Grupo Ngola, na Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa
Não
vale a pena pisar
O
capim não foi plantado
nem
tratado,
e
cresceu. É força
tudo
força
que
vem da força da terra.
Mas
o capim está a arder
e
a força que vem da terra
com
a pujança da queimada
parece
desaparecer.
Mas
não! Basta a primeira chuvada
para
o capim reviver.
Manuel Rui, No
reino de Caliban, Antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa
II, Lisboa, Seara Nova, 1976, p. 318
Texto de apoio:
Na derradeira edição da Mensagem, boletim da Casa dos Estudantes do Império publicado a 6 de setembro de 1965, Manuel Rui legou à posteridade um poema
escrito sob circunstâncias íntimas e simbólicas: redigiu-o sobre uma mesa de
pinho, austera e rústica, que servia de secretária no seu quarto em Coimbra.
Intitulado inicialmente “Não Vale a Pena Pisar”, o texto seria posteriormente
rebatizado como “Nossa Força”, ganhando novas camadas de significado. Nele, o
capim – erva resistente e marginal, não cultivada, não domesticada – emerge
como metáfora pungente dos oprimidos, daqueles que, embora invisibilizados,
carregam em si a força telúrica da resistência.
Do meu país. Do país que eu amo, do país que eu temo,
do país que sangro para comer no pão, do país que quero,
do país que doo, do país que amasso como se fosse chão,
do país que tenho, do país que guardo, do país que sonho
como se o lesse na mão, do país que espero, cigarro etéreo,
do país que a minha vida inteira respirou, do país que
lavro, do país que rasgo, do país que a poesia me chorou,
do país com carne, do país com veias, do país que é onde
o sol se deitou, do país que fosse o país que é o país onde
o futuro abalroou, do país do amor, do país dos outros,
do país que é também tudo o que sou, do país chegado,
do país sem barcos, do país que à minha janela me levou.
Eduardo White, Até amanhã, coração. Maputo, Imprensa Universitária, 2005
Eu sei que fico.
Mas o meu sonho irá
Pelo vento, pelas nuvens, pelas asas.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá...
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos frutos, nos colares
E nas fotografias da terra,
Comprados por turistas estrangeiros
Felizes e sorridentes.
Eu sei que fico mas o meu sonho irá...
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Metido na garrafa bem rolhada
Que um dia hei de atirar ao mar.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá...
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos veleiros que desenho na parede.
Aguinaldo
Fonseca, Suplemento Cultural n.º 1 da revista Cabo Verde: Boletim de
Propaganda e Informação. Praia, publicação da Imprensa Nacional, outubro de
1958
Análise literária do poema
O poema
"Canção dos rapazes da ilha" de Aguinaldo Fonseca, publicado no Suplemento
Cultural n.º 1 da revista Cabo Verde em outubro de 1958, aborda a
realidade de jovens confinados à vida insular e os sonhos que transcendem essa
limitação física. Através de uma estrutura repetitiva e um tom melancólico, o
sujeito poético apresenta um contraste entre a imobilidade física e a liberdade
do espírito e da imaginação.
O poema
inicia com uma declaração contraditória: “Eu sei que fico. / Mas o meu sonho
irá” (vv. 1-2). Estes versos contêm as duas certezas do sujeito poético: a
realidade de permanecer fisicamente na ilha e a capacidade dos seus sonhos de
transcender essa limitação. Esta contradição estabelece o tom para o resto do
poema, em que o sujeito poético explora como os seus sonhos poderão viajar e
alcançar lugares além da sua prisão insular.
O sonho
do sujeito poético propaga-se de várias formas. Ele imagina o seu sonho voando
pelo ar (“Pelo vento, pelas nuvens, pelas asas”), manifestando-se em objetos
vendidos a turistas (“Nos frutos, nos colares / E nas fotografias da terra”),
encerrado numa garrafa atirada ao mar (“Metido na garrafa bem rolhada / Que um
dia hei de atirar ao mar”), e nos desenhos dos veleiros na parede (“Nos
veleiros que desenho na parede”). Cada uma destas imagens reforça a ideia de
que, embora fisicamente confinado, o espírito e a imaginação do sujeito poético
podem viajar e deixar uma marca.
A
impossibilidade de o sujeito poético sair da ilha é sugerida pela sua condição
socioeconómica e pela insularidade. A pobreza, implícita nas suas
circunstâncias, e a realidade geográfica de viver numa ilha limitam as
oportunidades de fuga física, acentuando a prisão física em contraste com a
liberdade imaginativa.
O poema
constrói-se sobre diversos contrastes que enriquecem a leitura:
Presente/Futuro:
O presente é representado pela certeza de que o sujeito poético fica, enquanto
o futuro é sugerido pelo sonho que irá.
Realidade/Fantasia:
A realidade da permanência física contrasta com a fantasia do sonho viajante,
capaz de se propagar pelo ar e pelos mares.
Pobreza/Riqueza:
A pobreza é subentendida na condição de ficar, enquanto a riqueza é simbolizada
pelos objetos que contêm os sonhos, vendidos a turistas estrangeiros.
Prisão/Liberdade:
A prisão física de ficar é contraposta à liberdade do sonho que viaja.
Infelicidade/Felicidade:
A infelicidade da imobilidade é contrastada com a felicidade imaginada e
idealizada nos sonhos que se movem.
Estes
contrastes são centralizados na estrutura do poema, particularmente na
repetição dos versos "Eu sei que fico. / Mas o meu sonho irá", em que
a conjunção adversativa “mas” enfatiza a diferença entre o presente aprisionado
e a libertação futura.
O título
"Canção dos rapazes da ilha" sugere que o poema não é apenas a
expressão de um indivíduo, mas representa um sentimento coletivo de uma geração
de jovens confinados a uma realidade insular. A "canção" simboliza a
voz unificada destes rapazes que, apesar das suas limitações físicas, nutrem
sonhos e esperanças de um futuro além das fronteiras da sua ilha. Este
sentimento coletivo é emblemático da Geração do Suplemento Cultural, conhecida
por sua postura de revolta e pelo desejo de transcender as limitações impostas
pelo contexto colonial e geográfico.
Geração do Suplemento Cultural
A Geração
do Suplemento Cultural, nascida em 1958, aparece como uma Geração muito
identificada com uma verdadeira postura de revolta.
O Suplemento
Cultural saiu apenas uma vez, pois o segundo foi impedido de sair às bancas
pela censura colonial da época.
A
situação de Cabo Verde na época levava a que este grupo de homens, reunido à
volta desta Geração, questionasse politicamente as verdadeiras causas/razões de
tal realidade comprometida, apelando, assim, à revolta humana
Desta
forma, é amplamente reconhecido que este Suplemento Cultural marcou,
definitivamente, uma atitude radicalmente diferente em relação às Gerações
anteriores. Apesar de irem buscar a maturidade literária aos homens da Geração
da Claridade (1936) e a maturidade político-social aos homens da Geração da
Certeza (1944), os homens da Geração do Suplemento Cultural apresentam-se como
homens da Geração da recusa (a favores específicos ao sistema colonial) que
aposta na valorização da coletividade - cabo-verdiana, obviamente. O
"eu" poético é, assim, um "eu coletivo", um
"eu/nós", onde o poeta se apresenta como o porta-voz da dimensão
cultural coletiva, identificando-se solidariamente com o seu povo.
Do ponto
de vista político-social, a Geração do Suplemento Cultural assume uma postura
de combate, de revolta e de alerta, abrindo caminho à mais pura vontade de
independência.
Fala do
homem que aposta na terra que é sua, negando tendências antigas (seculares,
mesmo) de evasão, de fuga, desvalorizando o elemento "mar" para dar
vida ao elemento "terra".
Os seus
textos são rítmicos, repetitivos, exatamente porque são enfáticos, destinados a
revelar claramente as realidades.
A sua
principal missão era a de captar a fidelidade do homem cabo-verdiano à sua
terra natal e, nas circunstâncias naturais e dimensões espirituais, levá-lo às
últimas consequências, por forma a que resultasse na atitude de reconstrução do
enraizamento da cultura intelectual em bases profundas e coerentes. A sua maior
intenção era a de fazer da arte literária uma projeção intencionalmente
combativa da problemática do ilhéu.
Consciencializar
o homem cabo-verdiano de que este faz parte integrante de um processo histórico
geral que o envolve, era, no momento, o trabalho mais ativo que esta Geração do
Suplemento Cultural tinha de levar a cabo.
João Afonso Lima (Beira,
1965) é um cantor português. Viveu em Moçambique até 1978, com seus pais e
irmãos. Colheu influências da música urbana africana e da música popular
portuguesa, esta última pela influência de Zeca Afonso, seu tio materno. A sua
colaboração em Maio Maduro Maio (1994), em parceria com José Mário Branco e
Amélia Muge, valeu-lhe a atribuição do Prémio José Afonso.
O poema "Mar Me
Quer" de João Afonso é uma adaptação musical da novela Mar Me Quer,
do escritor moçambicano Mia Couto, cuja leitura se encontra orientada na nossa página
da Lusofonia.
Na novela Mar Me Quer, «Mulata Luarmina e Zeca
Perpétuo partilham território de vizinhança, chão de terra tão mais velho
que eles, olhando o mar que é sempre quem mais viaja.
Luarmina ensombreada de um qualquer
silêncio, que de tão longo parece segredo, entardece todos os dias na companhia
de Zeca, ouvindo as histórias que vão povoando a paisagem.
Zeca Perpétuo sonha sempre o mesmo: se
embrulhar com ela, arrastá-la numa grande onda que os faça inexistir.
Luarmina foi aprendendo mil defesas para
as insistências namoradeiras de Zeca, mas um dia resolve negociar falas e
outras proximidades, não em troca de aventuras sonhiscadas de Zeca, mas de suas
exatas memórias.
E como diz o avô Celestiano "o
coração é uma praia", em que o mar, porque nos quer, acaricia memórias e
apazigua ausências.
Avô Celestiano é a sabedoria do tempo.
Mas também é o fabricador de sonhos. Por via dos sonhos, ele visita os vivos e
conduz, na sombra dos aléns, os destinos e os amores de Zeca e Luarmina.
"O que faz andar a estrada? … o
sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. … para isso que
servem os caminhos. Para nos fazerem parentes do futuro." (Mia Couto, Mar Me Quer)»
Natália
Luiza, Mar me quer, Coimbra, Cena Lusófona, 2002(Adaptação
dramatúrgica da novela homónima de Mia Couto, encomendada pela Cena Lusófona, e
colocada em palco pela companhia Teatro Meridional, num espetáculo estreado em
maio de 2001, no Teatro Taborda em Lisboa.)
Aquilo tornara-se um vício. Ele ouvia um telefone a
tocar e logo estendia o braço e levantava o auscultador.
– E se fosse para mim?
Os amigos faziam troça:
– No consultório do teu dentista?
Uma noite estava sozinho, no Rossio, à espera de um
táxi, quando o telefone tocou numa cabina ao lado. Era no fim da noite e
chovia: uma água mole, desesperançada, tão leve que parecia emergir do próprio
chão. Ruben enfiou as mãos nos bolsos do casaco.
– É claro que não vou atender – disse alto. – Não
pode ser para mim. Se atender este telefone é porque estou a enlouquecer.
O telefone voltou a tocar. Não chegou a tocar cinco
vezes. Ele correu para a cabina e atendeu.
– Está?
Estava muito sol do outro lado. Era, tinha de ser,
uma tarde de sol.
– Posso falar com o Gustavo?
A voz dela iluminou a cabina. Ruben pensou em dizer
que era o Gustavo. Estava ali, àquela hora absurda, abandonado como um náufrago
na mais triste noite do mundo. Tinha direito de ser o Gustavo (fosse ele quem
fosse).
– Você não vai acreditar, mas a sua chamada foi
parar a uma cabina telefónica.
Ela riu-se. Meus Deus – pensou Ruben – era como
beber sol pelos ouvidos.
– Não brinques! És tu, Gustavo, não és?…
Sim ele tinha o direito de ser o Gustavo:
– Infelizmente não. Você ligou para uma cabina
telefónica, no Rossio, eu estava à espera de um táxi e atendi.
Quase acrescentou: "pensei que pudesse ser para
mim". Felizmente não disse nada. Ela voltou a rir:
– Tenho a sensação de que esta chamada vai ficar-me
cara. Sabe onde estou?
Pulau Penang
Estava em Pulau Penang, na Malásia, e dali, do seu
quarto, num hotel chamado Paradise, podia ver todo o esplendor do mar.
– Nunca vi nada com esta cor – sussurrou – só espero
que Deus me dê a alegria de morrer no mar.
Ele ficou em silêncio. Aquilo parecia a letra de um
samba. Ela começou a chorar:
– Desculpe que vergonha… Nem sequer sei como se
chama.
Ruben apresentou-se: – Ruben, 34 anos, trabalho em
publicidade.
Pediu-lhe o número de telefone e ligou utilizando o
cartão de crédito. Aquela chamada ficou-lhe cara. Casaram oito meses depois.
Ele diz a toda a gente que foi o destino. Ela, pelo sim pelo não, proibiu-o de
atender telefones.
José Eduardo Agualusa, A substância do amor e
outras crónicas. 3.ª edição, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2009, pp.
53-54
***
Escreve um pequeno comentário,
entre 80 e 100 palavras, sobre o sentido global do texto de José Eduardo
Agualusa, atentando na caracterização de Ruben, nas atitudes perante o
telefonema oriundo de Pulau Penang e na importância do destino na vida das pessoas.
(Proposta de escrita por Carla Marques e Inês Silva, emContos & Recontos 7.
Lisboa, ASA, 2013, p. 152)
Sugestão de resposta:
O sentido global do texto é mostrar
como o destino pode intervir na vida das pessoas, de forma surpreendente e
maravilhosa.
Ruben é uma personagem solitária, que
tem o hábito de atender telefones alheios, na esperança de encontrar alguém que
lhe fale.
As atitudes perante o telefonema de
Pulau Penang são de curiosidade, encantamento e coragem. Ruben decide
arriscar-se a conhecer a mulher que lhe ligou por engano, e acaba por se
apaixonar e casar com ela.
O destino é a força que une as duas
personagens, que vivem em lugares tão distantes e diferentes.
O texto é uma celebração do amor e da
magia do acaso.
Ontem, dia mundial da poesia (e da luta contra a discriminação racial), dirigi-me à Casa Fernando Pessoa, em campo de ourique, onde se ia proceder à leitura de Tabacaria em língua caboverdeana e ao lançamento duma edição bilingue, promovida por uma associação de afro-descendentes de lisboa.
Afazeres pouco poéticos fizeram com que eu chegasse alguns minutos depois da hora aprazada para o início da sessão. Uma tarjeta amarela, em inglês e português (Pessoa teria gostado), avisava que não seriam permitidas mais entradas. Remoendo as minhas razões, resolvi tocar à campainha. Logo um diligente vigilante acudiu à porta, dizendo educadamente que por razões de segurança não seriam admitidas mais entradas.
Não sei quem dirige hoje a Casa Fernando Pessoa, nem quem lá trabalha, mas pedi ao vigilante se podia chamar alguém responsável, pois poderia ser alguém que eu conhecesse, dado que em tempos fui assíduo frequentador da Casa, concebi um programa para uma quinzena da cultura caboverdeana, fui convidado de um dia mundial da poesia, onde recitei excertos da OdeMarítima traduzida por mim para caboverdeano (numa casa cheíssima, com gente até nas escadas), fui convidado de um «Dias do Desassosego», com escritores brasileiros e portugueses (sendo um 10 de junho, fiz a minha abertura com um soneto de Camões traduzido por mim para caboverdeano), a biblioteca da casa possui alguns dos meus livros, por mim oferecidos, sou tradutor de Pessoa para o caboverdeano, utilizando o seu alfabeto oficial (uma antologia intitulada Na Sol di Nhas Angústia esteve pronta para sair em 2007, aquando da passagem de Francisco José Viegas pela casa e ainda hoje aguarda edição), ainda a semana passada o número de inverno da revista LER, dirigida pelo mesmo Fancisco José Viegas, publicou uma montagem minha da Ode Marítima em caboverdeano, razões não para ter algum tratamento privilegiado, mas apenas justificativas do interesse que eu tinha naquela sessão onde seria lido e apresentado Tabacaria na minha língua materna, poema que eu próprio traduzi em 2007, e que aqui vos ofereço na versão de então.
Passados instantes entrevi, pela fresta da porta meio aberta, uma senhora de fogachos loiros nos cabelos, que entretanto descera até ao patamar da recepção, falar com o vigilante, acenando que não com a cabeça. Logo este se dirigiu a mim, que se encontrava do lado de fora, dizendo: «Lamentamos, cavalheiro, por razões de segurança...». Gostei muito, eu simples poeta, de ser tratado por «cavalheiro», pois a minha aparência não deixava dúvidas: devido ao frio eu vinha trajado de sobretudo castanho-claro, finas luvas castanho-escuro, cachecol verde-escuro, chapéu preto à Pessoa. Quando já ia embora pelo passeio do outro lado da rua, sorrindo como o Esteves sem metafísica, vi aproximarem-se duas senhoras, cujo tez ainda divisei no lusco-fusco de fim de inverno, e sem delongas sumiram casa adentro. Sorri mais uma vez, com um sorriso triste, alvitrando, para meu consolo, que talvez se tratasse do múltiplo Fernando, reencarnado, não heteronimicamente mas em carne e osso, em femininas figuras, e teria vindo indagar ao que vinha tanta gente de pele escura e linguajar estranho.
Aconteceu num dia mundial da poesia – e sou poeta. Aconteceu na cidade de lisboa – e dediquei-lhe em livro um monumento de palavras intitulado Lisbon Blues. Foi no bairro de campo de ourique, e estavam os meus livros numa feira no jardim da parada. Aconteceu na Casa Fernando Pessoa, e sou tradutor dele. Foi num dia mundial contra a discriminação racial e senti-me profundamente preto.
José Luiz Tavares Lisboa, 22 de março de 2018 https://santiagomagazine.cv/index.php/cultura/1299-um-amargo-dia-mundial-da-poesia
TABAKARIA
N ka nada. Nunka n ka ta ser nada. N ka pode kre ser nada. Trandu kel li, n ten dentu di mi tudu sonhu di mundu. // Janelas di nha kuartu, di nha kuartu di un-dus milion di mundu ki ningen ka sabe é kenha (I s'es sabeba é kenha, kuse k'es sabeba?), Nhos ta da pa un rua undi ninhun pensamentu ka ta txiga, Rial, inpusivelmenti rial, sertu, diskonhisidamenti sertu, Ku misteriu di kusas baxu di pedras ku seris, Ku morti ta poi umidadi na paredi i kabelu branku na omis, Ku distinu ta konduzi karosa di tudu pa strada di nada. // Oxi n sta dirotadu, sima ki n sabe verdadi. Oxi n sta odja klaru, sima ki n sta pa n more, I n ka tenba más armundadi ku kusas Sinon un dispidida, ki ta bira es kaza i es ladu di rua Fileras di karuaji dun konboiu, i un partida pitadu Di dentu di nha kabesa I nhas nerbu sakudidu ku osu ta xukalia na ta bai. N sta spantadu oxi, sima kenha ki pensa i atxa i skese. Oxi n sta divididu entri lialdadi ki n debe Tabakaria di kel otu ladu di rua, sima kusa rial pur fora, I sensason ma tudu é sonhu, sima kusa rial pur dentu. // N fadja na tudu kusa. Komu n ka fase ninhun prupózitu, si kadjar tudu era nada. Skola k'es da-m N dixi d'el pa janela di trás di kaza. N ba ti txada ku prupostus tamanhu, Mas so erbas ku arvis ki n atxa la, I ora ki tenba algen era igual a kes otu. N ta sai di janela, n ta xinta nun kadera. Na kuze ki n al pensa? Kuze ki n sabe di kel ki n ta fase ben ser, mi ki n ka sabe kuze ki n é? Ser kel ki n ta pensa? Mas n ta pensa ma mi n é tantu kusa! I ten tantus ki ta pensa ser mesmu kusa ki ka pode ten tantus! Jeniu? Nes mumentu ten mil sérebrus ta sunha ta atxa, sima mi, ma es é jeniu, I kenha ki sabe, stória ka ta marka nen un, Ka ten sinon strumu di tantu konkista futuru. Nau n ka ta akridita na mi. Na tudu manikómiu ten dodus maluku ku tantu serteza! Mi ki n ka ten ninhun serteza, mi é más sertu o menus sertu? Nau, nen na mi.... Na kantu kuartu pertu di seu i kuartus ka pertu di seu di mundu Nes ora ka sta jenius pa-es-propi ta sunha? Kantu aspirason altu nobri i tomadu ku klareza — Sin, verdaderamenti altu nobri i tomadu ku klareza —, I kenha ki sabe si pusível di rializa, Ka ta odja nunka sol ta ratxa rial nen es ka ta atxa obidu di algen? Mundu é pa kenha ki nanse pa konkista-l I non pa kenha ki ta sunha ma pode konkista-l sikre e ten razon. N ten sunhadu más ki kusas ki Napulion fase. N ten pertadu na petu, k'é ka rial, más umanidadi ki kristu. N ten fetu, sukundidu, filuzufia ki ninhun Kant ka skrebe. Mas mi é, i si kadjar n ta ser senpri, kel di kuartu pertu di seu, Sikre n ka mora na el; N ta ser senpri kel ki ka nanse pa kel li; N ta ser senpri apenas kel ki tinha kolidadis; N ta ser senpri kel ki djuntu dun paredi sen porta e spera p'es abri-l porta I kanta kantiga d'infinitu nun kapuera, I obi vos di dios nun posu tapadu. Kre na mi? Nau, nen na nada. Pa natureza dirama-m riba di kabesa ta arde Si sol, si txuba, kel bentu ki ta atxa-m kabelu I restu ki ta ben si ben, o ten ki ben, o dexa di ben. Skravus kardíaku di strelas, Nu ta konkista mundu interu antis d'e labanta-nu di kama; Mas nu ta korda i el fitxadu Nu ta labanta e ka ta djobe nen pa nos, Nu ta sai di kaza i el é tera interu, Djuntadu ku sistema solar i karera nhu santiagu i indifinidu. // (Kume xukulati, minina, Kume xukulati! Odja ma ka ten más metafízika na mundu sinon xukulati. Odja ma tudu rilijion ka ta nxina sinon faze fatiota. Kume, minina tudu ntoladu, kume, Si n podeba kume xukulati ku o-mesmu verdadi ki bu ta kume! Mas mi n ta pensa i, na ta tra papel di prata, k'e di fodja di stanhu, N ta bota tudu pa txon, sima n ten botadu bida): // Mas o-menus ta fika di margura di kel ki nunka n ka ta ser Kaligrafia rápidu d'es versus Portal kebradu pa inpusível. Mas o-menus n konsagra pa mi un disprezu sen lágrimas, Nobri pelu menus na jestu largu ki n ta fúlia Kel ropa xuxu ki mi n é, sen rol, pa kusas na ses kontise, I n ta fika la na kaza sen kamiza. // (Bo, ki bu ta konsola, ki bu ka izisti i purisu bu ta konsola, Ó deuza grega, konsebedu sima un státua bibu, Ó patrísia rumana, ki más nobri i más disdisgrasada é npusível Ó prinseza di trovadoris, ton gentil i kulurida, Ó markeza di séklu dizoitu, dikotadu la lonji, Ó kes mudjeris freska, famadu, di tenpu di nos pai, Ó n ka sabe kuse k'é mudernu — n ka ta konsebe ben kuse — Tudu kel li, seja kuse ki bu é, pode nspiradu pa nspira! Nha kurason é un baldi dispixadu. Sima kes ki ta invoka spritu ta invoka spritu, n ta invoka Mi propi i n ka ta atxa nada. N ta txiga pa janela i n ta odja rua ku un klareza total. N ta odja lojas, n ta odja paseius, n ta odja karus ta pasa, N ta odja kriaturas bibu ki ta kruza bistidu, N ta odja katxor ki tanbé izisti I tudu kel li ta peza-m sima ki n kondenadu bai pa lonji, I kel li tudu é stranjeru sima tudu kuza.) // N vive, n studa, n ama, ti n akridita, I ka ten algen ki ta pidi zimola ki n ka ta inveja oxi so pamodi el é ka mi N ta odja pa ratadju di kada un, si txagas i mintira, N ta pensa: si kadjar nunka bu ka vive nen bu ka studa nen bu ama nen bu ka kridita (Pamodi é pusível fase rialidadi di tudu kel li sen fase nada di kel li); Si kadjar n izisti apenas sima un lagartu ki kortadu rabu I k'é rabu pa la di lagartu ta ramexe manenti. // N fase di mi kuse ki n ka sabe, I kusé ki n podeba fase di mi n ka fase. Kel domino ki n bisti staba eradu. N fika konxedu logu pa kenha ki n ka era i n ka disminti, i n perde. Kantu n razolbe tra maskra, E staba pegadu na nha rostu. Kantu n tra-l i n djobe na spedju Dja n staba bedju. N staba moku, dja n ka sabeba bisti domino ki n tra. N bota maskra fora i n durmi na kau bisti Sima un katxor ki jerensia ta tolera Pamodi e ka ta fase ninhun mal I n ta ba skrebe es stória pa n prova ma mi é sublimi. Isensia muzikal di nhas versu inútil, N ta kreba atxaba-bo sima kusa ki n faseba, I n ka fikaba senpri dianti di tabakaria dipadianti, Ta kalka ku pe konsiensia di sta izisti Sima un tapeti ki un mokeru tropesa n'el O un kapaxu ki siganus furta i ka baleba nada. // Mas donu di tabakaria txiga porta i e fika na porta. Ku diskonfortu n djobe-l ku kabesa tortu I ku diskonfortu di nha alma ta ntende mal. El e ta more i mi n ta more. El e ta dexa tabuleta, mi n ta dexa versus. Nun sertu altura tabuleta ta more tanbé i rua undi ki tabuleta stevi, I kel língua ki versus foi skritu na el. Dipos ta more kel planeta ta da boita undi tudu kel li kontise. Notus satéliti dotus sistema kualker kusa parsedu ku algen Ta kontinua ta fase kusa parsedu ku versus ta vive baxu di kusas parsedu ku tabuletas, Un kusa senpri dianti di kel otu, Senpri un kusa ton inútil sima kel otu, Inpusível senpri ton stúpidu sima rial, Misteriu di fundu senpri ton sertu sima sonu di misteriu di superfisi Senpri kel li senpri otu kusa o nen un kusa nen otu. // Mas un omi entra na tabakaria (pa kunpra sigaru?) I rialidadi ki ta faze sentidu kai di rapenti riba di mi. N arma labanta si xeiu di forsa, konvensidu, umanu, I n sta ba tensiona skrebe es versus undi n ta fla u-kontráriu. Ora ki n sta pensa skrebe-s n ta sende un sigaru I na sigaru n ta saboria libertason di tudu pensamentu. N ta sigi fumu di sigaru sima ki n sta sigi un rota singular, I n ta goza, nun mumentu konpitenti i di sensason, Libertason di tudu spekulason I konsiensia ma metafízika é un konsikuensia di sta mal-dispostu. // Dipos n ta deta pa trás na kadera I n ta kontinua ta fuma. Timenti Distinu ta pirmiti-m kel li n ta kontinua ta fuma. // (Si n kazaba ku fidju-fémia di mudjer ki ta lababa-mi ropa Si kadjar n ta serba filis). N ta bisti kel li n ta labanta di kadera. N ta bai janela. // Omi sai di tabakaria (ta ba ta mete troku na djilbera?). Ah, n konxe-l: é Stevis sen metafízika. (Donu di tabakaria txiga porta) Sima ki pur un instintu divinu Stevis vira e odja-m. E fase-m adios ku mo, n grita-l adios o Stevis, i universu Rakonstrui pa mi sen idial nen speransa, i Donu di Tabakaria poi ta suri.