Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.
Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo, 1960
Carolina Maria de Jesus por Elena Pajaro Peres.
Poética da diáspora, Pesquisa
Fapesp, maio 2015
A ROSA
Eu sou a flor mais formosa
Disse a rosa
Vaidosa!
Sou a musa do poeta.
Por todos su contemplada
E adorada.
A rainha predileta.
Minhas pétalas aveludadas
São perfumadas
E acariciadas.
Que aroma rescendente:
Para que me serve esta essência,
Se a existência
Não me é concernente...
Quando surgem as rajadas
Sou desfolhada
Espalhada
Minha vida é um segundo.
Transitivo é meu viver
De ser...
A flor rainha do mundo.
Eu sou a flor mais formosa
Disse a rosa
Vaidosa!
Sou a musa do poeta.
Por todos su contemplada
E adorada.
A rainha predileta.
Minhas pétalas aveludadas
São perfumadas
E acariciadas.
Que aroma rescendente:
Para que me serve esta essência,
Se a existência
Não me é concernente...
Quando surgem as rajadas
Sou desfolhada
Espalhada
Minha vida é um segundo.
Transitivo é meu viver
De ser...
A flor rainha do mundo.
Carolina Maria de Jesus, em Antologia pessoal. (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy).
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
DÁ-ME AS ROSAS
No campo em que eu repousar
Solitária e tenebrosa
Eu vos peço para adornar
O meu jazigo com as rosas
As flores são formosas
Aos olhos de um poeta
Dentre todas são as rosas
A minha flor predileta
Se a afeiçoares aos versos inocentes
Que deixo escritos aqui
E quiseres ofertar-me um presente
Dá-me as rosas que pedi.
Agradeço-lhe com fervor
Desde já o meu obrigado
Se me levares esta flor
No dia dos finados.
No campo em que eu repousar
Solitária e tenebrosa
Eu vos peço para adornar
O meu jazigo com as rosas
As flores são formosas
Aos olhos de um poeta
Dentre todas são as rosas
A minha flor predileta
Se a afeiçoares aos versos inocentes
Que deixo escritos aqui
E quiseres ofertar-me um presente
Dá-me as rosas que pedi.
Agradeço-lhe com fervor
Desde já o meu obrigado
Se me levares esta flor
No dia dos finados.
Carolina Maria de Jesus, em Antologia
pessoal. (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy). Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 1996, p.169.
HUMANIDADE
Depôis de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguem pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!
Depôis de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguem pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!
Quando eu morrer...
Não quero renascer
é horrivel, suportar a humanidade
Que tem aparência nobre
Que encobre
As pesimas qualidades
Notei que o ente humano
É perverso, é tirano
Egoista interesseiros
Mas trata com cortêzia
Mas tudo é ipocresia
São rudes, e trapaçêiros
Não quero renascer
é horrivel, suportar a humanidade
Que tem aparência nobre
Que encobre
As pesimas qualidades
Notei que o ente humano
É perverso, é tirano
Egoista interesseiros
Mas trata com cortêzia
Mas tudo é ipocresia
São rudes, e trapaçêiros
Carolina Maria de Jesus, em Meu estranho diário. São Paulo:
Xamã, 1996. (grafia original)
[MUITAS FUGIAM AO ME VER]
Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia
Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia
Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
Carolina Maria de Jesus, em Antologia pessoal. (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy).
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
SONHEI
Sonhei que estava morta
Vi um corpo no caixão
Em vez de flores eram Iivros
Que estavam nas minhas mãos
Sonhei que estava estendida
No cimo de uma mesa
Vi o meu corpo sem vida
Entre quatro velas acesas
Ao lado o padre rezava
Comoveu-me a sua oração
Ao bom Deus ele implorava
Para dar-me a salvação
Suplicava ao Pai Eterno
Para amenizar o meu sofrimento
Não me enviar para o inferno
Que deve ser um tormento
Ele deu-me a extrema-unção
Quanta ternura notei
Quando foi fechar o caixão
Eu sorri... e despertei.
Sonhei que estava morta
Vi um corpo no caixão
Em vez de flores eram Iivros
Que estavam nas minhas mãos
Sonhei que estava estendida
No cimo de uma mesa
Vi o meu corpo sem vida
Entre quatro velas acesas
Ao lado o padre rezava
Comoveu-me a sua oração
Ao bom Deus ele implorava
Para dar-me a salvação
Suplicava ao Pai Eterno
Para amenizar o meu sofrimento
Não me enviar para o inferno
Que deve ser um tormento
Ele deu-me a extrema-unção
Quanta ternura notei
Quando foi fechar o caixão
Eu sorri... e despertei.
Carolina Maria de Jesus, em Antologia pessoal. (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy).
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996, p.174.
QUARTO DE DESPEJO
Quando infiltrei na literatura
Sonhava so com a ventura
Minhalma estava chêia de hianto
Eu nao previa o pranto. Ao publicar o Quarto de Despejo
Concretisava assim o meu desejo.
Que vida. Que alegria.
E agora... Casa de alvenaria.
Outro livro que vae circular
As tristêsas vão duplicar.
Os que pedem para eu auxiliar
A concretisar os teus desejos
Penso: eu devia publicar...
– o ‘Quarto de Despejo’.
No início vêio adimiração
O meu nome circulou a Nação.
Surgiu uma escritora favelada.
Chama: Carolina Maria de Jesus.
E as obras que ela produz
Deixou a humanidade habismada
No início eu fiquei confusa.
Parece que estava oclusa
Num estôjo de marfim.
Eu era solicitada
Era bajulada.
Como um querubim.
Depôis começaram a me invejar.
Dizia: você, deve dar
Os teus bens, para um assilo
Os que assim me falava
Não pensava.
Nos meus filhos.
As damas da alta sociedade.
Dizia: praticae a caridade.
Doando aos pobres agasalhos.
Mas o dinheiro da alta sociedade
Não é destinado a caridade
É para os prados, e os baralhos
E assim, eu fui desiludindo
O meu ideal regridindo
Igual um côrpo envelhecendo.
Fui enrrugando, enrrugando...
Petalas de rosa, murchando, murchando
E... estou morrendo!
Na campa silente e fria
Hei de repousar um dia...
Não levo nenhuma ilusão
Porque a escritora favelada
Foi rosa despetalada.
Quantos espinhos em meu coração.
Dizem que sou ambiciosa
Que não sou caridosa.
Incluiram-me entre os usurários
Porque não critica os industriaes
Que tratam como animaes.
– Os operários...
Quando infiltrei na literatura
Sonhava so com a ventura
Minhalma estava chêia de hianto
Eu nao previa o pranto. Ao publicar o Quarto de Despejo
Concretisava assim o meu desejo.
Que vida. Que alegria.
E agora... Casa de alvenaria.
Outro livro que vae circular
As tristêsas vão duplicar.
Os que pedem para eu auxiliar
A concretisar os teus desejos
Penso: eu devia publicar...
– o ‘Quarto de Despejo’.
No início vêio adimiração
O meu nome circulou a Nação.
Surgiu uma escritora favelada.
Chama: Carolina Maria de Jesus.
E as obras que ela produz
Deixou a humanidade habismada
No início eu fiquei confusa.
Parece que estava oclusa
Num estôjo de marfim.
Eu era solicitada
Era bajulada.
Como um querubim.
Depôis começaram a me invejar.
Dizia: você, deve dar
Os teus bens, para um assilo
Os que assim me falava
Não pensava.
Nos meus filhos.
As damas da alta sociedade.
Dizia: praticae a caridade.
Doando aos pobres agasalhos.
Mas o dinheiro da alta sociedade
Não é destinado a caridade
É para os prados, e os baralhos
E assim, eu fui desiludindo
O meu ideal regridindo
Igual um côrpo envelhecendo.
Fui enrrugando, enrrugando...
Petalas de rosa, murchando, murchando
E... estou morrendo!
Na campa silente e fria
Hei de repousar um dia...
Não levo nenhuma ilusão
Porque a escritora favelada
Foi rosa despetalada.
Quantos espinhos em meu coração.
Dizem que sou ambiciosa
Que não sou caridosa.
Incluiram-me entre os usurários
Porque não critica os industriaes
Que tratam como animaes.
– Os operários...
Carolina Maria de Jesus, em Meu estranho diário. São Paulo: Xamã, 1996, p.
151-153. (grafia original)
Disponível em linha seis obras de Carolina Maria de Jesus, aqui: https://www.dropbox.com/sh/e67jbpvtzxv3azi/AABpolBjwhfawXw8LbXG8Koaa?dl=0
Quem
foi Carolina?
“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A
tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi
que é horrível ter só ar dentro do estômago.”
– Carolina Maria de Jesus, em Quarto de despejo, 1960.
– Carolina Maria de Jesus, em Quarto de despejo, 1960.
A escritora
nasceu em Sacramento MG, 1914 – São Paulo SP. Autora de diários e romance e
também poeta. De família pobre, composta por mais sete irmãos, trabalha desde a
infância.
Sua
escolaridade se resume aos dois anos que frequenta o Colégio Allan Kardec,
provavelmente em 1923 e 1924. Neste ano, muda-se com a família para uma fazenda
em Lageado, Minas Gerais, onde trabalham como lavradores. Retorna a Sacramento,
em 1927, e, por causa das dificuldades econômicas, migra para Franca, São
Paulo, em 1930, passando o primeiro ano na fazenda Santa Cruz e, depois, na
cidade, onde trabalha como ajudante na Santa Casa de Franca, auxiliar de
cozinha e doméstica. Com a morte da mãe em 1937, vai para São Paulo em busca de
melhores condições de vida.
De 1948 a 1961, reside na favela Canindé, sobrevivendo como catadora de
papel e ferro velho. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, numa reportagem
sobre a inauguração de um playground no Canindé, conhece Carolina e se
interessa pelos seus 35 cadernos de anotações em forma de diário, e publica um
artigo na Folha da Noite. Em 1959, trabalhando na revista O Cruzeiro, o
jornalista divulga trechos dos relatos escritos pela autora e, posteriormente,
empenha-se na publicação que reúne esses relatos, Quarto de Despejo: Diário de
uma Favelada, lançado em 1960, com notável sucesso editorial.
Carolina
muda-se para uma casa que consegue comprar no bairro de Santana e mantém o
diário com registros do que lhe acontece ali, depois editados em Casa de
Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada, em 1961. Em 1963, publica Pedaços da
Fome, seu único romance, que tem pouca repercussão.
Em função dos
contínuos desentendimentos com seus editores, bem como das dificuldades
enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe
média, muda-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969, onde
é praticamente esquecida pelo mercado editorial, apesar de algumas tentativas
de voltar à cena literária. Após sua morte, são editadas obras escritas entre
1963 a 1977, das quais a mais significativa é Diário de Bitita, com suas
memórias de infância e juventude, inicialmente lançado na França.”
“Carolina de Jesus: a
precursora da literatura marginal (e não só isso)”, Revista Pazes, 2016-02-14
Carolina Maria de Jesus
Autor Agência Brasil, http://educacao.uol.com.br/biografias/carolina-maria-de-jesus.htm
Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos. A metáfora é forte e só poderia ser construída dessa forma, em primeira pessoa, por alguém que viveu essa condição. Relatos como este foram descobertos no final da década de 1950 nos diários da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Ela é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.
Nascida em Sacramento (MG), Carolina mudou-se para a capital paulista em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do pouco estudo, tendo cursado apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
É um documento sobre o que um sociólogo poderia fazer estudos profundos, interpretar, mas não teria condição de ir ao cerne do problema e ela teve, porque vivia a questão, avalia Audálio Dantas, jornalista que descobriu a escritora em 1958. O encontro ocorreu quando o jornalista estava na comunidade para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé. “Pode-se dizer que essa foi a primeira favela que se aproximou do centro da cidade e isso constituía o fato novo”, relembrou. Ele conta que Carolina vivia procurando alguém para mostrar o seu trabalho.
Uma mulher briguenta que ameaçava os vizinhos com a promessa de registrar as discórdias em um livro. É assim que Audálio recorda Carolina nos primeiros encontros. “Qualquer coisa ela dizia: Estou escrevendo um livro e vou colocar vocês lá. Isso lhe dava autoridade”, relatou. Ao ser convidado por ela para conhecer os cadernos, o jornalista se deparou com descrições de um cotidiano que ele não conseguiria reportar em sua escrita. “Achei que devia parar com a minha pesquisa, porque tinha quem contasse melhor do que eu. Ela tinha uma força, dava pra perceber na leitura de dez linhas, uma força descritiva, um talento incomum”, declarou.
Apesar de os cadernos conterem contos, poesias e romances, Audálio se deteve apenas em um diário, iniciado em 1955. Parte do material foi publicado em 1958, primeiramente, em uma edição do grupo Folha de S.Paulo e, no ano seguinte, na revista “O Cruzeiro”, inclusive com versão em espanhol. “Houve grande repercussão. A ideia do livro coincidiu com o interesse da Editora Francisco Alves”, relatou. O material, editado por Audálio, não precisou de correção. “Selecionei os trechos mais significativos. O texto foi mantido na sintaxe dela, na ortografia dela, tudo original”, apontou.
Entre descrições comuns do cotidiano, como acordar, buscar água, fazer o café, Audálio encontrou narrativas fortes que desvendavam a vida de uma mulher negra da periferia. Ela conta que tinha um lixão perto da favela, onde ela ia catar coisas. Lá, ela soube que um menino, chamado Dinho, tinha encontrado um pedaço de carne estragada, comeu e morreu. Ela conta essa história sem comentário, praticamente. Isso tem uma força extraordinária, exemplificou.
Para Carolina, a vida tinha cores, mas, normalmente, essa não é uma referência positiva. A fome, por exemplo, é amarela. Em um trecho do primeiro livro, a autora discorre sobre o momento em que passa fome. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. Para Audálio, o depoimento ganha ainda mais importância por ser real. Um escritor pode ficcionar isso, mas ela estava sentido, disse.
Audálio relata que Carolina tinha muita confiança no próprio talento e já se considerava uma escritora, mesmo antes da publicação. “Quando o livro saiu, a alegria dela foi muito grande, mas era uma coisa esperada”, relatou. O sucesso da primeira publicação, no entanto, não se repetiu nos outros títulos. Após o sucesso de “Quarto de Despejo”, a Editora Francisco Alves encomendou mais uma obra, a partir dos diários escritos por ela quando já morava no bairro Alto de Santana, região de classe média. Surgiu então o “Casa de Alvenaria” (1961) que, segundo o jornalista Audálio Dantas, responsável pela edição do material, vendeu apenas 10 mil exemplares.
Audálio lembra que Carolina se considerava uma artista e tinha pretensões de enveredar por diferentes ramos artísticos. Um deles foi a música. Em 1961, ela lançou um disco com o mesmo título de seu primeiro livro. A escritora interpreta 12 canções de sua autoria, entre elas, O Pobre e o Rico”. Rico faz guerra, pobre não sabe por que. Pobre vai na guerra, tem que morrer. Pobre só pensa no arroz e no feijão. Pobre não envolve nos negócios da nação, diz um trecho da canção.
Para o jornalista, a escritora foi consumida como um produto que despertava curiosidade, especialmente da classe média. Costumo dizer que ela foi um objeto de consumo. Uma negra, favelada, semianalfabeta e que muita gente achava que era impossível que alguém daquela condição escrevesse aquele livro, avaliou. Essa desconfiança, segundo Audálio, fez com que muitos críticos considerassem a obra uma fraude, cujo texto teria sido escrito por ele. A discussão era que ela não era capaz ou, se escreveu, aquilo não era literatura, recordou.
Carolina de Jesus publicou ainda o romance Pedaços de Fome e o livro “Provérbios”, ambos em 1963. De acordo com Audálio, todos esses títulos foram custeados por ela e não tiveram vendas significativas. Após a morte da escritora, em 1977, foram publicados o Diário de Bitita, com recordações da infância e da juventude; Um Brasil para Brasileiros (1982); Meu Estranho Diário; e Antologia Pessoal (1996).
Poética de resíduos
Pesquisas vão além dos aspectos testemunhais da obra de Carolina
Maria de Jesus e buscam definir seu estilo e seus parentescos culturais
“Escritora, lavradora, catadora de papel, compositora, sambista, poetisa, dramaturga, cantora, atriz circense, raizeira [quem usa raízes em tratamento médico]”, assim a descreve a historiadora Elena Pajaro Peres em sua tese de doutorado Exuberância e invisibilidade. Populações moventes e cultura em São Paulo, 1942 ao início dos anos 70, defendida em 2007 no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Elena desenvolve agora no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP pesquisa de pós-doutorado sobre a diáspora africana nos manuscritos de Carolina.
A presença de Carolina (1914-1977) em círculos acadêmicos no Brasil e no exterior contrasta com o quase total desconhecimento de seu nome pelo público leitor. A sua época, entretanto, Quarto de despejo foi um fenômeno de vendas. A primeira tiragem, de 10 mil exemplares, se esgotou em três dias, outros 90 mil foram vendidos em seis meses. No exterior, ganhou tradução em 14 idiomas. A publicação do livro aconteceu depois de uma reportagem do jornalista Audálio Dantas na favela do Canindé, uma das primeiras de São Paulo. Um encontro casual com Carolina o levou a conhecer os escritos – contidos em cerca de 20 cadernos – que selecionou e editou, alterando a pontuação, mas mantendo a ortografia e a gramática originais. Carolina, que estudou apenas até o 2º ano do então chamado curso primário em sua cidade natal, Sacramento, em Minas Gerais, sempre havia confiado no potencial de publicação do que escrevia. Trechos de seus cadernos já tinham saído em reportagens de jornais, entre elas a de Audálio Dantas, publicada em 1958 na Folha da Noite. Dois anos depois sairia Quarto de despejo, já com expectativa de público.
Carolina publicaria ainda três livros em vida, com repercussão incomparavelmente menor do que a obra que a celebrizou, e deixou guardados “mais de 5 mil páginas manuscritas, totalizando 58 cadernos que contêm sete romances, mais de 60 textos com características de crônicas, fábulas, autobiografia e contos, mais de 100 poemas, quatro peças de teatro e 12 marchinhas de Carnaval”, segundo levantamento feito pela doutoranda Raffaella Fernandez, que atualmente trabalha na pesquisa Narrativas de Carolina Maria de Jesus: Processo de criação de uma poética de resíduos, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Todo esse material se encontra espalhado, e novos manuscritos podem aparecer. “Sempre que se trabalha com pessoas em movimento, tem-se que lidar com a dispersão dos documentos”, diz Elena. “Carolina entregou muitos escritos a outras pessoas, na esperança de publicá-los, e, em suas constantes mudanças, foi obrigada a deixar para trás alguns livros que colecionava com carinho.” Mesmo suas obras publicadas são difíceis de encontrar. Elena Peres pôde consultar os microfilmes de seus manuscritos na Biblioteca do Congresso em Washington, que guarda também uma cópia de todos os livros de Carolina, inclusive o romance Pedaços da fome, de 1963, e seu único disco, gravado pela RCA Victor. Os mesmos microfilmes também estão disponíveis na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas no catálogo da BN não constam todos os seus livros.
Foi nos livros Provérbios e Diário de Bitita – memórias de infância da escritora, publicadas inicialmente na França, em 1982, e quatro anos depois no Brasil – que a pesquisadora tem encontrado os principais vínculos entre Carolina e a cultura da diáspora africana no continente americano. “Consegue-se perceber conexões com tradições africanas que davam muita importância à palavra escrita”, diz Elena. A historiadora identifica em particular um elo com a cultura de Cabinda, hoje província de Angola, que liga a escritora à África Central. Seu avô, a quem ouvia com devoção quando criança, era ex-escravo e seus pais vinham dessa região de cultura banto, onde o exercício da formação moral e da busca do caminho reto era feito por meio de diálogos e provérbios, muitas vezes pictografados em tecidos e cerâmicas.
Elena, que esteve por 12 meses em estágio de pós-doutorado no African American Studies da Boston University e que vem dialogando com africanistas e estudiosos das diásporas africanas, relaciona essa preocupação quanto à firmeza de caráter com a tradição musical afro-norte-americana do spirituals. “Como os provérbios, os spiritualscomunicam o caminho a ser seguido e lamentam os seus desvios, recriando uma ética religiosa e política que foi constantemente retomada nos discursos em prol dos direitos civis, especialmente nas décadas de 1950 e 1960”, explica Elena. O avô de Carolina era cristão e comandava a reza do terço em Sacramento, o que lhe conferia autoridade moral e proeminência na comunidade.
Quando foram lançados Quarto de despejo, Casa de alvenaria (memórias de sua vida depois do sucesso do primeiro livro) ou Antologia pessoal (reunião de poemas organizada pelo historiador José Carlos Bom Meihy, publicada em 1996), costumava-se criticar a escritora por não refletir sobre sua condição de mulher e negra. No entanto, textos sobre esses assuntos encontram-se espalhados pelos inéditos e mesmo em passagens publicadas que não foram suficientemente levadas em conta na época. A doutoranda Raffaella destaca poemas e outras passagens dos escritos de Carolina que formam um conjunto ambíguo sobre essas questões – ora a autora incorpora preconceitos, ora reivindica a emancipação de negros e mulheres. Na vida, a escritora sempre se manteve tão independente quanto pôde. Preferiu ser catadora de papel a empregada doméstica e nunca quis se casar – teve três filhos de pais diferentes.
Para Elena, a noção de pertencimento à cultura negra se alimentou também do abolicionismo dos poetas românticos brasileiros e das ideias de intelectuais como Rui Barbosa e José do Patrocínio, aos quais Carolina teve acesso por influência de um oficial de Justiça mulato de Sacramento, que lia trechos de jornais para os negros da cidade que não sabiam ler. Nos exíguos dois anos em que estudou numa escola espírita, Carolina tomou gosto pela leitura, e o primeiro livro que leu inteiro, emprestado por uma vizinha, foi A escrava Isaura, do romântico Bernardo Guimarães. Dali para frente, continuou lendo tudo o que lhe caía nas mãos, entre livros achados ou recebidos em doação, o que formou um repertório de referência muito particular. “Os escritos de Carolina têm trechos poéticos de um grande refinamento e que não correspondem exatamente à literatura do período em que foram produzidos”, diz Elena.
Quando se mudou para São Paulo, em 1937, sozinha, deixando para trás família e livros, Carolina passou a escrever furiosamente. Pelos relatos que deixou, sabe-se que sua cabeça era inundada por “pensamentos poéticos”. Uma de suas anotações diz: “Sentia ideias que eu desconhecia”. Para Elena, esse despertar inesperado dá continuidade a uma espécie de missão de procura da sabedoria incutida por seu avô e impregnada de uma cultura ancestral. “Talvez ela não houvesse vindo para São Paulo se não sentisse essa necessidade”, diz a pesquisadora. “Na cidade grande, Carolina se isolou e encontrou a literatura.” Com isso, conjugou uma voz própria com a vivência que trazia do entorno. De acordo com Elena, a expressão “quarto de despejo”, numa metáfora da escritora, refere-se à favela como um lugar em que a sociedade “guarda” o que não quer mostrar na sala de visitas.
O livro de estreia da autora foi recebido como um relato testemunhal da vida na favela e, segundo Elena, no exterior continua residindo aí o interesse principal despertado pela escritora. O impacto e o incômodo imediatos causados pelo livro foi tanto que logo a prefeitura de São Paulo, na gestão do prefeito Prestes Maia (1961-65), começou uma campanha bem-sucedida de derrubada da favela do Canindé, o que resultou na remoção forçada dos moradores. Essa ação da prefeitura incentivou um grupo de estudantes a criar o Movimento Universitário do Desfavelamento (MUD), que, com a ajuda de grandes empresas, atuou na remoção de outras favelas.
A doutoranda Raffaella defende um deslocamento de abordagem que se detenha nos aspectos propriamente literários da obra de Carolina – um terreno em que mesmo o aspecto informativo dos escritos pode ser relativizado. “O universo ficcional está sempre muito presente”, diz, por sua vez, Elena Peres. “Há memória na ficção e ficção no testemunho, como também ocorre em outros autores.” A pesquisadora defende também a superação dos limites da literatura “de periferia, marginal” a que Carolina é frequentemente circunscrita. “Isso é importante, mas ficaríamos apenas com a visão do lugar e da época em que viveu após deixar sua família”, diz, ao se referir às redes transnacionais que vem traçando a partir da obra da autora.
“Como escritora, Carolina está além das determinações imediatas”, ressalta Raffaella, que organizou e promoveu a publicação do livro Onde estaes felicidade?, com dois contos inéditos da autora, em 2014 (disponível em www.letraria.net), e agora prepara a edição de um livro infantil e outro infantojuvenil. Em seu trabalho acadêmico, ela define a produção de Carolina como uma “poética de resíduos”, na qual se misturam discursos e gêneros literários e não literários, dos poemas românticos aos textos jornalísticos, das letras de sambas à radionovela e da norma culta à oralidade, à qual se incorpora um sotaque mineiro. Esse grande amálgama leva Raffaella a aproximar a atividade de catadora de papel à de escritora. “A literatura de Carolina também sobrevive de uma catação de discursos”, conclui.
Projeto
Escrita proibida. Expressão romântica e diáspora africana nos manuscritos de Carolina Maria de Jesus (nº 2012/10784-6); Modalidade Bolsa no Brasil – Pós-doutorado;Pesquisadora responsável Elena Pajaro Peres (IEB-USP); Investimento R$ 164.743,02.
Carolina Maria de Jesus - foto: Arquivo Audálio Dantas |
Carolina Maria de Jesus -
a voz dos que não têm a palavra
Templo Cultural Delfos, Elfi Kürten Fenske - Ano VI, 2016. http://www.elfikurten.com.br/2014/05/carolina-maria-de-jesus.html
"O livro... me fascina. Eu fui criada no mundo.
Sem orientação materna. Mas os livros guiou os meus
pensamentos. Evitando os abismos que encontramos na vida. Bendita as
horas que passei lendo. Cheguei a conclusão que é o pobre quem deve
ler.
Porque o livro, é a bussola que ha de orientar o homem no porvir (...)"
Porque o livro, é a bussola que ha de orientar o homem no porvir (...)"
- Carolina Maria de Jesus, em Meu estranho diário. São Paulo: Xamã, 1996, p. 167.
Carolina Maria de Jesus (Sacramento MG, ca.1914 - São Paulo SP, 13 de fevereiro de 1977). Autora de diários e romance e também poeta. De família pobre, composta por mais sete irmãos, trabalha desde a infância. Sua escolaridade se resume aos dois anos que frequenta o Colégio Allan Kardec, provavelmente em 1923 e 1924. Neste ano, muda-se com a família para uma fazenda em Lageado, Minas Gerais, onde trabalham como lavradores. Retorna a Sacramento, em 1927, e, por causa das dificuldades econômicas, migra para Franca, São Paulo, em 1930, passando o primeiro ano na fazenda Santa Cruz e, depois, na cidade, onde trabalha como ajudante na Santa Casa de Franca, auxiliar de cozinha e doméstica. Com a morte da mãe em 1937, vai para São Paulo em busca de melhores condições de vida. De 1948 a 1961, reside na favela Canindé, sobrevivendo como catadora de papel e ferro velho. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, numa reportagem sobre a inauguração de um playground no Canindé, conhece Carolina e se interessa pelos seus 35 cadernos de anotações em forma de diário, e publica um artigo na Folha da Noite. Em 1959, trabalhando na revista O Cruzeiro, o jornalista divulga trechos dos relatos escritos pela autora e, posteriormente, empenha-se na publicação que reúne esses relatos, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, lançado em 1960, com notável sucesso editorial. Carolina muda-se para uma casa que consegue comprar no bairro de Santana e mantém o diário com registros do que lhe acontece ali, depois editados em Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada, em 1961. Em 1963, publica Pedaços da Fome, seu único romance, que tem pouca repercussão. Em função dos contínuos desentendimentos com seus editores, bem como das dificuldades enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe média, muda-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969, onde é praticamente esquecida pelo mercado editorial, apesar de algumas tentativas de voltar à cena literária. Após sua morte, são editadas obras escritas entre 1963 a 1977, das quais a mais significativa é Diário de Bitita, com suas memórias de infância e juventude, inicialmente lançado na França.
Carolina Maria de Jesus - foto: (...) |
Comentário Crítico
Em Quarto de Despejo, a mulher negra e favelada, com pouca escolaridade, registra o cotidiano de pobreza que rege seus dias, bem como a humilhação social e moral a que estão sujeitos os habitantes da favela do Canindé. As anotações de Quarto de Despejo, embora com descontinuidades cronológicas, não apresentam quebras na estrutura narrativa: cada dia é igual a todos os outros, e o que conduz o fluxo da vida é a fome e a luta contra ela. Nelas se pode constatar que o trabalho, precário, não traz mais do que a condição mínima da sobrevida e a reprodução da pobreza.
Nos apontamentos de seu dia-a-dia, Carolina Maria de Jesus oscila entre desânimo e alegria, sentimentos norteados pela carência de condições materiais para manter-se e a seus filhos em situação digna. Ao tratar dos outros moradores da favela, Carolina Maria de Jesus busca diferenciar-se e deixa documentada, em tom de denúncia ou de moralização, a perda da honra daqueles que, excluídos, estão no "quarto de despejo" da cidade. Escrever sobre a favela não é apenas uma forma de tentar dar sentido à própria vida, mas também de revelar a miserabilidade implicada na modernização dos anos 1950.
Carolina Maria de Jesus - foto: Arquivo Jornal Ultima Hora (29.07.1959) |
O relato do cotidiano da favela é direto e cru, sem que se temam os temas-tabus, como a ocorrência de incestos e de relações promíscuas, bem como o horror que a fome pode produzir. Estilisticamente, os recursos da repetição e das frases feitas indicam, no plano do sentido, o fechamento e a imobilidade do mundo social ali representado; a cada entrada no diário, a autora anota o horário em que acorda, os gastos que terá se quiser se alimentar e vestir os filhos e o que poderá, ou não, acumular em dinheiro, o qual tem valor concreto e imediato, quase como um objeto. Os momentos de lirismo aparecem em anotações sobre a natureza, que surge como contraponto ao estado da miserabilidade a que são confinados os pobres.
Fugindo aos cânones do que se considera "literatura" em meios acadêmicos, Quarto de Despejo é mais do que um simples depoimento; trata-se de uma obra em que, a despeito das condições materiais e culturais de sua autora, constrói-se uma forte e única representação da dinâmica social urbana, vista pelo ângulo dos que são lançados à margem. Carolina Maria de Jesus escreve para denunciar a favela e para sair dela; escreve também para, diferenciando-se dos outros moradores, lutar contra o rebaixamento a que estão sujeitos os miseráveis, num momento em que se anuncia novo salto modernizador de São Paulo e do Brasil.
Carolina Maria de Jesus - foto: (...) |
Em Casa de Alvenaria, notam-se mais explicitamente as contradições da autora quanto ao que deseja para si mesma e para sua família. Também ficam patentes suas hesitações com relação aos anseios por reconhecimento público ou ao repúdio pelos mecanismos sociais que dificultam o trajeto profissional como escritora. Essa conjunção, por vezes discrepante, ajuda a entender as razões pelas quais essa obra é considerada pouco significativa e muito voltada para o trajeto instável de um indivíduo. Confinada à forma do diário, Carolina Maria de Jesus parece se sentir compelida a repetir uma fórmula, cujo efeito não tem a força de revelação de Quarto de Despejo. A figura da ex-favelada não desperta interesse, porque ela e sua obra são objeto de atenção apenas enquanto revelam a face negativa do desenvolvimentismo; já as oscilações ideológicas da mulher que, famosa, busca a atenção da imprensa e do público não trazem à época elementos que se julguem significativos.
Diário de Bitita, publicado após a morte da autora, resgata a força literária da produção de Carolina Maria de Jesus. Trata-se de memórias da infância e da adolescência, em Sacramento e nas fazendas onde trabalha como colona, bem como de seus primeiros tempos em Franca. Nesta obra, os temas da injustiça social, da opressão, do preconceito contra os negros, dos abusos dos poderosos são apresentados a partir da perspectiva daquela que os viveu. Apesar de suas condições materiais, Carolina Maria de Jesus lutou para conquistar dignidade e para se constituir como alguém que resiste à exploração e à desumanização. A obra testemunha a história dessa luta e da opressão a que estão confinados os pobres no Brasil das primeiras cinco décadas do século XX.
:: Fonte: Enciclopédia de Literatura/Itáu Cultural
"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago."
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960.
CRONOLOGIA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Carolina Maria de Jesus, ilustração de Pedro Sobrinho |
ca. 1914 - Nascimento de Carolina Maria de Jesus, em Sacramento, Minas Gerais;
ca. 1923 - Matrícula de Carolina Maria de Jesus no Colégio Alan Kardec, em Sacramento;
ca. 1924/1927 - A família e Carolina vivem como lavradores em fazenda em Lageado, Minas Gerais;
1927 - Carolina Maria de Jesus e família retornam para Sacramento, Minas Gerais;
1930 - Muda-se, com a família, para Franca, São Paulo, onde trabalha como lavradora em uma fazenda e depois, na cidade, como empregada doméstica;
1937 - Morre a mãe de Carolina Maria de Jesus que, então, em 31 de janeiro, vai para São Paulo, onde trabalha como faxineira de hotel e empregada doméstica;
1941 - 24 de fevereiro - Publicação da foto de Carolina Maria de Jesus em Folha da Manhã, ao lado do jornalista Willy Aureli;
1941 - Publicação de poema de Carolina Maria de Jesus em louvor a Getúlio Vargas no jornal Folha da Manhã;
1948 - Muda para a favela do Canindé;
1948 - Nascimento do primeiro filho, João, depois do relacionamento com um marinheiro português, que a abandona;
1950 - Nascimento do segundo filho, José Carlos, após relacionamento com um espanhol;
1953 - Nascimento do terceiro filho, Vera Eunice, após relacionamento com um dono de fábrica e comerciante;
1955 - Em 15 de julho, inicia os registros, em diário, sobre a vida na favela;
1958 - Primeiro contato do jornalista Audálio Dantas com Carolina Maria de Jesus, devido à reportagem para Folha da Noite sobre o playground instalado na favela do Canindé;
1959 - A revista O Cruzeiro, onde Audálio Dantas passara a trabalhar, publica trechos dos diários;
1960 - Publicação de Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada, em edição de Audálio Dantas, com tiragem inicial de dez mil exemplares.Na noite de autógrafos, foram vendidos 600 exemplares; no primeiro ano, com várias reedições, mais de cem mil exemplares;
1960 - Sai da favela do Canindé e muda-se inicialmente para os fundos da casa de um amigo, em Osasco. Pouco depois, instala-se na casa que comprara, no Alto de Santana;
1960 - Homenageada pela Academia Paulista de Letras e pela Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo;
1961 - Viaja à Argentina (onde é agraciada com a "Orden Caballero Del Tornillo"), ao Uruguai e ao Chile. Viaja também para várias regiões do Brasil. Na Feira do Livro do Rio de Janeiro desentende-se com Jorge Amado;
1961 - Publicação de Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada, com apresentação de Audálio Dantas. Pouca repercussão da obra, que não agradou nem ao público comum, nem aos setores intelectualizados;
1963 - Pedaços da Fome, romance, é publicado, com apresentação de Eduardo de Oliveira, tendo sido recebido com indiferença pela imprensa;
1964 - Jornal publica foto em que se registra a autora nas ruas, catando papéis;
1965 - Provérbios é publicado, com edição da autora, e sem nenhuma repercussão;
1969 - Muda-se, com os filhos, para o sítio em Parelheiros, bairro na periferia de São Paulo;
1972 - Anuncia que escreve O Brasil para os Brasileiros, o que é ridicularizado pela imprensa. Posteriormente, parte desse material é editada como Diário de Bitita;
1975 - Produção, na Alemanha, de O Despertar de um Sonho (sobre a vida de Carolina Maria de Jesus), com direção de Gerson Tavares, cuja exibição é proibida no Brasil;
1976 - Relançamento, no Brasil, de Quarto de Despejo, pela Ediouro;
1977 - 13 de fevereiro - morte de Carolina Maria de Jesus;
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Carolina Maria de Jesus, ilustração de Pedro Sobrinho |
1977 - A Scappelli Film Company propõe a realização de um filme a partir de Quarto de Despejo, cuja realização, porém, não se efetiva, apesar de ter havido pagamento parcial de direitos autorais;
1991 - Karen Brown faz roteiro Passion Flower: The Story of Carolina Maria de Jesus para um documentário sobre Carolilina Maria de Jesus, Los Angeles;
2004 - Em comemoração ao Ano Nacional da Mulher, por iniciativa do Senado, a Coordenação da Mulher da Cidade de São Paulo lança o Calendário "Mulheres que estão no mapa", com homenagem a Carolina Maria de Jesus exposta no mês de novembro;
2004 - Inauguração da Rua Carolina Maria de Jesus, no bairro de Sapopemba;
2005 - É inaugurada a Biblioteca Carolina Maria de Jesus, com acervo inicial de 2000 livros sobre a formação da identidade nacional com a perspectiva da participação do negro, no Museu Afro Brasil/Parque do Ibirapuera.
"Fui ver o livro. E pela primeira vêz entrei no barraco número 9 da Rua A, favela do Canindé. E vi os cadernos do guarda-comida escuro de fumaça. Narrativa diária da vida de Carolina e da vida da comunidade-favela. Coisa bem contada, assim como aparece agora em letra de fôrma, sem tirar nem pôr. Eu vi eu senti. Ninguém podia melhor do que a negra Carolina escrever histórias tão negras. Nem escritor transfigurador poderia arrancar tanta beleza triste daquela miséria tôda. Nem repórter de exatidão poderia retratar tudo aquilo no sêco escrever. Foi por isso que eu disse assim para Carolina Maria de Jesus, lá mesmo, na horinha que lia trechos de seu diário:
___ Eu prometo que tudo isto que você escreveu sairá num livro."
___ Eu prometo que tudo isto que você escreveu sairá num livro."
- Audálio Dantas, em “Nossa irmã Carolina. Apresentação do livro "Quarto de despejo", São Paulo: Francisco Alves, 1960.
OBRA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Carolina Maria de Jesus - foto: Arquivo Ultima Hora (17.06.1960). |
Memórias e diários
:: Quarto de despejo. Diário de uma favelada. São Paulo: Livraria Francisco Alves (Editora Paulo de Azevedo Ltda), 1960, 182p.
:: Casa de Alvenaria. Diário de uma ex-favelada. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves (Editora Paulo de Azevedo Ltda), 1961, 183p.
:: Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, 203p. [Publicado primeiro na França, sob o título: Journal de Bitita. (Tradução Régine Valbert). Paris: A. M. Métailié, 1982].
:: Meu estranho diário. (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine). São Paulo: Xamã, 1996, 314p.:: Casa de Alvenaria. Diário de uma ex-favelada. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves (Editora Paulo de Azevedo Ltda), 1961, 183p.
:: Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, 203p. [Publicado primeiro na França, sob o título: Journal de Bitita. (Tradução Régine Valbert). Paris: A. M. Métailié, 1982].
Romance
:: Pedaços da fome. [apresentação Eduardo de Oliveira]. São Paulo: Editora Áquila, 1963, 217p.
Aforismos
:: Provérbios. São Paulo: Luzes - Gráfica Editôra Ltda, 1965, 61p.
Poesia
:: Antologia Pessoal.(Organização José Carlos Sebe Bom Meihy). Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996, 235p.
Outros textos
:: As crianças da favela. Revista do Magistério. São Paulo, n. 24: 8, dez. 1960, p. 18-
19.
19.
:: Sócrates africano. (conto). in: São Paulo: Revista Escrita (editada Wladyr Náder), nº 11, 1976, p 5 -6.; e in: MEIHY, José Carlos Sebe Bom; LEVINE, Robert M. Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994, p.190-196.
:: Minha vida. In: MEIHY, José Carlos Sebe Bom; LEVINE, Robert M. Cinderela negra: a
saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994, p. 172-189.
:: Diario de viaje: Argentina, Uruguai, Chile. [Apêndice]. In: JESUS, Carolina Maria de. Casa de ladrillos. Buenos Aires: Editorial Abraxas, 1963, p. 128-191.
:: Onde estais felicidade?.Movimento, 21 fev. 1977.
:: Diario de viaje: Argentina, Uruguai, Chile. [Apêndice]. In: JESUS, Carolina Maria de. Casa de ladrillos. Buenos Aires: Editorial Abraxas, 1963, p. 128-191.
:: Onde estais felicidade?.Movimento, 21 fev. 1977.
Inéditos *
:: Obrigado Senhor vigário (peça de teatro). mimeo, s/d.
:: O escravo (romance).
Antologias
:: Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. (Organização de Eduardo de Assis Duarte).. [vol. 1, Precursores]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
Antologias
:: Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. (Organização de Eduardo de Assis Duarte).. [vol. 1, Precursores]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
Composições/Música
:: LP Quarto de despejo – Carolina Maria de Jesus, cantando suas canções. Conheça as canções acessandoAqui!
Contracapa do LP Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus, cantando suas composições |
"Se tem pão, come e dá aos filhos. Se não tem, elas choram, e ela chora também. O pranto é breve, porque ela sabe que ninguém ouve, não adianta nada.”
- Audálio Dantas
TRADUÇÕES E EDIÇÕES ESTRANGEIRAS
Alemão
"Tagebuch der Armut...". Hamburg: Chrstian Wegner Verlag, 1963. |
Tagebuch der Armut. Aufzeichnungen einer brasilianischen Negerin. [Quarto de Despejo]. Tradução Johannes Gerold. Hamburg: Chrstian Wegner Verlag, 1963.
Das Haus aus Stein. Die Ziet nach dem Tagebuch der Armut. [Casa de Alvenaria]. Tradução Johannes Gerold. Hamburg: Chrintian Wegner Verlag: 1964.
Tagebuch der Armut: Aufzeichnungen einer brasilianischen Negerin. 2ª ed., Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. Leipzig: Philipp Reclam, 1979.
Catalão
Els mals endreços: Diari d´una dona de les barraques. Tradução Francesc Vallverdú. Barcelona: Fontanella, 1963.
Dinamarquesa
Lossepladsen. [Quarto de despejo]. Copenhague: Fremad, 1961.
Espanhol
La Favela: Casa de Desahogo. [Quarto de Despejo] Prólogo de Mario Trejo. Havana: Casa de las Américas, 1965.
Quarto de Despejo. Diario de una mujer que tenía hambre. Buenos Aires: Editorial Abraxas, 1962.
Casa de Ladrillos. [Casa de Alvenaria] Buenos Aires: Editorial Abraxas, 1963.
Las Moradas. Libro de su Vida. Schoenhofs Foreign Books. 1991.
Francês
Le Dépotoir. Tradução Violante Do Canto. Paris: Stock, 1962.
Ma Vraie Maison. Tradução Violante do Canto. Prefácio de Alberto Moravia. Paris: Stock, 1964.
Journal de Bitita. Tradução Régine Valbert. Paris: Editions A. M. Metailié, 1982.
Lossepladsen [Quarto de despejo]. Copenhague: Fremad, 1961. |
Holandesa
Barak nr 9- dagboek van een braziliaanse negerin. [Quarto de despejo]. Arnhem: Van Loghum Slaterus, 1961.
Húngara
Aki átment a szivárvány alatt- Egy barakklakó naplója. [Quarto de despejo]. Budapeste: Kossuth, 1964 (Hungria)
Inglês
Child of the Dark. Tradução David St. Clair. Nova Iorque: Dutton, 1962.
Beyond the Pity. My life in the slums of São Paulo. Tradução David St. Clair. London: Panther, 1970.
Bitita´ Diary: The childhood memoirs of Carolina Maria de Jesus.Tradução Emanuelle Oliveira e Beth Jan Vinkler. Nova Iorque: Armonk/M. E. Sharpe, 1998.
I´m Going to Have a Little House: The second diary of Carolina Maria de Jesus. Tradução Melvin S. Arrington Jr e Robert M. Levine. Lincoln: Universidade de Nebraska Press, c. 1997.
The Inedit Diaries of Carolina Maria de Jesus. Tradução Nancy P. S. Naro e Cristina Mehrtens. New Brunswick: Rutger University Press, c.1999.
Iraniano
Farzande tariki [a partir da edição de Child of the Dark]. Tradução Simin Dakht Tcheharegasha. Teerã: S. N., 1999.
Italiano
Quarto de despejo. (prefácio do escritor Alberto Moravia). Milão: Valentino Bompiani, 1962.
Quarto de despejo. Milão: Valentino Bompiani, 1962. |
Japonesa
Karorina no nikki. [Quarto de despejo]. Tóquio: Kawade, 1962.
Polonesa
Życie na Śmietniku. [Quarto de despejo]. Varsóvia: Czytelnik, 1963.
Romeno
São Paulo, Strada A, nr.9. [Quarto de despejo]. Bucareste: Editura Pentru Literatură Universală, 1962.
Tcheco
Smetiště: Deník ženy z favely. [Quarto de despejo]. Praga: Nakladatelství Politické Literatury, 1962.
Turca
Çöplük. [Quarto de despejo]. Istambul: Armoni, 2002.
- Carolina Maria de Jesus, em "
“Inteligentíssima", Carolina de Jesus “tinha essa mistura de raiva e ternura que leva à vã tentativa de cuspir o que bloqueia a garganta e ameaça matar por asfixia, se não for dito.”
- Otto Lara Rezende, em "Luzes no quarto de despejo", jornal O Globo, 15 de fevereiro de 1977.
"Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade."
- Carolina Maria de Jesus
DOCUMENTÁRIO
Direção: Christa Gottman-Elter
Gênero: Documentário
Formato: 35 mm
Formato: 35 mm
País: Alemanha
Ano: 1971
Duração: 16 min.
Obs. restaurado e legendado
* fonte: IMS
* fonte: IMS
Filme: O despertar de um sonho
Gênero: Documentário
Formato: 35 mm
Formato: 35 mm
País: Alemanha
Ano: 1975
Direção: Gerson Tavares
Produção: TV alemã
* Obs.: Inédito no Brasil
Produção: TV alemã
* Obs.: Inédito no Brasil
Filme: Carolina
Sinopse: Brasil. Final dos anos 50. Carolina de Jesus escreve seu diário. Dentro de seu barraco ela denuncia a fome, o preconceito e a miséria. Publicada, torna-se um sucesso editorial, sendo editada em 13 línguas. Apesar do reconhecimento imediato e explosivo, a “exótica” mulher negra e ex-favelada falece pobre. Passadas algumas décadas, as palavras de Carolina continuam a ser uma denúncia contra a miséria em que se encontram milhões de pessoas.
Gênero: Documentário - formato: 35 mm
País: Brasil
Ano: 2003
Duração: 14 min.
Direção e edição: Jeferson De
Roteiro: Jeferson De e Felipe Berlim
Direção de fotografia: Carlos Ebert, ABC
Elenco: Zezé Motta e Gabrielly de Abreu
Produção executiva: João Marcello Bôscoli, André Szajman e Cláudio Szjaman
Produzido por: Renata Moura
Consultora do projeto: Carla Esmeralda
Trilha sonora: Max de Castro
Direção de arte: Kelly Castilho
Figurino: Clarissa Steed
Som direto: Gabriela Cunha
Arte: Rita Figueiredo
Cartaz e logo arte: Elisa Cardoso
Coordenação: Núcleo de Moda e Imagem da Trama
Still: Jeyne Stakflett
"Ao transformar a experiência real da miséria na experiência lingüística do diário, [a autora] acaba por se distinguir de si mesma e por apresentar a escritura como uma forma de experimentação social nova."
- Carlos Vogt, em " Trabalho, pobreza e trabalho intelectual". Carolina Maria de Jesus. In: SCHWARZ, Roberto (Org.). Os Pobres na Literatura Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983.
Televisão
Especial: Quarto de Despejo - de catadora de papéis a escritora famosa
Série: Caso Verdade
Apresentação: Zé Capeta
Elenco: [...]
Exibição: 7/3 a 11/3/1983
Realização: Rede Globo de Televisão
ADAPTAÇÃO
Teatro
Peça: Quarto de despejo
Adaptação do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus.
Direção: Amir Haddad
Adaptação do texto: Edy Lima
Cenografia: Cyro Del Nero - (Prêmios Saci e Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT)
Elenco: Ruth de Souza e Célia Biar
Produção: Companhia Nydia Licia
Local: Teatro Bela Vista, em São Paulo/SP
Estreia: 27 de abril de 1961.
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** Fonte: KLEMZ, Laura; MENEZES, Julia; BEZERRA, Elvia. Quarto de despejo: a peça. Blog do IMS, 11 de março de 2014. Disponível no link. (acessado em 3.5.2014).
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** Fonte: KLEMZ, Laura; MENEZES, Julia; BEZERRA, Elvia. Quarto de despejo: a peça. Blog do IMS, 11 de março de 2014. Disponível no link. (acessado em 3.5.2014).
Carolina Maria de Jesus e Ruth de Souza na Favela do Canindé. São Paulo, 1961 - foto: Acervo Acervo Ruth de Souza |
Carolina Maria de Jesus e Ruth de Souza na Favela do Canindé. São Paulo, 1961 - foto: Acervo Ruth de Souza |
"Quarto de Despejo
Nas folhas brancas que do lixo recolhia
Ela escrevia o drama de sua gente
Sua própria história de tristeza
E a pobreza de todo aquele ambiente
Deus satisfaz o seu desejo
Do teu “Quarto de despejo”
Viu seu dia de ventura
Hoje todo mundo fala nela
Não mora mais na favela
Mora na literatura"
- B. Lobo - samba (gravado por Ruth Amaral).
"A eles eu falo: grande é a irmã que abriu a porta. Ela é um pouco de vocês todos, na revelação. É até um pouco-muito do Brasil, que muitos são os quartos de despejo, sul-norte-leste-oeste, beira de rio, beira de mar, morro e planalto.
Vejam o sol que entra agora no Quarto de despejo. Aqueçam-se, irmãos, que a porta está aberta. Carolina Maria de Jesus achou a chave. Aqueçam-se!"
- Audálio Dantas, no "prefácio" do livro "Quarto de despejo: diário de uma favelada" de Carolina de Jesus.São Paulo: Livraria Francisco Alves, 1960.
FORTUNA CRÍTICA
[Estudos acadêmicos: livros, teses, dissertações, monografias, artigos, ensaios e afins]
AMARAL, Luiz Eduardo Franco do. Vozes da Favela: representações da favela em Carolina de Jesus, Paulo Lins e Luiz Paulo Corrêa e Castro. (Dissertação Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC/RJ, 2003.
ANDRADE, Leticia Pereira de. Carolina de Jesus e Clarice Lispector: discursos em diálogo. Raído (UFGD), v. 5, p. 73-84, 2011. Disponível no link. (acessado em 2.5.2014).
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) |
ANDRADE, Leticia Pereira de. O diário como utopia: Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, 2008.
ANDRADE, Leticia Pereira de. Crítica literária versus Quarto de despejo. web Revista Diálogos & confrontos Revista em Humanidades, vol. 1, jan./jun. 2012. Disponível no link. (acessado 2.5.2014).
ANDRADE, Leticia Pereira de. Utopia em Quarto de despejo de Carolina Maria de Jesus. Revista Querubim (Online), v. 3, p. 94-104, 2007.
ANDRADE, Leticia Pereira de. Meu estranho diário: a memória do ressentimento. Disponível no link. (acessado em 2.5.2014).
ANDRADE, Leticia Pereira de. Isso é literatura?. Anais do III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007. Disponível no link. (acessado em 3.5.2014)
ANDRADE, Leticia Pereira de; MACIEL, Sheila Dias. Entre a memória e a utopia: Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. In: Rosiane Goçalves Braga e Sheila Dias Maciel. (Org.). Memória e utopia: experiências de linguagem. 1ª ed., Cuiabá MT: EdUFMT, 2011, v. , p. -.
ANDRADE, Leticia Pereira de; MACIEL, Sheila Dias; SANDRI, Silvana. O testemunho singular em Quarto de despejo, de Carolina de Jesus. In: Vânia Maria Lescano Guerra, Marlene Durigan; Edgar Cézar Nolasco. (Org.). Identidade e discurso: história, instituições e práticas. 1ª ed., Campo Grande: Editora UFMS, 2008, v., p. 191-204.
ARANHA, Simone da Silva. Sobre Carolina Maria de Jesus, o Quarto de Despejo e a Casa de Alvenaria.Cadernos do IFCH, Campinas, nº 31, IFCH, Unicamp, 2004.
ARRINGTON JR., Melvin S.. From the garbage dump to the brick house: the diaries of Carolina Maria de Jesus. In: South Eastern Americanist, 36(4), pp.1-12. The South Eastern Council of Latin American Studies, 1993.
ARRINGTON JR., Melvin S.. Gnomic literature from the favela: The Provérbios of Carolina Maria de Jesus. In: Romance Notes, 34(1), pp.79-85. Chapel Hill: The University of North Carolina at Chapel Hill, 1993.
ARRUDA, Aline Alves. Carolina Maria de Jesus: projeto literário e edição crítica de um romance inédito.(Doutorado em Letras: estudos literários). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2015.
ARRUDA, Aline Alves. As marcas sociais em "Pedaços da fome", romance de Carolina Maria de Jesus. In: Aline Alves Arruda; Ana Caroline Barreto Neves; Constância Lima Duarte; Kelen Benfenatti Paiva. (Org.). Mulheres em Letras: memória, transgressão, linguagem. 1ª ed., Belo Horizonte: Viva Voz, 2015, v. , p. 21-27.
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Carolina Maria de Jesus - foto: Arquivo Jornal Ultima Hora 1952. |
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VIANA, Maria José Motta. Do sótão à vitrine: memórias de mulheres. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1995.
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Carolina Maria de Jesus e Audálio Dantas na Favela do Canindé. São Paulo, 1961 - foto: Acervo Acervo Ruth de Souza |
"Ser negra num mundo dominado por brancos, ser mulher num espaço regido por homens, não conseguir fixar-se como pessoa de posses num território em que administrar o dinheiro é mais difícil do que ganhá-lo, publicar livros num ambiente intelectual de modelo refinado, tudo isto reunido fez da experiência de Carolina um turbilhão"
- José Carlos S. B. Meihy e Robert Levine, em "Cinderela Negra: a saga de Carolina Maria de Jesus". Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994, p. 63.
Da esquerda para a direita: Carolina Maria de Jesus, Audálio Dantas e Ruth de Souza na Favela do Canindé. São Paulo, 1961 - foto: Acervo Ruth de Souza |
"[...] a trajetória de Carolina implica a visão de um lado pouco mostrado da cultura brasileira: a luta quotidiana de uma mulher ‘de cor’, pobre e desprovida de favores do Estado, de organismos sociais, de instituições e até de amigos. Logicamente, isto não remete apenas a ela enquanto indivíduo, mas também a todo o sistema que abriga os despossuídos legados ao anonimato. [...] Rebelava-se sozinha e por isso jamais chegou a ser revolucionária ou heroína permanente. Sequer foi musa de causas coletivas. Houve um momento em que, ainda que de maneiras contraditórias e estranhas, ela cabia em todas as frentes e, ao mesmo tempo, não servia por longo período a nenhuma. Por isso é provável que tenha sido deixada por todos."
- José Carlos S. B. Meihy e Robert Levine, em "Cinderela Negra: a saga de Carolina Maria de Jesus". Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994, p. 19.
Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus - foto: (...) |
"Ela escrevia, de fato, um diário em seu barraco, atulhado do lixo que não pudera vender no mesmo dia. Quarto de despejo - Diário de uma favelada vendeu cerca de 100 mil cópias em um ano; 10 mil em três dias, equiparando-se a Jorge Amado e Paulo Coelho. Foi talvez o mais traduzido dos livros brasileiros [...] Grafomaníaca, deixou perto de 140 cadernos, folhas avulsas, pedaços de jornal e papelão anotados que os filhos guardam com orgulho até hoje."
- Joel Rufino dos Santos, em "Os papéis de Carolina Maria". Almanaque Brasil (Curiosidades da literatura).
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Carolina Maria de Jesus, por Mário? (Tribuna de Minas) |
Citações, provérbios e aforismos
"Ah! São Paulo rainha que ostenta vaidosa a tua coroa de ouro que são os arranha-céus. Que veste viludo e seda e calça meias de algodão que é a favela."
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960.
"Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludo, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo."
- Carolina Maria de Jesus , em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 37.
"Contemplava extasiada o céu cor de anil. E eu fiquei compreendendo que eu adoro o meu Brasil. O meu olhar posou nos arvoredos que existe no início da rua Pedro Vicente. As folhas movia-se. Pensei: elas estão aplaudindo este meu gesto de amor a minha Pátria. [...] Toquei o carinho e fui buscar mais papéis. A Vera ia sorrindo. E eu pensei no Casimiro de Abreu, que disse: “Ri criança. A vida é bela”. Só se a vida era boa naquele tempo. Porque agora a época está apropriada para dizer: “Chora criança. A vida é amarga".”
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 53.
"Mas eu já observei os nossos políticos. Para observá-los fui na assembleia. A surcusal do purgatório, porque a matriz é a sede do Serviço Social, no palácio do Governo. Foi lá que eu vi o ranger de dentes. Vi os pobres sair chorando. E as lágrimas dos pobres como os poetas. Não comove os poetas de salão. Mas os poetas do lixo, os idealistas das favelas, um expectador que assiste e observa as tragédias que os políticos representam em relação ao povo."
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 54.
"[...] Deixei o leito para escrever vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades. [...] É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela. / Fiz o café e fui carregar água. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no céu. Como é horrível pisar na lama./ As horas que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginários."
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 59–60.
"O homem que cultiva o ódio racial é um imbecil"
- Carolina Maria de Jesus, em "Provérbios". São Paulo: Editor Áquila, 1963.
“Quem inventou a fome sao os que comem.”
- Carolina Maria de Jesus - em "Carolina sem cortes". Revista da História, 7.2.2011.
"... Quando estou com pouco dinheiro procuro não pensar nos filhos que vão pedir pão, pão, café. Desvio meu pensamento para o céu. Penso: será que lá em cima tem habitantes? Será que eles são melhores que nós? Será que o predomínio de lá suplanta o nosso? Será que as nações de lá é variada igual aqui na terra? Ou é uma nação única? Será que lá existe favela? E se lá existe favela será que quando eu morrer eu vou morar na favela?"
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960
“Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário.”
- Carolina Maria de Jesus
“O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer.”
- Carolina Maria de Jesus
“Eu sou negra, a fome é amarela e doi muito”
- Carolina Maria de Jesus - em "Carolina sem cortes". Revista da História, 7.2.2011.
“Triste glória que não me deixa ter vontade própria. Quero ser eu. Fizeram-me desviar de tudo que pretendia quando morava na favela e ansiava de deixar o barraco. O que sou agora? Um boneco explorado e me recuso a isso."
- Carolina Maria de Jesus, em "depoimento a Ignácio Loyola", em 1961.
"- Eles falava que eu sendo poetisa era para estar entre os fidalgos. Que os poetas são pessoas finas que andam com as unhas esmaltadas e luvas. Sorri. Pórque eles não conhecem os poetas. - O poeta é um infeliz conhece so agruras do roteiro neste hemisfério."
- Carolina Maria de Jesus
“As crianças ricas brincam nos jardins com seus brinqêdos periletos. E as crianças pobres, acompanham as maes a pedrirem esmolas pelas ruas. Que desiguladades tragicas e que brincadera do destino.”
- Carolina Maria de Jesus - em "Carolina sem cortes". [textos inéditos e sem cortes e sem correção de grafia]. Revista da História, 7.2.2011.
"Quem escreve pode passar fome de comida mas tem o pao da sabedoria e pode gritar com suas palavras sabias."
- Carolina Maria de Jesus - em "Carolina sem cortes". Revista da História, 7.2.2011.
“Quem nao tem amigo mas tem um livro tem uma estrada.”
- Carolina Maria de Jesus - em "Carolina sem cortes". Revista da História, 7.2.2011.
“A amizade do analffabeto é sincera. E o ódio também.”
- Carolina Maria de Jesus - em "Carolina sem cortes". Revista da História, 7.2.2011.
CASA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Casa de Carolina Maria de Jesus. Um Barraco feito de tábuas, coberto com lata, papelão e tábuas, na então Favela do Canindé, rua A, barraco número 9 - São Paulo/SP, em 1952.
Casa de Carolina Maria de Jesus, no Canindé foto: Arquivo Jornal Ultima Hora (27.05.1952) |
"É apanhadora de papel, passa fome com os filhos pequenos, mora num barracão infecto, mas sabe “ver” além da lama do terreiro e do zinco da favela – A miséria desperta o espírito – Cadernos cheios de “poesias”, “contos” e “romances” – Peregrinação (inútil) pelas editoras – A narrativa da vida na favela, num impressionante “diário” – Repórteres das FOLHAS editarão Carolina."
- Audálio Dantas, "O drama da favela escrito por uma favelada: Carolina Maria de Jesus faz um retrato sem retoque do mundo sórdido em que vive." Folha da Noite. São Paulo, ano XXXVII, n.10.885, 9 maio 1958.
- Folha da Manhã. "Êxito amplo de Quarto de despejo". 22 ago. 1960.
Carolina Maria de Jesus, concedeu entrevista ao jornalista Hamilton Trevisan, em 1976 - [parte I] |
Carolina Maria de Jesus, concedeu entrevista ao jornalista Hamilton Trevisan, em 1976 - [parte II] |
O Sócrates africano (conto), Carolina de Jesus. revista Escrita, nº 11, Set./1976, p. 5. [parte I]. |
O Sócrates africano (conto), Carolina de Jesus. revista Escrita, nº 11, Set./1976, p. 6. [parte II]. |
ACERVO DE CAROLINA MARIA DE JESUS (IMS)
O Instituto Moreira Salles (IMS) é o guardião de pequena parte do arquivo da escritora Carolina Maria de Jesus: dois cadernos manuscritos, cujo conteúdo está parcialmente publicado. A um dos cadernos a escritora intitulou Um Brasil para os brasileiros: contos e poemas. O outro é coletânea do mesmo gênero, sem título.
E um raro LP de Carolina Maria de Jesus, pelo selo da RCA 1961, pertence ao Acervo José Ramos Tinhorão, sob a guarda do IMS, pode ser ouvido integralmente na rádio Batuta.
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** Fonte: IMS
Manuscrito Carolina Maria de Jesus |
15 de julho 1955
15 de julho aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.
Eu não tinha um tostão para comprar pão. Então eu lavei 3 litros e troquei com o Arnaldo. Êle ficou com os litros e deu-me pão. Fui receber o dinheiro do papel. Recebi em 65 cruzeiros. Comprei 20 de carne. 1 quilo de toucinho e 1 quilo de açucar e sis cruzeiros de queijo. E o dinheiro acabou-se.
Passei o dia indisposta. Percebi que estava resfriada. A noite o peito doia-me. Comecei tussir. Resolvi não sair a noite para catar papel. Procurei meu filho João José. Êle estava na rua Felisberto de Carvalho, perto do mercadinho [...]
- Carolina Maria de Jesus em "Quarto de despejo. Diário de uma favelada".
BIBLIOTECA "CAROLINA MARIA DE JESUS" DO MUSEU AFRO BRASIL
Biblioteca Carolina Maria de Jesus do Museu Afro Brasil - foto: Museu Afro Brasil/divulgação |
Carolina Maria de Jesus, é patrona da biblioteca do Museu Afro Brasil, que abriga seus manuscritos, parte já digitalizados.
A biblioteca
A biblioteca possui cerca de 10.000 itens, incluindo livros, revistas e outros tipos de periódicos, teses, posters e material multimídia, com uma coleção especializada em escravidão, tráfico de escravos, abolição da escravatura, da América Latina, Caribe e Estados Unidos. Recebe anualmente aproximadamente 1.200 visitantes.
Estão disponíveis 20 títulos de obras raras digitalizadas no Catálogo online da Biblioteca "Carolina Maria de Jesus".
Serviço
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral - Parque Ibirapuera, portão 10 - São Paulo/SP
Horário de funcionamento: é de terça a domingo das 10h às 17hs, com permanência até às 18h. Na última quinta-feira de cada mês, o horário de funcionamento será estendido até às 21hs.
Tel.: 55 11 3320 8900
“As flores também são de cores variadas. E entre elas não existe o preconceito. É que o homem raciocina, e as flores não. Mas o raciocínio do homem é tolice.”
- Carolina Maria de Jesus
Uma iniciativa da editora Ciclo Contínuo, a fan page Ano Centenário de Carolina Maria de Jesus reúne informações sobre os eventos comemorativos que vêm sendo realizados em homenagem à autora nos mais diversos pontos do país.
Responsável: Marciano Ventura
Saiba mais: Ano Centenário de Carolina Maria de Jesus
:: Fan page Carolina Maria de Jesus (A mulher na literatura - UFSC)
:: Fan page Ano Centenário de Carolina Maria de Jesus (editora Ciclo Contínuo)
"A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro."
- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo". São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160.
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Carolina Maria de Jesus - a voz dos não têm a palavra. Templo Cultural Delfos, maio/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Carolina Maria de Jesus - a voz dos não têm a palavra. Templo Cultural Delfos, maio/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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