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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Súplica, Miguel Torga

 


SÚPLICA

 

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

E que nele posso navegar sem rumo,

Não respondas

Às urgentes perguntas

Que te fiz.

Deixa-me ser feliz

Assim,

Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.

Só soubemos sofrer, enquanto

O nosso amor

Durou.

Mas o tempo passou,

Há calmaria...

Não perturbes a paz que me foi dada.

Ouvir de novo a tua voz seria

Matar a sede com água salgada.

 

Miguel Torga

 

Questionário sobre o poema “Súplica”, de Miguel Torga:

1. A quem se dirige o sujeito poético?

2. Que efeitos produziu o tempo no sujeito poético?

3. O que pretende o sujeito lírico transmitir ao dizer que «Agora que o silêncio é um mar sem ondas»?

3.1. De que forma é que essa ideia é desenvolvida nos três últimos versos?

4. Nos dois últimos versos, é percetível a razão desta súplica. Qual a verdadeira razão para ele desejar que a amada não se aproxime?

5. O último verso da primeira estrofe apresenta uma comparação. Indique a função expressiva desse recurso estilístico.

 

Resolução:

1. O sujeito poético dirige-se a alguém que já amou muito, mas cujo sentimento foi agora apaziguado («…enquanto/ O nosso amor/ Durou»).

2. O tempo permitiu o afastamento dos dois, bem como o atenuar da paixão («Mas o tempo passou, /Há calmaria…») Porém, ele sabe que se ela se aproximar a paixão será ainda maior («Matar a sede com água salgada»).

3. Ele pretende dizer que no momento presente as emoções não magoam, pois, a paixão está tranquila. Porém, esta situação deixa-o sem rumo, sem vida. 3.1. Como o sujeito poético consegue encontrar e equilíbrio afastando-se da paixão que fazia sofrer (“só soubemos sofrer”), ele suplica à amada para não se aproximar de novo, pois essa aproximação ainda seria mais dolorosa.

4. No último verso vemos que a aproximação seria ainda mais dolorosa, pois traria um desejo ainda maior (“sede”), o qual seria sanado com o sofrimento (“água salgada”), ou seja, ainda mais com desejo e paixão.

5. O facto de o sujeito poético se afastar do amor, da paixão por ela, faz com que se afastasse também dele próprio, deixando-se ir “sem rumo”, à deriva pela vida.

 

Fonte: Sebenta Português 12.º ano - Poetas Contemporâneos II, Liliana Vieira Conde © 2016. Disponível em: https://lilianavieira1.wixsite.com/sebentaportugues12/materiais-10-11-12-anos-portugues-e




CARREIRO, José. “Súplica, Miguel Torga”. Portugal, Folha de Poesia, 18-08-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/08/suplica-miguel-torga.html



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