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quinta-feira, 5 de abril de 2018

audiopoemas de «Chuva de Época»

no Youtube.
José Maria de Aguiar Carreiro, CHUVA DE ÉPOCA. Ponta Delgada, 2005
































CHUVA DE ÉPOCA | ÍNDICE
NADA NUNCA DE NINGUÉM 
Individualidade
Um lume escuro interior
Depósitos
Em corpórea presença
Condenação
Não procuramos o mesmo
Toca em mim
Mancha
Fragmentos de um discurso amoroso
O rosto aquele rosto
Yo simplemente te vi
Adeus
Ginete!
Actuo na comoção do espaço
Onda
O rio escavaca a sorte
Estes dias que nos separam
A casa onde nos abrigamos
O espaço incontido do presente
Voz desnivelada
Mastigação
Rapto
Um rio no meu cérebro
A morte precursora ou silenciosa imolação
Volveste
Figuras indigitadas
Ulisses na ilha de Circe
Teresa d’Ávila
Quixote
Senhora dos passantes
Carrego o quadro
Ausência
Amizade I
Amizade II
Mercador ou traficante
Face oculta
Densidade espectral
Emoções
Saída
Inscrição
O fraco momento da vida

O RISO DOS POETAS 
O riso dos poetas
Farsantes
Sente o tanger quente dos humanos
Um mínimo impulso
Voz reflexiva
Os animais-textos
As palavras
Acontece
O poeta
Uma valsa para Antília
Da reticência ao facto
Segredo aberto
Involuntária ficção
Entre paredes
Recitamos
A escrita
Voz percutora

CHUVA DE ÉPOCA | SOBRE A OBRA
Chuva de Época é o primeiro livro de poemas de José Maria de Aguiar Carreiro. A epígrafe que abre o livro, um verso de Jorge Luis Borges – “Somos a água, e não o diamante duro, / a que se perde, não a que repousa” –, coloca-nos de imediato perante um horizonte de leitura que o que se segue há de confirmar. Constituído de duas partes, “Nada Nunca de Ninguém” e “O Riso dos Poetas”, o presente poemário faz da(s) continuidade(s), melhor, da consciência dela(s), o chão do seu dizer ou, como se pode ler no poema “Estes dias que nos Separam”: “farei do gesto uma cópia / infinita dos gestos dos gestos”.
Da negatividade ontológica à negatividade temporal e psicológica, José Maria de Aguiar Carreiro procura, nos poemas que estão dentro, a completude impossível para uma palavra poética a que os advérbios (“Nada Nunca…”), que estão acima, nos sobreavisam para a ausência dela. A epígrafe reconfirma-se: não há presenças a que o dizer poético se possa juntar, nem continuidades de que a poesia seja o seu assomo de felicidade. Face à ausência – de si, dos outros e de um presente que nunca é –, que resta ao poeta senão a reafirmação dos advérbios? Chuva de Época instala-se no interior dessas ausências, para daí dizer o que dizer não se pode. O riso é o sinal desse impoder, e disso o poeta nos faz seus cúmplices.
Fernando Martinho Guimarães (Ponta Delgada, 2005)

(…) poética (…) elíptica, tan entregue á gramática do fragmento. Experimentei gratos reenvíos a outros lugares e textos. Por suposto ao Barthes de Fragments, un libro átopos por seguirlle o xogo. (…) Tamén Resnais, o Marienbad, non sei ben por que motivo, as poéticas todas ditas “do espazo”. Chuva de Época semella ser un libro francés aos meus ollos, cunha decidida tematización da espacialidade, da habitabilidade, dos ocos e os baleiros revisitados ou presaxiados, dos segmentos de vida formulada. Mediterráneo acaso malia o lugar onde foi pensado, grego na semántica como o foron algúns dos arcaicos, entregando case todo ao non dito ou só suxerido, e sendo á vez, en simultaneidade inesquivábel, metadiscursivos, reiterados e autorreferentes na textualidade que se demora como coordenadas non só da escrita senón tamén do experimentado, da vida en suma e dos seus azares obxectivos.
 Arturo Casas (Santiago de Compostela, 2006)





O autor


José Maria Aguiar Carreiro 2005
José Maria de Aguiar Carreiro
Nasceu no concelho de Nordeste da ilha de São Miguel, a 20 de junho de 1970.
Cursou Línguas e Literaturas Modernas (variante de Estudos Portugueses) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Em 2005 publicou, em edição de autor, o seu primeiro livro de poesia, CHUVA DE ÉPOCA, com o apoio da Direcção Regional da Cultura dos Açores.
Colaboração em revistas e antologias literárias, como por exemplo: revista Arte & Manhas (Angra do Heroísmo, Verão 2006); revista Magma nº 3 (Dezembro 2006, Lajes do Pico, Edições Atlânticas); revista Arraianos nº VII (2008) e Arraianos nº VIII (2010) – Santiago de Compostela, Alvarellos Editora; revista de poesia e imagem Big Ode nº 3, nº 6, nº 7 (Almada, 2007-2009);  revista-blogue de poesia Inefável nº 1 (2007); Seixo Review Artes & Letras  nº 9 (2008); revistaliterária da Universidade dos Açores NEO nº 9 (2009); revista Transe Atlântico nº 0, Junho 2010; Porto Alegre – Açores: Poesia GeminadaEdições Caravela – Instituto Cultural Português, RS – Brasil, 2013.
Entrevistas ao Açoriano Oriental (Ponta Delgada, Fevereiro de 2008), ao Expresso das Nove (Ponta Delgada, 19 de Fevereiro de 2010) e à Rádio Vizela(2018-02-14).
Programa radiofónico Hora de Poesia sobre José Maria de Aguiar Carreiro, por Conceição Lima, a “madrinha dos poetas” (Rádio Vizela, 2018-02-14).
CHUVA DE ÉPOCA - Canções para o tenor Marcel Beekman e o Ensemble Ciudate  integradas no espetáculo VIAGEM NO TEMPO, gravado na Holanda, em 19-02-2011, pela Rádio 4. Composição de Kees Arntzen. Poemas de José Maria de Aguiar Carreiro.

Traduções:
Tradução do poema “O rosto aquele rosto” por Maria João Fernandes e Vítor Vicente integrado em “Poesía en Big Ode”, concerto/performance por Rodrigo Miragaia, Maria João Fernandes, Sara Rocio e Vítor Vicente da Revista Big Ode(Almada, Portugal) para o Edita 08, organizado pelo poeta Uberto Stabile, que teve lugar em Punta Umbria, Huelva, entre 30 de Abril e 3 de Maio de 2008.
Azoru Salu – Dzejas Antologija (Izdevnieciba, Minerva, 2009). Antologia de Poesia Açoriana publicada na Letónia e traduzida pelo poeta Leons Briedis.




CARREIRO, José. “audiopoemas de «Chuva de Época»”. Portugal, Folha de Poesia, 05-04-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/04/audio-poemas-de-chuva-de-epoca.html


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Hora da Poesia - José Carreiro

Na Hora da Poesia (2018-02-14), Conceição Lima, Duarte Luz e Rui Diniz dão voz a poemas de Chuva de Época, de José Maria de Aguiar Carreiro:

Conceição Lima entrevista José Maria de Aguiar Carreiro:



ENTREVISTA

Conceição Lima - Curta biografia. Desde quando a Poesia? A poesia foi fruto de influência de algo ou alguém ou impôs-se? O que o empurra para a escrita poética? Acha que a poesia é inerte ou traz missão? Quais os poetas que poderão ter influenciado os seus gostos na escrita poética?

José Carreiro - Nasci numa freguesia do concelho de Nordeste da ilha de São Miguel.
Aos 15 anos, sem pedir autorização aos meus pais, preenchi a pré-inscrição para o ingresso no ensino secundário na cidade situada na outra ponta da ilha. O meu pai acedeu à determinação e passei a viver durante a semana num quarto alugado em Ponta Delgada, numa casa partilhada. Os fins-de-semana passava-os em família.
Depois veio o ensino superior na Universidade de Lisboa. Conto com uma bolsa de estudo do governo regional e com o apoio possível do meu pai. Poderia cursar na ilha, mas queria ampliar os horizontes.
O Fernando Pessoa estudado no 12.º ano é determinante na descoberta da poesia. Enquanto adolescente, identificava-me com a dualidade interior do poeta.
É no décimo segundo ano que começo a escrever um diário, onde incluía alguns versos entre os derrames e reflexões sobre o dia. Os cadernos foram-se acumulando. Em 1990, já na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, faço uma pequena seleção de poemas, a maior parte abandonada na nova seleção de 1992.
No início dos anos 90, participo, em Lisboa, num I Encontro de Jovens Escritores, promovido pela Sociedade Portuguesa de Autores. Creio que, dos presentes, poucos tinham publicado alguma coisa, talvez uns três ou quatro, se tanto. Nas jornadas deram-nos conselhos, um dos quais foi não termos pressa em publicarmos.
Nesse Encontro, tivemos oportunidade de conviver com alguns autores: lembro-me de jantar com a Natália Correia e de irmos à discoteca com o Al Berto. Belos momentos.
Entretanto, a seleção de 1992 foi sendo ampliada, cortada e recortada, trabalhada até à data da publicação, em 2005, já em Ponta Delgada, para onde fui lecionar após ter terminado o curso.
Quanto a leituras, sou “um sensível e agradecido leitor”, como disse uma vez Jorge Luis Borges.  Outros poetas formaram o meu gosto pela poesia: Camilo Pessanha, Sophia Andresen, Jorge de Sena, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães são alguns dos nomes.
Chuva de Época faz parte do pasmo inicial perante a vida.
Move-me para a escrita a estilização do real: uma frase, uma sonoridade, uma pintura, uma escultura, um elemento arquitetónico, uma cena ou uma coreografia, enfim, o mundo mediado pela arte. Por exemplo, uma fotografia de Sebastião Salgado pode funcionar, para mim, como uma arte de desbloqueio.
Aprecio o apontamento caricatural, o alegórico, a metáfora. E o nonsense.
junho de 2017


2018-02-14

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Más Leituras


     Partindo de dois versos sugestivos de um dos poemas da obra Chuva de Época, «Escrever e ler/é escrever mal e ler mal», o título do projeto Más Leituras corresponde a uma subversão provocatória do significado de «mal»/«má»: aqui, uma «má leitura» consiste numa proposta de recriação apolínea de itinerários possíveis, suscitados pela receção de cada um dos seis textos selecionados. No conjunto, as «más leituras» deste projeto são experiências de apreensão daquilo que o poeta José Maria de Aguiar Carreiro designa por “riqueza multiplicada/ que sai esbaforida” dos textos e que se constitui como reduto privilegiado do/a leitor(a).

Eduarda Maria da Silva Ribeiro Mota, Más Leituras - Projeto Final do Seminário de Materialidades da Literatura II, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, julho de 2011.




DA RETICÊNCIA AO FACTO

Da reticência ao facto
tudo é repetição, segmento deposto,
correcção.

Escrever e ler
é escrever mal e ler mal.

O facto é sempre o que se vê:
letras de lua e de sol
gavião que sai de feridas e se interpreta

o primor da fala, a sabedoria poética.

Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005.


praia da Ribeira Quente, ilha de São Miguel, Açores, 2006. José Carreiro



AUSÊNCIA 

À luz gelada do amanhecer
ele toma a direção da praia
a força do mar arrima-o um pouco
ao imo prestado pelos elementos
observa a fúria da areia que voa
açoita a cara empurrando-o
a procurar abrigo.
Sim, que ausência.

Rolam tumultuosas mas lentamente
as letras para sua própria ordem
por imposição incendiária de montanhas
de rios e de cidades.
Sim, muitos deixam as ilhas
areias cristais e buscam continuamente
forma onde repousar.

– Sim, dir-me-ás tudo isso
mas eu não sei o que quero nem o que faço

para que tudo se represente igual sempre igual a si mesmo.

Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005.



“Má Leitura” como processo (in)voluntário de colagem.


Pretende-se realçar que cada leitor(a) encerra em si mesmo(a) um conjunto quase infinito de potenciais atualizações de um arquivo individual em devir. Aqui a leitura é construída por meio da convergência de duas componentes do arquivo do/a leitor(a): a biblioteca e a música popular açoriana pós-autonomia.


INSULARIDADES

“Mãe-Ilha”, de Natália Correia
“Ilhas de Bruma”, de Manuel Medeiros Ferreira

à luz gelada do amanhecer
da ilha que me deram e eu não quis

toma a direção da praia
a tosca ilhoa
seu gesto, cãibra de garça interrompida

só o vento ecoa mundos na lonjura

sim, muitos deixam as ilhas
de bruma
onde as gaivotas vão beijar a terra

e buscam continuamente
forma onde repousar

parti p’rás índias do meu estranho caso
mas trago o mar imenso no meu peito

nas veias corre-me basalto negro
ao pasto e à onda me unirei sincera
para que tudo se represente igual
sempre igual a si mesmo


Eduarda Maria da Silva Ribeiro Mota, Más Leituras - Projeto Final do Seminário de Materialidades da Literatura II, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, julho de 2011.



praia do Porto Formoso, ilha de São Miguel, Açores, 2009. José Carreiro.



MÃE ILHA

I

Limão aceso na meia-noite ilhada,
O relógio na torre da Matriz
Põe o ponteiro na hora atraiçoada
Da ilha que me deram e eu não quis.

Mas, ó de alvos umbrais Ponta Delgada!
Meu prefixo de pastos, a raiz
É de calhau e de onda encabritada:
Um triz de hortênsia e estala-me o verniz.

Atamancada em fama a tosca ilhoa,
Só na praça e no prelo é de Lisboa,
Seu gesto, cãibra de garça interrompida.

No mais, o osso campesino e duro
É fervor, é fogo e fé que juro
Ao lume e às flores da Graça recebida.

II

No coração da ilha está um vaso
Cheio das pérolas que p’ra mim sonhaste,
Ó mãe completa da manhã ao ocaso,
Pastora dos meus sonhos, minha haste.

Parti p’rás Índias do meu estranho caso
– ó danos que dos versos sois o engaste! –
E com maus fados se entendem ao acaso
Lírios e feras do meu vão contraste.

Ave exausta, o retorno quem me dera,
Vou no canto dos órfãos soletrando
O âmbar da manhã que ali me espera.

Feridas asas, enfim ali fechando
Ao pasto e à onda me unirei sincera,
Ilha no manso azul de mãe esperando.

Natália Correia, Sonetos Românticos, 1990


Fotografia de José Carreiro. Ribeira Grande, 2014-01-04

ILHAS DE BRUMA

Ainda sinto os pés no terreiro
Que os meus avós bailavam o pezinho
É que nas veias corre-me basalto negro
E na lembrança vulcões e terramotos

Se no falar trago a dolência das ondas
O olhar é a doçura das lagoas
É que trago a ternura das hortênsias
E no coração a ardência das caldeiras

Trago o roxo a saudade esta amargura
Só o vento ecoa mundos na lonjura
Mas trago o mar imenso no meu peito
E tanto verde a indicar-me a esperança

É que nas veias corre-me basalto negro
No coração a ardência das caldeiras
O mar imenso me enche a alma
E tenho verde, tanto verde a indicar-me a esperança

Por isso é que eu sou das ilhas de bruma
Onde as gaivotas vão beijar a terra (Refrão)

Letra de Manuel Medeiros Ferreira