Não é fácil amar o que venceu,
o que leva alguns passos de avançada,
que o amor só se oferece ao que perdeu,
muito embora com culpa declarada.
Todavia, o que vence multiplica
sobre si as angústias de perder:
interroga, analisa e só complica
aquilo que não pode perceber;
e quando, em esgotamento prematuro,
ele aceita uma calma provisória,
vêm os homens que o lançam contra o muro
e lhe atiram ao rosto essa vitória.
Isabel Gouveia, Tangentes e Consequentes. Coimbra:
Coimbra Editora, 1977
Linhas de leitura:
- Quem é o
“vencedor vencido” referido no poema?
→ Que paradoxo está presente nesta expressão?
- Como é
retratada a figura do vencedor?
→ Que sentimentos ou
dilemas ele enfrenta?
- Por que
razão o amor “só se oferece ao que perdeu”?
→ Que crítica social ou humana está implícita?
- Que papel
têm os “homens” na estrofe final?
→ Que atitude mostram
em relação ao vencedor?
- Como o
poema contraria a ideia tradicional de vitória?
→ A vitória é apresentada como castigo ou como recompensa?
- Que
elementos estilísticos reforçam o tema do poema?
→ Há antíteses, repetições?
- O título
ajuda a entender o conteúdo do poema?
→ Que significado
simbólico tem a junção “vencedor vencido”?
as meninas
as minhas filhas nadam. a mais nova
leva nos braços boias pequeninas,
a outra dá um salto e põe à prova
o corpo esguio, as longas pernas finas:
entre risadas como serpentinas,
vai como a formosinha numa trova,
salta a pés juntos, dedos nas narinas,
e emerge ao sol que o seu cabelo escova.
a água tem a pele azul-turquesa
e brilhos e salpicos, e mergulham
feitas pura alegria incandescente.
e ficam, de ternura e de surpresa,
nas toalhas de cor em que se embrulham,
ninfinhas sobre a relva, de repente.
Vasco Graça Moura, Antologia
dos Sessenta Anos. Porto, Edições Asa, 2002
Leitura
A estrutura clássica deste soneto contrasta
com a leveza e espontaneidade do conteúdo, que celebra a alegria e a inocência
da infância.
Na
primeira quadra, o sujeito poético descreve as suas filhas a nadar, cada uma com as suas
particularidades. A mais nova, que ainda precisa de boias, e a mais velha, já
mais confiante e destemida, figuram diferentes fases da infância. O uso de
termos como "boias pequeninas" e "corpo esguio" revela a
ternura e o cuidado com que o sujeito poético observa as suas filhas.
Na segunda
quadra, o sujeito poético continua essa descrição, enfatizando a alegria e a
leveza das meninas, cujas risadas são comparadas a serpentinas. Essa comparação
transmite visualmente a vivacidade das crianças e remete para uma atmosfera de
festa.
No
primeiro terceto, a descrição da água como tendo "a pele
azul-turquesa" e "brilhos e salpicos" eleva a cena a um nível
quase mágico, em que o ambiente envolvente parece refletir a pureza e a alegria das
crianças. A expressão "feitas pura alegria incandescente" sugere que
as meninas são a personificação da felicidade, irradiando uma luz interna.
O poema encerra
com uma imagem de serenidade e ternura: as meninas embrulhadas em toalhas
coloridas, deitadas na relva. A palavra "ninfinhas" evoca seres
mitológicos, sublinhando a ideia de que essas crianças são vistas pelo sujeito poético como criaturas mágicas e preciosas. O uso da palavra "de repente" no
final do poema captura a surpresa e a beleza efémera desses momentos, realçando
a importância de valorizar cada instante de felicidade e inocência.
Nesta composição, o poeta transformou o quotidiano em poesia, fazendo de «as meninas» um canto à
infância, ao amor paterno e à beleza dos momentos fugazes eternizados na
memória.
as meninas, 2
lavam os dentes, já tomaram banho,
e em suas camisinhas de flanela
dão boas noites numa tarantela,
são cinco-réis de gente no tamanho.
as meninas estão a bom recato.
não queriam ir dormir. choramingaram.
houve histórias de fadas em que entraram.
depois, tombou o livro num sapato.
amanhã de manhã levam vestida
a blusinha de lã azul xadrez,
a saiinha encarnada, as meias pretas,
mas no país da bela adormecida
há flores e pintainhos e talvez
um gato, um peixe, um cão e borboletas.
Vasco Graça Moura, Antologia
dos Sessenta Anos. Porto, Edições Asa, 2002
De
acordo com a leitura do poema “as meninas, 2”, de Vasco Graça Moura, classifica
cada afirmação que se segue como verdadeira ou falsa. Procede à correção das
afirmações falsas.
1.
As
meninas são retratadas antes do banho e da escovagem dos dentes, vestindo
camisinhas de flanela.
2.
As
meninas tomaram banho e lavaram os dentes antes de colocar as suas camisinhas
de flanela.
3.
As
“camisinhas de flanela” simbolizam a inocência e a proteção das meninas.
4.
As
meninas despedem-se com uma tarantela após tomar banho e lavar os dentes.
5. A despedida das
meninas, feita em forma de "tarantela", sugere vivacidade.
6. A expressão
"cinco-réis de gente no tamanho" é usada para destacar a resistência
das meninas à hora de dormir.
7.
As
meninas choramingaram porque queriam ouvir histórias de fadas antes de dormir.
8.
As
histórias de fadas servem como um ritual de transição entre a agitação do dia e
o repouso noturno.
9.
Depois
de ouvir as histórias de fadas, o livro caiu da mesa.
10.
O
detalhe do livro que "tombou num sapato" evoca a ordem e a
organização do mundo infantil.
11.
O
detalhe do livro que “tombou num sapato” sugere uma interrupção abrupta da
fantasia.
12.
No
poema, o sujeito poético descreve minuciosamente as roupas que as meninas
usarão no dia seguinte.
13.
A
expressão "país da bela adormecida" refere-se ao local onde as
meninas brincam durante o dia.
14. No poema celebra-se a relação entre o sujeito poético e as suas filhas através de uma
linguagem complexa e distante.
15. O poema "as
meninas, 2" capta a essência da infância e a ternura da relação pai-filhas.
16.
O
poema reflete a visão do sujeito poético sobre a infância como um período de
inocência e proteção.
17. Apesar do rigor da sua forma fixa, o soneto "as
meninas, 2" é construído com uma fluidez que reflete a naturalidade dos
momentos descritos.
as meninas,2 - ilustração de João Caetano (in Plural 7, Raiz editora, 2011)
Respostas:
1. Falso. As meninas são retratadas após o banho e a
escovagem dos dentes.
2. Verdadeiro.
3. Verdadeiro
4. Verdadeiro.
5. Verdadeiro.
6. Falso. A expressão é usada para destacar a pequenez e
a preciosidade das crianças.
7. Falso. Choramingaram porque não queriam ir dormir.
8. Verdadeiro.
9. Falso. O livro caiu num sapato.
10. Falso. Evoca a desordem e a espontaneidade do mundo
infantil.
11. Verdadeiro
12. Verdadeiro.
13. Falso. Refere-se à imaginação das meninas, povoada por
elementos encantados.
14. Falso. Celebra a relação através de uma linguagem
simples e afetuosa.
Moby&The Void Pacific Choir – Are You Lost In The World Like Me
JOVENS À PORTA DO CHIADO
Veem-se ao telemóvel como ao espelho
nos nomes e nos números buscando
o lodo morno dum profundo poço
O seu mundo está preso àquele fio
de presente irreal que não explica
o facto de ser a pele a pele ainda
Tudo fica no raio do olhar
brevemente fictício a vida reduzindo
ao enredo menor das chamas perdidas
das mensagens que vindas ou não vindas
fazem tremer do dia o edifício
Disso vivem fingindo que se veem
a si somente enquanto o mundo escorre
com a rapidez do dia para o poço
Gastão Cruz, Escarpas,
Assírio & Alvim, 2010
Muitos
livros de Gastão Cruz (1941-2022) têm como título uma só palavra, ou, quando
não, duas palavras (o artigo e o nome). Hematoma (1961), Escassez
(1967), Campânula (1978), O Pianista (1984), Crateras
(2000), Fogo (2013), Óxido (2015), Existência (2017). A palavra
nuclear que, do título aos poemas de um livro, faça irradiar a mensagem, essa
uma das linhas da obra deste enorme poeta. Em 2010, Escarpas
convidava-nos a lermos o tempo e o seu sentido ou a ausência de sentido no
tempo. Nas suas cinco secções, na melodia dos ritmos e no trabalho rigoroso da
frase, escrevendo-se sobre pianistas (Emil Gilels, Richter, Horowitz), pintura
(Holbein), cinema (W. Allen), sobre o amor e o desencontro, o corpo e o
desencanto, é da vida que a poesia sempre fala. Gastão Cruz, como nenhum outro
poeta, leu a nossa época e, atualíssimo, sintetizou em versos impressionantes:
"A perda real é a perda do sentido/Só se perde o sentido do que não/ foi
nunca real senão quando perdido." Em tempo de preparação do verão, que se
leia este poeta.
“Jovens à porta do Chiado”, de Gastão Cruz, é um poema que
retrata a alienação dos jovens com o mundo digital.
Os jovens estão constantemente conectados ao telemóvel,
vendo-se refletidos nele como se estivessem diante de um espelho.
Eles estão imersos num ambiente superficial, representado pelo
"lodo morno dum profundo poço".
O seu mundo é limitado e dependente dessa conexão virtual, que
não explica a verdadeira experiência da interação física.
Tudo o que lhes importa é o que está ao alcance dos seus
olhos, reduzindo a vida a uma realidade momentaneamente fictícia, limitando-a
ao enredo trivial das chamas perdidas.
Esses jovens dependem das mensagens, mesmo que não cheguem,
para manterem a ilusão de estarem a viver.
Eles fingem que se veem e se conhecem, mas a verdade é que
estão isolados na sua própria superficialidade, enquanto o mundo ao seu redor
escorre rapidamente, como o tempo que passa, para o poço da insignificância.
Poderá também gostar de:
Opinião
Appetite for destruction: a "geração mais bem preparada de sempre"
(2.ª parte)
Veem-se ao telemóvel como
ao espelho
nos nomes e nos números buscando
o lodo morno dum profundo poço Gastão
Cruz, Escarpas, Assírio & Alvim, 2010, p. 39
Acrescento
mais alguns argumentos ao artigo de 8 de junho aqui publicado. As críticas que tenho feito ao digital na
escola e na universidade têm tido algum eco junto de professores e outros
agentes educativos. Mas não era previsível a alienação, a ignorância, a
incuriosidade dos "nativos digitais" quanto aos mais diversos
saberes, uma vez imersos no mundo digital? Todos vemos que nada leem e pouco
sabem, porque se tudo o que importa está "à distância de um clique",
tudo o que exija esforço lhes é odioso. Jamais o "como" e o
"para quê" das aprendizagens é questionado pelos estudantes. Decorar
sem saber, dizer umas quantas coisas politicamente corretas, isso basta para
garantir classificações acima do 16. Os professores, salvo raríssimas exceções,
estão reféns desta lógica alienante. Todavia, ouve-se dizer que "esta é a
geração mais bem preparada de sempre". Uma mentira soez. Propaganda pura.
Estamos confrontados com um problema que Heidegger enunciou há décadas: a ausência
de linguagem. "Débito e crédito", eis a novilíngua. O poeta António
Ramos Rosa, nos anos 60, denunciava no Poema dum funcionário cansado o terror
de vivermos num quotidiano que esmaga a imaginação e a curiosidade, tudo vendo
sob a ótica do lucro imediato.
Os exames
nacionais provam as consequências desta lógica alienante. A geração mais bem
preparada de sempre é filha deste sistema, errado, assassino e corruptor. Os
exames de Português e de Matemática relacionam-se, claro, porque revelam: 1.º
não há como avaliar a expressão escrita e a análise do texto literário de forma
séria e rigorosa, porquanto isso equivaleria a formular questões de natureza
hermenêutica a que nenhum aluno sabe hoje responder com propriedade. Nas aulas
de Português quase nunca leem ensaio e crítica, impera ainda o impressionismo
como "método" de compreensão de um texto literário. Daí os
verdadeiro-falso e as cruzinhas e a escolha múltipla, isto numa disciplina que
já foi a base do ler e do escrever; 2.º as dificuldades do exame de Matemática
devem-se à incompreensão dos enunciados. Linguagem, uma vez mais. É que "a
geração mais bem preparada de sempre" à saída do 12.º ano pouco sabe ou
mesmo nada. Redige uns quantos lugares-comuns sobre as obras do currículo, que
não leu. Em Matemática, se não sabem o sentido dos verbos ou se se crê que
armadilhar um exame é ser exigente, como não terão dificuldades? Que educação é
esta?
A Suécia
proibiu o uso de tablets e de quaisquer suportes multimediáticos na escola,
investindo 60 milhões de euros em livros e manuais; nós por cá insistimos nos
tablets e demais parafernália tecnológica. Somos um país progressista, pois
claro. Somos modernos, pois então! Manuel Cruz, filósofo espanhol, escreveu em
2016, em Ser Sin Tiempo (ed. Herder, Barcelona), que a nossa época,
desmaterializada, se caracteriza pela instantaneidade, pelo impensado. Tudo -
das escolas às empresas, dos programas de televisão aos programas políticos -
obedece à lógica do "não há tempo a perder, porque não há tempo". A
geração "mais bem preparada de sempre" nunca será filha de Voltaire:
"Na educação, a questão não é ganhar tempo, mas perdê-lo." Do TikTok
às redes sociais, dos ecrãs à infantilização das aprendizagens, os nossos
estudantes são desmemoriados e insensíveis. Viverão "cantando e
rindo", olhando-se nos telemóveis como num espelho. No "profundo
poço" de uma existência morna, serão incapazes de lidar com o
"não", porque tudo foi "sim" nas suas vidas. Mais violentos
e inconscientes, o pragmatismo destes "nativos digitais" é sinónimo
de individualismo - o totalitarismo egóico. É o Portugal futuro? É o Portugal
presente.
Gastão
Cruz, pela mão da poesia, viu-os às portas do Chiado. A geração mais bem
preparada de sempre não lerá poesia. Lerá simulacros. A sua música é a da pornografia.
A imaginação, a beleza, o estranho da arte e das disciplinas que exigem escrita
e leitura confronta-os com o que ignoram. Não gostam. Na escola da felicidade -
onde todos são educados para serem "todos iguais" e geniais - o
apetite pela destruição é a única linguagem com que dizem um mundo escarpado.
Look harder, say it’s done
Black days and a dying sun
Dream a dream of god lit air
Just for a minute you’ll find me there
Look harder and you’ll find
The 40 ways it leaves us blind
I need a better place
To burn beside the lights
Come on and let me try
Are you lost in the world like me?
If the systems have failed?
Are you free?
All the things, all the loss
Can you see?
Are you lost in the world like me?
Like me?
Burn a courtyard, say it’s done
Throwing knives at a dying sun
A source of love in the god lit air
Just for a minute, you’ll find me there
Look harder and you’ll find
The 40 ways it leaves us blind
I need a better way
To burn beside the lights
Come on and let me try
Are you lost in the world like me?
If the systems have failed?
Are you free?
All the things, all the loss
Can you see?
Are you lost in the world like me?
Like me? [x2]
Cesário Verde, Obra Completa,
edição de Joel Serrão,
Lisboa, Livros Horizonte, 1988, p. 77.
NOTAS
1 fátuas
– vaidades.
2 figurino
– modelo; exemplo de moda.
3 alabastrino
– de alabastro, mármore branco e translúcido.
4 martirológio
– narrativa do martírio dos mártires e santos.
5 messes
– searas maduras.
QUESTIONÁRIO
1. Refira dois
efeitos de sentido provocados pela utilização de verbos na terceira pessoa do
plural (versos 1, 5, 9, 11, 13 e 15) na construção do retrato da figura
feminina.
2. Explicite, com
base em dois aspetos significativos, o modo como o sujeito poético perspetiva a
relação que se estabelece entre si e a mulher representada no poema.
3. Selecione a
opção de resposta adequada para completar a afirmação.
A mulher
«fatal» (v. 10) descrita no poema é caracterizada como insensível e cruel, ao
ser associada, respetivamente, a expressões como
(A) «imperatriz das
fátuas» (v. 9) e «modo altivo e sério» (v. 5).
(B) «molde alabastrino»
(v. 11) e «acompanhar-me ao cemitério» (v. 8).
(C) «imperatriz das
fátuas» (v. 9) e «martírio» (v. 4).
(D) «molde alabastrino»
(v. 11) e «figurino» (v. 10).
4. Baseando-se na
leitura do poema “Vaidosa”, de Cesário Verde, e no “Retrato de Mónica”, texto de Sophia de Mello Breyner Andresen,
escreva uma breve exposição na qual compare as duas figuras femininas neles
retratadas.
A sua
exposição deve incluir:
• uma introdução ao
tema;
• um desenvolvimento no
qual explicite um aspeto em que as figuras femininas se aproximam e um outro em
que se distinguem;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do
tema.
CENÁRIO
DE RESPOSTAS
Nota prévia: Nos tópicos de resposta de cada item, as
expressões separadas por barras oblíquas ‒à exceção das utilizadas no
interior de cada uma das citações ‒ correspondem a
exemplos de formulações possíveis, apresentadas em
alternativa. As ideias apresentadas entre parênteses não têm de ser
obrigatoriamente mobilizadas para que as respostas sejam consideradas
adequadas.
1. Devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
A utilização
de verbos na terceira pessoa do plural:
sugere que o modo como esta
mulher fatal trata os homens, em geral, e o sujeito poético, em particular, é
um conhecimento partilhado por outros;
evidencia a ideia de que
todos os que falam sobre esta mulher são de opinião de que ela é bela, mas,
sentimentalmente, fria/insensível, vaidosa e cruel na relação com os homens;
permite que o sujeito poético
não se comprometa com o ponto de vista depreciativo dos outros sobre a mulher
que ama (embora indicie que partilha desse ponto de vista).
2. Devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes:
o sujeito
poético parece estar apaixonado pela mulher representada no poema, mas essa
paixão causa‑lhe um sofrimento tão atroz («Vivo louco de dor e de martírio» –
v. 4) que se sente a enlouquecer e a morrer de amor («Me matas, me desvairas e
adormeces» – v. 18);
a forma
como a mulher age leva o sujeito poético a pensar que ela sente prazer em
seduzi-lo e em torturá-lo («E que o maior prazer da tua vida, / Seria
acompanhar-me ao cemitério» – vv. 7 e 8; «o cruel martirológio / Dos que são
teus» – vv. 13 e 14);
o sujeito
poético considera-a uma droga («como um ópio» – v. 17) na qual está viciado;
o sujeito poético perspetiva a relação
entre si e a mulher como uma relação desigual, na qual ela o humilha, enquanto
ele a venera.
3. (B) A mulher «fatal» (v. 10)
descrita no poema é caracterizada como insensível e cruel, ao ser associada, respetivamente,
a expressões como «molde alabastrino» (v. 11) e «acompanhar-me ao cemitério»
(v. 8).
4. Relativamente a cada
aspeto, deve ser abordado um dos tópicos apresentados, ou outro
igualmente relevante.
As duas figuras femininas aproximam-se, na medida em que
são retratadas como:
mulheres
elegantes e que vestem bem, o que se evidencia, por exemplo, no facto de Mónica
«ser chiquíssima» (l. 2) e de que «Todos os seus vestidos são bem escolhidos»
(ll. 20-21), enquanto a «Vaidosa» é considerada a «bela imperatriz» (v. 9), o
«figurino» de moda (v. 10) ou o «corpo sem defeito» (v. 14);
mulheres
poderosas, que causam impacto naqueles com quem convivem, o que está patente,
por exemplo, quando o narrador afirma que «Esta é a forma de inteligência que
garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande» (ll. 29-30),
ou quando, no poema «Vaidosa», se realça «o cruel martirológio» (v. 13) dos que
são seduzidos pela figura feminina;
mulheres autoconfiantes, como se
verifica, por exemplo, quando o narrador afirma que Mónica define objetivos e
os concretiza de forma disciplinada («salta sem tocar os obstáculos e limpa
todos os percursos» – l. 23) e quando o sujeito poético realça que a mulher
possui «muito amor... muito amor‑próprio» (v. 20).
As duas figuras femininas distinguem-se, na medida em que:
enquanto Mónica
é apreciada por muita gente («ter imensos amigos» – l. 3; «toda a gente dizer
bem dela» – l. 5), sendo retratada como «um belo exemplo de virtudes» (ll.
7-8), a «Vaidosa» é alvo de duras críticas por parte dos outros, que a
consideram, por exemplo, «a bela imperatriz das fátuas, / A déspota, a fatal»
(vv. 9 e 10);
enquanto
Mónica procura criar empatia com os outros, dizendo «bem de toda a gente» (l.
5) e estando «sempre divertida» (l. 7), a mulher que o sujeito poético admira é
descrita como «fria e insensível» (v. 2) e «muito desdenhosa e presumida» (v.
6);
enquanto Mónica é retratada como
intencionalmente manipuladora e calculista, seguindo um plano rigoroso para
alcançar os seus objetivos («observar uma disciplina severa» – l. 19), a
«Vaidosa» é uma mulher «fatal» (v. 10) que atrai os homens pela sua beleza
física.
Fonte:
Exame
Final Nacional de Português | Prova 639 | 2.ª Fase | Ensino Secundário | 2022
|12.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho | Decreto-Lei
n.º 27-B/2022, de 23 de março)