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terça-feira, 1 de março de 2016

Da crítica





DA CRÍTICA


Por Rui Zink, na sua página do Facebook, partilhando a crítica de cinema de Luís Miguel Oliveira “Alejandro Gonzalez Iñárritu: o vendedor de banha da cobra”, Público, 29/02/2016. 

      
Toda a gente conhece a anedota do crítico de cinema: se ele não gosta, então é de ver. Durante anos assustaram-me críticos que não conseguiam ver um filme como ele era, sentiam sempre necessidade de estar a corrigir o autor, e a dizer para onde eles achavam que o filme devia ir, qual o tema que devia tratar, etc. Em suma: queriam que aquele filme fosse outro. Este tipo de crítica em literatura também existe, mas por acaso sempre foi menos caricatural que a de cinema. Na crítica literária há antipatias e simpatias, mas são evidentes, sobretudo quando a autores locais, e até certo ponto transparentes, até porque conhecemos as pessoas. Há tempos houve aquela do melhor amigo a elogiar o melhor amigo, a não fazer uma nota de interesses e, até, a dar cinco estrelas. E há já 15 anos pôs-me de mau humor uma recensão que uma moça do Expresso fez, a criticar Os Surfistas por «não ser suficientemente surreal», ignorando por completo que a minha intenção era precisamente a contrária: evitar, num livro com uma energia colectiva (os e-leitores votavam e participavam), cair na armadilha do delírio total. O meu grande desafio era o de conseguir apesar dos sucessivos «boicotes» e «armadilhas» fazer um livro coeso. O caos e o absurdo guardo-os para quando faço as coisas sozinho. 
Mas, para um livro, a pior crítica é o silêncio. Muitos dos meus livros tiveram-na, anos e anos a fio, e sei que muitos autores a têm. É chato ser invisível, quando publicamos um texto. Publicar implica querer público. Pode não ser muito, mas é isso que implica.
Estou no entanto já a divagar. Do que eu queria falar era da crítica de cinema. Há anos fiquei abananado quando um moço, o Luís Miguel Oliveira, disse que no Batman 2 de Nolan não havia «uma ideia de cinema» que fosse. Fiquei banzado: pensei que a presença do Heath Ledger como Joker fosse uma ideia, tal como a inovação técnica de aplicar o Imax a cenas de acção humanas (e arranjar alguém que conseguisse carregar uma câmara de 60 quilos). Habituei-me a lê-lo e reparei num pormenor que me pareceu cómico: ocasionalmente, havia não só filmes que o irritavam, mas realizadores que o irritavam. E eu não compreendia. Como podia uma pessoa ter uma reacção tão visceral a alguém que está tão distante?
O Eduardo Prado Coelho, de quem fui turbulento aluno, tal como ele foi meu brilhante e cabotino professor, irritava-se comigo. Foi uma certa animosidade que se manteve até que, nos seus últimos anos de vida, nos tornámos vizinhos e, suponho eu, nos cansámos de nos zangar. Ocasiões houve em que quase tomámos café juntos e eu lhe passei e ele me passou o jornal: ambos éramos sovinas e generosos a esse ponto. O Eduardo sempre me pareceu o mais injusto dos críticos. O mais poderoso, também. Na sua coluna, fazia e desfazia escritores. Espantava-me que nem uma linha tivesse escrito sobre poetas da minha eleição: o caso mais flagrante o do Alberto Pimenta. Sobre a Ana Hatherly não faço ideia se escreveu. Era espantosamente volúvel quando se tratava de mulheres. E isto não é um elogio: ainda hoje não compreendo como críticos que se pretendem lúcidos perdem a lucidez quando lhes fazem olhinhos. Talvez seja a síndrome do sedutor seduzido, sei lá. 
O Eduardo também gostava muito de cinema. Livros, mulheres e cinema, não sei se por esta ou por outra ordem. Isto tudo para dizer que, tal como alguns críticos de cinema, também ele se irritava com autores. 
Durante anos vi estas antipatias pessoais como enfraquecedoras, uma espécie de diminuição moral. Talvez ainda as veja. E vagamente cómicas, quando dirigidas a pessoas que não conhecem e que estão noutra parte do mundo (Lerá Nolan as críticas de Luís Miguel Oliveira?)
Agora estou menos seguro. Há que admirar a paixão. E há que apreciar - mesmo que discordemos - alguém que gosta tanto da arte sobre a qual escreve ao ponto de tomar alguns sucessos ou insucessos como afrontas ou glórias pessoais. 
Também a mim O Renascido exasperou um pouco. Exibicionismo barroco a mais - secura a menos. Ou seja: manipulação do olhar do espectador, puxar pela manga, mas de forma mais cínica e menos descarada que o simpático trapalhão Terry «Monty Python» Gilliam. Acontece que o Iñarritu Paganini filma mesmo virtuosamente. E o filme mostra imagens - imagens em movimento, movimento de imagens - que não tínhamos visto juntas. Vê-se que interiorizou uma porrada de mestres, os rouba com a lata de um Tarantino mas não se fica por aí, vai mais longe. O Renascido cumpre, malgré tout, a regra da arte: quem conta um conto acrescenta um ponto. (Esta genial frase popular aplicar-se-ia, inicialmente, ao facto de a cultura oral ir distorcendo os factos numa história, mas cai que nem uma luva à definição de arte-que-vale-apena.)
Talvez não pareça, mas este texto é um elogio da crítica.





ÓSCARES




Alejandro Gonzalez Iñárritu: o vendedor de banha da cobra


Iñárritu no clube de John Ford e Mankiewicz, a ganhar duas vezes seguidas? É um fenómeno, o mexicano, e há que lhe reconhecer o mérito devido aos bons vendedores de banha da cobra.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O Estranho Mundo de Jack | The nightmare before Christmas





O ESTRANHO MUNDO DE JACK

Caía o outono em Halloween, a noite enregelava...
Contra a Lua, só, num monte, um esqueleto cismava.
Era esguio e comprido e um laço-morcego trazia;
Jack Esquelético, o nosso protagonista,
Aborrecia-se de morte na cidade de Halloween,
Onde tudo decorria de forma prevista.

«Já me cansa meter medo, sustos e pavor.
Estou farto de ser algo que enche a noite de terror,
Farto de maus-olhados, de infundir alvoroço,
E os meus pés agonizam com a dança dos ossos.
Não gosto de cemitérios, quero mudar de ares!
Deve haver mais na vida que caretas e esgares!»

Durante toda essa noite e todo o dia a seguir,
Jack andou sem parar, sem saber por onde ir.

Até que no coração da floresta, a noite caía,
Jack teve uma visão de intensa magia:
Ali, a escassos metros... mesmo à sua beira...
Três portas esculpidas de maciça madeira.
Ficou estupefacto, sem tirar o olhar
De uma porta, entre todas, a mais singular.
Atraído, excitado, mas também ansioso,
Jack abriu-a e entrou num mundo branco e ventoso.

Jack nem calculava, mas tinha ido parar
À cidade do Natal- o nome desse lugar.
E, banhado em tal luz, já não se inquietava,
Pois enfim encontrara o que mais lhe faltava.
Para os amigos não julgarem que ele mentia,
Tirou as prendas e os doces que por lá havia:
Levou lembranças das meias junto à chaminé
E uma foto do Pai Natal com os duendes ao pé.
Pegou nas luzes, nas fitas e bolas do pinheiro,
E roubou o N grande que viu num letreiro.

Arrecadou aquilo que achou cintilante
E até uma bola de neve gigante,
Limpou tudo num ápice e, muito apressado,
Voltou à sua terra sem ser apanhado.

Tim Burton, O estranho mundo de Jack. Lisboa, Orfeu Negro, 2010. Coleção: Orfeu Mini.
Título original: The nightmare before Christmas
Tradução de Margarida Vale de Gato


Filme de animação norte-americano realizado em 1993 por Henry Selick, The Nightmare Before Christmas tem por verdadeiro mentor Tim Burton, o autor da história e das respetivas personagens. O argumento foi adaptado por Caroline Thompson, a produção esteve a cargo de Tim Burton e Denise DiNovi, e a fabulosa banda sonora foi composta por Danny Elfman, que também interpretou a voz da personagem principal. Para além de Elfman, as restantes vozes são de Chris Sarandon, Catherine O'Hara, William Hickey e Ed Ivory.
Animação, dirigida tanto ao público infantil como ao adulto, foi feita em stop motion, uma técnica utilizada para dar movimento a bonecos filmando-os pacientemente com pequenas variações das suas posições, da qual este filme se tornou uma verdadeira referência. O resultado final é mágico e fantástico.
A história, em jeito de fábula, começa na cidade de Halloween, um mundo repleto de criaturas fantásticas que vivem durante todo o ano com o objetivo de preparar a noite de Halloween (Dia das Bruxas). Num ano, após a festa do Halloween, o rei da cidade Jack Skellington (voz de Danny Elfman), fica deprimido e cansado da rotina anual. Ao descobrir por acaso a cidade do Natal, tem uma ideia insólita: tomar o lugar do Pai Natal e organizar com os seus vizinhos um Natal inesquecível, festejando esta quadra de uma forma alegre. Contudo, apesar da sua boa vontade, Jack não consegue captar inteiramente o espírito natalício e os seus preparativos tomam um tom demasiado macabro. Sally (voz de Catherine O'Hara), uma boneca de trapos fascinada por Jack, prevê um terrível destino como consequência da extravagância do seu amigo. E, nesse seguimento, as crianças de todo o mundo acabam tristes e desiludidas com o novo Pai Natal.
A produção do filme reuniu os melhores animadores de stop motion, tornando-se o primeiro filme realizado com esta técnica a ser distribuído no mundo inteiro. A construção das assustadoras personagens foi planeada detalhadamente para que realmente se parecessem com os rascunhos feitos por Burton. Os cenários foram construídos com grotescas construções criando um mundo surreal, repleto de texturas estranhas. Foram feitos mais de duzentos bonecos, incluindo vampiros, fantasmas, lobisomens, múmias e outros. Muitos deles com várias cabeças ou faces para serem substituídas durante o processo de animação.
O filme fez um sucesso imenso e foi nomeado para o Óscar de Melhor Efeitos Visuais e para o Globo de Ouro na categoria de Melhor Banda Sonora.

in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$o-estranho-mundo-de-jack





Com a produção do segundo Batman em 1992, Burton decidiu levar outro trabalho simultaneamente. Inspirado na obra de outro ídolo de infância: Como o Grinch Roubou o Natal, de Dr. Seuss, Tim Burton’s Nightmare Before Christmas (1993), traduzido para português como O Estranho Mundo de Jack, une os dois feriados favoritos de Burton e descreve os mundos paralelos de Christmastown e Halloweentown. Para a realização do projeto, Burton optou novamente pelo estilo de animação em stop-motion e, para a direção, fez parceria com Henry Selick, conhecido de longa data do diretor e especialista em animação com bonecos, assinando apenas como produtor do filme. Pela primeira vez, um filme em animação seria feito em longa-metragem, quebrando a tradição de utilização do estilo apenas para comerciais de TV e vinhetas da MTV.

Além da profunda complexidade dos personagens de criação própria, o diretor inovou mais uma vez ao quebrar as expectativas visuais. Ao criar a cidade de Halloweentown e povoá-la com os mais diversos tipos macabros, o diretor inverte valores mostrando um mundo onde o normal é ser diferente, mostrando mais uma vez que o público é capaz de lidar com o macabro e o sombrio, como fez em Os Fantasmas se Divertem. Essa inversão de valores é vista por Mimi Avins, em artigo para a Premiere (1993), como a ideia de que “it’s okay to be different, it’s okay to be screw up, and it’s okay to be miserable.” (FRAGA, Kristian (org.). Tim Burton: Interviews. 1.ª ed. Jackson: University Press of Mississippi, 2005. Coleção Conversations with Filmmakers, p. 101).

Em seu processo de criação, o personagem parece ter atravessado as três instâncias de criação do diretor: em um primeiro momento, Jack é personagem do poema escrito pelo próprio Burton, que deu origem à produção fílmica; depois, ganha forma e cor ao ser transformado em gravura pelo diretor; mais tarde, ganha vida em forma de animação gráfica. Ao fim deste percurso, chegamos a um protagonista que carrega características típicas do herói burtoniano: é atormentado por dúvidas e angústias. No entanto, ainda segundo Avins, em uma arte em que a primeira regra é dar ao personagem olhos expressivos, a caracterização de Jack representou um enorme desafio, uma vez que seu rosto é uma caveira e, portanto, sem olhos (Ibid. p. 100).

Jack não é um personagem “feliz”, mesmo vivendo em um mundo em que não só é parte integrante da sociedade, mas é tido como ídolo. O esqueleto sente uma angústia, sem saber ao certo por quê. Para suprimir essa inquietação, o simpático Rei das Abóboras precisa sair em busca de algo que, na verdade, também não sabe bem o que é, mas mesmo assim o quer apaixonadamente. Essa “doença da alma”, que tortura o herói, é descrita pelo próprio personagem no poema que deu origem à longa-metragem:

“I'm sick of the scaring, the terror, the fright.
I'm tired of being something that goes bump in the night.
I'm bored with leering my horrible glances,
And my feet hurt from dancing those skeleton dances.
I don't like graveyards, and I need something new.
There must be more to life than just yelling, 'Boo!'”

(THOMPSON, Frank. Tim Burton’s The Nightmare Before Christmas. New York: Disney Press, 2009.).
“Estou cansado de sustos, medo e terror.
Cansado de causar tantos gritos de horror.
Cansado de vestir apenas branco e preto,
meus pés já não aguentam a dança do esqueleto.
Odeio o cemitério e seus tons cinza e azul.
A vida deve ser mais que só gritar: “Buuu!”

(Tradução de Francine Fabiana Ozaki).

As angústias de Jack o levam a se isolar da cidade, pois seu humor depressivo não combina com a cidade em festa. Portanto, o protagonista já ocupa o status de outsider dentro do próprio ambiente. A descoberta de Christmastown coloca Jack novamente no papel de estrangeiro, em uma terra totalmente diferente da sua. Mais uma vez, temos um protagonista deslumbrado por um mundo oposto ao seu, cores e luzes contra escuridão e sombras, como em Edward. 

Em O Estranho Mundo de Jack, Burton dá seus primeiros passos na direção da subjetivação dos personagens femininos, que começou a ser desenvolvido na Mulher Gato, embora com menos destaque, e que culminará em A Noiva Cadáver (2005). Sally, o par romântico de Jack, é visualmente muito parecida com a vilã de Batman o Retorno (1992). Em mais uma referência ao clássico Frankenstein, Sally foi construída para servir de companhia a seu inventor. Embora não esteja presente no poema original, ela tem grande destaque no enredo da longa-metragem. Sally é quem tem o pressentimento de que algo pode dar errado caso os integrantes de um feriado resolvam assumir o controlo de outro. No entanto, ninguém lhe dá ouvidos. Com o corpo todo revestido por costuras que se soltam constantemente, a heroína se torna peça-chave no filme ao evitar que o temido Bicho Papão mate o Pai Natal e ao protegê-lo até que Jack volte do mundo real.

Segundo Burton, as costuras de Sally e da Mulher Gato representariam:

(...) that whole psychological thing of being pieced together. Again, these are all symbols for the way that you feel. The feeling of not being together and of being loosely stitched together and constantly trying to pull yourself together, so to speak. (BURTON, Tim; SALISBURY, Mark (org.). Burton on Burton. 2.ª ed. Londres: Faber and Faber, 2006, p. 123).

Mais uma vez, Burton dá dimensão visual e física aos conflitos internos do personagem, como fez em seus dois personagens de criação anteriores, Vincent e Edward.

Progressivamente, os personagens femininos de Burton passarão a ganhar destaque em seus filmes. Desde Kathy O’Hara, a esposa dedicada de Ed Wood (1994), passando pelas heroínas Katrina Van Tassel, personagem de Christina Ricci em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999), e a rebelde chimpanzé Ari, personagem de Helena Bonham Carter em Planeta dos Macacos (2001), até a protagonista de seu segundo filme de animação, A Noiva Cadáver (2005).

Francine Fabiana Ozaki, The melancholy death of oyster boy & other stories’, de Tim Burton: crítica e tradução. Curitiba, Universidade Federal do Paraná - Sector de Ciências Humanas, Letras e Artes, 2013.

domingo, 8 de maio de 2011

CINE-FICHA


A ARTE DE SER ESPECTADOR

 

Aparentemente, nada há de mais natural do que ser  espectador. Salvo se se for cego, parece que basta colocar-se no local apropriado, abrir os olhos e... ver. E, no entanto, as coisas são bem mais complicadas. Bastará pensar neste exemplo simples: não apreendemos todos as mesmas coisas, apesar de vermos possivelmente o mesmo. Além disso, a representação (no sentido da encenação e de re-presentação, de voltar a tornar presente) que o cinema é, pressupõe do seu espectador uma formação acerca dos seus códigos, das suas linguagens e dos seus contextos. E esta formação alarga e enriquece o acto de ver. Em conclusão, nada de menos natural do que ser espectador.

     

Manuel Pinto e António Santos, O Cinema e a Escola,

Cadernos PÚBLICO na Escola, 1996, p. 41.

   

   

Diante de um filme, há que ver e ouvir cada plano e cada sequência como unidades que se sucedem sem parar. Há que fixar-se em todos os detalhes que compõem um plano: como se movimentam as personagens que o preenchem e que expressões assumem; como evoluciona a câmara, se é que se movimenta, e o que é que nos mostra em cada momento; o que é que quer dizer quando se ergue por cima do olhar ou quando passa a focar um pormenor, seja um objecto ou um aspecto de um rosto; como intervêm a música ou os ruídos para definir o clima que se quer transmitir; como é que, graças à montagem, se passa a outra cena ou situação distinta e como se encadeiam numa linha narrativa contínua, etc.

    

Joaquim Romaguera y Ramió, El Lenguage Cinematográfico.

 

A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

    

Que devemos esperar de uma crítica de cinema? Pela minha parte, poderia sintetizar a resposta em três pontos:

    

Em primeiro lugar, procuro que um crítico de cinema me leve a ver num filme um certo número de pontos e de aspectos que me tinham passado despercebidos; e, em última instância, que tenha  sobre a obra em questão uma perspectiva interpretativa original que me obrigue a repensar a minha própria experiência de espectador.

    

Gostaria também que o crítico fosse o agente de cultura, capaz de me situar o filme de que se ocupa no espaço contemporâneo da história, da política, da arte e do pensamento.

    

Por fim, gosto dos críticos que afirmam as suas paixões, que têm os “seus” autores, que são capazes de dialogar com eles e que, de certo modo, participam teoricamente no próprio processo de criação artística.

     

Eduardo Prado Coelho, Público, 13/03/1995.


Clique na imagem para ampliar numa nova janela: 

“A excepção e a regra”, crónica de Eduardo Prado Coelho
 para o suplemento Leituras do jornal Público.
Sábado, 18 de março de 1995, p. 12.

 

LEITURA CRÍTICA DE UM FILME

    

Mariolina Gamba, num artigo publicado na revista Cinema, no número 20, de Maio de 1992, propõe uma sequência de dez pontos para análise de um filme:

    

1.      Divisão do filme em episódios (sequências ou capítulos). Procura das cenas principais (a cena caracteriza-se por uma unidade ambiente).

    

2.      Individualização das personagens que aparecem no filme. (Entende-se por personagem todo o ser que tem uma acção individual no filme. Como tal, pode ser uma pessoa, um animal, uma coisa, um grupo).

     

3.      Individualização do protagonista (elemento central do filme a nível narrativo, à volta do qual se desenrola a história. Pode coincidir com uma personagem ou, em casos extremos, ser uma relação entre personagens).

     

4.      Conclusão da análise narrativa – o filme é a história de...

     

5.      Procura das características das personagens, das relações entre si e com a protagonista, com o fim de individualizar os aspectos técnicos do filme.

    

6.      Formulação do “tema” do filme, aquilo que o autor quis comunicar-nos através da obra.

        

7.      Reflexão sobre o conteúdo do filme. O tema central e outros eventuais temas serão válidos ou discutíveis? Consideração dos comportamentos das personagens e do protagonista.

         

8.      Reflexão sobre os aspectos linguísticos e estéticos (unidade do filme ou sua falta, uso da linguagem das imagens, interpretação dos actores, música, etc.). Consideração estética – como se exprime o tema central do filme e outros eventuais temas. Há harmonia no filme relativamente ao emprego dos diversos elementos da linguagem cinematográfica?

          

9.      Confronto entre o que o filme exprime e a própria experiência pessoal e social.

          

10.  Outras considerações julgadas oportunas (sociais, políticas. históricas. educativas...).

           

Manuel Pinto e António Santos, O Cinema e a Escola,

Cadernos PÚBLICO na Escola, 1996., p.74.

 

 

CINE-FICHA   (apreciação de filmes)

     

-       Título

-       Título original

-       Realizador

-       Argumentista

-       Género

-       País de origem

-       Data

-       Actores principais

-       Actores secundários

       

-       Contextualização histórica, política e social

-       Espaço(s) de acção

-       Breve síntese (“O filme é a história de...”)

-       Procura das características das personagens, das relações entre si e com a protagonista, com o fim de individualizar os aspectos técnicos do filme.

-       Formulação do “tema” do filme, aquilo que o autor quis comunicar-nos através da obra.

-       Reflexão sobre o conteúdo do filme. O tema central e outros eventuais temas serão válidos ou discutíveis? Consideração dos comportamentos das personagens e do protagonista.

-       Reflexão sobre os aspectos linguísticos e estéticos (unidade do filme ou sua falta, uso da linguagem das imagens, fotografia, música, caracterização e interpretação dos actores, guarda-roupa, etc.). Consideração estética – como se exprime o tema central do filme e outros eventuais temas. Há harmonia no filme relativamente ao emprego dos diversos elementos da linguagem cinematográfica?

-       Aspectos que mais apreciei

-       Aspectos que menos apreciei

-       Balanço crítico

 



[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2011/05/08/cinema.aspx]