DIZ ELE :
Uma estrela que desce sobre
o horizonte pelo
novo ano ,
e de sedução
a cada olhar .
Os seus lábios são encantamento ,
o seu
pescoço tem o tamanho
certo e os seios
uma maravilha ;
O seu cabelo lápis-lazúli a brilhar ,
os seus
braços de mais
esplendor que
o oiro.
Os seus dedos fazem-me ver pétalas ,
as do lótus
são assim .
As suas ancas foram modeladas como
deve ser ,
as suas
pernas acima
de outra beleza
qualquer .
(vera
incessu)
As cabeças voltam-se
— por culpa
sua —
será o número
um entre
todos os jovens
amantes .
Deo mi par esse
[…]
DIZ ELA :
O meu coração rebenta
quando penso
em como
o amo ,
«Não páres, entra dentro da casa .»
Foi o que
disse o coração uma vez ,
E ainda diz sempre que penso no amado .
Aquieta-te! Mantém-te calmo
e ele
há-de vir ter contigo .
A minha cautela não
permitirá que as pessoas
digam:
A rapariga
está perturbada de amor .
sê firme
e forte , não
me abandones.
“Conversas na corte ” in Poemas
de amor do antigo
Egipto
Lisboa, Assírio Alvim, 1998, Tradução de Hélder Moura
Pereira
Flor de Lotus (National Papyrus Center, Giza, Egipto)
I
O meu coração esforça-se para alcançar o cimo do teu amor .
próprias mãos .
Caindo sobre o
Egipto.
Vamos ver o trabalho
que as minhas
mãos fizeram,
Vamos os dois , juntos por esses campos .
II
O guincho
do ganso selvagem
À tentação
do meu isco.
E quando a minha mãe voltar , carregada de aves ,
E me vir
de mãos vazias,
III
A minha vida ligada à
tua
A tua beleza o elo .
IV
Ó, amado , a vida do meu coração precisa
do teu amor .
V
Amo-te, sim , e desejo amar-te ainda
mais de perto ;
O teu braço posto sobre os meus .
Ai de mim por teus olhos vagos .
Digo ao meu coração : «O meu
amo
Partiu. Durante
A noite partiu
E deixou-me. Sinto-me um
túmulo ».
E a mim própria pergunto: Não
fica nenhuma sensação ,
Ai de mim por esses olhos que te afastaram do caminho ,
E apesar disso confesso com sinceridade
Se vierem ter comigo
VI
A andorinha canta : «Aurora ,
O meu amor na cama ao meu lado .
Imagine-se a minha alegria ouvindo o seu
murmúrio :
«Jamais te deixarei», disse-me.
«Com a tua mão na minha
passearemos
E que o meu coração nunca mais
há-de ficar triste .
VII
A cabeça assomando à porta —
Será ele que vem?
E um coração que nunca pára de falar dele.
«Não me sinto bem ...»
E me diz
VIII
O desgosto fez-me perder
metade do cabelo .
Vou pô-lo aos caracóis e arranjá-lo,
“Canções de alegria
da amada que
se vai encontrar contigo
nos campos ”
in Poemas
de amor do antigo
Egipto
Lisboa, Assírio Alvim, 1998, Tradução de Hélder Moura
Pereira
Ó flores de Mekhmekh,
dai-nos a paz !
A luz que de ti vem brilha
tanto
Tendo a certeza que me amas
Aconchego-me junto a
ti.
O meu coração está seguro de que entre todos
Os homens tu és o mais importante .
O mundo todo brilha
O meu desejo é podermos dormir juntos ,
II
Sou a primeira entre os teus amores ,
Tranquilos os nossos caminhos
A tua voz dá vida , como o néctar .
Ver-te é mais do que alimento e bebida .
III
Há flores de Zait no jardim .
Corto e junto flores para ti,
Faço-te uma grinalda ,
E quando ficares ébrio
E te deitares com esse sono ,
Sou eu quem te lava os pés para lhes tirar o pó .
“Canções alegres ”, in Poemas
de amor do antigo
Egipto
Lisboa, Assírio Alvim, 1998, Tradução de Hélder Moura
Pereira
I
As minhas folhas são como os teus dentes
Os meus frutos como os teus seios .
Estou presente em cada tempo que
fizer, em todas as estações .
Todas as árvores
perdem as folhas , todas
Excepto a romãzeira .
Permaneço firme .
outras folhas nascem
dos botões .
Sendo a primeira entre os frutos
Exijo que essa posição seja reconhecida,
E se houver de novo algum insulto
……………….........
E os lótus em botão ,
E óleos e doce mirra de toda a espécie ,
Estarás entre os mais contentes
E cuide bem dele.
..................
Subamos para o abraçar
E fazer com
que aqui
fique o dia todo .
II
Ouve a voz da figueira :
Trouxeram-me da Síria
Bebo todo o dia , não água do odre , mas beleza .
III
O pequeno sicômoro que com as tuas próprias mãos
plantaste
Move a boca para falar .
Os ramos dobram-se
pesados de frutos
De folhas como a malaquite.
Trazem-tos de muito longe
Recebes a sedutora carta
de amor
Das mãos daquela jovem rapariga ,
Vai a correr ter
com o amado ,
diz-lhe
«Vamos para um
sítio mais
sossegado».
O jardim está em pleno esplendor ,
E tudo para
ti.
Os meus jardineiros ficam contentes
por te
ver .
Prepara-te para a festa .
Os teus servos estão a chegar com cerveja de
todas as qualidades ,
dos cestos , e fruta fresca acabada de colher .
Fica um dia , um dia de felicidade ,
E amanhã , e depois de amanhã ,
O que foi escolhido
senta-se à sua direita ,
Enche-a de licores
E é tudo o que posso dizer :
A minha discrição é tal
“Canções do jardim ”, in Poemas
de amor do antigo
Egipto
Lisboa, Assírio Alvim, 1998, Tradução de Hélder Moura
Pereira
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