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sábado, 17 de outubro de 2015

“no help for that” by Charles Bukowski



there is a place in the heart that
will never be filled
a space
and even during the
best moments
and
the greatest times
times
we will know it
we will know it
more than
ever
there is a place in the heart that
will never be filled
and
we will wait
and
wait

in that space.

sábado, 20 de dezembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ATÉ AO FIM (Katia Guerreiro)




ATÉ AO FIM

intensamente, amor
intensamente
ponho na minha voz esta saudade
que é feita de futuro no presente
e na ilusão é feita de verdade

intensamente, amor
intensamente

desesperando, amor
desesperando
por mesmo assim eu não te dizer tudo
mesmo ao lembrar-me de onde e como e quando
teu coração mudou
mas eu não mudo

desesperando, amor
desesperando

até ao fim, amor
até ao fim do mundo
tal qual Pedro e Inês
aqui te espero
aqui me tens a mim
neste mísero estado em que me vês

até ao fim, amor
até ao fim, amor
até ao fim

Fado de Katia Guerreiro, 2014.
Álbum: Até ao fim
Letra: Vasco Graça Moura (2006)
Música: Tiago Bettencourt










Alinhamento do álbum Até ao Fim:

  • 9 Amores - Letra e Música: Paulo de Carvalho
  • Mentiras - Letra: Rita Ferro / Música: Pedro de Castro
  • Até Ao Fim - Letra: Vasco Graça Moura / Música: Tiago Bettencourt
  • Eu Disse Ao Mar Que Te Amava - Letra: José Fialho Gouveia / Música: Franklin Godinho (Fado Franklin de quadras)
  • Janela Do Meu Peito - Letra e Música: Alberto Janes
  • Fado Dos Contrários - Letra: Rui Machado / Música: José Marques (Fado Triplicado)
  • Fado Da Noite Que Nos Fez - Letra: Samuel Úria / Música: Alfredo Marceneiro (Fado Versículo)
  • Quero Cantar Para a Lua -Letra: Amália Rodrigues / Música: Pedro de Castro
  • Nesta Noite - Letra e Música / Paulo Valentim
  • As Quatro Operações - Letra: Vasco Graça Moura / Música Tiago Bettencourt e Pedro de Castro
  • Eu Gosto Tanto de Ti (canção para a Mafalda) - Letra e Música: Katia Guerreiro



PODERÁ TAMBÉM GOSTAR DE:


Novo álbum de Katia Guerreiro”, Sic Notícias ‑ Cartaz, 2014-11-11





domingo, 24 de agosto de 2014

Análise psicológica da música «Esse Cara Sou Eu» de Roberto Carlos


    


Imagem
Nota: onde se lê obsecado, leia-se: obcecado.


 *


Paródias contestam letra do hit de Roberto Carlos: 'Esse cara não existe'

G1 entrevista cantores de versões de 'Esse cara sou eu'; ouça músicas.
Novas letras são inspiradas em 'análise psicológica', bebidas e infidelidade.


 Rodrigo Ortega, do G1, em São Paulo, http://g1.globo.com/musica/noticia/2012/12/parodias-contestam-letra-do-hit-de-roberto-carlos-esse-cara-nao-existe.html, 11/12/2012 10h38 - Atualizado em 11/12/2012 12h32

 "Fiz essa música falando do cara que toda mulher gostaria de ter e que todo homem gostaria de ser. E é o cara que eu tento ser." Foi assim que Roberto Carlos apresentou "Esse cara sou eu" na primeira vez que cantou o hit da novela "Salve Jorge" ao vivo, em São Paulo, no início de novembro. Os verbos "gostaria" e "tento" indicam que ele mesmo sabe que o "cara" da letra, lançada em outubro, é mais ideal do que real. Este é o gancho para respostas "realistas" de outros músicos para o hit de Roberto.
Ciúme, insegurança, alcoolismo, infidelidade e até psicopatia estão entre as características dos "caras" das novas letras. Duas bandas de pagode da Bahia, O Troco e Operários do Samba, se destacam entre as releituras que mais chamam atenção em redes sociais. "Esse cara não existe", da O Troco, tem mais de 160 mil de cliques no Youtube em dez dias.
Mário Brasil, cantor da banda de Salvador O Troco, que fez resposta a "Esse cara sou eu", de Roberto Carlos, inspirado em "análise psicológica" no Facebook (Foto: Arquivo pessoal)Mário Brasil, cantor da banda de Salvador O Troco, fez resposta a "Esse cara sou eu", de Roberto Carlos, inspirado em "análise psicológica" no Facebook (Foto: Arquivo pessoal)
O cara que pensa em você toda hora (o psicopata)
Que conta os segundos se você demora (o impaciente)
Que está todo o tempo querendo te ver (o grudento)
Porque já não sabe ficar sem você (dependente e chorão)
E no meio da noite te chama (maluco sem noção)
Pra dizer que te ama (inseguro)
Esse cara não sou eu"
Trecho de 'Esse cara não existe', de O Troco
"Estava conversando com uma amiga e ela me mostrou uma 'análise psicológica' da letra do Roberto Carlos no Facebook", conta ao G1Mário Brasil, cantor da O Troco, de Salvador. O texto humorístico, compartilhado sem autoria creditada em diversos perfis e páginas no Facebook,  indica traços de obsessão, insegurança e possessividade na letra de "Esse cara sou eu". "Pensei na hora: isso dá uma música", conta Mário. Ouça "Esse cara não existe", com a banda baiana O Troco.
"Fiz a versão, inspirada na análise que vi no Facebook, no mesmo dia, uma quarta-feira. Na quinta fiz o arranjo, na sexta o playback, no sábado gravei a voz e na segunda coloquei para tocar", conta.
A velocidade do processo tem um facilitador: a paródia usa exatamente a mesma melodia, em um ritmo de pagode baiano, e letra parecida, com o acréscimo dos supostos "distúrbios psicológicos" de cada verso.
Mário, assim como os outros cantores de versões, se diz fã de Roberto, e abre uma exceção para o "rei": "O Roberto pode até ser 'o cara'. Mas, tirando ele, 'esse cara' não existe.". Ele acha que a letra aumenta a expectativa das mulheres em relação aos seus companheros  "A mulher já espera o príncipe encantado, o Super-homem. E hoje a realidade não é assim", defende o pagodeiro.
A banda baiana Operários do Samba gravou a paródia 'Esse cara sou eu (versão real)', com personagem mulherengo e 'cachaceiro' (Foto: Divulgação)A banda baiana Operários do Samba gravou a paródia 'Esse cara sou eu (versão real)', com personagem mulherengo e 'cachaceiro' (Foto: Divulgação)
O cara que reclama se você demora
Que sai com os amigos e esquece da hora / Que 'tá' todo o tempo querendo beber / E quando 'tá bêbo' esquece você / E no meio da noite 'cê' liga / Arretada da vida
Esse cara sou eu"
Trehco de 'Esse cara sou eu (versão real), gravada pelos Operários do Samba
Se "Esse cara não existe" foi inspirada em uma piada de Facebook, "Esse cara sou eu (versão real)", tocada pela banda de pagode Operários do Samba, de Itabuna (BA), veio de "criação própria", garantem os músicos. A faixa foi divulgada no dia 17 de novembro no YouTube, atualmente com 50 mil views no YouTube. O texto da letra está espalhado em diversas redes sociais, sites e até novos registros no YouTube, todos posteriores à postagem do grupo. Ouça "Esse cara sou eu (versão real)", com os Operários do Samba.
O "cara" da nova letra é alcoólatra, mulherengo e negligente com a mulher. "Abrimos e fechamos nossos shows com essa música. Nossa 'galera' toda já sabe cantar, e diz que nem se lembra mais da letra do Roberto. A versão mais engraçada fica na cabeça", diz Thiago Santos, vocalista do grupo. A banda surgiu há cinco meses a partir de roda de pagode de amigos e aumentou o número de shows com o sucesso da versão. "Registramos a letra como paródia", ressalta Thiago.
O cantor alagoano Odivar Santos, autor de 'Eu não sou o kara' (Foto: Arquivo pessoal)O cantor alagoano Odivar Santos, autor de 'Eu não sou o kara' (Foto: Arquivo pessoal)
"Eu não sou o cara, eu sou o seu amante / Eu não sou o cara, eu sou o seu ficante / Eu não abro porta pra você entrar / Fecho a do motel pra gente se amar"
Trecho de 'Eu não sou o kara', de Odivar Santos
O cantor alagoano Odivar Santos, brega assumido, optou por caminho mais autoral na sua resposta a "Esse cara sou eu". Sua música "Eu não sou o kara" tem nova melodia e versos que fazem apenas menção à letra de Roberto Carlos, sem reproduzir sua métrica. Ouça "Eu não sou o kara", de Odivar Santos.
"O Roberto Carlos pode tudo. Só que nem sempre é assim. Às vezes, você dá tudo pra mulher, dá conforto, mas ela não quer isso - quer pegada, aventura, 'saidinha'. Não quer compromisso, que você fique ligando toda hora. A mulher independente quer sentir mais livre", defende Odivar.
Ao contrário dos outros autores de "respostas", o alagoano acredita que é possível ser "o cara", mas só para quem tem "muita grana". "Se você não tem 'bala na agulha' como o Roberto, tem que ser ficante mesmo, pular o muro quando 'o cara' chega. Mas, no fundo, é com você que a mulher tem prazer. O Roberto gasta toda a grana dele, dá conforto, mas na hora da pegada, ela gosta é do amante", provoca Odivar, antes de inverter os papéis da entrevista: "E você, é o cara ou o amante?".






 [Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/08/24/esse.cara.sou.eu.aspx]

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

NÃO SEI SE ISTO É AMOR (Camilo Pessanha)


©2012 berkozturk
   
                                                  
  
  
INTERROGAÇÃO


Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, 
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; 
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar 
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. 
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. 
Nem depois de acordar te procurei no leito, 
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio 
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. 
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio 
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente... 
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, 
Que adoecia talvez de te saber doente.


Camilo Pessanha
   
   
*
   
   
Audição do poema (estudio-raposa-audiocast):
      


      
LEITURA ORIENTADA

1. Assinale a alternativa incorreta sobre o poema:
(A) A regularidade dos versos (quase todos são alexandrinos) e o uso das rimas (com esquema abab) contribuem, ao lado de algumas aliterações, para a musicalidade suave desse poema.
(B) O eu-lírico, até a última estrofe, reluta em assumir a sua paixão e disfarça seus sentimentos (“Não sei se isto é amor” e “Se é amar-te não sei”).
(C) A referência ao Cântico dos cânticos, do Velho Testamento, tem conotação ao mesmo tempo religiosa e erótica.
(D) Os sentimentos são apresentados de maneira pessimista, o que se nota em expressões tais como “dor”, “fere”, “chorei”, “enerva” e “provoca”.
(E) Os primeiros períodos da primeira, terceira, e quinta estrofes repetem, de maneiras diferentes, a idéia central dos versos. Essa maneira, de certo modo, já aparecia no título do poema.
http://dc315.4shared.com/doc/pz8r_rvB/preview.html

2. O escritor português Camilo Pessanha faz parte da escola literária denominada Simbolismo. Assinale a alternativa que possui uma característica desse movimento artístico presente no poema.
(A) Elipse, pois o autor omite todos os pronomes pessoais a fim de criar musicalidade. (B) Bucolismo, pois o amor faz grande reverência à natureza ao evocar a sua sonoridade.
(C) Aliteração, pois o autor explora a repetição harmônica e ritmada de sons consonantais.
(D) Determinismo, pois o meio em que vive a pessoa amada determina o ritmo de sua vida.
(E) Ornamentação exagerada, pois há vocabulário ritmado com exclusividade de rimas ricas.

Resposta da questão 2: [C]
[A] Incorreta. Elipse não é uma figura de linguagem exclusivamente simbolista.
[B] Incorreta. Bucolismo é uma característica árcade.
[C] Correta. O Simbolismo procura sugerir por meio de elementos além da significação das palavras, daí o uso abundante de Aliteração: a repetição de sons vocálicos ampliam a significação do poema.
[D] Incorreta. Determinismo é uma característica realista-naturalista.
[E] Incorreta. A ornamentação exagerada é característica barroca; além disso, as rimas empregadas não são exclusivamente ricas.

3. No poema, o eu lírico demonstra que
(A) apresenta uma atração explicitamente física e carnal pela pessoa citada.   
(B) possui plena antipatia por versos românticos, pois a razão realista é o que o move.   
(C) resiste à mudança que sua alma imagina, pois ele não dá espaço para sentimentos.   
(D) procura abrigo quando já está curado, pensando em não ser um devedor à pessoa amada.   
(E) possui várias dúvidas a respeito de seu sentimento, o qual apresenta uma série de contradições.   
(Fatec 2017)

4. Responda ao questionário interpretativo que se segue.
4.1. Nesse texto temos um expressivo exemplo de poema lírico-amoroso não romântico, não sentimental. Mencione duas de suas estrofes que demonstrem mais claramente essa afirmação.  
4.2. Há no texto uma espécie de análise do sentimento amoroso, por meio da qual o sujeito lírico põe em dúvida esse sentimento: ao mesmo tempo nega e confirma seu amor. Identifique passagens significativas de cada uma das situações presentes na primeira estrofe. 
4.3. Apesar de o título do poema ser "Interrogação", predomina no sujeito lírico a negação, a dúvida ou a confirmação do sentimento? Por quê? 
4.4. Em sua opinião, qual é a principal característica dessa declaração não convencional de amor, tendo em vista que se trata de um poema simbolista? 

Chave de correção da questão 4:
4.1. A segunda e a terceira estrofes.
4.2. Exemplo de dúvida: "Não sei se isto é amor [...]"; exemplo de confirmação: "[...] procuro o teu olhar, / Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo"; exemplo de negação: "[...] nunca pensei num lar / Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.".
4.3. Predomina a confirmação do sentimento porque, embora continue afirmando duvidar do que se sente, o sujeito lírico acaba por se revelar, nos versos finais: "Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, / Que adoecia talvez de te saber doente.".
4.4. Resposta pessoal. Sugestão: A principal característica é a sutileza, que parece querer camuflar a intensidade do sentimento, refinando-o, tornando-o como que "superior" aos excessos românticos e mesmo à sensualidade: "Eu não demoro a olhar na curva do teu seio / Nem me lembrei jamais de te beijar na boca."
Novas Palavras - Língua Portuguesa, Emília Amaral et alii, Editora FTD, 2011
*
      
PSEUDO-ÁPICE
Aqui o eu-lírico confessa a um tu-mulher — esposa em potencial — as especulações em que se perde para tentar definir o sentimento que nutre por ela. Oleitmotif discurso pretensamente dialógico é “Não sei se isto é amor” o que desencadeia um processo de (auto-)definição que se enreda num suceder de negativas. Nada se sabe sobre as reações da interlocutora diante desse discurso, o que revela uma unilateralidade típica da ausência de comunicação. E o poeta enclausura-se nestas inquietações, nestas indefinições, nestas perguntas sem chance de resposta, sem qualquer indício de que isso resulte em maior aproximação, em comunicabilidade.

Camilo Pessanha em dois temposGilda Santos e Izabela Leal, 
Rio de Janeiro, 7Letras, 2007, pp. 48.
      
*
      
A VOLÚPIA DA DECADÊNCIA E AS PALAVRAS-CHAVE DO SIMBOLISMO.
Uma frasechave para a compreensão do Simbolismo é a de Mallarmé: «Nommer un objet, c´est supprimer trois quarts de la jouissance du poème qui est faite de deviner peu à peu: le suggérer, voilà le rêve».
É este esbater de contornos da significação simbolista que permite que Óscar Lopes classifique justamente de «simbolista» o sentimento amoroso expresso em «Não sei se isto é amor» [Interrogação»] («um amor realmente simbolista, no sentido de que não sabe qual o seu objecto real», Óscar Lopes, «Camilo Pessanha», in Entre Fialho e Nemésio, Vol. I, p. 119). Nesta linha, o autor nota no soneto «Foi um dia de inúteis agonias» que o sintagma «um dia impressível» é lançado sem causa, «sem que se saiba ao certo de quê ou porquê», ibidem, p. 122.
[…]

AMOR, COMPANHEIRISMO E CONHECIMENTO INTERSUBJETIVO
A dificuldade da entrega, seja numa paixão sensual, seja numa afinidade de almas, transparece na poesia «Interrogação», sem embargo de um certo dandismo, de um tom ligeiro e faceto que a envolve46. O sintagma que ritma todo o poema é um «não sei». Dúvida, indecisão, uma minúcia de matizes. Todo o poema é constituído por variações do tema: «Não sei se isto é amor». A mulher parece ser sobretudo uma fonte de apaziguamento, de refrigério («Procuro o teu olhar,/ Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo», «Mas sintome sorrir de ver esse sorriso/ Que me penetra bem, como este sol de Inverno», «Passo contigo a tarde e sempre sem receio/ Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.»), mas não inspira nem a intenção de formar uma família («nunca pensei num lar/ Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.»), ou paixão lacrimosa e romântica («Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.») ou desejo sensual («Nem depois de acordar te procurei no leito/ Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.», «Eu não demoro o olhar na curva do teu seio/ Nem me lembrei jamais de te beijar a boca.»). Hoje diríamos que exerceria sobre o poeta um efeito psicoterapêutico positivo.
Essa mulher parece ser saudável («A tua cor sadia») e com os nervos sólidos, contrastando com a mulher anémica do poema seguinte «Crepuscular». Em ambos os poemas, é referido o crepúsculo e a susceptibilidade do poeta ao seu efeito perturbador. Porém, em «Interrogação», a mulher constitui uma barreira eficaz contra a melancolia do ocaso, enquanto que no poema seguinte «o vago sofrer do fim do dia» banha a mulher de mãos pequenas com o seu langor.

Sentimento e Conhecimento na Poesia de Camilo PessanhaJoão Paulo Barros de Almeida, 
Coimbra, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2009, pp. 43, 97-98.
_______________
(46) Cf. João Camilo, «A Clepsidra de Camilo Pessanha», in Persona, nº 10, 1984, p. 25: «Um poema como «Interrogação», em que transparece um certo dandismo, dános ainda uma visão do mundo leve e irónica, ligeira e superficial. O poeta não sabe se ama, mas sabe que tem prazer em estar com a mulher invocada no poema».
            

PODERÁ TAMBÉM GOSTAR DE:
      
 Vida e obra de Camilo Pessanha: apresentação crítica, seleção, notas e linhas de leitura / análise literária de Clepsidra e outros poemas, por José Carreiro. In: Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo, 2021 (3.ª edição).




[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/01/07/interrogacao.aspx reeditado em 2017-09-05]