra, o sujeito poético descreve as suas filhas a nadar, cada uma com as suas particularidades. A mais nova, que ainda precisa de boias, e a mais velha, já mais confiante e destemida, figuram diferentes fases da infância. O uso de termos como "boias pequeninas" e "corpo esguio" revela a ternura e o cuidado com que o sujeito poético observa as suas filhas.

Na segunda quadra, o sujeito poético continua essa descrição, enfatizando a alegria e a leveza das meninas, cujas risadas são comparadas a serpentinas. Essa comparação transmite visualmente a vivacidade das crianças e remete para uma atmosfera de festa. 

No primeiro terceto, a descrição da água como tendo "a pele azul-turquesa" e "brilhos e salpicos" eleva a cena a um nível quase mágico, em que o ambiente envolvente parece refletir a pureza e a alegria das crianças. A expressão "feitas pura alegria incandescente" sugere que as meninas são a personificação da felicidade, irradiando uma luz interna.

O poema encerra com uma imagem de serenidade e ternura: as meninas embrulhadas em toalhas coloridas, deitadas na relva. A palavra "ninfinhas" evoca seres mitológicos, sublinhando a ideia de que essas crianças são vistas pelo sujeito poético como criaturas mágicas e preciosas. O uso da palavra "de repente" no final do poema captura a surpresa e a beleza efémera desses momentos, realçando a importância de valorizar cada instante de felicidade e inocência.

Nesta composição, o poeta transformou o quotidiano em poesia, fazendo de «as meninas» um canto à infância, ao amor paterno e à beleza dos momentos fugazes eternizados na memória.

 

"as meninas,2", Vasco Graça Moura, 2003.


as meninas, 2

lavam os dentes, já tomaram banho,
e em suas camisinhas de flanela
dão boas noites numa tarantela,
são cinco-réis de gente no tamanho.

as meninas estão a bom recato.
não queriam ir dormir. choramingaram.
houve histórias de fadas em que entraram.
depois, tombou o livro num sapato.

amanhã de manhã levam vestida
a blusinha de lã azul xadrez,
a saiinha encarnada, as meias pretas,

mas no país da bela adormecida
há flores e pintainhos e talvez
um gato, um peixe, um cão e borboletas.

 

Vasco Graça Moura, Antologia dos Sessenta Anos. Porto, Edições Asa, 2002

 

De acordo com a leitura do poema “as meninas, 2”, de Vasco Graça Moura, classifica cada afirmação que se segue como verdadeira ou falsa. Procede à correção das afirmações falsas.

1. As meninas são retratadas antes do banho e da escovagem dos dentes, vestindo camisinhas de flanela.

2. As meninas tomaram banho e lavaram os dentes antes de colocar as suas camisinhas de flanela.

3. As “camisinhas de flanela” simbolizam a inocência e a proteção das meninas.

4. As meninas despedem-se com uma tarantela após tomar banho e lavar os dentes.

5. A despedida das meninas, feita em forma de "tarantela", sugere vivacidade.

6. A expressão "cinco-réis de gente no tamanho" é usada para destacar a resistência das meninas à hora de dormir.

7. As meninas choramingaram porque queriam ouvir histórias de fadas antes de dormir.

8. As histórias de fadas servem como um ritual de transição entre a agitação do dia e o repouso noturno.

9. Depois de ouvir as histórias de fadas, o livro caiu da mesa.

10. O detalhe do livro que "tombou num sapato" evoca a ordem e a organização do mundo infantil.

11. O detalhe do livro que “tombou num sapato” sugere uma interrupção abrupta da fantasia.

12. No poema, o sujeito poético descreve minuciosamente as roupas que as meninas usarão no dia seguinte.

13. A expressão "país da bela adormecida" refere-se ao local onde as meninas brincam durante o dia.

14. No poema celebra-se a relação entre o sujeito poético e as suas filhas através de uma linguagem complexa e distante.

15. O poema "as meninas, 2" capta a essência da infância e a ternura da relação pai-filhas.

16. O poema reflete a visão do sujeito poético sobre a infância como um período de inocência e proteção.

17. Apesar do rigor da sua forma fixa, o soneto "as meninas, 2" é construído com uma fluidez que reflete a naturalidade dos momentos descritos.

 

as meninas,2 - ilustração de João Caetano (in Plural 7, Raiz editora, 2011)


Respostas:

1. Falso. As meninas são retratadas após o banho e a escovagem dos dentes.

2. Verdadeiro.

3. Verdadeiro

4. Verdadeiro.

5. Verdadeiro.

6. Falso. A expressão é usada para destacar a pequenez e a preciosidade das crianças.

7. Falso. Choramingaram porque não queriam ir dormir.

8. Verdadeiro.

9. Falso. O livro caiu num sapato.

10. Falso. Evoca a desordem e a espontaneidade do mundo infantil.

11. Verdadeiro

12. Verdadeiro.

13. Falso. Refere-se à imaginação das meninas, povoada por elementos encantados.

14. Falso. Celebra a relação através de uma linguagem simples e afetuosa.

15. Verdadeiro.

16. Verdadeiro

17. Verdadeiro.


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