domingo, 19 de setembro de 2021

Poesia e mel, crónica de Frederico Lourenço

"Fontana delle Api", por Giovanni Lorenzo Bernini, na Piazza Barberini


Se disséssemos hoje a um jovem poeta que achamos os seus versos «doces», o jovem poeta ficaria ofendido de morte. Mas se alguém tivesse feito esse elogio a um poeta grego ou romano, ele teria ficado desvanecido e encantado. Aliás, não precisamos de viajar tão longe no tempo: Camões teria ficado imensamente lisonjeado. Pois era essa a finalidade da poesia: ser doce. 

Por isso havia tantas lendas sobre poetas antigos cujo talento era explicado pelo facto de abelhas terem deixado mel nas suas bocas quando ainda eram bebés. Por isso se estabeleceu naturalmente a correlação mel/poesia; por isso se começou a pensar no poeta como uma abelha. O poeta grego Baquílides disse de si mesmo que era uma abelha. E no «Íon» de Platão, Sócrates afirma esta coisa extraordinária: «Os poetas dizem-nos que é em fontes de mel, em certos jardins e pequenos vales das Musas, que eles colhem os versos, para, tal como as abelhas, no-los trazerem, esvoaçando como elas. E falam verdade! Com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada» («Íon» 534a-b; tradução de Victor Jabouille). 

«Manda-me amor que cante docemente», escreve Camões no início da Canção 7. Na Canção 3, fala-nos em «doce melodia» e «doce pensamento»; na Canção 5 numa «doce voz»; um verde ramo na natureza faz um «doce ruído» (Canção 9). E «O sulmonense Ovídio, desterrado», lembrando-se com saudade dos «doces» filhos, só tem como companhia a «sua doce Musa» (Elegia 3). Não será doce a mais? 

O século XX (e talvez já o século XIX) virou as costas à doçura na poesia, certamente porque a banalização do açúcar na culinária estragou as conotações positivas da glicose que o mel tinha emprestado à literatura. Quando, no romance «Brideshead Revisited», o narrador se refere à quinzena romântica com Sebastian em Veneza com as palavras «I was drowning in honey», sabemos que algo mudou desde que Camões escreveu «Manda-me amor que cante docemente». 

Mas uma coisa não mudou: a glicose como combustível da criação. No fundo, terá sido por esse motivo (não consciencializado) que os poetas antigos associaram a poesia ao mel. Não era tanto que a poesia fosse mel; era mais o facto de a ingestão de mel (para povos que não tinham ainda açúcar) produzir mais facilmente poesia. Porque a imaginação também precisa de combustível: os escritores que recorreram ao vinho (Baco, esse grande inspirador!) estavam, no fundo, a recorrer ao açúcar que existe no vinho («Baco das uvas tira o doce mosto»: Lusíadas 4.27), do mesmo modo como os nerds que deram ao mundo os nossos computadores e telemóveis (com todos os seus aplicativos e software) se alimentaram de Coca-Cola, de donuts e daqueles hambúrgueres das cadeias americanas que contêm mais açúcar do que qualquer sobremesa num restaurante em Portugal. Eu diria, até, que se não fosse a dieta americana de açúcar a estimular as mentes dos cientistas, nunca o homem teria chegado à lua nem me seria possível consultar manuscritos da Bíblia ou de Vergílio online no meu computador. Sem combustível (açúcar), nada surge «por puro engenho e por ciência» (citando Lusíadas 5.17). 

Mas voltando à Grécia arcaica: diz o poeta Álcman que vozes belas a cantar poesia são «vozes de mel»; e Píndaro (de quem se dizia que abelhas tinham deixado mel na sua boca quando era bebé) afirma que um poema, para ser de qualidade superlativa, tem de voar de um tema para outro «como uma abelha». Na sua Bucólica 1, Vergílio fala em abelhas depois de ter referido «fontes sagradas». E Platão, como vimos, falou em «fontes de mel» Coube a Gian Lorenzo Bernini fazer, em Roma, a síntese perfeita de tudo isto, com a sua «Fontana delle Api».  

“Poesia e Mel”, Frederico Lourenço, 2021-09-19

https://www.facebook.com/frederico.maria.lourenco/posts/413506840138759



domingo, 12 de setembro de 2021

VÍCTOR JARA


Homenagem a Victor Jara
por Carlos Matamala Rivas, 1979



 

O antigo militar chileno Pedro Barrientos foi condenado, no dia 27 de Junho de 2016, por um tribunal na Flórida (Estados Unidos da América), por tortura e homicídio do cantor Víctor Jara, em Setembro de 1973. Jara foi preso após o golpe conduzido pelo general Pinochet, em 1973, que derrubou o presidente Salvador Allende, eleito em 1970 com o apoio da Unidad Popular (UP).

O golpe fascista, suportado pela CIA e precedido de um bloqueio económico, levou à instauração de um regime militar liderado por Pinochet, que durou 17 anos. Allende, o presidente eleito, morreu durante o ataque ao Palácio La Moneda, sua residência oficial em Santiago, em 11 de Setembro de 1973.

Na preparação do golpe, o poder económico promoveu uma campanha mediática contra o governo da UP, em conjunto com a paralisação da rede de transportes e a fuga de capitais.

Víctor Jara, cantor, autor e dramaturgo, era um dos apoios mais destacados de Allende e do seu governo, suportado por socialistas, comunistas e outros sectores populares. Aos 40 anos, Jara foi preso no Estádio Chile (hoje Víctor Jara), torturado e morto. A 16 de Setembro, o seu corpo foi encontrado junto ao recinto desportivo cravejado de balas.

 

«Livra-nos de aquele que nos domina na miséria, traz-nos o teu reino de justiça e igualdade»

A obra de Víctor Jara é dominada pela relação com o seu Chile, particularmente com a realidade dos camponeses explorados. Os seus pais eram inquilinos na propriedade de uma poderosa família latifundiária; a sua mãe era descendente de índios Mapuche. Numa entrevista concedida em Moscovo, Jara conta que a música entrou na sua vida através das canções que surgiam no trabalho do campo e, particularmente, da sua mãe, que «tocava muito bem guitarra e cantava maravilhosamente».

Em «Plegaria a un labrador», transforma os versos católicos do Pai Nosso numa canção libertadora, de unidade camponesa na luta contra a exploração a que eram sujeitos. Durante o governo de Salvador Allende a reforma agrária chilena teve um aceleramento profundo e alcançou mais de seis milhões de hectares.

 

Levanta-te e olha as tuas mãos

Para crescer, estende-as aos teus irmãos

Juntos iremos unidos pelo sangue

Agora e na hora da nossa morte

Ámen

(Victor JaraPlegaria a un labrador)

 

«Lembro-me de ti, Amanda, correndo para a fábrica onde trabalhava Manuel»

Em «Te Recuerdo Amanda», o cantor chileno canta uma história de amor entre dois jovens operários. Dando-lhes o nome dos seus pais, Amanda e Manuel, Jara faz da canção um retrato da aliança social entre camponeses e operários chilenos que permitiu eleger um presidente com uma agenda progressista e transformadora num continente dominado por ditaduras militares.

Mas os versos retratam, também, a dureza do trabalho. Os operários vão trabalhar para a serra e, quando a sirene toca, muitos não voltam, «tampouco Manuel».

Os problemas das mulheres estão presentes na obra de Jara; numa entrevista em Cuba afirma: «A mulher não é uma escrava: é igual ao homem e tem os mesmos direitos. Pedir à mulher pureza e dedicação ao lar, e ao homem não, é ser esclavagista.»


«Nenhum canhão destruirá o sulco do teu arrozal»

Com a guerra do Vietname contestada dentro e fora dos Estados Unidos da América, Víctor Jara escreve em 1971 um álbum intitulado El derecho de vivir en paz. A canção homónima que abre o disco é toda ela dedicada ao povo vietnamita, que, à época, sofria com a ocupação parcial norte-americana, numa luta pela independência, já depois de derrotado o colonialismo francês.

Víctor Jara foi nomeado embaixador cultural do Chile por Salvador Allende, e viaja pela América Latina e pela Europa, onde participa num acto mundial contra a guerra no Vietname, em Helsínquia.

O governo chileno, dirigido por Allende, adoptou uma política internacional de respeito pela autodeterminação dos povos. O Chile integrou o movimento dos países não-alinhados, fomentou um clima de paz e cooperação na América Latina e a resolução pacífica dos conflitos.

Em Dezembro de 1972, a menos de um ano do golpe, Salvador Allende discursa na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde denuncia as pressões externas, o bloqueio económico-financeiro e a manipulação da opinião pública chilena conduzidos pelos EUA.

 

«Somos cinco mil»

Víctor Jara morreu após tortura no Estádio Chile, em Santiago, dias depois do golpe de 11 de Setembro de 1973. Os poucos companheiros que com ele partilharam o complexo desportivo, transformado em campo de concentração, e sobreviveram contam que até ao fim cantou, tocou guitarra e escreveu. Mesmo com as mãos fracturadas pelos militares, Jara ainda cantou o hino da Unidad Popular, contam testemunhas.

Pouco antes de morrer, escreveu um último poema, em que denuncia o terror dos golpistas, que fica conhecido como Estadio Chile.

 

Somos cinco mil 
nesta pequena parte da cidade. 
Somos cinco mil.
Quantos seremos no total, 
nas cidades e em todo o país? 
Somente aqui, dez mil mãos que semeiam 
e fazem andar as fábricas.

Quanta humanidade 
com fome, frio, pânico, dor, 
pressão moral, terror e loucura!

Seis de nós se perderam 
no espaço das estrelas.

Um morto, um espancado como jamais imaginei 
que se pudesse espancar um ser humano.

(Último poema de Victor Jara)

 

Víctor Jara está sepultado no Cemitério Geral de Santiago, para onde foram trasladados os seus restos mortais em 2009, numa cerimónia que contou com mais de 12 mil pessoas. O Estádio Chile, transformado em campo de concentração em 1973 e local da sua morte, foi renomeado Estádio Víctor Jara em 2003.

 

“Jara: O direito de viver em paz”, https://www.abrilabril.pt/internacional/jara-o-direito-de-viver-em-paz, 2016-07-03

 


CARREIRO, José. “Víctor Jara”. Portugal, Folha de Poesia, 12-09-2021. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2021/09/victor-jara.html



sábado, 11 de setembro de 2021

Lição sobre a água, António Gedeão


 

Lição sobre a água

 

Este líquido é água.

Quando pura

é inodora, insípida e incolor.

Reduzida a vapor,

sob tensão e alta temperatura,

move os êmbolos das máquinas que, por isso,

se denominam máquinas de vapor.

 

É um bom dissolvente.

Embora com exceções mas de um modo geral,

dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.

Congela a zero graus centesimais

e ferve a 100, quando à pressão normal.

 

Foi neste líquido que numa noite cálida de verão,

sob um luar gomoso e branco de camélia,

apareceu a boiar o cadáver de Ofélia

com um nenúfar na mão.

 

António Gedeão, Poemas Escolhidos, 12.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2010, p. 62.

 

 

Notas:

êmbolos (verso 6) – discos ou cilindros com movimento de vaivém dentro dos tubos de um motor ou de uma máquina a vapor.

gomoso (verso 14) – que destila ou contém goma; viscoso.

Ofélia (verso 15) – personagem de Hamlet, peça de William Shakespeare; após ser rejeitada pelo príncipe Hamlet, e ao saber que este matou o seu pai, Ofélia enlouquece; cai num ribeiro, enquanto apanha flores, e, cantando, deixa-se ir a flutuar ao sabor da corrente, até morrer afogada.

nenúfar (verso 16) – planta aquática flutuante, com grandes flores, geralmente brancas.

 

Questionário:

1. Estabeleça uma relação entre o título do poema e o discurso do sujeito poético nas duas primeiras estrofes.

 

2. Indique duas características que diferenciam a terceira estrofe das estrofes anteriores.

 

3. Proceda à análise formal do poema, no que respeita à estrutura estrófica e aos tipos de rima.

 

4. Releia a última estrofe do poema de António Gedeão e a nota sobre Ofélia. Em seguida, observe a reprodução do quadro de John Everett Millais.

No poema e no quadro, o fim trágico de Ofélia é representado de modos distintos, pondo em evidência aspetos diferentes.

Justifique esta afirmação, com base em dois aspetos relevantes.


John Everett Millais, Ophelia, 1851-1852, Tate Britain, in www.tate.org.uk (consultado em 09/11/2020).

 

Chave de correção do questionário sobre o poema “Lição sobre a água”:

1. Na resposta, devem ser desenvolvidos os dois tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

A relação entre o título do poema e o discurso do sujeito poético nas duas primeiras estrofes pode ser estabelecida a partir dos aspetos seguintes:

− a reprodução de um modelo de apresentação escolar, tradicionalmente associado à transmissão de conhecimentos em contexto de aula;

− o uso de linguagem científica (objetiva e impessoal), com a intenção de descrever as propriedades da água (num enunciado com valor aspetual genérico).

 

2. Na resposta, devem ser desenvolvidos dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

As características que diferenciam a terceira estrofe das estrofes anteriores são as seguintes:

− o aparecimento de uma personagem literária com uma conotação trágica («o cadáver de Ofélia» – v. 15), que diverge da neutralidade impessoal predominante nas estrofes anteriores;

− a presença do discurso metafórico («sob um luar gomoso e branco de camélia» – v. 14), por oposição ao discurso científico e objetivo das duas primeiras estrofes;

− a mudança de tempo verbal (do presente do indicativo, nas duas estrofes iniciais, para o pretérito perfeito do indicativo, na última estrofe), que assinala a passagem de um modo expositivo para um modo narrativo.

 

3. Na resposta, devem ser desenvolvidos os dois tópicos seguintes.

No que respeita à estrutura estrófica e aos tipos de rima, o poema:

− é constituído por uma primeira estrofe com sete versos (sétima), uma segunda estrofe com cinco versos (quintilha) e, por fim, uma terceira estrofe com quatro versos (quadra);

− apresenta rima interpolada, rima emparelhada e versos brancos.

 

4. Na resposta, devem ser desenvolvidos dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

Os aspetos diferentes postos em evidência na representação do fim trágico de Ofélia, nas duas obras, são os seguintes:

− no poema de António Gedeão, a morte de Ofélia é inserida num ambiente noturno, em que se destaca a referência ao luar (que acentua o carácter trágico e simbólico do episódio aludido); no quadro de John Everett Millais, a luz do ambiente diurno revela os pormenores do meio natural em redor de Ofélia;

− no poema, não ocorrem referências a traços físicos de Ofélia; no quadro, é possível observar a beleza e a juventude de Ofélia;

− no poema, Ofélia é descrita «com um nenúfar na mão» (v. 16), o que reforça a importância simbólica do meio aquático; no quadro, Ofélia é representada tendo na mão (direita) algumas flores que colhera.

 

 

Fonte: Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa, Prova 734, 2.ª Fase, Ensino Secundário - 12.º Ano de Escolaridade, 2021. Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho. Prova disponível em https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/09/EX-LitP734-F2-2021_net.pdf e critérios de classificação em https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/09/EX-LitP734-F2-2021-CC-VD_net.pdf

 



 

Texto de apoio | Depoimento

 

Só conseguimos gostar do que conhecemos.

À entrada da adolescência, tinha eu doze anos, um austero professor fez-me descobrir o sortilégio das experiências de química, a tal ponto que, qual pesquisador da pedra filosofal, Instalei no terraço de casa um pequeno laboratório, com o beneplácito de meu pai, que tinha uma paciência infinita para as minhas fantasias, e dei início à minha actividade experimental. Como era de esperar, fruto da ignorância, a coisa correu mal, e depois de um desastre sem consequências graves, fui levado a desmontar o laboratório e esquecer as experimentações domésticas. Mas o entusiasmo ficou cá.
De entre as variadas coisas que ensinei, o que recordo com uma ternura nostálgica são umas aulas de laboratório de química, e o prazer de fazer descobrir aquele mundo mágico a sucessivas camadas de adolescentes. Hoje é a lembrança dessas experiências que me faz trazer ao blog o poema de António Gedeão (1906-1997), Lição sobre a água.

O poema, no seu propósito didáctico, assume um tradição que remonta à medicina árabe medieval, na qual os tratados médicos (os únicos que o mundo medieval cristão conheceu) eram escritos em verso para facilitar a sua assimilação. O mas notável será o Poema da Medicina, de Avicena. 

Ainda que o Químico, o Prof. Rómulo de Carvalho, que escreveu poesia sob o pseudónimo de António Gedeão, tenha esquecido a biologia e o papel da água como fonte da vida, na estrofe final do poema associa toda esta ciência à mente humana e ao que ela pode ter de mais dilacerante: a loucura e o suicídio por transtornos emocionais entre família, dever, e desejo. Evoca aí o poeta a morte de Ofélia, paixão (?) de Hamlet, na peça homóloga de Shakespeare. 

A cena descrita na última estrofe do poema foi pretexto para uma famosa pintura de John Everett Millais (1829-1896), com cuja imagem abre o artigo. A pintura original pertence à Tate Britain. 

Carlos Fernandes

https://viciodapoesia.com/2017/10/12/licao-sobre-a-agua-poema-de-antonio-gedeao/

 




CARREIRO, José. “Lição sobre a água, António Gedeão”. Portugal, Folha de Poesia, 11-09-2021. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2021/09/licao-sobre-agua-antonio-gedeao.html


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Correm turvas as águas deste rio, Camões

 



Correm turvas as águas deste rio,

que as do Céu e as do monte as enturbaram1;

os campos florecidos se secaram,

intratável2 se fez o vale, e frio.

 

Passou o verão, passou o ardente estio3,

ũas cousas por outras se trocaram;

os fementidos4 Fados já deixaram

do mundo o regimento5, ou desvario6.

 

Tem o tempo sua ordem já sabida;

o mundo, não; mas anda tão confuso,

que parece que dele Deus se esquece.

 

Casos, opiniões, natura7 e uso

fazem que nos pareça desta vida

que não há nela mais que o que parece.

 

Luís de Camões, Rimas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994, p. 168.

 

 

Notas:

1 enturbaram – tornaram turvas.

2 intratável – inacessível; intransitável.

3 estio – tempo quente e seco.

4 fementidos – enganosos.

5 regimento – governo.

6 desvario – loucura; inquietação; excesso.

7 natura – natureza humana.

 

Questionário:

 

1. Explique o modo como a passagem do tempo é representada nas duas primeiras estrofes.

 

2. «Tem o tempo sua ordem já sabida; / o mundo, não» (versos 9 e 10).

Explicite a oposição presente nestes versos, tendo em conta a globalidade do poema.

 

3. Selecione a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.

Neste soneto, além do tema da mudança, também se destaca o tema ………………. Perante a realidade que perceciona, o sujeito poético evidencia um sentimento de ……………….

(A) da reflexão sobre a vida pessoal … indiferença

(B) da reflexão sobre a vida pessoal … descrença

(C) do desconcerto … indiferença

(D) do desconcerto … descrença

 

Chave de correção do questionário de interpretação do soneto:

1. Para que a resposta seja considerada adequada, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

a referência à sequência das estações do ano através da caracterização de elementos da natureza (em «Correm turvas as águas deste rio, / que as do Céu e as do monte as enturbaram» – vv. 1-2, remetese para o inverno; em «os campos florecidos» – v. 3, aponta-se para a primavera; em «os campos [...] se secaram» – v. 3, indicia-se o verão; em «intratável se fez o vale, e frio» – v. 4, sugere-se o outono);

a referência aos efeitos que a passagem do tempo provoca na natureza/a referência às transformações ocorridas na natureza resultantes da passagem inevitável do tempo (como o turvar das águas do rio ou o secar dos campos florescidos);

a associação entre a passagem do tempo e a ideia de mudança, evidente no recurso aos verbos «passar» e «trocar» (vv. 5-6).

Nota Os tópicos podem ser abordados separadamente ou de forma integrada.

 

2. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:

a previsibilidade/a constância natural da passagem do tempo, evidenciada pelo ritmo cíclico das estações do ano;

a imprevisibilidade da natureza humana/dos comportamentos humanos, provocando tal desconcerto no mundo que «parece que dele Deus se esquece» (v. 11).

 

3. (D)

Neste soneto, além do tema da mudança, também se destaca o tema do desconcerto. Perante a realidade que perceciona, o sujeito poético evidencia um sentimento de descrença.

 

 

Fonte: Exame Final Nacional de Português, Prova 639, 2.ª Fase, Ensino Secundário - 12.º Ano de Escolaridade, 2021. Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho. Prova disponível em https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/09/EX-Port639-F2-2021-V1_net.pdf e critérios de classificação em https://iave.pt/wp-content/uploads/2021/09/EX-Port639-F2-2021-CC-VD_net.pdf

 

 

Textos de apoio:

 

Camões e o real

 

O soneto “Correm turvas as águas deste rio” pode ser lido em perspectiva a “Verdade, Amor, Razão, Merecimento”, inclusive pela ocorrência em ambos de uma palavra-chave, “regimento”. Neste texto, basto-me no acima transcrito, que propõe uma cisão entre “mundo” e “tempo”. O “mundo”, realidade tangível à experiência do sujeito lírico, é “confuso”, enquanto o tempo mantém sua ordem. Há, portanto, um divórcio entre tempo e espaço, duas instâncias em desejada relação que, quando apartadas, criam no poeta uma espécie de precipício subjetivo. A partir do “tudo posso ver” que se encontra no citado “Que poderei do mundo já querer”, entendo real como dado espaciotemporal, mas, em “Correm turvas as águas deste rio”, isso se complica, pois, enquanto o tempo segue seu curso, o mundo é um “desvario” – por isso, o eu, além da natureza, se encontra perto desse estado, e a última palavra do segundo quarteto não deixa de ser um verbo em primeira do singular.

Por essas e outra, “parece” que Deus “se esquece” do mundo, o que me faz repetir algo do começo deste texto: escrevi imo para tentar indicar algo que pode ser tão superficial como qualquer banalidade, mas cuja não evidência precisa da atenção de uns olhos afiados que lhe permitam (seja ele, o imo, profundo ou superficial), ser visto, ou dado a ver. A aparência é do esquecimento de Deus, dada à percepção do poeta no mundo em “desvario”, o que enseja, por sua vez, outra aparência: nesta vida, talvez não haja nada além da própria aparência, sem imo, sem essência, sem profundidade. Maria Helena Ribeiro da Cunha, muito dedicada a pensar as bases filosóficas de que Camões lançou mão, afirma: “Camões percorre o conceito aristotélico do verosímil, que lhe abre a possibilidade de invocar continuamente o estranhamento diante de uma realidade contraditória e não explicada pelo entendimento” (1989, p. 97), o que o leva a formular o próprio desentendimento diante da desconfortável realidade.

Um detalhe desse soneto é magistral e revelador: em dois versos, “que parece que dele Deus se esquece” e “que não há nela mais que o que parece”, há incômoda proximidade de ocorrências do pronome “que”, não obstante a diferenças das respectivas funções sintáticas. A aspereza sonora e visual expressa a gagueira do poeta e do poema, incapazes de dizer maciamente de um desconcerto do mundo que toca Deus. O atrito dos “que” reforça a incompreensão acerca desse Deus que poderia concertar e o real, dando-lhe bom regimento: o problema é o da incognoscibilidade de Deus ou de Sua apatia? Dizendo, ou perguntando, de outro modo: se “parece” que “Deus se esquece” do mundo, e se, na “vida”, a aparência (“pareça”) é a de “que não há nela mais que o que parece”, há uma essência atrás da aparência? Não perco de vista as três ocorrências dessa ideia a partir do décimo primeiro verso, tampouco que Deus não aparece à Máquina do Mundo. Uma pergunta feita ao futuro: será possível investigar Deus em Camões tendo como apetrecho inclusive a ideia de indecidível?

 

“Camões e o real”, Luis Maffei. Faculdade de Letras da UFRJ, Metamorfoses (Revista de Estudos Luso Afro-Brasileiros da Cátedra Jorge de Sena), v. 14, n.º 1, 2017. https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2017.v14n1a10504

 

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Tiempo-caos: angustia en Camões

 

Al leer los sonetos líricos de Luís de Camões encontramos que en su mayoría éstos se encuentran construidos sobre una base temática bimembre. Los dos componentes de esta arquitectura son el tiempo en su paso inexorable y el caos resultante. Esta relación dialéctica trae consigo el contínuo mutar de los órdenes, situación que produce en el poeta un sentimento angustioso; éste, a su vez, resultado de la anulación de aquellos valores o normas que ofrecen al hombre seguridad en un momento histórico determinado.

Nuestro propósito es presentar el desarrollo y tratamiento de estos elementos en el soneto "Correm turvas as águas deste rio." (Luís de Camões, Obras completas I. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1956, págs. 255-6). A la vez, trataremos de situar esta expresión poética dentro de las corrientes estético filosóficas en que se desenvuelve el poeta.

Desde el primer verso del soneto eje de nuestro análisis, Camões introduce la idea de movimiento que será trabajada en el primer cuarteto. Metafóricamente se proyecta hacia el lector por medio de dos símbolos: el río y la tierra que, al mismo tiempo, están relacionados con la fertilidade y la vida. La imagen referente a las estaciones: "Os campos florescidos se secaram; /Intratável se fez o vale e frio.", señala la perpetuidad temporal de sus elementos dada su naturaleza cíclica y, por contraste, lo efímero del género humano. Junto a este gran tema, fuerza generadora del soneto, Camões sugestivamente desarrolla el segundo componente temático: el caos. Visualmente éste se presenta en la figura del agua: "Correm turvas as aguas deste rio", turbulencia que ha alterado la intrínseca diafanidad de la misma. Podemos notar que el caos aquí está presentado a base de elementos físicos, agua-río, no por ello descartando una posible interpretación filosófica, como veremos más adelante.

El segundo verso establece una concatenación de acciones que expresan movilidad: "que as do céu e as do monte as enturbaram;" y, a la vez, se reitera la idea de trastoque en la esencia. La lluvia cristalina produce el enturbamiento del río; del orden al desorden, del equilibrio al caos. Como señaláramos, un segundo nivel intelectivo permite recrear la imagen del río como símbolo de vida, enmarcando la expresión en un contexto religioso que recuerda las coplas de Jorge Manrique. Esta interpretación nos permite establecer un paralelo que vincula la tradición literária renacentista con la medieval.

Establecido el acercamiento al primer cuarteto, vemos como los dos temas presentados son tratados por Camões a dos niveles, el físico específico y el filosófico-universal.

La intensificación del primer elemento arquitectónico la encontramos en el segundo cuarteto. El tiempo, presente en el primer cuarteto, será objeto de análisis retrospectivo desde la inmediatez. Presenciamos el movimento temporal hacia el pasado: "passou, se trocaram". Camões presenta ahora la idea cambio-caso no ya de manera particular, sino universal: "Uas cousas por outras se trocaram", estableciendo nuevamente la relación entre causa y efecto. Lo caótioco en este cuarteto es presentado en un marco mítico-filosófico; el destino (Fados) es el responsable del desordenado mutar ya que, al abondonar el control del mundo, ha legado en el hombre la dirección del mismo. Por medio de la mitología pagana Camões da la visión renacentista del hombre como hacedor de su destino. Sin embargo, el cambio de una visión teocéntrica a una antropocêntrica parece presentarse negativa al poeta pues el hecho señala la pérdida de la armonía preexistente.

En el primer terceto se intensifica la idea de organicidad y perpetuidad, relacionándola al plano temporal. Nuevamente, el poeta señala que sólo aquello externo al hombre continúa su estado armónico en su eterno devenir: "Tem o tempo sua orden já sabida". El planteamiento es en estos momentos desde una perspectiva social: "O mundo não; mas anda tão confuso". Sin embargo, Camões no parece encontrar una explicación a dicha confusión social y, al encontrarse sin asidero ideológico expresa: "... parece que Deus se esquece", anguistia hecha verbo que en el plano religioso tendría ecos de blasfemia.

Esta desorientación provoca en el poeta una actitud negativa que alcanza su punto álgido en el segungo terceto expresándola en una visión totalizadora a base de la enumeración: "casos, opinões, natura e uso". Después de establecidos los elementos, el poeta, como último intento de encontrar una explicación, los recimina por ser, desde su perspectiva, los causantes del caos del mundo. Al haber agotado las posibilidades de encontrarle sentido al mundo concluye diciendo que la vida es sólo un cúmulo de apariencias: "Fazem que nos pareça desta vida/Que não há nela mais que o que parece." Expresión que encubre la anguistia experimentada ante la inseguridad y el caos que no consigue comprender.

 

Torres-Rosado, S. (1984). Tiempo-caos: angustia en Camões. Mester, 13(1). http://dx.doi.org/10.5070/M3131013704 Retrieved from https://escholarship.org/uc/item/6t52q9z0

 

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A crise metafísico-religiosa

 

Qual é a realidade de Camões? Da oposição entre o contentamento (supostamente) passado e o descontentamento presente, do contraste entre o empiricamente impossível e o empiricamente real, Camões encaminha-se para uma formulação metafísica do problema da crise subjectiva do tempo psicológico e do desconcerto do mundo, numa tentativa de escapar à conformação ou aceitação do absurdo da vida e à sua dupla verdade, numa busca desesperada da Verdade, que o liberte de todas as aporias e o encaminhe numa solução com sentido.

Tal é a tentativa de Camões para resolver (pelo menos explicar) o problema do desconcerto objectivo do mundo – aquele que se refere à distribuição desencontrada de prémios e castigos –, que adopta uma solução mística para poder justificar a presença de acontecimentos ou de casos que contribuem (aparentemente) para a ausência da ordem ou do regimento do mundo visível, ao sabor dos caprichos e das incongruências da Fortuna, e fazem com que os homens se julguem perseguidos pelos efeitos do desconcerto de um mundo tão confuso, que parece que Deus se esquece dele (“Tem o Tempo a sua ordem já sabida, / o mundo não, mas anda tão confuso / que parece que dele Deus se esquece. / Casos, opiniões, Natura e Uso / fazem que nos pareça desta vida / que não há nela mais que o que parece.”25). Mas estas perseguições são na verdade transcendentes à compreensão da mente humana, pois que a razão é impotente para integrar a experiência, solucionar e transcender a aparência do desconcerto do mundo; na verdade este desconcerto não é aparente, está antes justamente determinado pelos desígnios de Deus (desde o pecado original): o que para Deus é justo parece injusto aos homens (“(...) dedicai, se quereis, ao Desconcerto / novas honras e cegos sacrifícios, / que por castigo igual de antigos vícios / quer Deus que andem as cousas por acerto. / Não caiu neste modo de castigo / quem pôs culpa à Fortuna, quem somente / crê que acontecimentos há no mundo. / A grande experiência é grão perigo, / mas o que Deus é justo e evidente / parece injusto aos homens e profundo.”26).

A razão humana só pode restringir-se à experiência fenomenológica, à observação dos factos e dos fenómenos da natureza que envolvem todas as contradições vivenciais, conceptuais, éticas, morais e axiológicas (“Verdade, Amor, Razão, Merecimento, / qualquer alma farão segura e forte. / Porém Fortuna, Caso, Tempo e Sorte / têm do confuso mundo o regimento. / Efeitos mil revolve o pensamento / e não sabe a que causa se reporte, / mas sabe que o que é mais que vida e morte / que não o alcança humano entendimento.”27). A essência do desconcerto só poderá ser equacionada pelo entendimento humano, através da crença fideísta na acção divina. Porém, acreditar em Deus não significa descobrir uma razão no desconcerto do mundo; significa, sim, aceitar a sua irracionalidade no plano da experiência e confiar numa razão profunda inacessível aos homens. Ter muito visto e experimentado é melhor, mais válido, do que acreditar nas razões vãs dos doutos, pois que há coisas que se crêem e não acontecem e há coisas que acontecem e não se crêem; por isso, dada a incapacidade da razão para compreender este paradoxo entre a teoria racional positiva e a experiência fenomenológica negativa, entre o que se passa, o que realmente acontece, e a sede de verdade, de justiça, melhor ainda é crer em Cristo (“Doctos varões darão razões subidas, / mas são experiências mais provadas / e por isso é melhor ter muito visto. / Cousas há i que passam sem ser cridas, / e cousas cridas há sem ser passadas. / Mas o milhor de tudo é crer em Cristo”.28). Ao evocar Deus como a causa última lógica e racional do mundo, Camões não se deixa de conformar com a ideia do absurdo; simplesmente a racionalidade que não está no mundo está em Deus; até a necessidade de um universo (aparentemente) ilógico está em Deus; a inteligibilidade dos actos de Deus não existe no plano racional da teoria nem na experiência da realidade empírica mas sim na síntese mística e na solução volitiva do plano divino. Assim, só através da superação metafísico-religiosa do desconcerto do mundo e do dissídio vivencial, mental e espiritual é que se pode descobrir o processo da Verdade transcendente e encontrar um sentido ontológico e gnoseológico para a existência humana: se nos reportarmos ao mundo inteligível através da solução derradeira que irrompe da Graça divina, o desconcerto desaparece e o tempo fica iliminado; a saudade e a esperança perdem a esta luz a sua natureza empírica e temporal; a alma deixa de estar sujeita aos efeitos da mudança e inscreve-se num plano metacronológico de plenitude escatológica. É a partir desta solução fideísta (de matriz augustiniana e não neoplatónica ou antineoplatónica) – que não deixa de - ser também, na Lírica camoniana, uma solução estética, pela criação fictícia de um universo utópico de beleza, liberdade e fé, através do canto divino de libertação e ascensão espirituais –, que Camões se encontra para resolver as suas contradições, antinomias e tensões nas redondilhas “Sôbolos Rios” – aliás, já aludido na primeira parte da dissertação. É através do acto volitivo da fé, só possível com a ajuda da Graça, que Camões se separa do mundo sensível e alcança o mundo inteligível (e não pela simples contemplação intelectual, de matriz platónica). Como afirma Aguiar e Silva, “nas últimas quintilhas do poema exprime-se uma visão sombriamente pessimista e uma valoração radicalmente negativa de tudo quanto procede do mundo visível e da carne que encanta(s), / filha de Babel tão feia, ao mesmo tempo que se exalta, num triunfalismo furiosamente penitencial, a destruição de todo o afecto, de todo o deleite, de todo o liame, enfim, que possa prejudicar ou retardar o apelo e a acção da Graça. O clímax deste triunfalismo exicial por ser salvífico, encontra-se nestes versos (...): E beato quem tomar / seus pensamentos recentes / e em nacendo os afogar, / por não virem a parar / em vícios graves e urgentes. / Quem com eles logo der / na pedra do furor santo, / e, batendo, os desfizer / na Pedra, que veio a ser enfim cabeça do Canto. Estes versos significam um sacrificium intellectus (...)”29

As redondilhas “Sôbolos Rios” são por isso uma solução de superação da síntese de fundamentação e dinâmica neoplatónicas (tese recebida por herança cultural e desmentida pelo mundo empírico que o poeta experimentou) e exprimem um momento dramático que se resolve não por obra da inteligência mas por decisão e volição do recurso à Graça Divina. Tal como o faz para se libertar da obsessão do desconcerto do mundo, Camões escolhe (decide) crer em Cristo para poder resolver as suas contradições e encontrar, pela reminiscência e pela estética (poética) da utopia, a ordem do universo num lugar pré-terreno (Paraíso perdido), de onde foi o homem feliz. Contrapondo-se à sequência de paradoxos que atestam o desconcerto do mundo, em termos utópicos, o poeta vai projectar o sonho da verdadeira felicidade, em busca de um sonho apaziguador de regresso às origens. Para isso impõe-se uma recusa desse presente histórico injusto, corrompido e pervertido, babélico, desconcertante e sufocante, e projecta-se a esperança e o sonho de um mundo melhor no futuro – como o retorno da primitiva Idade De Ouro.

 

Daniela Barbosa Conceição, Pregnância da(s) crise(s) na obra de Camões, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2010

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(25) Cf. Soneto n.º 104,Correm turvas as águas deste rio”, ibidem, p. 108.

(26) Cf. Soneto n.º 165, “Vós outros que buscais repouso certo”, ibidem, p. 199.

(27) Cf. Soneto n.º 166, “Verdade, Amor, Razão, Merecimento”, ibidem, p. 199.

(28) Ibidem, p. 199.

(29) Cf. Vítor Manuel de Aguiar e Silva, “Amor e mundividência na lírica camoniana”, in Camões: labirintos e fascínios, Lisboa, Cotovia, 1994, pp. 176, 177.

 


CARREIRO, José. “Correm turvas as águas deste rio, Camões”. Portugal, Folha de Poesia, 10-09-2021. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2021/09/correm-turvas-as-aguas-deste-rio-camoes.html