Música: Andrew Lloyd Letra: Tim Rice, Intérprete: Ivonne Elliman, 1970;
quarta-feira, 9 de março de 2011
CORPUS CHRISTI
Música: Andrew Lloyd Letra: Tim Rice, Intérprete: Ivonne Elliman, 1970;
domingo, 27 de fevereiro de 2011
MULHERES DE ABRIL | A REPÚBLICA DAS MULHERES
in O Sol nas Noites e o Luar dos Dias Is/l, Círculo de Leitores, 1993, p. 229.
Lisboa, Ed. Caminho, 1977.
Livro Sexto, 1962
O poema [“Pranto pelo dia de hoje”, de Sophia de Mello Breyner
Andresen,] apresenta-se em uma forma simples, um bloco de oito versos maioritariamente
decassílabos que trazem a angústia daqueles que ousam lutar e criar em um
ambiente marcado pela coerção e cerceamento ideológico. Nos dois versos dodecassílabos
que se repetem, “Nunca choraremos bastante quando vemos”, observamos a voz
poética afirmar que nenhum pesar é suficiente para um gesto criador que é
cerceado e nenhuma lamentação soluciona a luta daqueles que foram destruídos por
sua ação. A referência à censura pode ser lida por meio dos verbos “impedir”,
que se associa à limitação da liberdade de expressão praticada pelo governo do
Estado Novo, e “destruir”, que sugere a violência com que é executada a ação de
controle político.
Há, novamente, o aspeto de falsidade, perversão moral
e traição, que aparecem nas imagens de “insídia” e “venenos”. O termo “insídia”
significa “espera às escondidas do inimigo, para investir sobre ele; tocaia,
emboscada, cilada; falta de lealdade; traição, cilada; ardil, estratagema,
intriga” (Dicionário Eletrônico Houaiss). Assim, temos uma espécie de antítese
na aproximação do verbo “lutar”, com aspeto positivo – aquele que resiste e que
busca romper o cenário da coerção e da ameaça –, e dos termos “destruído”,
“insídia” e “venenos”. Esse contraste revela a tentativa de resistência diante
de um contexto que ameaça e cerceia aqueles que se expressam de forma contrária
ao governo e que, muitas vezes, não conseguem vencer a força dos que detêm o
poder.
Os últimos três versos do poema reforçam o tom de
denúncia na medida em que a voz poética afirma que há outras maneiras “tão
sábias tão subtis e tão peritas” de destruir quem luta “que nem podem sequer
ser bem descritas”. O verbo descrever oferece ao poema uma perspetiva mais
objetiva, distanciando a voz poética de um relato subjetivo, o que garante aos
versos um forte viés de denúncia e de relato de alguém(*) que sofreu
com a censura e com a tortura. O título, que insere o pesar no dia de hoje,
fortalece essa ideia de denúncia das ações arbitrárias e opressoras da censura em
Portugal […].
Nathália
Macri Nahas, Grades: uma leitura do projeto po-ético de Sophia de
Mello Breyner Andresen. São Paulo, USP-FFLCH, 2015
___________
(*) Nas cartas
trocadas com o autor Jorge de Sena, Sophia Andresen revela algumas situações em
que sofreu com a censura e a ação da PIDE. Em 11 de outubro de 1962, a polícia
esteve em sua residência e confiscou toda a correspondência enviada por Sena.
(ANDRESEN, S.; SENA, J., 2010, p.65). Em 10 de junho de 1963, a autora relata
que deixou a direção da revista Távola Redonda, por problemas com a censura.
(Ibidem, p. 76). Em 14 de maio de 1966, ela relata ter recebido da União
Nacional dois comunicados de insultos, ameaças e acusações de ligação aos
comunistas e glorificação de terroristas. (Ibidem, p.93). A autora também
relata, em entrevista dada a Eduardo Prado Coelho, que chegou a escrever dois
atos de uma peça teatral sobre os irmãos Graco, mas, em uma busca da PIDE entre
1969 e 70, ela escondeu os escritos e nunca mais os achou. (ANDRESEN, S., 1986,
p. 68).
- “Poesia útil e literatura de resistência” (A literatura como arma contra a ditadura e a guerra colonial portuguesas), José Carreiro
- Perfil poético e estilístico de Sophia de Mello Breyner Andresen - apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen, por José Carreiro. Folha de Poesia, 2020-07-17

domingo, 6 de fevereiro de 2011
ANDEI POR MONTES E VALES
José Carreiro, “vale encantado” in Olhares |
recolha de Almeida Garrett publicada entre 1843 e 1851.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
LILAC WINE (James Shelton/Nina Simone)
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
UMA CANÇÃO QUE ME ELEVE COMO O VINHO (Rafael Cadenas)
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Rafael Cadenas, por Daniela Boersner |
Espero uma canção diferente.
Uma canção que me resolva.
Uma canção ligeira com um azulejo.
Uma canção que me eleve como um vinho.
Uma canção tão amorosa que eu não possa desaparecer.
Uma canção que me acolha, depois de lavado, sem trevas.
Robusta, clara e dúctil como anseio ser.
Canção que seja sempre definitiva.
Com ela caminharei tal como a manhã.
Cheio dessa humidade viajante de longe.
A manhã que torna limpas as coisas.
Que afaste de mim todo o pesar.
Que não faça durar nenhuma angústia.
Que me leve pela mão por cima dos males.
Forte e fiável embarcação.
Rafael Cadenas
Tradução: Nuno Júdice
https://www.youtube.com/watch?v=dmcEgucUKy4
(Upload: 14/06/2021)
Rafael Cadenas. Selección y nota introductoria de Julio Ortega. México, Coordinación de Difusión Cultural de la UNAM, 2013
[Última atualização do post https://folhadepoesia.blogspot.com/2011/01/uma-cancao-que-me-eleve-como-o-vinho.html: 2021-10-14]