domingo, 6 de setembro de 2015

Dói-me Portugal (por José Pacheco Pereira)


OPINIÃO

Dói-me Portugal

Não é este o meu Portugal. Não lhes tenho respeito. Uns fazem por si, outros fazem pelos outros.


O poema de Antonio Machado intitulado Españolito é, como muitos poemas seus, intraduzível.
Eugénio de Andrade dava os poemas de Antonio Machado como exemplo da impossibilidade, no caso da poesia, de encontrar noutra língua, não as palavras certas, o que ainda era possível, mas a “música” do poema, o modo como fluía o som dessas palavras. Por isso, aqui vai no original:
Ya hay un español que quiere
vivir y a vivir empieza,
entre una España que muere
y otra España que bosteza.
Españolito que vienes
al mundo te guarde Dios.
una de las dos Españas
ha de helarte el corazón.

          É um poema sinistro tanto quanto pode ser um poema. Estamos a caminho da ferocidade da guerra civil espanhola: “uma das duas Espanhas / há-de gelar-te o coração”. Não é hipotético, é certo. Morrerás em breve por uma ou por outra dessas “duas Espanhas”. Como Machado, enterrado junto da Espanha mas do lado francês, para onde fugiu quando a guerra estava perdida para a República.


O tema das “duas Espanhas” é muito antigo e não é alheio também ao pensamento português contemporâneo desde o século XIX. A ideia de que há “dois Portugais” também por cá circulou, mas sem a dramaticidade e a fronteira talhada à faca, com que existiu em Espanha. Houve sempre por cá mais mistura, mesmo nos momentos em que “um Portugal” defrontou o “outro”, nas lutas liberais, na República e na longa ditadura que preencheu metade do século XX português. A essa mistura Salazar chamava a “brandura dos nossos costumes”, uma enorme mentira em que os poderosos desejam acreditar e nem ele acreditava. Também ele era capaz de, com o seu enorme cinismo, agradecer aos portugueses terem sido tão “pacíficos” durante a crise.
Hoje, “dois Portugais” existem e vão a eleições. Um está à vista todos os dias, outro tornou-se invisível, mas está cá. Como é que é possível ele ter desaparecido de modo tão conveniente neste ano eleitoral? É conspiração dos media, é censura induzida, é habilidade de um dos “Portugais”, é apatia, resignação do outro “Portugal”, é incapacidade do sistema político representar ambos, ou só um, é o efeito daquilo que os marxistas chamavam “ideologia dominante”`? É, porque já não há dois, mas apenas um só, e este é o Portugal feliz, redimido dos seus vícios passados, empreendedor, cheio de esperança no futuro, deixando a “crise” para trás, virado para o “Portugal para a frente”? É tudo junto, menos a última razão.
Um dos “Portugais” está de facto invisível nestas eleições. Quem devia falar por ele, não fala e quem fala não é ouvido. Criou-se uma barreira de silêncio onde apenas se ouve a propaganda. Vejam-se as miraculosas estatísticas. Começa porque há as estatísticas de primeira e as de segunda, as que valem tudo e as que não valem nada. As “económicas” são de primeira, as “sociais” são de segunda. Das primeiras fala-se, as segundas ocultam-se.
As estatísticas “da recuperação económica”, escolhidas a dedo e trabalhadas a dedo, são comparadas com os anos que mais convém, umas vezes 2000, outras 2008, outras 2010, outras 2011, outras 2012, outras 2013, etc.. Todas a subir, pouco mas a subir, com “tendência” para subir. Os “do contra” ainda dizem que são tão milimétricas essas subidas e tão condicionadas pelo bater no fundo, tão longe do que seria necessário, tão dependentes de factores externos, que, ao mais pequenão abanão, o castelo de cartas ruirá. Como, para não ir mais longe, se vê com a venda do Novo Banco, o “bom”. (Embora suspeite que mesmo a pior das vendas vai ser apresentada como um excelente resultado, comparada com qualquer hipotética operação mais ruinosa, que “poderia ter acontecido”, mas nunca existiu. É uma das técnicas habituais apresentar sempre o mal como o mal menor.)
Quem é que quer saber, destes pequenos incidentes? Até às eleições servem bem, no dia seguinte, se os seus criativos autores ganharem, voltam a ler com toda a atenção os relatórios do FMI para justificar a continuação da austeridade. Ver-se-á como o défice vai subir, vai-se ver como as coisas são piores do que se apresentou neste ano eleitoral, mas já é passado, não conta.
Há mais de um milhão de desempregados, “desencorajados”, desempregados de longa duração que desapareceram das estatísticas, falsos estagiários, e pessoas que só não estão nas listas do desemprego porque emigraram. Porque queriam? Não. Porque não tinham alternativa e ainda faziam parte daqueles que podiam emigrar. Se estão felizes é por mérito da Suíça, da Grã-Bretanha, da Alemanha, da França e das competências e conhecimentos que ganharam em Portugal, imperfeitos que fossem, antes de 2008. O Portugal que lhe deu essas competências também já está a encolher, a acabar. Estamos a falar de várias centenas de milhares de pessoas. É muito português.
Voltemos aos desempregados que, ó céus!, também não deixaram de existir. São muitas centenas de milhares de pessoas, à volta de um milhão se somarmos, como devemos somar, várias parcelas de pessoas que não tem emprego. Não é sequer emprego sem direitos, é que não tem emprego. Ponto. Por muita imaginação que se possa ter, é suposto que não estejam felizes com a sua vida. Nem eles, nem as suas famílias. É muito português.
Depois, mais um número que se sobrepõe aos outros, uma em cada cinco pessoas é pobre, dois milhões de portugueses. Onde estão eles que não se vêem? Depois de uma overdose pontual de miséria nos anos mais agudos da crise, despareceram as pessoas que vivem mal de Portugal. Não são boa televisão a não ser como “casos humanos” extremos – a idosa sem pleno uso das suas faculdades mentais que vive imersa na sujidade e na miséria mais extrema numa casa sem vidros, nem água, nem luz – e não é disso que estou a falar. Estou a falar da pobreza que é estrutural, da que recuou dez anos para trás, mas que, neste recuo enorme em termos sociais, perdeu qualquer esperança, aquela que ainda podiam ter no início da década de 2000. 
E aqueles a quem cortaram a magra pensão na velhice e a reforma com que pensavam viver os últimos anos, também estão felizes, a aplaudir o PAF? E aqueles que não eram pobres ou tinham deixado de ser pobres depois do 25 de Abril e que agora estão a escorregar para esse “estado” de que já não vão sair até morrerem? Estão felizes e contentes, perdido o emprego, a pequena empresa, o carro, a casa? Sim, as estatísticas de segunda, as sociais, revelam as penhoras, as devoluções, as humilhações, o esconder de uma vida sem esperança, ou seja desesperança. É muito português.
O discurso oficial, o do “outro” Portugal, diz que tudo isto é “miserabilismo”. Diz-nos que apenas o crescimento da “economia”, daquilo que eles chamam “economia”, pode resolver as malditas estatísticas “sociais”. Outra conveniente ilusão, porque, a não haver mecanismos de distribuição, a não haver equilíbrio nas relações laborais, a não haver reforço dos mecanismos sociais do estado – tudo profundamente afectado pela parte do programa da troika que eles cumpriram com mais vigor e rapidez – o “crescimento” de que falam tem apenas um efeito: agravar as desigualdades sociais. Como se vê.
No grosso das notícias, ministros e secretários de estado pavoneiam-se com grupos de empresários em posição de vénia, por feiras, colóquios dos jornais económicos, encontros liofilizados para que não haja o mínimo risco e, quando abrem a boca, é apenas para fazer propaganda eleitoral, a mais enganadora da qual se faz falando do “estado” redentor do país que agora já “pode mudar”. Eles falam do lado do poder, do poder que aparece nas listas dos jornais económicos, os novos “donos disto tudo”, chineses, angolanos, profissionais das “jotas” alcandorados a governantes, advogados de negócios e facilitadores, gestores, empresários de sucesso, a nova elite que deve envergonhar a mais velha gente do dinheiro, que o fez de outra maneira. O “outro” Portugal, o que é tão visível que até cega, com todas as cores, luzes a laser, aplausos de casting, feérico e feliz.
Não é este o meu Portugal. Não lhes tenho respeito. Uns fazem por si, outros fazem pelos outros. Conheço-os bem de mais. Não gostam dos de “baixo”. Acham que eles são feios, porcos e maus. Querem receber sem trabalhar. Querem viver à custa dos outros, deles. Se estão pobres é porque a culpa é sua. Se estão desempregados é porque não sabem trabalhar. Se se lamentam da sua sorte, são piegas. Deviam amochar disciplinadamente para serem bons portugueses. Não. “Há-de gelar-te o coração”.
Direi pois, como o velho Unamuno, “me duele España”, dói-me Portugal.
 http://www.publico.pt/politica/noticia/doime-portugal-1706884?page=-1



PACHECO PEREIRA E OS DOIS PORTUGAIS

Ainda bem que o José Pacheco Pereira regressou. Fazia falta na imprensa ou na televisão, onde a lucidez do seu pensamento e a acutilância da sua crítica é que nos permitem (tome bem nota, Paulo Rangel) respirar melhor. Na apatia crítica que tolhe o país -- poucos dão atenção a este défice de cidadania! --, no silêncio que envolve grandes questões nacionais (ver "Portugal, o Medo de Existir", de José Gil), no charco de águas podres que envolvem o quotidiano da política, a realidade é todos os dias desfocada, as problemáticas incómodas (mais a mais em tempo eleitoral) são atiradas para debaixo do tapete do esquecimento.
Pensar Portugal tem sido a tarefa de Pacheco Pereira, na consolidação de um pensamento autónomo e livre sobre o país, na pesquisa do tempo histórico português, com os seus tiques e os seus traumas, num importante contributo para a decifração da história contemporânea portuguesa- É, porventura, o lastro da investigação histórica, que lhe dá o lastro para uma crítica que rasga horizontes fechados.
Este sábado, no "Público" regressou a sua coluna, que tem sido uma coluna de combate contra a mistificação política. O título, aliás, é sugestivo: "Dói-me Portugal". Essa patologia, estarmos doentes do país e da Europa, é hoje comum e colectiva e as dores sobre o país que temos ampliam-se todos os dias. É por isso que a voz de Pacheco Pereira é importante para ajudar a cauterizar essas dores.
No longo artigo que escreveuele mostra como em Portugal há "dois Portugais" e como há realidades invisíveis, numa opacidade em que não faltam cumplicidades.
"Houve sempre por cá mais mistura (ele falara antes da Espanha e de António Machado) mesmo nos momentos em que “um Portugal” defrontou o “outro”, nas lutas liberais, na República e na longa ditadura que preencheu metade do século XX português", escreve Pacheco Pereira, acrescentando que "a essa mistura Salazar chamava a “brandura dos nossos costumes”, uma enorme mentira em que os poderosos desejam acreditar e nem ele acreditava. Também ele era capaz de, com o seu enorme cinismo, agradecer aos portugueses terem sido tão “pacíficos” durante a crise".
Vale a pena atentar na descrição do historiador:
"Hoje, “dois Portugais” existem e vão a eleições. Um está à vista todos os dias, outro tornou-se invisível, mas está cá. Como é que é possível ele ter desaparecido de modo tão conveniente neste ano eleitoral? É conspiração dos media, é censura induzida, é habilidade de um dos “Portugais”, é apatia, resignação do outro “Portugal”, é incapacidade do sistema político representar ambos, ou só um, é o efeito daquilo que os marxistas chamavam “ideologia dominante”`? É, porque já não há dois, mas apenas um só, e este é o Portugal feliz, redimido dos seus vícios passados, empreendedor, cheio de esperança no futuro, deixando a “crise” para trás, virado para o “Portugal para a frente”?
É tudo junto, menos a última razão. "Um dos “Portugais” está de facto invisível nestas eleições. Quem devia falar por ele, não fala e quem fala não é ouvido. Criou-se uma barreira de silêncio onde apenas se ouve a propaganda. Vejam-se as miraculosas estatísticas. Começa porque há as estatísticas de primeira e as de segunda, as que valem tudo e as que não valem nada. As “económicas” são de primeira, as “sociais” são de segunda. Das primeiras fala-se, as segundas ocultam-se".
Na caracterização desta estranha dicotomia, Pacheco Pereira explica:
"As estatísticas “da recuperação económica”, escolhidas a dedo e trabalhadas a dedo, são comparadas com os anos que mais convém, umas vezes 2000, outras 2008, outras 2010, outras 2011, outras 2012, outras 2013, etc.. Todas a subir, pouco mas a subir, com “tendência” para subir. Os “do contra” ainda dizem que são tão milimétricas essas subidas e tão condicionadas pelo bater no fundo, tão longe do que seria necessário, tão dependentes de factores externos, que, ao mais pequeno abanão, o castelo de cartas ruirá. Como, para não ir mais longe, se vê com a venda do Novo Banco, o “bom”. (Embora suspeite que mesmo a pior das vendas vai ser apresentada como um excelente resultado, comparada com qualquer hipotética operação mais ruinosa, que “poderia ter acontecido”, mas nunca existiu. É uma das técnicas habituais apresentar sempre o mal como o mal menor.)
Quem é que quer saber, destes pequenos incidentes? Até às eleições servem bem, no dia seguinte, se os seus criativos autores ganharem, voltam a ler com toda a atenção os relatórios do FMI para justificar a continuação da austeridade. Ver-se-á como o défice vai subir, vai-se ver como as coisas são piores do que se apresentou neste ano eleitoral, mas já é passado, não conta. Há mais de um milhão de desempregados, “desencorajados”, desempregados de longa duração que desapareceram das estatísticas, falsos estagiários, e pessoas que só não estão nas listas do desemprego porque emigraram. Porque queriam? Não. Porque não tinham alternativa e ainda faziam parte daqueles que podiam emigrar. Se estão felizes é por mérito da Suíça, da Grã-Bretanha, da Alemanha, da França e das competências e conhecimentos que ganharam em Portugal, imperfeitos que fossem, antes de 2008. O Portugal que lhe deu essas competências também já está a encolher, a acabar. Estamos a falar de várias centenas de milhares de pessoas. É muito português".
São interrogações pertinentes, mas ele não deixa de dar expressão a uma perplexidade que mostra bem a desumanidade e como há uma invisibilidade, na informação e na retórica, que traduz a a menoridade cívica e política que caracteriza a sociedade portuguesa. Ora, leiam:
"Voltemos aos desempregados que, ó céus!, também não deixaram de existir. São muitas centenas de milhares de pessoas, à volta de um milhão se somarmos, como devemos somar, várias parcelas de pessoas que não tem emprego. Não é sequer emprego sem direitos, é que não tem emprego. Ponto. Por muita imaginação que se possa ter, é suposto que não estejam felizes com a sua vida. Nem eles, nem as suas famílias. É muito português. Depois, mais um número que se sobrepõe aos outros, uma em cada cinco pessoas é pobre, dois milhões de portugueses. Onde estão eles que não se vêem? Depois de uma overdose pontual de miséria nos anos mais agudos da crise, despareceram as pessoas que vivem mal de Portugal. Não são boa televisão a não ser como “casos humanos” extremos – a idosa sem pleno uso das suas faculdades mentais que vive imersa na sujidade e na miséria mais extrema numa casa sem vidros, nem água, nem luz – e não é disso que estou a falar.
Estou a falar da pobreza que é estrutural, da que recuou dez anos para trás, mas que, neste recuo enorme em termos sociais, perdeu qualquer esperança, aquela que ainda podiam ter no início da década de 2000. E aqueles a quem cortaram a magra pensão na velhice e a reforma com que pensavam viver os últimos anos, também estão felizes, a aplaudir o PAF? E aqueles que não eram pobres ou tinham deixado de ser pobres depois do 25 de Abril e que agora estão a escorregar para esse “estado” de que já não vão sair até morrerem? Estão felizes e contentes, perdido o emprego, a pequena empresa, o carro, a casa? Sim, as estatísticas de segunda, as sociais, revelam as penhoras, as devoluções, as humilhações, o esconder de uma vida sem esperança, ou seja desesperança. É muito português.
O discurso oficial, o do “outro” Portugal, diz que tudo isto é “miserabilismo”. Diz-nos que apenas o crescimento da “economia”, daquilo que eles chamam “economia”, pode resolver as malditas estatísticas “sociais”. Outra conveniente ilusão, porque, a não haver mecanismos de distribuição, a não haver equilíbrio nas relações laborais, a não haver reforço dos mecanismos sociais do estado – tudo profundamente afectado pela parte do programa da troika que eles cumpriram com mais vigor e rapidez – o “crescimento” de que falam tem apenas um efeito: agravar as desigualdades sociais. Como se vê. No grosso das notícias, ministros e secretários de estado pavoneiam-se com grupos de empresários em posição de vénia, por feiras, colóquios dos jornais económicos, encontros liofilizados para que não haja o mínimo risco e, quando abrem a boca, é apenas para fazer propaganda eleitoral, a mais enganadora da qual se faz falando do “estado” redentor do país que agora já “pode mudar”. Eles falam do lado do poder, do poder que aparece nas listas dos jornais económicos, os novos “donos disto tudo”, chineses, angolanos, profissionais das “jotas” alcandorados a governantes, advogados de negócios e facilitadores, gestores, empresários de sucesso, a nova elite que deve envergonhar a mais velha gente do dinheiro, que o fez de outra maneira.
O “outro” Portugal, o que é tão visível que até cega, com todas as cores, luzes a laser, aplausos de casting feérico e feliz. Não é este o meu Portugal. Não lhes tenho respeito. Uns fazem por si, outros fazem pelos outros. Conheço-os bem de mais. Não gostam dos de “baixo”. Acham que eles são feios, porcos e maus. Querem receber sem trabalhar. Querem viver à custa dos outros, deles. Se estão pobres é porque a culpa é sua. Se estão desempregados é porque não sabem trabalhar. Se se lamentam da sua sorte, são piegas. Deviam amochar disciplinadamente para serem bons portugueses. Não. “Há-de gelar-te o coração”. Direi pois, como o velho Unamuno, “me duele España”, dói-me Portugal".
Publicada por Fernando Paulouro Neves à(s) 02:31, 2015-09-06, https://www.facebook.com/rui.mendes.568/posts/1002491283126167


Poderá também gostar:

Los temas principales de la poesía de Antonio Machado son los característicos de su tiempo, el Modernismo, y de la Literatura del Siglo XX:
1. El problema existencial.-
a. Sentido de la vida.
b. Melancolía y tristeza.
c. El paso del tiempo y la muerte.
d. La angustia de vivir.
e. El problema amoroso (su ausencia).
f. La ética, el comportamiento vital.
2. El problema social. El problema de España.
a. Castilla de la muerte. Visión negativa del paisaje castellano y las gentes que lo pueblan. Castilla como símbolo de decadencia.
b. La cuestión política. Pasado, presente y futuro de España.
3. El problema religioso.
a. Búsqueda de Dios para dar sentido a la vida: “Siempre buscando a Dios entre la niebla”.
b. Su concepto religioso choca con el tradicional: La Saeta.
4. El problema literario.
a. La función del poeta.
b. El proceso de creación.

Antonio Machado somete desde sus inicios poéticos su estilo a un proceso de depuración en busca de la esencialidad, hecho que explica que partiendo del Modernismo Canónico esteticista llegue a una poesía sencilla, breve y concisa.
Algunos de los recursos técnicos más corrientes en sus poemas pueden ser los que siguen:
• Los símbolos. Empleará dos tipos: los monosémicos (encierran un solo significado) y los disémicos, que serán los más característicos de sus poemas (aquellos que poseen varias significaciones).
• Alusión a un objeto por algunas de sus características: "¡El muro blanco y el ciprés erguido!" (cementerio, muerte).
• Muchos poemas adoptan disposición dialogada, bien con personas, con objetos, con elementos de la naturaleza o consigo mismo.
• Suele comenzar sus poemas situándolos en un tiempo determinado.
• Es corriente que termine con una exclamación o epifonema.
• La superposición de tiempos (pasado y presente) es corriente en su obra, así como la superposición de lugares (Soria y Baeza, por ejemplo).
• Suele usar mucho el estilo nominal (ausencia de verbos), sobre todo, como es lógico, cuando describe el paisaje.

Ler mais: La Poesía de Antonio Machado Tema a Tema. 4º de ESO. IES Carmen Laffón. José Maria González.-Serna. URL: http://www.auladeletras.net/material/machado_textos.pdf

sábado, 5 de setembro de 2015

Leitura de poemas e outros textos com ÁgoraGaia

Propostas de trabalho de texto



Estes pequenos vídeos, com leituras de poemas e alguns textos mais, foram produzidos para apoiarem o projecto «Escrita, uma forma de multiplicar os sentidos».
Muitos dos poemas que propomos não foram escritos para crianças. Mas são poemas sem idade, óptimos para dar a conhecer os seus autores. E se tivermos a habilidade de ensinar as crianças a gostar deles, desde cedo, evitando estragá-los com perguntas de interpretação que não vão além da extracção do acontecimento, talvez, mais tarde, voltem a estes autores à procura do mesmo entusiasmo [LER>>>]. Até porque, propostas de leituras dirigidas, essencialmente, às crianças, não faltam em muitos sítios da web.
Para a teorização destas propostas, consultar » » »
AFONSO CRUZ
  • Os livros que devoraram o meu pai >>>
  • O que cresce no Deserto >>>
  • "A contradição humana>>>
  • Livro do ano >>>
  • Livro do Ano II >>>
  
AGOSTINHO GOMES
  • E tudo ficou só e triste >>>
  • Perdida música >>>

ALBERTO PIMENTA
  • Exercício demonstrativo >>>
  • Todos os dias >>>
ALEXANDRE O'NEILL
  • Mar >>>
  • Gato >>>
  • A História da Moral >>>

ÁLVARO MAGALHÃES
  • Fala a preguiça >>>
  • Limpa Palavras >>>
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
  • No meio do caminho >>>
  • A palavra mágica >>>

CESÁRIO VERDE
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    segunda-feira, 10 de agosto de 2015

    Ei-los que partem


    O visitante sai, saiu, virá um dia

                     Joaquim Manuel Magalhães, Vestígios.




    SENHORA DOS PASSANTES

    Vou partir, direi, disse.
    Outrora saí, fá-lo-ei de novo.

    Senhora da partida
    senhora da chegada
    fazei tocar o brilho da calçada
    e não o inútil jogo da distância.

    José Maria de Aguiar Carreiro, Chuva de Época
    Ponta Delgada, Edição de autor, 2005.


    De facto, nada aprendi sem que tenha partido, nem ensinei ninguém sem convidá-lo a deixar o ninho. Partir exige um dilaceramento que arranca uma parte do corpo à parte que permanece aderente à margem do nascimento, à vizinhança do parentesco, à casa e à aldeia dos usuários, à cultura da língua, à rigidez dos hábitos. Quem não se mexe, nada aprende. Sim, parte, divide-te em partes. Teus semelhantes talvez te condenem como um irmão desgarrado. Eras único e referenciado. Tornar-te-ás vários, às vezes incoerente com o universo que, no início, explodiu, diz-se, com enorme estrondo. Parte, e tudo então começa, pelo menos a tua explosão em mundos à parte. Tudo começa por este nada.
    Michel Serres, Filosofia Mestiça. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993, pp. 14-15






    Ei-los que partem
    novos e velhos
    buscando a sorte
    noutras paragens
    noutras aragens
    entre outros povos
    ei-los que partem
    velhos e novos

    Ei-los que partem
    de olhos molhados
    coração triste
    e a saca às costas
    esperança em riste
    sonhos dourados
    ei-los que partem
    de olhos molhados

    Virão um dia 
    ricos ou não
    contando histórias
    de lá de longe
    onde o suor
    se fez em pão
    virão um dia
    ou não



    Manuel Freire






    Domingos Rebelo, Os Emigrantes, 1926.
    Óleo sobre tela, A 235 x L 295 cm

    Apesar de "Os Emigrantes", de 1926, se integrar no ideário do Regionalismo, apresentado pelo Padre Ernesto Ferreira, no seu opúsculo intitulado Regresso à Terra, através do qual se valorizava a importância dos usos, costumes e tradições populares na definição de culturas distintas, esta pintura tem a particularidade de ser a representação de um fenómeno social, apresentando-se como aglutinadora de um conceito de "Açorianidade", analisado na época pelo investigador Luís Ribeiro. Para reforçar a temática central, o artista regista nesta obra o trajo popular e os elementos identificativos do local de partida, nomeadamente o antigo cais da Alfândega, antes da construção da Avenida Marginal de Ponta Delgada, juntando nesta composição elementos culturais de raízes profundas, como a viola da terra e o registo do Senhor Santo Cristo.
    A figura de chapéu, que se encontra do lado esquerdo, denota a consciência social do artista.
    MTO, http://museucarlosmachado.azores.gov.pt/osemigrantes


    *


    LINHAS PARA UM RETRATO DE POETA QUANDO JOVEM

    Este poema é das saudades e do sol-posto.
    E da procissão do Senhor, de colchas nas varandas.
    E de quando eu tinha as mãos postas
    que a minha mãe veio e me pôs umas asas brancas.
    E das horas gastas esperando o teu regresso.
    E das idas clandestinas e do caminho andado.
    E da janela, aberta para os muros, que enchia
    de sombras as recordações do meu quarto.
    Este poema é dos vidros partidos
    pelas pedras que atirei aos meus amigos
    nos combates havidos nas travessas.
    E da chuva que caiu nas colchas das varandas.
    E das mãos que vieram tirar-me as asas brancas.
    E dos olhos de minha mãe, quando eu parti para longes terras...
    Eduíno de Jesus


    Saudade. Paulo Borges, P. Delgada, nov. 2017



    FUTURO

    Folha a folha revisito um álbum de retratos,

    retratos que lembram o que de antemão sabia
    – Dizem que mudei. Nem as paisagens
    se recuperarão e os avós estão mortos;
    as árvores não existem mais,
    aquelas por detrás dos risos

    Folha a folha imagens falam
    o que não quero que falem. Nem sempre
    escutamos o que é importante e essencial
    – O futuro, esse retrato em falta no álbum.
    Ou, o poema de amanhã,
    que parecendo futuro é passado.

    Ivo Machado, Quilómetro zero. V. N. Gaia, Exodus, 2008.



    Tomaz Vieira, Os Regressantes, 1987


    A pintura Os Regressantes, efetuada em 1987 por Tomaz Vieira, é uma «Homenagem aos Emigrantes de Domingos Rebelo», como o próprio artista registou. Cerca de sessenta anos depois da pintura original, Tomaz Vieira parte da composição de Os Emigrantes, de Domingos Rebelo (Versão de 1929, efetuada para o «Bureau de Turismo» de Ponta Delgada), e regista um fenómeno de aculturação. No catálogo da exposição A window on the Azores, refere-se que «em Os Regressantes as figuras apresentam uma atualização onde há símbolos da integração dos açorianos nos países para onde emigram. Esses símbolos estão na indumentária e na variedade de objetos identificáveis na composição. O facto de o «Registo do Senhor Santo Cristo dos Milagres», de Os Emigrantes, ser substituído, em Os Regressantes, pela imagem da «Canadian National Tower», de Toronto, terá a ver com a evocação do relacionamento da sociedade açoriana com as imagens do progresso, em terras do Mundo Novo. As figuras de Os Regressantes mantêm a postura de Os Emigrantes, o que acentua o tratar-se da mesma gente. O autor da réplica compromete-se a dar uma resposta positiva ao clima de esperança que Domingos Rebelo imprime nas suas telas de concepção regionalista, nomeadamente ao drama contido em Os Emigrantes» (Exposição de Artistas Açorianos Contemporâneos, in A window on the Azares, Bermuda National Gallery, 1999, p. 16-17.)

    MCTO, Museu Carlos Machado



    *


    ROSE ERA O NOME DE ROSA

    A mãe disse não mais
    não mais eu não mais tu filha
    não mais nomes na pedra do cais
    não mais o cortinado da ilha

    não mais Rosa sejas Rose agora
    não mais névoas roxos ais
    não mais a sorte caipora
    não mais a ilha não mais

    Porém Rose o não mais não quis
    e quis ver a ilha do não mais
    o cortinado roxo infeliz
    os nomes na pedra dos cais

    Pegou em si e foi-se embora.
    Não mais Rose. 

    Rosa outra vez agora.
    Vasco Pereira da Costa, My Californian Friends.
    Gávea Brown, Palimage Editores, 1999.









    Poderá também gostar de:

    Simbologia de açorianidade na pintura de Domingos Rebelo e de Borba Vieira”, Gabriela Castro. In: Philosophica nº 36, Departamento de Filosofia da FLUL, 2010.

    "Emigração, cultura e modo de ser açoriano", António Manuel B. Machado Pires, 1981.