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CANTIGA a este moto seu: Se
Helena apartar do
campo seus olhos, nacerão
abrolhos. |
5
10
15
20
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VOLTAS A
verdura amena, gados, que
paceis, sabei que a
deveis aos olhos d’
Helena. Os ventos
serena, faz flores d’
abrolhos o ar de seus
olhos.
Faz
serras floridas, faz claras as
fontes: se isto faz nos
montes, que fará nas
vidas? Trá-las
suspendidas como ervas em
molhos, na luz de seus
olhos.
Os
corações prende com graça
inhumana; de cada pestana ũ’ alma lhe
pende. Amor se lhe
rende, e, posto em
giolhos, pasma nos seus
olhos. |
Luís de Camões, Rimas,
edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994, p. 19.
NOTAS
apartar (mote) – afastar.
abrolhos (mote) – planta com
frutos espinhosos.
paceis (verso 2) – pastais.
Amor (verso 19) – deus ou
personificação do amor na mitologia clássica.
giolhos (verso 20) – joelhos.
Questionário:
1.
Estabeleça uma relação entre o mote e os versos 5 a 9, destacando dois aspetos
pertinentes.
2.
Refira dois dos efeitos expressivos da apóstrofe presente no verso 2.
3.
Releia os versos 10 e 11: «se isto faz nos montes, / que fará nas vidas?».
Explicite
a importância destes versos no desenvolvimento temático do poema.
4.
Explique de que modo o poder de Helena é caracterizado na última estrofe, com
base em dois exemplos.
Explicitação dos cenários de respostas:
1.
Estabelece uma relação entre o mote e os versos 5 a 9, desenvolvendo,
adequadamente, os dois tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
A relação entre o mote e os versos 5 a 9
pode ser estabelecida com base nos aspetos seguintes:
− nos versos 6 e 7, a relação entre os olhos
de Helena e a natureza, sugerida no mote, é retomada através do par
«olhos»/«abrolhos», revelando o poder transfigurador dos olhos da figura
feminina;
− nos versos 5, 8 e 9, são enunciados os
efeitos do poder de Helena sobre outros elementos naturais («Os ventos», as «serras»
e «as fontes»), expandindo, assim, o tema proposto no mote.
2.
Refere dois efeitos expressivos da apóstrofe, desenvolvendo, adequadamente, dois
dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Os efeitos expressivos da apóstrofe
presente no verso 2 («gados, que paceis») podem ser referidos com base nos
aspetos seguintes:
− a interpelação aos «gados» (v. 2) adquire
um valor descritivo, contribuindo para sugerir um cenário campestre;
− os «gados» (v. 2) são constituídos
destinatários imediatos do poema;
− o sujeito poético assume uma intenção
pedagógica («sabei que» ‒ v.
3), procurando transmitir uma lição
aos «gados» (v. 2);
− o poder da figura feminina sobre a
natureza é destacado, sendo conferido um valor genesíaco aos «olhos d’ Helena»
(v. 4), de onde procede «a verdura amena» (v. 1) que alimenta os «gados» (v.
2).
3.
Explicita a importância dos versos 10 e 11 no desenvolvimento temático do
poema, desenvolvendo, adequadamente, os dois tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
Os versos 10 e 11, «se isto faz nos montes,
/ que fará nas vidas?»:
− constituem um ponto de viragem no
desenvolvimento temático do poema, na medida em que a descrição dos efeitos
causados pelos olhos de Helena na natureza será substituída pela descrição das
suas consequências na vida de quem com ela se cruza;
− acentuam o poder dos olhos de Helena, ao
destacar que os seus efeitos se aplicam tanto à natureza como à vida dos
homens.
4. Explica de que modo o poder de Helena é caracterizado na última estrofe, desenvolvendo, adequadamente, dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
A caracterização do poder de Helena, na
última estrofe, pode ser explicada com base nos exemplos seguintes:
− Helena é descrita como tendo uma «graça
inhumana» (v. 16), o que remete para o campo temático da mitologia e para a
associação da figura feminina a uma divindade;
− Helena afeta as «vidas» (v. 11) dos seres
humanos, tornando-os vassalos («Os corações prende» ‒ v. 15), tal a força do seu fascínio («de
cada pestana / ũ’ alma lhe pende» ‒
vv. 17-18);
− os efeitos do poder de Helena
manifestam-se através de expressões que sugerem a submissão do próprio Amor
(«rende» ‒ v. 19; «posto em giolhos» ‒
v. 20).
Fonte: Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa | Prova
734 | 2.ª Fase | Ensino Secundário - 11.º Ano de Escolaridade | República Portuguesa – Educação, Ciência e Inovação / Instituto
de Avaliação Educativa, I. P. (IAVE), 2024 (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de
julho | Decreto-Lei n.º 62/2023, de 25 de julho)
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