Meu
Deus, calamidade outra vez!
Estava
tudo tão pacífico, tão sereno;
Tínhamos
acabado de começar a quebrar as correntes
Que
prendem o nosso povo à escravidão
Quando
pára! Mais uma vez o sangue das pessoas
Está
a jorrar…
Taras Shevchenko (1814-1861)
Tradução de Joana Henriques, “Calamidade, outra vez – um ensaio de Anne Applebaum sobre Putin”, Expresso, 2022-03-06
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Na sua casa em Kiev, o arquiteto e investigador ucraniano Lev
Shevchenko ergueu uma barricada de livros, junto à janela, para amparar os
estilhaços resultantes de um eventual bombardeamento. ©Lev Shevchenko/Facebook |
Мій боже милий, знову лихо!
Було так любо, було тихо;
Ми заходились розкувать
Своїм невольникам кайдани.
Аж гульк! Ізнову потекла
Мужицька кров! Кати вінчанні,
Мов пси голодні за маслак,
Гризуться знову.
Тара́с Григо́рович Шевче́нко
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Taras Shevchenko, pelo escultor português Helder
de Carvalho. |
Calamity
Again
Dear
God, calamity again!...
It
was so peaceful, so serene;
We
but began to break the chains
That
bind our folk in slavery ...
When
halt! ... Again the people's blood
Is
streaming! Like rapacious dogs
About
a bone, the royal thugs
Are
at each other's throat again.
Taras Shevchenko, "Calamity
Again". "Mii Bozhe mylyi, znovu lykho!" ("Мій Боже милий, знову лихо!") 1859, S.- Petersburg (Санкт-Петербург) Tradução para o inglês por John Weir. https://taras-shevchenko.storinka.org/poem-calamity-again-taras-shevchenko-english-translation-by-john-weir.html
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Taras Shevchenko. Pugachev's arrest. 1842 (Тарас Шевченко. Арешт Пугачева. 1842). |
Meu Deus querido,
outra calamidade!
Estava tão bom,
tanta tranquilidade;
Quando começávamos
a nos soltar
dos grilhões que
usavam nos amarrar.
Mas então!... Uma
vez mais correu o sangue
dos pobres
mujiques! A velha gangue
de velhacos,
cachorros esfaimados
outra vez
engalfinhados!
Traduzido do original ucraniano por Luciano Ramos Mendes, “Deus querido, mais uma calamidade!”: Poesia e o sonho de uma Ucrânia livre/ “Dear god, calamity again!”: Poetry and the dream of a free Ukraine. Revista Versalete, Curitiba, Vol.3, n.º 5, jul.-dez. 2015.
Este
trabalho se propõe a discorrer brevemente sobre parte da produção poética
ucraniana, partindo de seu fundador Taras Chevtchenko, mas com enfoque sobre os
poetas contemporâneos (no contexto do Euromaidan e da guerra atualmente em
curso no leste do país). O olhar aqui recai não só sobre as lutas pela
independência, mas também sobre o modo de se pensar a relação entre um estado e
uma nação ucranianos.
CARREIRO, José. “Taras
Shevchenko: Calamidade outra vez!”. Portugal, Folha de Poesia, 26-03-2022.
Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/03/taras-shevchenko-calamidade-outra-vez.html
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