Snorkellers, William Ireland |
as meninas
as minhas filhas nadam. a mais nova
leva nos braços boias pequeninas,
a outra dá um salto e põe à prova
o corpo esguio, as longas pernas finas:
entre risadas como serpentinas,
vai como a formosinha numa trova,
salta a pés juntos, dedos nas narinas,
e emerge ao sol que o seu cabelo escova.
a água tem a pele azul-turquesa
e brilhos e salpicos, e mergulham
feitas pura alegria incandescente.
e ficam, de ternura e de surpresa,
nas toalhas de cor em que se embrulham,
ninfinhas sobre a relva, de repente.
Vasco Graça Moura, Antologia
dos Sessenta Anos. Porto, Edições Asa, 2002
Leitura
A estrutura clássica deste soneto contrasta
com a leveza e espontaneidade do conteúdo, que celebra a alegria e a inocência
da infância.
Na
primeira quadra, o sujeito poético descreve as suas filhas a nadar, cada uma com as suas
particularidades. A mais nova, que ainda precisa de boias, e a mais velha, já
mais confiante e destemida, figuram diferentes fases da infância. O uso de
termos como "boias pequeninas" e "corpo esguio" revela a
ternura e o cuidado com que o sujeito poético observa as suas filhas.
Na segunda
quadra, o sujeito poético continua essa descrição, enfatizando a alegria e a
leveza das meninas, cujas risadas são comparadas a serpentinas. Essa comparação
transmite visualmente a vivacidade das crianças e remete para uma atmosfera de
festa.
No
primeiro terceto, a descrição da água como tendo "a pele
azul-turquesa" e "brilhos e salpicos" eleva a cena a um nível
quase mágico, em que o ambiente envolvente parece refletir a pureza e a alegria das
crianças. A expressão "feitas pura alegria incandescente" sugere que
as meninas são a personificação da felicidade, irradiando uma luz interna.
O poema encerra
com uma imagem de serenidade e ternura: as meninas embrulhadas em toalhas
coloridas, deitadas na relva. A palavra "ninfinhas" evoca seres
mitológicos, sublinhando a ideia de que essas crianças são vistas pelo sujeito poético como criaturas mágicas e preciosas. O uso da palavra "de repente" no
final do poema captura a surpresa e a beleza efémera desses momentos, realçando
a importância de valorizar cada instante de felicidade e inocência.
Nesta composição, o poeta transformou o quotidiano em poesia, fazendo de «as meninas» um canto à infância, ao amor paterno e à beleza dos momentos fugazes eternizados na memória.
as meninas, 2
lavam os dentes, já tomaram banho,
e em suas camisinhas de flanela
dão boas noites numa tarantela,
são cinco-réis de gente no tamanho.
as meninas estão a bom recato.
não queriam ir dormir. choramingaram.
houve histórias de fadas em que entraram.
depois, tombou o livro num sapato.
amanhã de manhã levam vestida
a blusinha de lã azul xadrez,
a saiinha encarnada, as meias pretas,
mas no país da bela adormecida
há flores e pintainhos e talvez
um gato, um peixe, um cão e borboletas.
Vasco Graça Moura, Antologia
dos Sessenta Anos. Porto, Edições Asa, 2002
De
acordo com a leitura do poema “as meninas, 2”, de Vasco Graça Moura, classifica
cada afirmação que se segue como verdadeira ou falsa. Procede à correção das
afirmações falsas.
1.
As
meninas são retratadas antes do banho e da escovagem dos dentes, vestindo
camisinhas de flanela.
2.
As
meninas tomaram banho e lavaram os dentes antes de colocar as suas camisinhas
de flanela.
3.
As
“camisinhas de flanela” simbolizam a inocência e a proteção das meninas.
4.
As
meninas despedem-se com uma tarantela após tomar banho e lavar os dentes.
5. A despedida das
meninas, feita em forma de "tarantela", sugere vivacidade.
6. A expressão
"cinco-réis de gente no tamanho" é usada para destacar a resistência
das meninas à hora de dormir.
7.
As
meninas choramingaram porque queriam ouvir histórias de fadas antes de dormir.
8.
As
histórias de fadas servem como um ritual de transição entre a agitação do dia e
o repouso noturno.
9.
Depois
de ouvir as histórias de fadas, o livro caiu da mesa.
10.
O
detalhe do livro que "tombou num sapato" evoca a ordem e a
organização do mundo infantil.
11.
O
detalhe do livro que “tombou num sapato” sugere uma interrupção abrupta da
fantasia.
12.
No
poema, o sujeito poético descreve minuciosamente as roupas que as meninas
usarão no dia seguinte.
13.
A
expressão "país da bela adormecida" refere-se ao local onde as
meninas brincam durante o dia.
14. No poema celebra-se a relação entre o sujeito poético e as suas filhas através de uma
linguagem complexa e distante.
15. O poema "as
meninas, 2" capta a essência da infância e a ternura da relação pai-filhas.
16.
O
poema reflete a visão do sujeito poético sobre a infância como um período de
inocência e proteção.
17. Apesar do rigor da sua forma fixa, o soneto "as
meninas, 2" é construído com uma fluidez que reflete a naturalidade dos
momentos descritos.
as meninas,2 - ilustração de João Caetano (in Plural 7, Raiz editora, 2011) |
Respostas:
1. Falso. As meninas são retratadas após o banho e a
escovagem dos dentes.
2. Verdadeiro.
3. Verdadeiro
4. Verdadeiro.
5. Verdadeiro.
6. Falso. A expressão é usada para destacar a pequenez e
a preciosidade das crianças.
7. Falso. Choramingaram porque não queriam ir dormir.
8. Verdadeiro.
9. Falso. O livro caiu num sapato.
10. Falso. Evoca a desordem e a espontaneidade do mundo
infantil.
11. Verdadeiro
12. Verdadeiro.
13. Falso. Refere-se à imaginação das meninas, povoada por
elementos encantados.
14. Falso. Celebra a relação através de uma linguagem
simples e afetuosa.
15. Verdadeiro.
16. Verdadeiro
17. Verdadeiro.
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