Exemplo de efeito claro-escuro. David e Golias, Caravaggio. |
CLARO-ESCURO
Dia da vida
Noite da morte ...
O verso
E o reverso
Da medalha.
E não há desespero que nos valha,
Nem crença,
Nem descrença,
Nem filosofia.
Esta brutalidade, e nada mais:
Sol e sombra - o
binómio dos mortais.
Só que o sol vem primeiro
E a sombra depois...
E à
luz do sol é
tudo o que sabemos:
Juventude,
Beleza,
Poesia,
E amor
- Amargo fruto que na sepultura,
Em vez
de apodrecer, ganha doçura.
Miguel
Torga, Orfeu Rebelde, 1958
MIGUEL TORGA
Pseudónimo literário do médico Adolfo
Correia da Rocha, nascido em S. Martinho de Anta. Na sua poesia pode ler-se o
Homem e as suas universais certezas e angústias: "Encosto o ouvido à
concha do silêncio./ Oiço um rumor de angústia na lembrança./ É o mar humano do
desassossego/ A ressoar... ". Os seus poemas abrem sempre clarividentes espaços
de reflexão e questionamento. Certezas? A devolução do humilde corpo mortal ao espaço
telúrico que tanto amou. A libertação do espírito pela órfica busca da poesia.
LER POR DENTRO
1. O poema constrói-se em torno da dicotomia
Vida/Morte.
1.1. Releve outras dicotomias
que metaforicamente se lhe refiram.
1.2. Explique, então, a escolha
do título «Claro-escuro».
2. Mostre que o poema representa uma profunda
reflexão sobre a condição humana, tendo em conta:
2.1. a enunciação da morte como
uma certeza.
2.2. a enumeração das atitudes
do homem perante essa certeza.
2.3. a reflexão sobre o tempo e
a simbologia de "luz do sol".
2.4. o jogo antitético presente
nos dois últimos versos.
3. Que efeito expressivo se tira, na primeira
estrofe, da inexistência de adjetivos?
4. As palavras "juventude",
"beleza", "poesia" e "amor" aparecem destacadas.
4.1. Qual a estratégia usada
para lhes dar maior visibilidade no poema?
4.2. Construa uma frase em que
utilize essas quatro palavras.
4.3. Com algumas dessas
palavras crie uma metáfora.
VERÍSSIMO, Artur (coord.) (2004).
Ser em Português 10 – Língua Portuguesa 10.º ano. Porto: Areal Editores.
Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6369/4/LIVRO.PDF
PROVA ESCRITA DE PORTUGUÊS
1. Explique a escolha do título "Claro-escuro".
2. No poema faz-se uma profunda reflexão sobre a condição humana.
Explicite o pensamento do poeta sobre a enunciação da morte como uma certeza.
3. Que efeito expressivo se tira, na primeira estrofe, da inexistência de adjetivos.
4. Clarifique o jogo antitético presente nos dois últimos versos.
(Fonte: Exame de Português - Acesso ao Ensino Superior para os
Maiores de 23 Anos, Faculdade De Direito Da Universidade De Coimbra, 2012-2013)
APONTAMENTO SOBRE O CONCEITO DE CLARO-ESCURO
O conceito de claro-escuro
é usado no campo da pintura para nomear o contraste que ocorre entre sombras e
luz em uma obra. É uma técnica que recorre a esses contrastes para destacar
certos elementos do quadro e desenvolver efeitos visuais de modelagem e relevo.
O claro-escuro surgiu no
século XVI, no contexto do período artístico conhecido como Cinquecento.
Pintores italianos e flamengos começaram a ensaiar essa técnica que teve seu
auge durante o barroco.
Caravaggio (1571-1610) foi
um dos grandes artistas que usou o claro-escuro. “A Flagelação de Cristo” e
“Morte da Virgem” estão entre suas obras que demonstram o uso dessa técnica.
Rembrandt (1606-1669) também brilhou ao lidar com luz e sombra em pinturas como
“O jovem Rembrandt”, “O filósofo em meditação” e outros.
A radicalização do
claro-escuro foi denominada de tenebrismo. Nesse estilo, impulsionado por
artistas como José de Ribera, El Greco e Caravaggio, o contraste entre luz e
sombra é muito acentuado.
Além da pintura, o claro-escuro também chegou à xilografia. O seu desenvolvimento exigiu o uso de várias placas para colorir as imagens. Note-se que, com o passar dos anos, o claro-escuro invadiu o cinema.
https://conceito.de/claro-escuro, 2019-10-24
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Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da
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CARREIRO,
José. “Claro-escuro, Miguel Torga”. Portugal, Folha de Poesia, 24-09-2022.
Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/09/claro-escuro-miguel-torga.html
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