Páginas

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

QUEDA DO IMPÉRIO (Vitorino)


  



QUEDA DO IMPÉRIO

Perguntei ao vento 
Onde foi encontrar 
Mago sopro encanto 
Nau da vela em cruz 
Foi nas ondas do mar 
Do mundo inteiro 
Terras da perdição 
Parco império mil almas 
Por pau de canela e Mazagão 

Pata de negreiro 
Tira e foge à morte 
Que a sorte é de quem 
A terra amou 
E no peito guardou 
Cheiro da mata eterna 
Laranja Luanda 
Sempre em flor.
    
Vitorino, Flor de la mar (LP, EMI, 1983)



Ficha de abordagem sobre o tema musical “Queda do Império”



1. Este texto é um poema musicado. Transforma o primeiro grupo de versos em prosa, utilizando a devida pontuação.
2. Que representou o  “mago  sopro  encanto ”(  l.3)  para  o  poeta?  Quais  foram  as consequências?
3. Identifica  e  destaca  a  expressividade  da  figura  de  estilo  presente  na  expressão: “Laranja Luanda”(penúltimo verso)
4. Justifica a razão do título estabelecendo  uma  relação  com  as  suas  características musicais (ritmo, melodia e harmonia).
5. Partindo da temática desta canção, estabelece um paralelismo com a última frase do sermão do Pe. António Vieira: “Como não sois capazes de glória, nem de graça, não acaba o vosso sermão em graça e glória “.
  
José Manuel Cardoso Belo. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010, p. 179.


Textos de apoio
       
A Simbiose Sinestésica Intertextual da Poesia Musicada em Sala de Aula: “Queda do Império” (letra e música de Vitorino)
Ritmo ‑ Ternário em estilo de valsa
Melodia ‑ suave e intuitiva
Harmonia ‑ Rica com harpejos simples.
Análise Semântica ‑ “A Queda do Império” de Vitorino, do álbum “Flor dela mar” de 1983, simboliza a presença portuguesa que se espalhou pelos quatro cantos do mundo durante a época dos descobrimentos.
O  canto  versa  a  sedução  que  as  terras  descobertas  exerceram  sobre  os portugueses. O ritmo lento, suave, ao estilo da valsa, com melodia agradável, empresta ao tema uma sensação de nostalgia por parte de que mamou verdadeiramente a terra – Luanda,  como  sinédoque  das  terras  descobertas  pelos portugueses.  Este  tema musical conduz-nos  a  uma  reflexão  sobre  a  queda  do  império  português,  as razões  de  um fracasso  em  terras  prósperas  das  quais  nos  poderíamos  vangloriar caso  tivéssemos realizado uma colonização sem escravatura, sem a exploração desmedida dos recursos das diversas colónias. Também as notícias que relatavam navios que se afundaram por excesso  de  carga.  Em  muitas  delas  estão  comentadas na  Peregrinação de  Fernão Mendes Pinto e também interpretadas no álbum de Fausto Bordado Dias – Crónicas da Terra Ardente nos temas: “O mar, a Ilha e de um miserável naufrágio que passamos”. O mágico “sopro encanto” conduziu os portugueses à terra de perdição, restando somente a  consolação  do  cheiro  da  mata  angolana  como símbolo  de  todos  quantos  realmente puderam  viver  um  amor  recíproco  em detrimento  do  espírito  mercantilista  da exploração, quer de pessoas quer de bens.
É, deste modo, que Vitorino, através de um tema nostálgico para os portugueses, o ultramar, testemunha a queda do império tão caro à nossa identidade cultural.
      
José Manuel Cardoso Belo. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010, p. 129.
         

         

 Flor de La Mar será novamente um trabalho marcante a todos os títulos, chegando o seu autor a explanar uma variedade de acompanhamentos instrumentais que rompia com os limites habituais da 'canção de palavra' nacional. Nesse período, surgiu outra das canções que ajudou a definir a categoria e a atitude de uma carreira - canção chamada "Queda do Império".
         
          
Poderá também gostar de:
   
 Poesia útil e literatura de resistência” (A literatura como arma contra a ditadura e a guerra colonial portuguesas), José Carreiro



                     


[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/09/17/queda-do-imperio.aspx]

Sem comentários:

Enviar um comentário