(teadoro,
Teadora, in Diálogos 7. Ilustração: Luís Henriques, Manuel Cruz/WHO, Maria Fernand) |
NEOLOGISMO
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana1.
inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira,
Petróplis, 1947
Poesias
completas, acrescidas de Belo belo. Rio de
Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1948
_________
1 A palavra “cotidiana”
corresponde a “quotidiana”, na variedade do português europeu (isto é,
português de Portugal).
Questionário sobre o poema "Neologismo", de Manuel Bandeira
1. O poema chama-se “Neologismo”, pois:
a) dá ideia de coisa
ultrapassada;
b) encerra uma mensagem otimista;
c) apresenta características de
versos soltos;
d) introduz palavras novas na
língua.
e) contesta as regras
gramaticais.
2. Manuel
Bandeira é um dos nomes mais importantes da poesia da primeira fase do
modernismo brasileiro; em seu poema “Neologismo”, o eu lírico
a) fala de situações inusitadas
da vida do ser humano.
b) expressa a abundância em seu quotidiano.
c) denota acanhamento em suas
atitudes.
d) demonstra falta de
produtividade.
e) encontra reciprocidade em seus
sentimentos.
3. “Beijo
pouco, falo menos ainda” (verso 1)
3.1.
Considerando
estas palavras do “eu” poético, como o caracterizas?
3.2.
De
que forma exprime, então, o sujeito poético os seus sentimentos?
4.
O
sujeito poético inventou o verbo teadorar, que afirma ser um verbo
intransitivo. Justifica esta classificação.
Respostas
1. Chave
de correção: D
(Fonte: https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-gramatica/exercicios-sobre-neologismo.htm)
2. Chave
de correção: C
A alternativa A está incorreta, pois o eu lírico
inventa palavras que traduzem a “ternura mais funda e mais cotidiana”, ou seja,
não traduzem situações inusitadas e incomuns, falam de situações do dia a dia.
A alternativa B está incorreta, pois o eu lírico
utiliza os termos “pouco” e “menos”, revelando parcimônia e moderação no beijar
e no falar, demonstrando uma postura de humildade em seu dia a dia.
A alternativa C está correta, pois o eu lírico
declara que beija pouco e fala menos ainda, o que pode ser entendido como
timidez e acanhamento, permitindo, ainda, a inferência de que há um certo
constrangimento; conhecendo a história de Manuel Bandeira, da tuberculose que o
acometeu ainda jovem, debilitando-o durante toda a vida, também, podemos
entender o poeta expressa, através desse eu lírico, a convivência com uma
debilidade que o impede de viver plenamente.
A alternativa D está incorreta, pois o eu lírico
inventa palavras que traduzem os sentimentos do cotidiano, elaborando uma
metáfora sobre o fazer poético; portanto, há produtividade.
A alternativa E está incorreta, pois o eu lírico criou
um verbo intransitivo, ou seja, que não tem um complemento; desse modo,
entende-se que não há reciprocidade, não há correspondência para o verbo que
criado, o verbo “teadorar”.
(Fonte: https://vestibulares.estrategia.com/public/questoes/Neologismo-Beijo-pouco523c4356e7/
Elisabete Ana)
3.1. O “eu”
poético apresenta-se como tímido, introvertido.
3.2. O
sujeito poético inventa palavras “Que traduzem a ternura mais funda / E mais
cotidiana.” (versos 3-4).
4. O verbo
teadorar é intransitivo, porque nele aparece “incorporado” o ser adorado:
teadorar significa adorar Teodora. Isto é, pode-se “adorar” qualquer
pessoa, mas teadorar designa uma ação exclusiva, que não transita.
(Fonte: Diálogos 7, Fernanda Costa e Luísa Mendonça.
Porto Editora, 2011, p. 199)
Texto de apoio
No poema "Neologismo" de Manuel Bandeira, o eu-poético começa com uma confissão: "Beijo pouco, falo menos ainda." Esta declaração inicial sugere uma introspeção que revela a dificuldade em demonstrar afeto através de gestos comuns e da fala. A seguir, o sujeito poético revela a sua solução para essa limitação: "Mas invento palavras que traduzem a ternura mais funda e mais cotidiana." Aqui, é introduzida a ideia central do poema: a criação de palavras como meio de expressar sentimentos que a linguagem quotidiana não consegue captar plenamente.
A invenção do verbo "teadorar" é o ápice do poema. Esta palavra combina o pronome pessoal átono "te" e o verbo "adorar", criando um neologismo que, segundo Eduardo Guimarães, no seu artigo Sentidos no texto - uma análise de “Neologismo”, de Bandeira, é formado a partir da expressão de um sentimento específico ("dizer te adoro") e não simplesmente pela combinação de palavras existentes. Assim, "Teadoro, Teodora" não é apenas um jogo de palavras, mas uma manifestação de amor e afeto entre o eu-lírico e a amada.
Pasquale Cipro Neto afirma que “ao inventar a palavra teadorar, nosso grande poeta inclui nesse verbo o objeto (o alvo) da adoração, daí uma das razões da intransitividade de teadorar. O verbo é intransitivo porque já contém seu suposto objeto.” (…) E por que eu disse uma das razões? Porque outra delas talvez seja o facto de que, sendo intransitiva, a adoração não se materializa, fica presa, contida, fechada no interior de quem a sente. A adoração existe, mas, por alguma razão, não transita, não chega ao ser adorado. Não custa lembrar que, em ‘Beijo pouco, falo menos ainda, o próprio poeta dá uma pista dessa intransitividade de seus sentimentos.” (Folha de São Paulo, 22-05-2003).
A estrutura do poema também é relevante. Começando com a constatação de limitações pessoais, seguido por uma adversativa que introduz a criação linguística, e culminando com o neologismo que encerra o poema, o sujeito poético guia o leitor através de um processo de autoconhecimento e expressão. Essa progressão estrutura o poema de forma a enfatizar a inovação linguística como um meio essencial de expressão emocional.