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sábado, 24 de setembro de 2022

Claro-escuro, Miguel Torga

Exemplo de efeito claro-escuro. David e Golias, Caravaggio.



CLARO-ESCURO

 

Dia da vida

Noite da morte ...

O verso

E o reverso

Da medalha.

E não há desespero que nos valha,

Nem crença,

Nem descrença,

Nem filosofia.

Esta brutalidade, e nada mais:

Sol e sombra - o binómio dos mortais.

 

Só que o sol vem primeiro

E a sombra depois...

E à luz do sol é tudo o que sabemos:

Juventude,

Beleza,

Poesia,

E amor

- Amargo fruto que na sepultura,

Em vez de apodrecer, ganha doçura.

 

Miguel Torga, Orfeu Rebelde, 1958

 

MIGUEL TORGA

     Pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, nascido em S. Martinho de Anta. Na sua poesia pode ler-se o Homem e as suas universais certezas e angústias: "Encosto o ouvido à concha do silêncio./ Oiço um rumor de angústia na lembrança./ É o mar humano do desassossego/ A ressoar... ". Os seus poemas abrem sempre clarividentes espaços de reflexão e questionamento. Certezas? A devolução do humilde corpo mortal ao espaço telúrico que tanto amou. A libertação do espírito pela órfica busca da poesia.

 

LER POR DENTRO

1. O poema constrói-se em torno da dicotomia Vida/Morte.

1.1. Releve outras dicotomias que metaforicamente se lhe refiram.

1.2. Explique, então, a escolha do título «Claro-escuro».

2. Mostre que o poema representa uma profunda reflexão sobre a condição humana, tendo em conta:

2.1. a enunciação da morte como uma certeza.

2.2. a enumeração das atitudes do homem perante essa certeza.

2.3. a reflexão sobre o tempo e a simbologia de "luz do sol".

2.4. o jogo antitético presente nos dois últimos versos.

3. Que efeito expressivo se tira, na primeira estrofe, da inexistência de adjetivos?

4. As palavras "juventude", "beleza", "poesia" e "amor" aparecem destacadas.

4.1. Qual a estratégia usada para lhes dar maior visibilidade no poema?

4.2. Construa uma frase em que utilize essas quatro palavras.

4.3. Com algumas dessas palavras crie uma metáfora.

 

VERÍSSIMO, Artur (coord.) (2004). Ser em Português 10 – Língua Portuguesa 10.º ano. Porto: Areal Editores. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6369/4/LIVRO.PDF

 

PROVA ESCRITA DE PORTUGUÊS

1. Explique a escolha do título "Claro-escuro".

2. No poema faz-se uma profunda reflexão sobre a condição humana. Explicite o pensamento do poeta sobre a enunciação da morte como uma certeza.

3. Que efeito expressivo se tira, na primeira estrofe, da inexistência de adjetivos.

4. Clarifique o jogo antitético presente nos dois últimos versos.

 

(Fonte: Exame de Português - Acesso ao Ensino Superior para os Maiores de 23 Anos, Faculdade De Direito Da Universidade De Coimbra, 2012-2013)

 

APONTAMENTO SOBRE O CONCEITO DE CLARO-ESCURO

O conceito de claro-escuro é usado no campo da pintura para nomear o contraste que ocorre entre sombras e luz em uma obra. É uma técnica que recorre a esses contrastes para destacar certos elementos do quadro e desenvolver efeitos visuais de modelagem e relevo.

O claro-escuro surgiu no século XVI, no contexto do período artístico conhecido como Cinquecento. Pintores italianos e flamengos começaram a ensaiar essa técnica que teve seu auge durante o barroco.

 

 

Caravaggio (1571-1610) foi um dos grandes artistas que usou o claro-escuro. “A Flagelação de Cristo” e “Morte da Virgem” estão entre suas obras que demonstram o uso dessa técnica. Rembrandt (1606-1669) também brilhou ao lidar com luz e sombra em pinturas como “O jovem Rembrandt”, “O filósofo em meditação” e outros.

A radicalização do claro-escuro foi denominada de tenebrismo. Nesse estilo, impulsionado por artistas como José de Ribera, El Greco e Caravaggio, o contraste entre luz e sombra é muito acentuado.

Além da pintura, o claro-escuro também chegou à xilografia. O seu desenvolvimento exigiu o uso de várias placas para colorir as imagens. Note-se que, com o passar dos anos, o claro-escuro invadiu o cinema.

https://conceito.de/claro-escuro, 2019-10-24

 

Poderá também gostar de:

  

  • A poética torguiana”, Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da poesia de Miguel Torga, por José Carreiro. In Folha de Poesia, 09-08-2013

 




CARREIRO, José. “Claro-escuro, Miguel Torga”. Portugal, Folha de Poesia, 24-09-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/09/claro-escuro-miguel-torga.html



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