“Teócrito é o poeta do travo amargo que o amor deixa na boca de quem ama“, Frederico Lourenço
Representação de Hécate, deusa padroeira das bruxas, que, no culto romano, chegou a ter como epíteto venéfica |
5 10 15 20 |
AS
FEITICEIRAS Traze-me
os filtros1, anda! E as folhas de loureiro. Envolve-me
essa taça em lã avermelhada, a
ver se encanto assim o cruel estrangeiro que
há doze dias já me deixa abandonada... Ave2,
traze até mim o jovem meu amado. Vou
queimar lentamente este ramo de louro: vede
como crepita! Ei-lo já todo em brasa... Assim
fique também aquele por quem morro! E
que eu o veja ardendo, aqui, em minha casa! Ave,
traze até mim o jovem meu amado. Derreter
esta cera? Assim me ajude a Lua, para
que se derreta a sua própria alma! Ou
que eu o veja então rondar a minha rua, como
nas minhas mãos esta roda não para! Ave,
traze até mim o jovem meu amado. Já
o mar se calou; já o vento caiu... Mas
a dor, no meu peito, é que nunca se cala. Que
foi que se passou? Sei que tudo perdi; e
que sou, para ele, ainda menos que nada. Ave,
traze até mim o jovem meu amado. |
Adaptação do início de Idílio
II de Teócrito3, As Feiticeiras, vv.1-16, feita por David
Mourão-Ferreira in Imagens da Poesia Europeia, Lisboa: Artis, Lda, 1970,
pp.132-133.
__________
1 Filtros – Palavra etimologicamente relacionada
com verbo grego phileo (amar), que designa meios de sedução, ou seja,
feitiços, bebidas, sortilégios geralmente realizados no intuito de alcançar o
amor de alguém.
2 Ave – Trata-se da ave chamada alvéloa,
associada, na Antiguidade Clássica, a rituais de magia amorosa, tendentes a
reconquistar os amantes infiéis. Segundo a mitologia, a vingativa deusa Hera,
esposa de Zeus, teria transmutado em alvéloa uma ninfa que lhe seduzira o
marido.
3 Teócrito –Poeta grego (c.310 a. C.-c.250 a. C.), criador do género bucólico, nascido em Siracusa. São-lhe atribuídos idílios, epigramas, uma canção sobre a morte de Adónis e um fragmento de um poema intitulado Berenice. É um poeta de grande imaginação e sensibilidade. Ao mesmo tempo, destaca-se pela sua destreza na versificação e pelo seu estilo. (Porto Editora – Teócrito na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-11-03]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$teocrito)
Para responder a cada um dos itens de 1
a 7, selecione a única opção correta, de acordo com o sentido do
texto.
1. No refrão “Ave, traze até mim o jovem meu
amado.”, a palavra sublinhada desempenha a função sintática de:
a. sujeito.
b. predicativo do sujeito.
c. vocativo.
d. complemento do nome.
2. No plural, a forma correspondente a “Envolve-me”
(verso 2) é:
a. envolvei-me.
b. envolves-nos.
c. envolveis-nos.
d. envolvam-se.
3. As palavras “a ver se encanto” (verso 3) revelam a
intenção de:
a. operar uma metamorfose.
b. deliciar.
c. fascinar.
d. enternecer.
4. A pronominalização do segmento sublinhado em “Vou
queimar lentamente este ramo de louro” (verso 6) é:
a. vou o queimar.
b. vou queimá-lo.
c. vou-o queimar.
d. vou queimar-lhe.
5. Em “Ei-lo já todo em brasa...” (verso 7), a
forma sublinhada tem por referente:
a. o cruel estrangeiro.
b. o jovem meu amado.
c. este ramo de louro.
d. aquele por quem morro.
6. No verso 11, o vocábulo “Lua” desempenha a função
sintática de:
a. complemento direto.
b. sujeito.
c. predicativo do sujeito.
d. predicativo do complemento direto.
7. Ao dizer “que eu o veja então rondar a minha rua”
(verso 13), a figura feminina manifesta a esperança de ver o jovem amado a:
a. andar constantemente em volta da sua rua.
b. tentar seduzi-la.
c. vigiar a sua rua.
d. patrulhar a sua rua.
8. Em “sou, para ele, ainda menos que nada” (verso
19), está presente:
a. uma hipérbole.
b. uma metáfora.
c. um eufemismo.
d. uma perífrase.
Chave de respostas: 1.c; 2.a; 3.c; 4.b ou 4.c; 5.c; 6.b;
7.a; 8.a.
(Fonte: Olimpíadas da Língua
Portuguesa - Ensino Secundário. 1.ª Fase - 2016-02-19. Portugal, Direção-Geral
da Educação, https://www.dge.mec.pt/olimpiadas-da-lingua-portuguesa)
«Esta formosa versão de David Mourão-Ferreira traduz
apenas o início do poema.
O poema na sua totalidade cobre a gama emocional em
torno da paixão e da perda, onde o recurso à magia negra é o instrumento para
garantir o ancestral desejo de absoluto no amor: se não é para mim, não será
para mais ninguém. Antes mutilado ou morto. E para o conseguir, os recursos de
feitiço são variados como se espera.
O poema desenvolve a narrativa em duas partes: na
primeira seguimos as etapas do processo de feitiço e na segunda tomamos
conhecimento do desenvolvimento da paixão até ao desenlace que provoca esta
busca do sobrenatural.»
Carlos Mendonça Lopes, https://viciodapoesia.com/2012/10/21/as-feiticeiras-de-teocrito-c-300-c-250-a-c/
Segue-se toda a história, vertida em
português por Albano Martins:
AS FEITICEIRAS
Onde estão os meus ramos de loureiro? Téstilis, vai
buscá-los!
Onde estão os filtros? Coroa a taça
de fina lã de ovelha tingida de púrpura,
e assim prenderei o amado que me tortura.
Há já doze dias que o miserável
não vem ver-me, nem se preocupa
em saber se estou morta ou viva…
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Primeiro consome-se a farinha no fogo.
Espalha-a, Téstilis. Desgraçada, onde tens a cabeça?
Também para ti, ó infame, sou motivo de troça?
Espalha e diz ao mesmo tempo:”Espalho
os ossos de Délfis”.
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Délfis desgosta-me, e eu, por causa de Délfis,
queimo loureiro. Tal como este crepita
ao contacto com o fogo e arde tão rapidamente
que nem sequer vemos a cinza, que assim
se consuma na chama a carne de Délfis.
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Tal como derreto esta cera com a ajuda da deusa,
que assim o mínimo Délfis se derreta de paixão.
E como este disco de bronze gira,
movido por Afrodite, que assim
ele venha a girar à minha porta.
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Já se calou o mar, calaram-se os ventos, mas não se
cala
a dor no meu peito. Ardo completamente
por aquele que, pobre de mim, me fez, não sua esposa,
mas mulher má e desonrada.
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Délfis perdeu esta franja da sua capa; agora
desfio-a e atiro-a ao fogo destruidor.
Aí, terrível Eros, porque sugaste
todo o sangue negro do meu corpo
como sanguessuga do pântano?
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Esmagarei um lagarto e amanhã levar-lhe-ei
uma poção venenosa. Téstilis, vai agora
apanhar as ervas, amassa-as na soleira
da sua casa, antes que a noite acabe, cospe nelas
e diz:”Esmago os ossos de Délfis!”
Alvéola, traz a minha casa aquele homem!
Agora que estou só, como hei-de chorar o meu amor?
Por onde hei-de começar? Quem me trouxe este mal?…
Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.
Eu vi-o, e logo o delírio me tomou, logo se me
sobressaltou
e feriu o coração, infeliz. A minha beleza murchou
e não prestei mais atenção àquela procissão.
Não sei como voltei para casa: um mal devorador
destroçou-me e estive prostrada no leito
durante dez dias e dez noites.
Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.
A minha tez tinha frequentemente
A cor do açafrão, os cabelos caíam-me todos
da cabeça, só me restavam
os ossos e a pele. A quem não recorri ou que casa
de que velha feiticeira não visitei? Mas nada
me aliviou, e o tempo passava, fugaz.
Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.
E assim revelei à escrava os meus verdadeiros
propósitos:
“Vai, Téstilis, e arranja-me um remédio
para este penoso mal. O míndio apossou-se de mim
completamente, pobre de mim. Vai pois espreitar
a palestra de Timageto. Ele costuma ir lá,
ele gosta de estar ali.
Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.
E, quando o vires sozinho, faz-lhe um sinal
às escondidas e diz-lhe: “Simeta chama-te”,
e trá-lo aqui. Assim lhe disse, ela foi
e trouxe o reluzente Délfis a minha casa. E eu,
mal o vi transpor com pé ligeiro
a soleira da minha porta,
(Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.)
fiquei toda mais fria do que a neve,
da fronte escorreu-me um suor
semelhante a húmidas gotas de orvalho,
não conseguia articular palavra
nem sequer esses balbúcios que as crianças
pronunciam no sono, quando falam com as mães.
E o meu belo corpo ficou tão rígido
como o duma boneca.
Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.
Este homem insensível viu-me, fixou os olhos no chão,
sentou-se no mediu leito e, já sentado, disse
“Na verdade, Simeta, não te antecipaste mais
do que eu mesmo um dia destes me antecipei na corrida
ao encantador Filino: recebi o convite para vir a tua casa
no momento em que vinha para cá”.
Diz-me, soberana Lua, donde veio o meu amor.
…Assim ele falou. E eu, ingénua, pegando-lhana mão,
Fi-lo reclinar-se no macio leito. Em breve os nossos corpos
em contacto um com o outro, aqueceram, as nossas caras
tornaram-semais quentes do que antes
e cochichávamos docemente. Enfim,
para não alongar a história, querida Lua,
o mais importante aconteçeu
e atingimos ambos o que desejávamos.
E agora? Há já doze dias que não o vejo.
Não será que tem outros prazeres
e se esqueçeu de mim?
Mas hoje vou prendê-lo com os meus filtros.
Se insistir em fazer-me sofrer,
às portas do Hades – pelas Moiras! – terá que chamar.
Tal é, declaro-o, o poder dos venenos
que para ele guardo numa caixinha
e que, ó soberana, me ensinou um estrangeiro da Assíria.
Mas tu, radiante, ó soberana, dirige os teus potros
para o Oceano.
Eu carregarei o meu fardo como até aqui.
Saúdo-te, ó Lua de face resplandecente! E saúdo também
as outras estrelas, que acompanham o carro da Noite tranquila.
Antologia da poesia grega
clássica; trad., notas complementares Albano Martins. - Porto:
Afrontamento, 2011.
Circe Invidiosa, Waterhouse (1896) |
E
agora o mesmo poema numa tradução de Rafael Brunhara:
TEÓCRITO
— IDÍLIO 2 (“A FEITICEIRA”)
Onde as folhas de louro? Traz, Testílide.
Onde os filtros mágicos?
Cinge o jarro com a mais fina lã
carmesim[1]
porque amarrarei esse que é meu fardo, o
amado
que por doze dias, miserável, não me visita,
nem sabe se eu estou viva ou morta, 5
nem <me> bateu à porta, cruel. Com
certeza para outro lugar
partiu, Eros e Afrodite levando seu
espírito inconstante.
Irei à palestra[2] de Timágeto
amanhã. Quando lá o vir, vou criticá-lo
por me tratar assim.
Mas hoje o amarrarei com oferendas de fogo.
Vamos, Lua, 10
brilha bela: a ti, nume, cantarei serena,
e à ínfera Hécate[3], que até os cães faz
tremer[4]
quando passa pelas tumbas dos mortos e
pelo sangue negro[5].
Olá, Hécate horrenda, ajuda-nos até o fim,
faz estes fármacos não inferiores aos de
Circe, 15
aos de Medeia, aos da loira Perimede.[6]
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa! [7]
Cevada primeiro vou consumir no fogo,
Vamos, polvilha,
Testílide. Parva, para onde teu espírito
voou?
Acaso para ti, desgraçada, também me
tornei objeto de escárnio? 20
Polvilha enquanto fala assim: “os ossos de
Délfis[8] polvilho”
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
Délfis me perturbou: eu contra Délfis a
folha de louro
queimo. E como ela crepita forte quando
pega fogo
e de repente se inflama até que não vemos
nem suas cinzas, 25
assim também nas chamas Délfis reduza à pó
<sua> carne.
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa! 27
Agora queimarei os farelos do trigo. Tu,
Ártemis, que até no Hades 33
podes mover o <portal de>
adamante[9], e o que mais houver de firme…
Testílide! Os cães uivam para nós na
cidade! 35
A Deusa está nas encruzilhadas! Faz
ressoar o bronze o mais rápido possível!
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
Veja! Cala-se o pélago, calam-se as
brisas,
mas não se cala a dor lá dentro do meu
peito,
eu me queimo toda por aquele homem que —
mísera! — me 40
fez ser, em vez de esposa, vil e
não-virgem.
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
Assim como essa cera eu derreto com <a
ajuda> da divindade, 28
assim derreta em desejo o míndio[10]
Délfis de uma vez. 29
E como este rombo[11] de bronze roda pelo
<poder> de Afrodite, 30
assim ele fique rodeando a minha porta! 31
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa! 32
Três vezes eu libo e três vezes, Dona,
digo estas <palavras>: 43
se é mulher quem se deita ao lado dele, se
é homem,
que se esqueça deles tanto quanto dizem
que Teseu certa vez 45
em Dia[12] se esqueceu de Ariadne de belas
tranças.
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
Hipômanes[13] é uma planta na Arcádia,
pela qual todas
as potras enlouquecem nas montanhas e as
ágeis éguas.
Assim também eu veja Délfis entrar nesta
casa 50
como um louco, vindo da oleosa[14]
palestra.
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
De seu manto Délfis perdeu esta franja[15],
e eu agora arranco fio por fio e jogo no
fogo selvagem:
Aiai, Eros
perturbador, por que o sangue negro do meu corpo 55
bebeste todo, preso em mim como
sanguessuga do pântano?
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
Um lagarto esfolarei e vil poção[16]
levarei <para ele> amanhã.
Testílide, pega agora as ervas e espreme
suavemente
sobre a soleira <da casa> dele,
enquanto ainda é noite,[17] 60
e diz sussurrando “espremo os ossos de
Délfis”. 62
Iynx, arrasta aquele homem para a minha casa!
Agora que estou só, a partir de onde
chorarei meu desejo,[18]
de onde começarei? Quem me trouxe esse
mal? 65
A filha de Eubulo, nossa Anaxo, foi como
canéfora[19]
ao bosque de Ártemis, para quem naquela
ocasião muitas
feras caminhavam em procissão por todos os
lados, entre elas uma leoa.[20]
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E Teumárida, ama da Trácia, ela que está
entre os deuses, 70
mas era minha vizinha de porta, rogou e
implorou
para eu assistir à procissão. Eu, desgraçadíssima,
a acompanhei arrastando um belo vestido de
linho
e toda envolta no manto de Clearista[21].
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
75
Eu já estava no meio do caminho, onde
<estão as terras> de Lícon[22],
e vi Délfis indo junto com Eudamipo.
As barbas deles eram mais loiras que helicriso
e o peito reluzia mais do que tu, Lua,
porque tinham acabado de deixar o belo
exercício do ginásio. 80
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E assim que o vi, enlouqueci, meu coração
foi lançado ao fogo,
parvo, a beleza esvaiu-se, e àquela procissão
eu não
assisti mais, nem sei como eu voltei
para casa, mas uma febre abrasadora me
abalou 85
e fiquei de cama por dez dias e dez
noites.
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E muitas vezes minha pele tornava-se igual
ao fustete[23],
começaram a cair da cabeça todos os
cabelos, fiquei
só pele e ossos. E à casa de quem eu não
entrei? 90
A que velha que entoava encantos eu deixei
de ir?
Mas não foi nada fácil, e o tempo,
fugindo, acabava.
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E desse modo à escrava contei a história
verdadeira:
“Vamos, Testílide, para a minha dura febre
descobre um remédio. 95
Tem-me toda, mísera, o míndio. Vai
e espera na palestra de Timágeto.
Lá ele frequenta, lá ele gosta de
sentar-se.
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E quando souberes que ele está sozinho,
acena discretamente, 100
diz: ‘Simeta te chama’ e o traz aqui.
Assim falei. Ela foi e trouxe o de pele
brilhosa
à minha casa, Délfis. Quando eu o vi
atravessar a soleira da minha porta com pé
ágil –
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua —
105
gelei-me toda, mais que a neve, e do meu
rosto
escorria água, como o úmido orvalho,
não podia falar, não mais do que criança
que
balbucia no sono chamando a mãe querida,
mas meu belo corpo enrijeceu todo como um
boneco de cera. 110
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E quando me viu, o insensível cravou os
olhos no chão,
sentou-se na cama e, ao sentar-se, contou
a história:
“De fato, Simeta, me ultrapassaste — tanto
quanto eu
ultrapassei outro dia o grácil Filino[24]
na corrida — 115
ao me convidar para estar sob este teu
teto.
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
Pois eu teria vindo, sim, pelo doce Eros,
eu teria vindo,
com dois ou três amigos, logo à noite[25],
as maçãs de Dioniso [26] guardando no
colo, 120
na cabeça o álamo branco, sacro rebento de
Héracles,
todo enrolado em nastros purpúreos[27].
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
E se me recebesses, isso seria aprazível
(pois ágil
e belo todos os rapazes me chamam). 125
e eu dormiria se só beijasse a tua bela boca,
mas se me rejeitasses e a porta tivesses
<fechado> com um ferrolho,
de qualquer modo machados e tochas cairiam
sobre ti.
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua.
Mas agora, afirmo que estou devendo
primeiro um “obrigado” à Cípris[28], 130
e, depois da Cípris, a ti, a segunda, que
me tiraste do fogo,
mulher, quando me convocaste para este teu
recinto,
eu que já estava meio em chamas. Eros
muitas vezes
acende um brilho mais fogoso do que o de
Hefesto em Líparas[29], –
Olha de onde veio o meu desejo, Dona Lua —
135
com vis insânias ele afugenta até a virgem
da alcova
e faz a noiva abandonar a cama ainda
quente
do marido.” Assim ele falou. E eu, tão
crédula,
a sua mão peguei e o reclinei no leito
macio;
logo corpo esquentava corpo, as
<nossas> faces 140
ficaram mais cálidas do que antes e
docemente sussurrávamos.
Para não me alongar demais, amiga Lua,
o principal foi feito, e alcançamos os
dois o <nosso> anseio.
Até ontem, pelo menos, ele não se queixava
de mim
nem eu dele. Mas visitou-me a mãe de Filista,
145
nossa flautista, e de Melixo,
hoje, quando galopavam no céu os
corcéis[30]
da rósea Aurora levando-a do Oceano,
e disse-me muitas coisas, aliás, que
Délfis estava apaixonado,
e, ainda, que se o desejo era por mulher
ou por homem, 150
ela disse não saber ao certo, só sabia
esse tanto: ele sempre a Eros
estava brindando vinho sem mistura e, no
fim, saía correndo,
dizia que ia cobrir aquela casa com
guirlandas.
Essas coisas minha hóspede me contou, e
são verdadeiras,
pois então Délfis visitava-me três ou
quatro vezes <por dia> 155
e frequentemente até deixava em minha casa
o <seu> frasco dório[31];
mas hoje já é o décimo segundo dia que não
o vejo.
Acaso ele tem outro prazer e se esqueceu
de mim?
Agora, sim, com filtros mágicos vou
amarrá-lo; mas se ele ainda
atormentar, é à porta do Hades, — pelas
Moiras! [32] — que baterá. 160
Tais fármacos vis eu afirmo guardar na
<minha> cesta,
tendo aprendido sobre eles, Senhora, com
um estrangeiro assírio[33].
Mas digo-te adeus! Vira <teus>
potros em direção ao Oceano,
Dona, e, enquanto isso, eu suportarei meu
desejo como já venho suportando.
Adeus, Lua de brilhoso trono, adeus, todas
as outras 165
estrelas, assistentes na carruagem da
Noite imperturbável!
_____________________________
Πᾷ μοι ταὶ δάφναι; φέρε, Θεστυλί. πᾷ δὲ τὰ φίλτρα;
στέψον τὰν κελέβαν φοινικέῳ οἰὸς ἀώτῳ,
ὡς τὸν ἐμὸν βαρὺν εὖντα φίλον καταδήσομαι ἄνδρα,
ὅς μοι δωδεκαταῖος ἀφ’ ὧ τάλας οὐδὲ ποθίκει,
οὐδ’ ἔγνω πότερον τεθνάκαμες ἢ ζοοὶ εἰμές, 5
οὐδὲ θύρας ἄραξεν ἀνάρσιος. ἦ ῥά οἱ ἀλλᾷ
ᾤχετ’ ἔχων ὅ τ’ Ἔρως ταχινὰς φρένας ἅ τ’ Ἀφροδίτα.
βασεῦμαι ποτὶ τὰν Τιμαγήτοιο παλαίστραν
αὔριον, ὥς νιν ἴδω, καὶ μέμψομαι οἷά με ποιεῖ.
νῦν δέ νιν ἐκ θυέων καταδήσομαι. ἀλλά, Σελάνα, 10
φαῖνε καλόν· τὶν γὰρ ποταείσομαι ἅσυχα, δαῖμον,
τᾷ χθονίᾳ θ’ Ἑκάτᾳ, τὰν καὶ σκύλακες τρομέοντι
ἐρχομέναν νεκύων ἀνά τ’ ἠρία καὶ μέλαν αἷμα.
χαῖρ’, Ἑκάτα δασπλῆτι, καὶ ἐς τέλος ἄμμιν ὀπάδει,
φάρμακα ταῦτ’ ἔρδοισα χερείονα μήτε τι Κίρκας 15
μήτε τι Μηδείας μήτε ξανθᾶς Περιμήδας.
Ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
ἄλφιτά τοι πρᾶτον πυρὶ τάκεται. ἀλλ’ ἐπίπασσε,
Θεστυλί. δειλαία, πᾷ τὰς φρένας ἐκπεπότασαι;
ἦ ῥά γέ θην, μυσαρά, καὶ τὶν ἐπίχαρμα τέτυγμαι; 20
πάσσ’ ἅμα καὶ λέγε ταῦτα· ‘τὰ Δέλφιδος ὀστία πάσσω.’
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
Δέλφις ἔμ’ ἀνίασεν· ἐγὼ δ’ ἐπὶ Δέλφιδι δάφναν
αἴθω· χὠς αὕτα λακεῖ μέγα καππυρίσασα
κἠξαπίνας ἅφθη κοὐδὲ σποδὸν εἴδομες αὐτᾶς, 25
οὕτω τοι καὶ Δέλφις ἐνὶ φλογὶ σάρκ’ ἀμαθύνοι.
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα. 27
νῦν θυσῶ τὰ πίτυρα. τὺ δ’, Ἄρτεμι, καὶ τὸν ἐν Ἅιδα 33
κινήσαις ἀδάμαντα καὶ εἴ τί περ ἀσφαλὲς ἄλλο –
Θεστυλί, ταὶ κύνες ἄμμιν ἀνὰ πτόλιν ὠρύονται· 35
ἁ θεὸς ἐν τριόδοισι· τὸ χαλκέον ὡς τάχος ἄχει.
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
ἠνίδε σιγῇ μὲν πόντος, σιγῶντι δ’ ἀῆται·
ἁ δ’ ἐμὰ οὐ σιγῇ στέρνων ἔντοσθεν ἀνία,
ἀλλ’ ἐπὶ τήνῳ πᾶσα καταίθομαι ὅς με τάλαιναν 40
ἀντὶ γυναικὸς ἔθηκε κακὰν καὶ ἀπάρθενον ἦμεν.
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
ὡς τοῦτον τὸν κηρὸν ἐγὼ σὺν δαίμονι τάκω, 28
ὣς τάκοιθ’ ὑπ’ ἔρωτος ὁ Μύνδιος αὐτίκα Δέλφις. 29
χὠς δινεῖθ’ ὅδε ῥόμβος ὁ χάλκεος ἐξ Ἀφροδίτας, 30
ὣς τῆνος δινοῖτο ποθ’ ἁμετέραισι θύραισιν. 31
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα. 32
ἐς τρὶς ἀποσπένδω καὶ τρὶς τάδε, πότνια, φωνῶ· 43
εἴτε γυνὰ τήνῳ παρακέκλιται εἴτε καὶ ἀνήρ,
τόσσον ἔχοι λάθας ὅσσον ποκὰ Θησέα φαντί 45
ἐν Δίᾳ λασθῆμεν ἐυπλοκάμω Ἀριάδνας.
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
ἱππομανὲς φυτόν ἐστι παρ’ Ἀρκάσι, τῷ δ’ ἔπι πᾶσαι
καὶ πῶλοι μαίνονται ἀν’ ὤρεα καὶ θοαὶ ἵπποι·
ὣς καὶ Δέλφιν ἴδοιμι, καὶ ἐς τόδε δῶμα περάσαι 50
μαινομένῳ ἴκελος λιπαρᾶς ἔκτοσθε παλαίστρας.
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
τοῦτ’ ἀπὸ τᾶς χλαίνας τὸ κράσπεδον ὤλεσε Δέλφις,
ὡγὼ νῦν τίλλοισα κατ’ ἀγρίῳ ἐν πυρὶ βάλλω.
αἰαῖ Ἔρως ἀνιαρέ, τί μευ μέλαν ἐκ χροὸς αἷμα 55
ἐμφὺς ὡς λιμνᾶτις ἅπαν ἐκ βδέλλα πέπωκας;
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
σαύραν τοι τρίψασα κακὸν ποτὸν αὔριον οἰσῶ.
Θεστυλί, νῦν δὲ λαβοῖσα τὺ τὰ θρόνα ταῦθ’ ὑπόμαξον
τᾶς τήνω φλιᾶς καθ’ ὑπέρτερον ἇς ἔτι καὶ νύξ, 60
καὶ λέγ’ ἐπιτρύζοισα ‘τὰ Δέλφιδος ὀστία μάσσω.’
ἶυγξ, ἕλκε τὺ τῆνον ἐμὸν ποτὶ δῶμα τὸν ἄνδρα.
Νῦν δὴ μώνα ἐοῖσα πόθεν τὸν ἔρωτα δακρύσω;
ἐκ τίνος ἄρξωμαι; τίς μοι κακὸν ἄγαγε τοῦτο; 65
ἦνθ’ ἁ τωὐβούλοιο καναφόρος ἄμμιν Ἀναξώ
ἄλσος ἐς Ἀρτέμιδος, τᾷ δὴ τόκα πολλὰ μὲν ἄλλα
θηρία πομπεύεσκε περισταδόν, ἐν δὲ λέαινα.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
καί μ’ ἁ Θευμαρίδα Θρᾷσσα τροφός, ἁ μακαρῖτις, 70
ἀγχίθυρος
ναίοισα κατεύξατο καὶ λιτάνευσε
τὰν πομπὰν θάσασθαι· ἐγὼ δέ οἱ ἁ μεγάλοιτος
ὡμάρτευν βύσσοιο καλὸν σύροισα χιτῶνα
κἀμφιστειλαμένα τὰν ξυστίδα τὰν Κλεαρίστας.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα. 75
ἤδη δ’ εὖσα μέσαν κατ’ ἀμαξιτόν, ᾇ τὰ Λύκωνος,
εἶδον Δέλφιν ὁμοῦ τε καὶ Εὐδάμιππον ἰόντας·
τοῖς δ’ ἦς ξανθοτέρα μὲν ἑλιχρύσοιο γενειάς,
στήθεα δὲ στίλβοντα πολὺ πλέον ἢ τύ, Σελάνα,
ὡς ἀπὸ γυμνασίοιο καλὸν πόνον ἄρτι λιπόντων. 80
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
χὠς ἴδον, ὣς ἐμάνην, ὥς μοι πυρὶ θυμὸς ἰάφθη
δειλαίας, τὸ δὲ κάλλος ἐτάκετο. οὐκέτι πομπᾶς
τήνας ἐφρασάμαν, οὐδ’ ὡς πάλιν οἴκαδ’ ἀπῆνθον
ἔγνων, ἀλλά μέ τις καπυρὰ νόσος ἐξεσάλαξεν, 85
κείμαν δ’ ἐν κλιντῆρι δέκ’ ἄματα καὶ δέκα νύκτας.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
καί μευ χρὼς μὲν ὁμοῖος ἐγίνετο πολλάκι θάψῳ,
ἔρρευν δ’ ἐκ κεφαλᾶς πᾶσαι τρίχες, αὐτὰ δὲ λοιπά
ὀστί’ ἔτ’ ἦς καὶ δέρμα. καὶ ἐς τίνος οὐκ ἐπέρασα, 90
ἢ ποίας ἔλιπον γραίας δόμον ἅτις ἐπᾷδεν;
ἀλλ’ ἦς οὐδὲν ἐλαφρόν, ὁ δὲ χρόνος ἄνυτο φεύγων.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
χοὔτω τᾷ δώλᾳ τὸν ἀλαθέα μῦθον ἔλεξα·
’εἰ δ’ ἄγε, Θεστυλί, μοι χαλεπᾶς νόσω εὑρέ τι μᾶχος. 95
πᾶσαν ἔχει με τάλαιναν ὁ Μύνδιος· ἀλλὰ μολοῖσα
τήρησον ποτὶ τὰν Τιμαγήτοιο παλαίστραν·
τηνεὶ γὰρ φοιτῇ, τηνεὶ δέ οἱ ἁδὺ καθῆσθαι.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
κἠπεί κά νιν ἐόντα μάθῃς μόνον, ἅσυχα νεῦσον, 100
κεἴφ’ ὅτι “Σιμαίθα τυ καλεῖ”, καὶ ὑφαγέο τεῖδε.’
ὣς ἐφάμαν· ἃ δ’ ἦνθε καὶ ἄγαγε τὸν λιπαρόχρων
εἰς ἐμὰ δώματα Δέλφιν· ἐγὼ δέ νιν ὡς ἐνόησα
ἄρτι θύρας ὑπὲρ οὐδὸν ἀμειβόμενον ποδὶ κούφῳ –
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα — 105
πᾶσα μὲν ἐψύχθην χιόνος πλέον, ἐκ δὲ μετώπω
ἱδρώς μευ κοχύδεσκεν ἴσον νοτίαισιν ἐέρσαις,
οὐδέ τι φωνῆσαι δυνάμαν, οὐδ’ ὅσσον ἐν ὕπνῳ
κνυζεῦνται φωνεῦντα φίλαν ποτὶ ματέρα τέκνα·
ἀλλ’ ἐπάγην δαγῦδι καλὸν χρόα πάντοθεν ἴσα. 110
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
καί μ’ ἐσιδὼν ὥστοργος ἐπὶ χθονὸς ὄμματα πάξας
ἕζετ’ ἐπὶ κλιντῆρι καὶ ἑζόμενος φάτο μῦθον·
’ἦ ῥά με, Σιμαίθα, τόσον ἔφθασας, ὅσσον ἐγώ θην
πρᾶν ποκα τὸν χαρίεντα τράχων ἔφθασσα Φιλῖνον, 115
ἐς τὸ τεὸν καλέσασα τόδε στέγος ἢ ‘μὲ παρῆμεν.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
ἦνθον γάρ κεν ἐγώ, ναὶ τὸν γλυκὺν ἦνθον Ἔρωτα,
ἢ τρίτος ἠὲ τέταρτος ἐὼν φίλος αὐτίκα νυκτός,
μᾶλα μὲν ἐν κόλποισι Διωνύσοιο φυλάσσων, 120
κρατὶ δ’ ἔχων λεύκαν, Ἡρακλέος ἱερὸν ἔρνος,
πάντοθι πορφυρέαισι περὶ ζώστραισιν ἑλικτάν.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
καί κ’, εἰ μέν μ’ ἐδέχεσθε, τάδ’ ἦς φίλα (καὶ γὰρ ἐλαφρός
καὶ καλὸς πάντεσσι μετ’ ἠιθέοισι καλεῦμαι), 125
εὗδόν τ’, εἴ κε μόνον τὸ καλὸν στόμα τεῦς ἐφίλησα·
εἰ δ’ ἄλλᾳ μ’ ὠθεῖτε καὶ ἁ θύρα εἴχετο μοχλῷ,
πάντως κα πελέκεις καὶ λαμπάδες ἦνθον ἐφ’ ὑμέας.
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα.
νῦν δὲ χάριν μὲν ἔφαν τᾷ Κύπριδι πρᾶτον ὀφείλειν, 130
καὶ μετὰ τὰν Κύπριν τύ με δευτέρα ἐκ πυρὸς εἵλευ,
ὦ γύναι, ἐσκαλέσασα τεὸν ποτὶ τοῦτο μέλαθρον
αὔτως ἡμίφλεκτον· Ἔρως δ’ ἄρα καὶ Λιπαραίω
πολλάκις Ἁφαίστοιο σέλας φλογερώτερον αἴθει·
φράζεό μευ τὸν ἔρωθ’ ὅθεν ἵκετο, πότνα Σελάνα. 135
σὺν δὲ κακαῖς μανίαις καὶ παρθένον ἐκ θαλάμοιο
καὶ νύμφαν ἐφόβησ’ ἔτι δέμνια θερμὰ λιποῖσαν
ἀνέρος.’ ὣς ὃ μὲν εἶπεν· ἐγὼ δέ νιν ἁ ταχυπειθής
χειρὸς ἐφαψαμένα μαλακῶν ἔκλιν’ ἐπὶ λέκτρων·
καὶ ταχὺ χρὼς ἐπὶ χρωτὶ πεπαίνετο, καὶ τὰ πρόσωπα 140
θερμότερ’ ἦς ἢ πρόσθε, καὶ ἐψιθυρίσδομες ἁδύ.
ὡς καί τοι μὴ μακρὰ φίλα θρυλέοιμι Σελάνα,
ἐπράχθη τὰ μέγιστα, καὶ ἐς πόθον ἤνθομες ἄμφω.
κοὔτε τι τῆνος ἐμὶν ἀπεμέμψατο μέσφα τό γ’ ἐχθές,
οὔτ’ ἐγὼ αὖ τήνῳ. ἀλλ’ ἦνθέ μοι ἅ τε Φιλίστας 145
μάτηρ τᾶς ἁμᾶς αὐλητρίδος ἅ τε Μελιξοῦς
σάμερον, ἁνίκα πέρ τε ποτ’ ὠρανὸν ἔτραχον ἵπποι
Ἀῶ τὰν ῥοδόεσσαν ἀπ’ ὠκεανοῖο φέροισαι,
κεἶπέ μοι ἄλλα τε πολλὰ καὶ ὡς ἄρα Δέλφις ἔραται.
κεἴτε νιν αὖτε γυναικὸς ἔχει πόθος εἴτε καὶ ἀνδρός, 150
οὐκ ἔφατ’ ἀτρεκὲς ἴδμεν, ἀτὰρ τόσον· αἰὲν Ἔρωτος
ἀκράτω ἐπεχεῖτο καὶ ἐς τέλος ᾤχετο φεύγων,
καὶ φάτο οἱ στεφάνοισι τὰ δώματα τῆνα πυκαξεῖν.
ταῦτά μοι ἁ ξείνα μυθήσατο, ἔστι δ’ ἀλαθής.
ἦ γάρ μοι καὶ τρὶς καὶ τετράκις ἄλλοκ’ ἐφοίτη, 155
καὶ παρ’ ἐμὶν ἐτίθει τὰν Δωρίδα πολλάκις ὄλπαν·
νῦν δέ τε δωδεκαταῖος ἀφ’ ὧτέ νιν οὐδὲ ποτεῖδον.
ἦ ῥ’ οὐκ ἄλλο τι τερπνὸν ἔχει, ἁμῶν δὲ λέλασται;
νῦν μὰν τοῖς φίλτροις καταδήσομαι· αἰ δ’ ἔτι κά με
λυπῇ, τὰν Ἀίδαο πύλαν, ναὶ Μοίρας, ἀραξεῖ· 160
τοῖά οἱ ἐν κίστᾳ κακὰ φάρμακα φαμὶ φυλάσσειν,
Ἀσσυρίω, δέσποινα, παρὰ ξείνοιο μαθοῖσα.
ἀλλὰ τὺ μὲν χαίροισα ποτ’ ὠκεανὸν τρέπε πώλως,
πότνι’· ἐγὼ δ’ οἰσῶ τὸν ἐμὸν πόθον ὥσπερ ὑπέσταν.
χαῖρε, Σελαναία λιπαρόθρονε, χαίρετε δ’ ἄλλοι 165
ἀστέρες, εὐκάλοιο κατ’ ἄντυγα Νυκτὸς ὀπαδοί.
* A edição do texto grego é de Gow, Theocritus: edited with a translation and a
commentary (Cambridge, Cambridge University Press, 1973 [1 ed.
1950]. Segui, no entanto, algumas indicações outras presentes em seu aparato
crítico, indicadas no texto grego.
[1] As folhas de louro teriam a função de
afastar o mal. Por sua vez, o jarro, preparado para a libação, é envolvido em
lã vermelha como o próprio pré-requisito para enfeitiçar o amado, Délfis.
[2] Ou ginásio (ver v.80). Era um espaço
de prática de esportes. Délfis é um atleta.
[3] Hécate era a deusa das encruzilhadas,
da magia e dos fantasmas. No tempo de Teócrito, já era assimilada à Lua e à
Ártemis.
[4] Cães eram sacrificados a Hécate.
[5] O sangue de vítimas sacrificadas sobre
os túmulos.
[6] Três poderosas feiticeiras gregas.
[7] Aqui começa o encantamento, que é
narrado até o verso 63. A Iynx era
um disco de madeira com dois furos no meio, por onde passava um cordão. O disco
girava ao se afrouxar e tensionar alternadamente esse cordão. Era usado para
atrair um amante.
[8] O nome do amado infiel.
[9] Os portais do mundo dos mortos são
feitos de adamante — metal de excepcional dureza, comparável ao aço e ao
diamante.
[10] Délfis vem da Míndia, uma cidade
costeira da Cária, defronte à ilha de Cós. É possível, portanto, que o cenário
em que se passa a história seja a ilha de Cós.
[11] O rombo, ou bramadeira, é uma peça de
madeira ou metal atada a uma corda, que produz um barulho estrondoso quando girada.
[12] Dia é outro nome para Naxos. Teseu,
depois de vencer o Minotauro com a ajuda de Ariadne, a abandona nessa ilha
durante a sua fuga de Creta para Atenas.
[13] Do grego ”enlouquece-cavalos”.
[14] Os atletas passavam óleo em seus
corpos antes de se exercitar.
[15] Objetos pessoais são lançados ao fogo
para atrair a pessoa amada.
[16] O resultado do encantamento.
[17] Um verso foi interpolado aqui: “estou,
de coração, atada, mas ele não faz caso de mim” (ἐκ θυμῶ δέδεμαι· ὃ δέ μευ λόγον οὐδένα ποιεῖ) para dar sentido ao original, que parece ter sido corrompido.
[18] A partir deste verso, Simeta
explicará como se apaixonou.
[19] Do grego “portadora do cesto”;
meninas que levavam em procissão cestos com oferendas que seriam sacrificadas
aos deuses.
[20] Como deusa dos ermos, Ártemis é
patrona das feras selvagens.
[21] As festividades religiosas eram uma
das raras ocasiões em que mulheres podiam circular livremente pelas ruas.
Clearista empresta um manto a Simeta para a procissão.
[22] Possivelmente uma fazenda à meio do
caminho.
[23] Pequena árvore de flores amareladas.
[24] Filino era um famoso corredor de Cós,
que teria sido cinco vezes vencedor nas Olímpiadas. Délfis está se gabando.
[25] Ou seja, ele viria durante o kômmos, uma típica procissão
festiva e desregrada de jovens que ocorre nas ruas depois do simpósio.
[26] Maçãs eram um presente comum às
namoradas entre os antigos. Elas, aqui, pertencerem a Dioniso, podendo sugerir
que Délfis viria do simpósio, durante o kômmos.
[27] Héracles era o deus patrono dos
atletas.
[28] Outro nome de Afrodite, deusa nascida
em Chipre.
[29] Ilhas à nordeste da Sicília. Lá havia
um vulcão que se pensava ser a forja de Hefesto.
[30] A Aurora, o Sol, a Lua e a Noite são
representados viajando pelo céu em carruagens puxadas por cavalos.
[31] Que ele utilizava para se untar de
óleo na palestra. Dórico talvez se refira ao formato do frasco.
[31] Deusas que personificavam a morte e o
destino.
[32] o sentido de “assírio” é aqui mais
amplo. Talvez se refira aos babilônios, peritos em magia.
Rafael Brunhara, «Teócrito
— Idílio 2 (“a feiticeira”)», in https://rafaelbrunhara.medium.com/te%C3%B3crito-id%C3%ADlio-2-a-feiticeira-5d13d3919a39,
2021-04-29
“As
Feiticeiras de Teócrito”, José Carreiro. Folha de Poesia, 2022-11-06. Disponível
em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/11/as-feiticeiras-de-teocrito.html