O ponto
de encontro para a nossa entrevista foi o Danúbio, o
café-restaurante da Rua Passos Manuel, nascido logo no pós-25 de abril,
contou-nos Adília Lopes, que já nos esperava quando chegámos, pelo menos vinte
minutos mais cedo do que o combinado. Levámos perguntas e fizemos a entrevista
planeada, mas também aproveitámos para ficar a conversar sobre o bairro, sobre
o próximo livro dedicado a Lucinda, sobre os choupos e as cerejeiras da Rua
José Estêvão, sobre sonhos e pesadelos, e ainda sobre a descaracterização (a
falta daqueles espelhos!) da pastelaria Tarantela (agora com
filas de pré-pagamento que dão para a rua) e sobre comer bons bolos antes de
apreciar a beleza das catedrais.
Jogos
Florais: Adília ou Maria José?
Adília
Lopes: Adília, porque é as poesias, não é?
JF: Poeta
ou poetisa?
AL: Poetisa.
JF: Porquê?
AL: Porque
a palavra existe em português e é o feminino.
JF: Gosta
de poesia?
AL: [risos]
Às vezes não gosto, às vezes não gosto...
JF: Isto
assumindo que um escritor, uma poetisa, neste caso, gosta do que faz...
AL: Eu
gosto muito de poesia quando é boa poesia, quando... Muitas vezes lêem-se
livros maus, e eu também escrevi poemas maus, e há coisas más. Mas, por
exemplo, ontem li um livro do Frederico Lourenço de que gostei muito, Santo
Asinha e outros poemas, e fiquei muito contente por ler um livro tão bom.
Às vezes lê-se um poema, leio um poema que acho muito bom e fico contente com
isso. Mas há muitas coisas de que eu não gosto, claro.
JF: Gosta
mais de escrever poesia do que prosa?
AL: Eu
escrevo versos, não escrevo propriamente parágrafos, isso é uma coisa natural
em mim, não é uma questão de opção, é assim.
JF: Mas
chegou a escrever crónicas...
AL: Sim,
escrevi crónicas, mas acho que não resultaram muito bem, porque não é a minha
maneira de pensar. Eu penso por versos, muito por versos.
JF: Tem
uma rotina diária?
AL: Sim,
tenho hábitos rígidos de ir ao café a tantas horas, de fazer certas coisas
sempre às mesmas horas, sempre da mesma maneira, e depois, como não tenho uma
vida muito fácil... o que consigo fazer é com esforço e então nem sempre consigo
fazer o que quero, não é?, o que gostaria de fazer, e assim nem sempre leio os
livros todos que queria ler, nem sempre escrevo o que queria escrever, é uma
luta, é o que consigo fazer.
JF: Escreve
à mão?
AL: Eu
não tenho computador. Escrevo à mão e à máquina, numa máquina que não é
eléctrica. É uma Olivetti.
JF: De
que cor?
AL: Eu
escolhi a cor, é azul turquesa.
JF: E
não se imagina a escrever a computador?
AL: Eu
já escrevi a computador, mas não gostei... E eu não tenho ninguém que me ajude
com o computador, era eu que me desemburrava sozinha. Se havia algum problema
com o computador, tinha de ir de táxi à loja, não tinha ninguém que me
ajudasse. Eu escrevia a computador as crónicas, numa disquete. Mas o que eu
notei é que escrevia pior, os textos ressentem-se, saem piores.
JF: Mas
porquê? Por ser mais rápido?
AL: Porque
no computador parece tudo muito fácil, sabe bem, a pessoa gosta de estar ali a
dedilhar... Parece fácil, a pessoa está ali a escrever e até dá a ideia de que
a está a escrever um romance. Noutros casos sairá muito bem, no meu não sai. Eu
acho que preciso de tempo e de alguma resistência do material. Sinto isso.
JF: Diga-nos
um poema de que goste muito.
AL: Dos
meus? Ou de outra pessoa? [risos]
JF: Dos
dois. [risos] Na verdade, é a isto que tentamos responder nos Jogos
Florais.
AL: Um poema de que goste
muito... Gosto muito do “Nocturno” de Álcman, do “Nocturno” de Álcman gosto
muito, porque fala dos animais, do sono dos animais, da natureza à noite, que
está em repouso (nem toda está em repouso), mas fala do repouso da natureza, fala
da natureza. E gosto muito desse poema.
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POEMA FAVORITO
Álcman, “Nocturno”
Dormem os píncaros das montanhas e as ravinas,
os promontórios e as torrentes,
e todas as raças rastejantes que a terra negra alimenta:
as feras das montanhas e a raça das abelhas
e os monstros nas profundezas do mar purpúreo;
dormem as raças das aves de longas asas.
Poesia Grega. De Álcman a Teócrito, organização, tradução e notas de Frederico Lourenço, Lisboa, Cotovia, 2006.
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JF: E
dos seus?
AL: Dos
meus não há um poema de que eu goste assim em especial, mas há dois livros que
eu acho que ficaram bem: O Poeta de Pondichéry, acho que ficou bem
esse livro, e fico muito contente com a edição da Assírio, com as ilustrações
do Pedro Proença, acho que ficou muito bonito; e o livro Manhã,
acho que o livro Manhãtambém saiu bem, correu bem, pronto, foi uma
sorte, correu bem.
JF: Esse
temos aqui para autografar. [risos] Diga-nos um poeta que considere
subvalorizado.
AL: Eu
acho que às vezes o Ruy Belo é subvalorizado. Eu acho o Ruy Belo subvalorizado,
porque as pessoas têm relutância em relação a certas referências religiosas e
assim, e então não o consideram muito ou não o consideram tanto como outros que
eu acho que não são tão bons.
JF: Vamos
ter de fazer uma pergunta irresistível... Acha que há poetas sobrevalorizados?
AL: Acho...
JF: Se
não quiser, não tem de nomear.
AL: Não
queria nomear.
JF: Usa
a poesia no seu dia-a-dia?
AL: Sim,
muitas vezes, há versos de que me lembro, que me vêm à cabeça, não os vou
procurar, eu lembro-me desses versos em várias circunstâncias. Outras vezes,
quando não me sinto bem ou assim, geralmente leio poemas da Sophia de Mello
Breyner. Há poemas, como eu os li quando era muito nova e como gostava daqueles
poemas... Há um poema que leio muito dela, talvez não seja dos melhores poemas
que ela escreveu sobre os quadros da Maria Helena Vieira da Silva, mas é um
poema de que eu gosto que é “Landgrave ou Maria Helena Vieira da Silva”, não
sei se está primeiro o nome do quadro se primeiro o nome da pintora, mas é um
poema que eu gosto muito. Eu acho que esse poema sobre o quadro da Maria Helena
Vieira da Silva “Landgrave” não me parece tão conseguido como outro que ela
escreveu sobre outro quadro da Vieira da Silva que é o “Itinerário inelutável”,
mas eu afetivamente gosto mais do “Landgrave”.
JF: Sabe
então muitos versos de cor?
AL: Não,
não sei muitos versos de cor. É assim: eu tenho uma imagem do poema, lembro-me
de muitas coisas do poema e depois preciso de chegar a casa e de ir verificar
no livro, isso preciso.
JF: Pensamos
muitas vezes na posteridade dos poetas. Como é que se imagina daqui por cem
anos num verbete de uma enciclopédia literária?
AL: Não
me imagino, não.
JF: Não
haveria nada que gostasse de ler sobre si?
AL: Não,
nunca imagino isso. Há uma frase do Fernando Pessoa que diz que Milton não
fazia nada sem que pensasse na sua fama futura. Eu nunca penso na fama futura.
Eu penso no presente, nem penso muito no futuro, eu penso no presente.
JF: E
relativamente ao presente, costuma ler alguma crítica literária sobre a sua
obra?
AL: Algumas
leio, mas não leio todas, acho que algumas são maldosas e infundadas, então eu
não leio. Leio só assim algumas que me parecem mais justificadas.
JF: Acha
que algumas acertam?
AL: Acho
que sim.
JF: E
que tipo de crítica é que gosta de ler, mesmo sobre outros poetas? O que é que
gosta de ler na crítica literária?
AL: Gosto
quando vejo que há uma leitura dos poemas, que tem entendimento do poeta e que
faz descobrir coisas que eu não tinha descoberto ou que me dá informações que
eu não tinha. É isso que gosto de ver. E também quando me dá indicação de um
livro que eu não conhecia e que passo a conhecer pela crítica. Isso também
acontece.
JF: O
Alexandre O’Neill disse numa entrevista que achava muito mais tocante para um
poeta o aperto de mão de um leitor que a crítica de um crítico. O que prefere?
AL: Também
acho que sim.
JF: Já
teve reações de leitores?
AL: Sim,
sim, isso é muito mais gratificante.... Às vezes, ter pessoas, até sobretudo
pessoas que não têm conhecimentos literários ou assim... que houve qualquer
coisa que leram meu e que gostaram, que entenderam muito bem – quem sou eu para
dizer que entenderam muito bem –, isso é muito mais gratificante.
JF: Pensamos
muitas vezes em qual seria uma boa forma de se ensinar um poema. Tem alguma
ideia sobre o ensino da poesia?
AL: Acho
que se pode aprender poesia, é preciso que os alunos encontrem poemas de que
gostem muito. Às vezes o professor pode não conseguir transmitir isso, mas um
bom professor encontra poemas de que os alunos gostam, acho que encontra. O
problema talvez hoje é o ensino... é muito competitivo, as pessoas pensam muito
em entrar para a faculdade, entrar para estes cursos e assim, isso prejudica
muito essa leitura mais aberta, mais livre, em que há tempo, em que há tempo
livre. Sem tempo livre não há poemas, nem se lê nem se escrevem.
JF: Tem
alguma embirração linguística ou poética? Uma palavra de que não goste, por
exemplo.
AL: Não, não
tenho. Não há assim nenhuma... não.
JF: Mas
tem um poema que me parece não simpatizar muito com palavras caras.
AL: Sim
[risos].
JF: Porquê?
[risos]
AL: É
não simpatizar sobretudo com pessoas arrogantes, com pessoas que usam a
linguagem para se promoverem, para maltratarem os outros ou para se
empoderarem, isso não é bonito, claro.
JF: Isso
também acontece nalguma poesia?
AL: Sim,
também, também isso acontece.
JF: Tem
alguma figura de estilo preferida?
AL: Nunca
pensei nisso, nunca pensei nisso....
JF: Que
perguntaria a outro poeta? Se houvesse alguém que admirasse, que perguntas lhe
faria?
AL: Acho que
não perguntava nada, dizia bom dia ou boa tarde, como faço nos cafés, não
perguntava nada, não sei...
JF: Quando
lê um poeta de que gosta, não pensa se gostaria de lhe ter perguntado ou dito
alguma coisa?
AL: Não,
acho que não, acho que não. Eu percebo que se entrevistem os escritores, os que
escrevem os romances, os poemas. Podem dizer sobre o que escreveram, o que
fazem, o que vivem, como vêem as coisas, mas eu acho que não ia perguntar...
Falo com um poeta ou com um romancista como falo com a padeira, com o empregado
do café, com o carteiro. É assim.
JF: Todos
têm coisas interessantes a dizer.
AL: Sim,
todos têm coisas interessantes a dizer.
JF: Perguntámos
a algumas pessoas que admiram a sua obra se tinham perguntas para si. Por exemplo,
uma costureira perguntou se a Adília podia descrever um vestido com que sempre
tenha sonhado e que nunca tenha tido. Se existiria algum...
AL: [risos]
Quando eu tinha 30 anos e assim, eu gostava daquele costureiro francês,
Christian Lacroix. É claro que nunca teria dinheiro para comprar um vestido
dele nem me passaria pela cabeça gastar dinheiro num vestido, mas eu gostava
daquelas roupas muito coloridas, que lembram trajes folclóricos espanhóis,
russos... Eu não andava assim vestida, mas gostava desses fatos... de teatro,
de ópera.
JF: Temos
uma secção no site sobre curiosidades literárias. Não sabemos se gosta de
curiosidades literárias e se se lembra de alguma que gostasse de partilhar
connosco. Por exemplo, o Lord Byron, quando estudou em Trinity, tinha um urso
nos aposentos. Ele gostava muito de animais e era o único que não estava
nomeado na lista de animais domésticos proibidos.
AL: Gosto
de saber essas coisas, sim.
JF: Tem
alguma?
AL: O
poeta com quem convivi mais foi o José Blanc de Portugal. Estou a pensar se ele
contava assim alguma coisa... Ele tinha, mas isto talvez não se possa dizer...
Ele tinha uma casa muito grande e tinha um quarto interior que chamava “O
Inferno” e punha lá os livros de que não gostava, que eram geralmente dos
neo-realistas. Não era só dos neo-realistas que ele não gostava, mas punha lá
os livros de que não gostava. Chamava “O Inferno”.
JF: Gostou
de conviver com o José Blanc de Portugal?
AL: Sim,
gostava da poesia dele.
JF: A
poesia dele também parece subvalorizada.
AL: Também,
também está. Na geração dele talvez seja o mais esquecido.
JF: Gosta
de escrever noutras línguas? Já experimentou escrever numa língua que não
conhece bem e depois traduzir para a língua materna?
AL: Já
escrevi noutras línguas, nas línguas que aprendi no Liceu: Francês e Inglês.
Mas assim traduzir depois o meu poema para a minha língua não, isso não.
JF: Mas
tem os seus poemas traduzidos em várias línguas?
AL: Sim,
em algumas línguas.
JF: Já
se leu nessas outras línguas?
AL: Nas
que conheço, sim [risos]. Há muitas que não conheço.
JF: E
nas que conhece, acha que a poesia se perde na tradução?
AL: Se
for uma boa tradução, não se perde. Claro que se é má, perde-se, mas se é uma
boa tradução, não se perde. Às vezes o que acontece é que fica outro poema, que
não é bem o que a pessoa escreveu, mas partiram do poema da pessoa.
JF: Vimos que
gostava de dar de comer aos pombos quando era criança. Ainda gosta?
AL: Sim.
Eu tenho uma varanda com plantas, dar de comer não dou, porque talvez os
vizinhos não gostassem, mas dou água, porque eles com o calor têm muita sede e
ponho água num vaso na varanda, num cachepot, para eles terem água
para beber, e eles vão lá. É engraçado, eu estou às vezes em casa sentada,
tenho a varanda fechada, mas tenho cortinas transparentes, e vejo chegarem
pombos, pardais, melros... Uma vez vi um pássaro muito bonito com penas azuis.
Gosto disso.
JF: Quem
é que gostaria que a representasse num filme sobre si?
AL: Uma
actriz? Estou a pensar, leva tempo... Já não pode ser, que já morreu, mas eu
gostava muito de uma actriz americana, Lillian Gish, de filmes mudos e assim.
Gostava muito dela. É claro que não é nada parecida comigo, mas eu gosto muito
dela nos filmes mudos e assim. Talvez gostasse de ser representada num filme
mudo.
JF: Tem
passatempos?
AL: Faço
palavras cruzadas.
JF: De
algum jornal em particular?
AL: Do Expresso,
faço as do Expresso. Compro o Expresso ao Sábado e
faço as palavras cruzadas do Expresso. E acho que assim passatempo
convencional é o único que tenho. De resto, como a vida não é fácil, é sempre
lutar... Oiço música à noite, mas isso não é um passatempo, é uma coisa que
gosto de fazer, oiço a Antena 2, oiço o concerto às 9:00 da noite. Às 9.00 da
noite há um concerto e costumo ouvir esse concerto durante a semana, quando
estou bem, que às vezes estou muito atormentada, e estou com sono e maldisposta
e não estou a ouvir música, não tenho cabeça para ouvir música nem para ler. É
assim.
JF: Quando
diz que a vida não é fácil, é no sentido que às vezes é triste?
AL: Sim,
cresci num ambiente muito deprimente, e isso prejudicou-me, quer dizer,
marcou-me. E depois o trabalho literário é muito mal pago, isso não dá
esperança, não dá esperança... É uma vida que... Pensa-se sempre que é um beco
sem saída. Pronto, isso não dá esperança, realmente.
JF: Tem
alguma relação com o meio literário?
AL: Eu
não me dou com o meio literário, não tenho assim muitos contactos, nem nenhuns,
não tenho contactos com o meio literário, não tenho.
JF: E
tem interesse por ele?
AL: Não,
também não tenho. Tenho uma ideia que é um meio de intrigas e assim, como todos
os meios profissionais, como todos os meios humanos, e não só profissionais,
tudo. E isso não me interessa.
JF: Quais
são as suas influências?
AL: A
primeira é a Sophia de Mello Breyner, sim. Geralmente as pessoas aparentam-me
com o Alexandre O’Neill, mas eu não tinha lido o Alexandre O’Neill e não é o
Alexandre O’Neill. Eu gosto muito do Alexandre O’Neill, mas não é o Alexandre
O’Neill. É muito mais a Sophia de Mello Breyner e o Ruy Belo, foram os que li,
que me fizeram desemburrar, perceber. Primeiro a Sophia, porque ela escrevia
contos para crianças, e eu quando era criança lia os contos e assim, depois o
Ruy Belo, no fim da adolescência, o Ruy Belo. E também a Sylvia Plath, que eu
sei muito pouco inglês, mas conseguia ler em inglês. Eu acho que ela de facto é
muito extraordinária, porque eu sabendo tão pouco conseguia ler os poemas dela
em inglês. E aprendi, aprendi muito com ela. Mas quem depois me faz escrever
poemas, não o conheço, mas li poemas dele, é o João Miguel Fernandes Jorge. Li
poemas dele e foi a partir daí que passei a escrever poemas, mas eu acho que
aqueles que me influenciaram mesmo, que me marcaram, foram a Sophia, o Ruy Belo
e a Sylvia Plath.
JF: E porque
é que acha que há esse parentesco com o O’Neill?
AL: Porque há
ironia, eu uso ironia, sou às vezes sarcástica. E também porque... Eu nunca
trabalhei em publicidade, mas às vezes há coisas que lembram a publicidade. Ele
trabalhou em publicidade, talvez por isso as pessoas pensem que há uma relação.
JF: Há
pouco disse que era difícil viver da literatura... Tem projectos para breve?
Num curto espaço de tempo, publicou vários livros.
AL: Sim,
eu em menos de 3 anos escrevi seis livros. Só falta publicar um, que sai este
ano. E depois ainda há contos que eu gostava de escrever, mas é preciso que
haja estímulos, apoios, incentivos. Se não há, também a pessoa não consegue
raciocinar.
JF: De
todas as perguntas que fizemos, qual foi a sua favorita?
AL: Se usa a poesia no
dia a dia.
INTERVIEWING ADÍLIA LOPES
LISBON,
AUGUST 2017
For our interview, we met at café Danúbio,
in Lisbon. The Portuguese poet Adília Lopes was already waiting for us
there (she’d arrived at least 20 minutes before the time we agreed on). We
brought the questions we prepared, the interview went as planned, but we also
talked about her neighbourhood, about poplars and cherry trees, about dreams
and nightmares, and about eating cakes before enjoying the beauty of
cathedrals.
Jogos
Florais: Do you like poetry?
Adília Lopes: [laughs] Sometimes I don’t, sometimes I don’t….
JF: We
often think about the posterity of poets. How do you see yourself in a hundred
years, in a literary encyclopaedia entry?
AL: I
don’t see myself like that, no.
JF: Isn’t
there something you’d like to read about yourself?
AL: No,
I never imagine that. There’s a sentence where Fernando Pessoa says that Milton
didn’t do anything without thinking about his future fame. I think about the
present, I don’t really think about the future, I think about the present.
JF: What
would you ask another poet? If there was someone you admired, what questions
would you ask them?
AL: I
don’t think I’d ask them anything. I would say “good morning” or “good
afternoon”, like I do at coffee shops. I wouldn’t ask anything, I don’t know…
JF: When
you read poets you like, do you not wonder about something you’d like to ask
them or tell them?
AL: No,
I don’t think so. I understand why people would interview writers, the ones who
write novels, poems. They may talk about what they wrote, what they do, what
they live, how they see things, but I don’t think I’d ask… I talk to a poet or
a novelist like I talk to the baker, to the waiter, to the postman. That’s how
it is.
JF: All
of them have interesting things to say.
AL: Yes,
all of them have interesting things to say.
JF: We
asked some people who admire your work whether they had questions for you. For
instance, a costume designer asked if you could describe a dress with which
you’ve always dreamed, but never had. If there was any…
AL: [laughs]
When I was 30 years old and such, I liked that French couturier, Christian
Lacroix. Of course I would never have enough money to by one of his dresses,
nor would spending money on a dress would ever cross my mind, but I liked those
really colourful clothes that remind us of Spanish or Russian folklore
costumes… I wouldn’t go out wearing something like that, but I enjoyed those
garments… from the theatre, the opera.
JF: Who
would you like to play you in a film about your life?
AL: An
actress? I’m thinking, this takes some time… It can’t be her, because she
already died, but I liked this American actress very much, Lillian Gish, from
silent films and such. I liked her very much. Of course she doesn’t resemble me
one bit, but I really like her in silent films and the like. Maybe I would enjoy
being portrayed in a silent film.
JF: Do
you have any relation with the literary scene?
AL: I
don’t really connect with the literary scene, I don’t know many people, nor
any, I don’t know anyone in the literary scene, I don’t.
JF: And
do you care for it?
AL: No,
I don’t. I have this idea that it is full of gossip and such, like in every
profession, or any other human scene, not just in jobs, everywhere. And I
don’t care for that.