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sábado, 20 de julho de 2024

Se Helena apartar do campo seus olhos, Camões

 


 

CANTIGA

a este moto seu:

Se Helena apartar

do campo seus olhos,

nacerão abrolhos.

 

 

 

 

 

5

 

 

 

 

 

10

 

 

 

 

 

15

 

 

 

 

20

 

VOLTAS

A verdura amena,

gados, que paceis,

sabei que a deveis

aos olhos d’ Helena.

Os ventos serena,

faz flores d’ abrolhos

o ar de seus olhos.

 

Faz serras floridas,

faz claras as fontes:

se isto faz nos montes,

que fará nas vidas?

Trá-las suspendidas

como ervas em molhos,

na luz de seus olhos.

 

Os corações prende

com graça inhumana;

de cada pestana

ũ’ alma lhe pende.

Amor se lhe rende,

e, posto em giolhos,

pasma nos seus olhos.

Luís de Camões, Rimas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994, p. 19.

 

NOTAS

apartar (mote) – afastar.

abrolhos (mote) – planta com frutos espinhosos.

paceis (verso 2) – pastais.

Amor (verso 19) – deus ou personificação do amor na mitologia clássica.

giolhos (verso 20) – joelhos.


 

Questionário:

1. Estabeleça uma relação entre o mote e os versos 5 a 9, destacando dois aspetos pertinentes.

2. Refira dois dos efeitos expressivos da apóstrofe presente no verso 2.

3. Releia os versos 10 e 11: «se isto faz nos montes, / que fará nas vidas?».

Explicite a importância destes versos no desenvolvimento temático do poema.

4. Explique de que modo o poder de Helena é caracterizado na última estrofe, com base em dois exemplos.

 

Explicitação dos cenários de respostas:

1. Estabelece uma relação entre o mote e os versos 5 a 9, desenvolvendo, adequadamente, os dois tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

A relação entre o mote e os versos 5 a 9 pode ser estabelecida com base nos aspetos seguintes:

nos versos 6 e 7, a relação entre os olhos de Helena e a natureza, sugerida no mote, é retomada através do par «olhos»/«abrolhos», revelando o poder transfigurador dos olhos da figura feminina;

nos versos 5, 8 e 9, são enunciados os efeitos do poder de Helena sobre outros elementos naturais («Os ventos», as «serras» e «as fontes»), expandindo, assim, o tema proposto no mote.

 

2. Refere dois efeitos expressivos da apóstrofe, desenvolvendo, adequadamente, dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

Os efeitos expressivos da apóstrofe presente no verso 2 («gados, que paceis») podem ser referidos com base nos aspetos seguintes:

a interpelação aos «gados» (v. 2) adquire um valor descritivo, contribuindo para sugerir um cenário campestre;

os «gados» (v. 2) são constituídos destinatários imediatos do poema;

o sujeito poético assume uma intenção pedagógica («sabei que» v. 3), procurando transmitir uma lição aos «gados» (v. 2);

o poder da figura feminina sobre a natureza é destacado, sendo conferido um valor genesíaco aos «olhos d’ Helena» (v. 4), de onde procede «a verdura amena» (v. 1) que alimenta os «gados» (v. 2).

 

3. Explicita a importância dos versos 10 e 11 no desenvolvimento temático do poema, desenvolvendo, adequadamente, os dois tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

Os versos 10 e 11, «se isto faz nos montes, / que fará nas vidas?»:

constituem um ponto de viragem no desenvolvimento temático do poema, na medida em que a descrição dos efeitos causados pelos olhos de Helena na natureza será substituída pela descrição das suas consequências na vida de quem com ela se cruza;

acentuam o poder dos olhos de Helena, ao destacar que os seus efeitos se aplicam tanto à natureza como à vida dos homens.

 

4. Explica de que modo o poder de Helena é caracterizado na última estrofe, desenvolvendo, adequadamente, dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

A caracterização do poder de Helena, na última estrofe, pode ser explicada com base nos exemplos seguintes:

Helena é descrita como tendo uma «graça inhumana» (v. 16), o que remete para o campo temático da mitologia e para a associação da figura feminina a uma divindade;

Helena afeta as «vidas» (v. 11) dos seres humanos, tornando-os vassalos («Os corações prende» v. 15), tal a força do seu fascínio («de cada pestana / ũ’ alma lhe pende» vv. 17-18);

os efeitos do poder de Helena manifestam-se através de expressões que sugerem a submissão do próprio Amor («rende» v. 19; «posto em giolhos» v. 20).

 

Fonte: Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa | Prova 734 | 2.ª Fase | Ensino Secundário - 11.º Ano de Escolaridade | República Portuguesa – Educação, Ciência e Inovação / Instituto de Avaliação Educativa, I. P. (IAVE), 2024 (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho | Decreto-Lei n.º 62/2023, de 25 de julho)

 


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