QUEDA DO IMPÉRIO
Perguntei ao vento
Onde foi encontrar
Mago sopro encanto
Nau da vela em cruz
Foi nas ondas do mar
Do mundo inteiro
Terras da perdição
Parco império mil almas
Por pau de canela e Mazagão
Pata de negreiro
Tira e foge à morte
Que a sorte é de quem
A terra amou
E no peito guardou
Cheiro da mata eterna
Laranja Luanda
Sempre em flor.
Vitorino, Flor de la mar (LP, EMI, 1983)
Ficha de abordagem sobre o tema musical “Queda do Império”
1. Este texto é um poema musicado. Transforma o primeiro grupo de versos em prosa, utilizando a devida pontuação.
2. Que representou o “mago sopro encanto ”( l.3) para o poeta? Quais foram as consequências?
3. Identifica e destaca a expressividade da figura de estilo presente na expressão: “Laranja Luanda”(penúltimo verso)
4. Justifica a razão do título estabelecendo uma relação com as suas características musicais (ritmo, melodia e harmonia).
5. Partindo da temática desta canção, estabelece um paralelismo com a última frase do sermão do Pe. António Vieira: “Como não sois capazes de glória, nem de graça, não acaba o vosso sermão em graça e glória “.
A Poesia Musicada de Intervenção em Portugal (1960-1974): a sua aplicabilidade no Ensino Secundário,
José Manuel Cardoso Belo. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010, p. 179.
Textos de apoio
A Simbiose Sinestésica Intertextual da Poesia Musicada em Sala de Aula: “Queda do Império” (letra e música de Vitorino)
Ritmo ‑ Ternário em estilo de valsa
Melodia ‑ suave e intuitiva
Harmonia ‑ Rica com harpejos simples.
Análise Semântica ‑ “A Queda do Império” de Vitorino, do álbum “Flor dela mar” de 1983, simboliza a presença portuguesa que se espalhou pelos quatro cantos do mundo durante a época dos descobrimentos.
O canto versa a sedução que as terras descobertas exerceram sobre os portugueses. O ritmo lento, suave, ao estilo da valsa, com melodia agradável, empresta ao tema uma sensação de nostalgia por parte de que mamou verdadeiramente a terra – Luanda, como sinédoque das terras descobertas pelos portugueses. Este tema musical conduz-nos a uma reflexão sobre a queda do império português, as razões de um fracasso em terras prósperas das quais nos poderíamos vangloriar caso tivéssemos realizado uma colonização sem escravatura, sem a exploração desmedida dos recursos das diversas colónias. Também as notícias que relatavam navios que se afundaram por excesso de carga. Em muitas delas estão comentadas na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e também interpretadas no álbum de Fausto Bordado Dias – Crónicas da Terra Ardente nos temas: “O mar, a Ilha e de um miserável naufrágio que passamos”. O mágico “sopro encanto” conduziu os portugueses à terra de perdição, restando somente a consolação do cheiro da mata angolana como símbolo de todos quantos realmente puderam viver um amor recíproco em detrimento do espírito mercantilista da exploração, quer de pessoas quer de bens.
É, deste modo, que Vitorino, através de um tema nostálgico para os portugueses, o ultramar, testemunha a queda do império tão caro à nossa identidade cultural.
A Poesia Musicada de Intervenção em Portugal (1960-1974): a sua aplicabilidade no Ensino Secundário,
José Manuel Cardoso Belo. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010, p. 129.
Flor de La Mar será novamente um trabalho marcante a todos os títulos, chegando o seu autor a explanar uma variedade de acompanhamentos instrumentais que rompia com os limites habituais da 'canção de palavra' nacional. Nesse período, surgiu outra das canções que ajudou a definir a categoria e a atitude de uma carreira - canção chamada "Queda do Império".
Poderá também gostar de:
► “Poesia útil e literatura de resistência” (A literatura como
arma contra a ditadura e a guerra colonial portuguesas), José Carreiro
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/09/17/queda-do-imperio.aspx]
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