“É tão bom”,
letra de Sérgio Godinho, do álbum Sérgio Godinho canta com os amigos do
Gaspar, 1988
De acordo com a leitura da letra da canção “É
tão bom”, de Sérgio Godinho, classifica cada afirmação que se segue como
verdadeira ou falsa. Procede à correção das afirmações falsas.
1.
A
primeira estrofe usa comparações como "castelos no mar alto" e
"dar o salto p’ra dentro do barco".
2. A expressão “dar o salto p’ra dentro do barco” sugere a hesitação
e a procura de segurança no interior da embarcação.
3. A expressão "castelos no mar alto" simboliza algo
grandioso e distante, representando a coragem e o desejo de explorar e se
aventurar no desconhecido.
4.
O
refrão da canção celebra a importância das amizades e o apoio mútuo.
5.
A
ilha mencionada na letra da canção representa um lugar de maravilhas e novas
experiências.
6. A
expressão "eu vi o que quis ver afinal" (verso 9) sugere uma sensação
de deceção com as descobertas feitas.
7.
A
terceira estrofe (versos 14 a 23) sugere que é importante tomar cuidado ao
buscar novas experiências para evitar problemas.
8.
A
menção à lua e à “avenida do luar” (verso 23) adiciona um toque de realismo à
música.
Respostas:
1. Falso. A primeira estrofe
usa metáforas como "castelos no mar alto" e "dar o salto p’ra
dentro do barco".
2. Falso. A expressão “dar o salto
p’ra dentro do barco” simboliza a coragem de embarcar em novas jornadas e
explorar o desconhecido. Ela não sugere hesitação, mas sim disposição para se
aventurar.
3. Verdadeiro.
4. Verdadeiro.
5. Verdadeiro.
6. Falso. A expressão "eu vi o
que quis ver afinal" sugere uma satisfação pessoal com as descobertas
feitas, e não uma sensação de deceção. O sujeito poético encontrou
o que procurava e está satisfeito com as suas descobertas.
7. Verdadeiro
8. Falso. As menções à lua e
à "avenida do luar" adicionam um toque de fantasia e sonho à música,
e não realismo. Elas servem para enriquecer a letra com uma qualidade poética e
imaginativa, reforçando os temas de exploração e maravilha de maneira encantada
e idealizada. A música utiliza esses elementos para criar um ambiente que é
mais sobre aspiração e encantamento do que sobre a realidade prática e quotidiana.
Depus a
máscara e vi-me ao espelho...
Era a criança de há quantos anos...
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que fica,
A criança.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor.
Assim sou a máscara.
E volto à normalidade como a um términus de linha.
Álvaro de Campos, Poesia, edição de Teresa
Rita Lopes,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, p. 514.
QUESTIONÁRIO
1.
Explique a importância da máscara na construção
da dualidade do sujeito poético, tal como é apresentada ao longo do poema.
2.
Depois de tirar a máscara, o sujeito poético opta por tornar a pô-la.
Justifique
essa opção, com base em dois aspetos significativos.
3.
Considere as afirmações seguintes sobre o poema.
I. O
ato de se ver ao espelho sugere o desejo de autoconhecimento por parte do
sujeito poético.
II. O
sujeito poético anseia voltar a viver o seu tempo de infância.
III. A
coexistência de versos longos e de versos curtos contribui para o ritmo do
poema.
IV. O
recurso às reticências, no verso 3, indicia a frustração sentida pelo sujeito
poético.
V. No
texto, evidenciam-se características da linguagem poética de Álvaro de Campos,
como a liberdade formal e o uso de anáforas.
Identifique
as três afirmações verdadeiras.
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
1. Explica a importância da máscara na construção da dualidade do
sujeito poético, abordando, adequadamente, os dois tópicos de resposta.
- a máscara esconde o Eu
associado à infância, num jogo entre ser e parecer/passado e presente, no qual
a permanência do Eu passado surge quando a máscara é retirada;
- a duplicidade permite que o sujeito poético mantenha o seu ser
autêntico e, simultaneamente, que desempenhe o papel social associado à máscara
(optando pela identidade adquirida pela máscara).
2. Justifica a opção do sujeito poético por tornar a pôr a máscara,
abordando, adequadamente, dois dos tópicos de resposta.
- a criança
que a máscara oculta representa a vulnerabilidade do sujeito poético associada
à infância;
- o Eu
sente-se mais confortável quando coloca a máscara, na medida em que a imagem
que dá a ver aos outros é a de alguém normal («E volto à normalidade» ‒ v. 11);
- a normalidade (o «términus de linha» ‒ v. 11) é
construída
através
do recurso à máscara na viagem de autoconhecimento
que o sujeito poético realiza, o que implica viver o presente, aceitando as
convenções sociais.
3.
I, III e V.
Fonte:
Exame Final Nacional de Português | Prova 639 | 1.ª Fase | Ensino Secundário - 12.º
Ano de Escolaridade | República
Portuguesa – Educação, Ciência e Inovação / Instituto de Avaliação Educativa,
I. P. (IAVE), 2024 (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho; Decreto-Lei n.º
62/2023, de 25 de julho) – VERSÃO 1
***
A INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL AO SERVIÇO DA EDUCAÇÃO: explicação sistematizada do poema de Álvaro
de Campos que saiu no exame 12.º ano.
1. **Tirar a
máscara**
- O autor tira a máscara.
- Olha-se ao espelho.
- Vê-se como era em criança.
- A essência dele não mudou.
2. **Vantagem
de tirar a máscara**
- Ao tirar a máscara, redescobre-se
a criança interior.
- A verdadeira identidade, pura e
intocada, permanece.
3. **Voltar a
pôr a máscara**
- O autor decide voltar a pôr a
máscara.
- Sente-se mais confortável e
seguro assim.
- A máscara torna-se a sua
personalidade.
4.
**Aceitação**
- Aceita que vai continuar a usar a
máscara.
- É assim que consegue viver e
funcionar na sociedade.
Partilhado por Lúcia Vaz
Pedro, in Pulsações Escritas - Facebook, 22/06/2024
A língua que falas e escreves
é uma árvore de sons
que tem nos ramos as letras,
nas folhas os acentos
e nos frutos o sentido
de cada coisa que dizes.
É uma língua tão antiga
como isto de ser português.
Teve o latim por avô,
que primeiro foi romano,
depois bárbaro,
mais tarde monge medieval
ou copista do Renascimento.
A língua cresceu com o país,
que se alongou até ao sul
e depois chegou às ilhas,
vencendo os tormentos do mar.
O país ganhou a forma
de uma língua de terra
capaz de usar palavras
como “lonjura” e “saudade”.
Foi a língua da viagem,
do assombro e da aventura,
usada para relatar
descobertas e naufrágios,
triunfos e derrotas
nas mais remotas paragens,
enquanto os porões se enchiam
com as raras especiarias
que tanta fortuna fizeram.
É uma língua que se veste
de baiana no brasil,
ganhando feitiços de som
em Angola e Moçambique
e novos significados
lá para as bandas de Timor.
É uma língua que ajudou
a fazer o comércio e a guerra
mas que hoje prefere
usar os verbos da paz.
Esta é a língua dos escritores,
de Eça e de Camilo,
e de muitos outros mais,
dos semeadores de sons,
dos povoadores de versos
de todos os que dizem a quem começa:
Tratem bem a nossa língua,
pois se a tratam mal
nem imaginam o mal que fazem
a este Portugal.
Esta é a língua dos meninos
que brincam com as palavras
e fazem delas brinquedos
para alegrarem o recreio
das histórias mais bonitas
que alguém pode contar.
E o orgulho que temos
nesta língua portuguesa
irá do berço para a escola
e da escola para a rua,
pondo em cada palavra
uma pepita de ouro
e uma centelha de lua,
pois afinal esta língua
será sempre minha e tua.
José Jorge Letria, Esta Língua Portuguesa, Porto,
Ambar, 2007
De acordo com a leitura do poema “A língua que
falas e escreves”, de José Jorge Letria, classifica cada afirmação que se segue
como verdadeira ou falsa. Procede à correção das afirmações falsas.
1.
No
poema utiliza-se a metáfora da árvore para descrever a estrutura e a
complexidade da língua portuguesa, associando letras, acentos e sentidos a
diferentes partes da árvore.
2.
A
língua portuguesa é descrita como uma língua moderna e recente.
3.
A
língua portuguesa tem uma história não muito influente fora de Portugal.
4. A língua portuguesa é apresentada no poema como um meio de
comunicação associado exclusivamente a aspetos negativos, como guerras e
conflitos.
5. A alusão a figuras centrais na tradição literária de Portugal reforça
a ideia de que a língua é um património valioso que deve ser cuidado e
valorizado.
6. O poema faz um apelo para que a língua portuguesa seja
preservada e tratada com cuidado, ligando sua importância à identidade cultural
portuguesa.
7.
No
poema sugere-se que a língua portuguesa é apenas um objeto de estudo e não tem
relação com a infância ou o quotidiano.
8.
No
final do poema, a língua portuguesa é descrita como algo que carrega uma pepita
de ouro e uma centelha de lua, simbolizando seu valor e beleza.
Respostas:
1. Verdadeiro.
2. Falso. O sujeito poético afirma que a
língua portuguesa é tão antiga quanto ser português e que teve o latim como ancestral,
o que sugere uma longa história e evolução.
3. Falso. A língua portuguesa
tem uma longa história, estando espalhada por diversas regiões do mundo,
incluindo as ex-colónias portuguesas.
4. Falso. O poema menciona que a
língua portuguesa ajudou no comércio e na guerra, mas hoje prefere usar
"verbos da paz", indicando uma valorização da comunicação pacífica.
5. Verdadeiro.
6. Verdadeiro.
7. Falso. N poema refere-se a língua portuguesa como sendo a língua dos meninos que brincam com as palavras
e das histórias que alegram o recreio, mostrando a sua presença no quotidiano e
na infância.
(…) a poesia, apesar de se fazer com palavras, está muito para além delas. É aquilo que essas palavras conseguem levar e depositar no nosso coração. E para que isso aconteça, não é preciso que sejam palavras complicadas, frases elaboradas, rimas perfeitas. (…) É outra coisa. Que não se consegue nomear, mas que se sente. (…)
E não há uma maneira única de escrever poesia. Há quem, através da poesia, conte uma história; há quem recorde um pequeno pormenor que lhe chamou a atenção; há quem evoque cenas familiares; há quem escreva sobre um cheiro ou um olhar; há quem, muito simplesmente, brinque com as palavras e os seus sons.
Há poemas sobre animais, sobre pessoas, sobre sentimentos, sobre a natureza. Há poemas sobre fadas, sobre pastores, sobre crianças e velhos. Há poemas sobre uma rua, sobre uma casa, sobre uma pedra que de repente se encontra a meio do caminho. Há poemas sobre a tristeza e sobre a alegria. E podemos rir e chorar com eles. Pode-se escrever um poema a propósito de tudo. Não há temas melhores ou temas piores: há a arte de saber escrever a seu respeito de uma maneira criativa, ou seja, de uma maneira que seja só nossa.
Alice Vieira, O meu primeiro álbum de poesia. Lisboa, Edições Dom Quixote, 2007
Escrita
criativa
No vídeo que se segue, a escritora Alice Vieira dá alguns
conselhos sobre a forma de escrever textos criativos, como por exemplo: escolham
assuntos concretos para as vossas histórias; escrevam muito; não tenham pressa;
reformulem o que escreveram, mudando palavras, encurtando frases; não vale a
pena usar os adjetivos se eles não forem rigorosos.
O videograma foi criado para o Grande C - Concurso de criatividade para escolas,
promovido pela Associação para a Gestão de Cópia Privada (AGECOP), em 2009.
Videograma
GC Alice Vieira Escrita Criativa, partilhado por Paulo Pinheiro, em
16/11/2009
Composição de um texto por imitação
criativa
Escreve
um poema composto por inspiração, a partir de uma das propostas que se seguem.
I - Poema sobre uma flor
Escreve
um poema sobre uma flor, partindo do seguinte poema sobre o girassol:
O GIRASSOL
Passa a vida a olhar pró sol!
Segue o sol para todo o lado!
Tivesse olhos o girassol
ou usava óculos de sol
ou já teria cegado.
Faz uma lista de alguns elementos que constituem uma casa (por exemplo portas, janelas, paredes, chaminé).
Inicia cada verso por “Um livro é” seguido de um dos elementos da tua lista.
Exemplo: “Um livro é uma porta que se abre para o mundo.”
Escreve cerca de quinze versos.
Relê esses versos e escolhe os doze melhores, copiando-os para a folha na ordem que consideres mais adequada.
Nota: podes substituir a palavra “livro” por outras, como por exemplo:
“Um amigo é…”
“A amizade é…”
“O amor é…”
“A família é…”
"Um irmão é..."
“A vida é…”
“A felicidade é…”
“A sabedoria é…”
“A natureza é…”
“A música é…”
“A arte é…”
“A paz é…”
“A liberdade é…”
“A esperança é…”
“O sonho é…”
“O futuro é…”
"Uma ilha é...".
IV – Outros poemas que podem servir de
mote ou modelo de inspiração
URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer.
Eugénio de Andrade, Até Amanhã, 1956
AS
PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade, Coração do dia, 1958
AS MÃOS
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre, O Canto e as Armas,
1967
AMIGO
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra “amigo”.
“Amigo” é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
“Amigo” (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
“Amigo” é o contrário de inimigo!
“Amigo” é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
“Amigo” é a solidão derrotada!
“Amigo” é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
“Amigo” vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O’Neill, No Reino da Dinamarca,
1958
O
SONHO
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma dêmos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama, Pelo sonho é que vamos,
1953
E POR
VEZES
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão Ferreira, Matura idade, 1973
ESPARSA
sua ao
desconcerto do mundo
Os
bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m’espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
Assi que, só para mim
anda o mundo concertado
Luís
Vaz de Camões (c. 1524-1580)
AMOR É
UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER
Amor é
um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís
Vaz de Camões (c. 1524-1580)
[AUTORRETRATO]
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento
Bocage (1765-1805)
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia
de Mello Breyner Andresen, Mar Novo, 1958
TRÍPTICO
II
Não sei como dizer-te que minha voz
te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
– eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
(…)
Herberto Helder, A colher na boca, 1961
Nota:na página Folha de Poesia há mais propostas de escrita criativa.
Noite Milhões de barcos perdidos no mar! Perdidos na noite! As velas rasgadas de todos os ventos Os lemes sem tino vogando ao acaso roçando no fundo subindo a vaga tocando as rochas! E quantos e quantos naufragando...
Quem vem acender faróis na costa do mar bravo?! Quem?!
Manuel da Fonseca, Obra Poética. Lisboa, Editorial Caminho, 1984, p. 61
O texto seguinte apresenta uma breve
análise de alguns dos recursos mobilizados no poema de Manuel da Fonseca.
Completa-o, selecionando a palavra
correta em cada espaço.
O poema
inicia-se com a referência a «Milhões de barcos perdidos no mar!/ Perdidos na
noite!», que não podem recorrer nem às «velas» nem aos «lemes».
Os versos
5 a 8, que têm, cada um, cinco sílabas métricas, atribuem um ritmo rápido / lento / inconstante
à descrição da situação enfrentada por esses barcos. O verso 9 indica o destino
inesperado / frequente
/ raro desses barcos, nomeadamente, através da repetição «E quantos
e quantos». Por sua vez, os versos 10 e 11 apresentam o pronome interrogativo
«Quem» destacado através da comparação / anáfora / enumeração. As perguntas aí colocadas
ficam sem resposta, o que acentua a ideia de perdição que percorre o poema.
Resposta:
Os versos 5 a 8, que têm, cada um, cinco sílabas
métricas, atribuem um ritmo rápido
à descrição da situação enfrentada por esses barcos. O verso 9 indica o destino
frequente desses
barcos, nomeadamente, através da repetição «E quantos e quantos». Por sua vez, os versos 10 e 11
apresentam o pronome interrogativo «Quem» destacado através da anáfora. As
perguntas aí colocadas ficam sem resposta, o que acentua a ideia de perdição
que percorre o poema.
Prova de Aferição
de Português. Prova 85 | 8.º Ano de Escolaridade | República Portuguesa –
Educação, Ciência e Inovação / Instituto de Avaliação Educativa, I. P. (IAVE), 03/06/2024 (Decreto-Lei
n.º 55/2018, de 6 de julho).
Texto de apoio
O poema
“Noite” de Manuel da Fonseca retrata uma cena de naufrágio e perdição no mar.
O poema
começa com a imagem de “Milhões de barcos perdidos no mar!” Essa imagem evoca a
vastidão do oceano e a vulnerabilidade dos barcos.
A
repetição da palavra “Perdidos na noite!” enfatiza a escuridão e a falta de
orientação. Os barcos estão à deriva, sem rumo, com “velas rasgadas de todos os
ventos” e “lemes sem tino”.
O verso 9
(“E quantos e quantos naufragando…”) sugere que muitos barcos enfrentam o mesmo
destino trágico. A repetição do pronome interrogativo “Quem” nos versos 10 e 11
destaca a impotência diante dessa situação. A ausência de respostas sugere que
a perdição é inevitável, o que reforça a sensação de desamparo e fatalidade.