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quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

D. Fernando, Infante De Portugal (Mensagem, Fernando Pessoa)

Mensagem, de Fernando Pessoa

Primeira Parte – Brasão

III – As Quinas

 



 

Segunda

D. FERNANDO, INFANTE DE PORTUGAL

 





5

Deu-me Deus o seu gládio1 porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.





10

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.





15

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

21-07-1913

Fernando Pessoa, Mensagem. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934

 

____________

1 gládio: antiga espada curta, robusta, de lâmina larga com dois gumes; (fig.) poder.

 

D. Fernando (irmão de D. Duarte, rei de Portugal) foi feito cativo pelos mouros. Embora humilhado e martirizado, aconselhou sempre o seu irmão a não entregar Ceuta. É símbolo de fé e coragem religiosa.

 

Questionário sobre o poema “D. Fernando, Infante de Portugal”, de Fernando Pessoa:

1. "Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça / A sua santa guerra."

1.1. Identifique o objetivo da entrega do gládio e a sua simbologia.

1.2. Justifique a referência a D. Fernando como símbolo da "santa guerra".

2. Divida o poema nas suas partes lógicas, indicando o assunto de cada uma delas.

3. Analise a importância dos tempos verbais para a explicitação da evolução das ideias do poema.

4. Retire do poema uma expressão que comprove o carácter de predestinado do Infante D. Fernando. Justifique a sua escolha.

5. Explique o sentido dos seguintes versos:

"E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar."

6. Integre este poema na estrutura da Mensagem. Justifique convenientemente a sua resposta.

 

Chave de correção:

1.1. Objetivo da entrega do gládio: sagrar o Infante; confiar-lhe a missão da expansão.

Simbologia do gládio: coragem, destino, força.

1.2. D. Fernando, cativo dos mouros, humilhado e martirizado, aconselhou sempre o seu irmão D. Duarte a não entregar Ceuta; a sua coragem e a sua fé religiosa justificam que seja o símbolo da "santa guerra" (vv. 1, 2).

2. Partes lógicas/assunto de cada uma delas:

- 1.a parte - versos 1 a 7 - consagração do Infante (passado);

- 2.a parte - versos 8 a 12 - a vontade de mudança e de conquista (presente);

- 3.a parte - versos 13 a 15 - determinação e coragem; indicação de vontade inabalável (futuro).

3. Importância dos tempos verbais para a explicitação da evolução das ideias do poema:

- pretérito perfeito (na 1.a parte do poema);

- presente do indicativo (na 2.a parte do poema);

- futuro (na 3.a parte do poema);

- (...)

4. A expressão "Sagrou-me seu em honra e em desgraça" pode demonstrar o sentido da predestinação do Infante D. Fernando, dado que aí se destacam:

- os elementos da honra e da grandeza espiritual;

- as marcas da desgraça e da predestinação do herói.

No entanto, também as expressões "Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me" ou "Cheio de Deus, não temo o que virá" apontam no mesmo sentido: a escolha de Deus, a missão confiada ao herói e a sua vontade, baseada na fé e na coragem.

5. O sentido dos versos:

A referência ao desconhecido ("E esta febre de Além") e a vontade expressa de lutar para cumprir o seu destino ("que me consome"; "E este querer grandeza"), de fazer a "sua santa guerra", de expandir a fé, divulgando o nome de Deus ("são seu nome / Dentro em mim a vibrar.").

6. Os 44 poemas que constituem a Mensagem encontram-se agrupados em três partes, ou seja, as etapas da evolução do Império Português - nascimento, realização e morte.

No Brasão estão os construtores do Império; em Mar Português surge o sonho marítimo e a obra das descobertas; no Encoberto há a imagem do Império moribundo, com a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição, o espírito do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada.

Sendo D. Fernando um dos construtores do Império, este poema integra-se na primeira parte da Mensagem - Brasão. 

Disponível em: http://www.esa.esaportugues.com/programa/Mensagem/textoMensagem.htm (Consultado em: 17-02-2015)

  

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D. Fernando, Infante De Portugal (Mensagem, Fernando Pessoa)” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 15-12-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/d-fernando-infante-de-portugal-mensagem.html


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