Não sou daqui. Mamei em
peitos oceânicos
minha mãe era ninfa, meu
pai chuva de lava
mestiça de onda e de
enxofres vulcânicos
sou de mim mesma pomba
húmida e brava.
Natália Correia, Cântico do País Emerso
Nas veias corre-me basalto negro
Manuel Medeiros Ferreira,“Ilhas
de Bruma”
Ao pasto e à onda me unirei sincera
Natália Correia,
“Mãe-Ilha”
«Há quase 600 anos que aqui estamos e, desde o início,
a evidência foi que, aqui, Portugal é diferente.
Nuns casos, por nós, noutros, por outros, aqui,
Portugal é diferente.
Não esquecemos de onde viemos, nem ignoramos onde
estamos.
Mas, sobretudo, sabemos quem somos.
A História e a Geografia deram-nos forma, mas é o
“intenso orgulho na palavra Açor”, nas palavras de Sophia de Mello Breyner, que
dá o sopro de vida a esta identidade que empunhamos.
E esse orgulho não é vão, nem é vazio.
É, desde logo, o orgulho que pode ter, é o orgulho que
tem quem aqui resiste.
A tempestades e a terramotos;
A vulcões e a piratas;
De quem já resistiu à fome, às pragas, à solidão e, em
alguns casos, ao esquecimento;
Resiste e persiste, reconstruindo, reerguendo,
refazendo.
Esse é o orgulho de quem tem uma aguda consciência de
si próprio.
E essa aguda consciência de nós próprios – talvez por
estarmos sós na vastidão do Atlântico ou, talvez, simplesmente, por em tantas
voltas da vida, termos estado simplesmente sós -, é, no fundo, quase como que a
chama eterna, o fogo sagrado que anima o Povo Açoriano.
E neste “intenso orgulho na palavra Açor” está também
o orgulho do que demos e do que damos pelo nosso País.
Demos Presidentes da República, cientistas e
militares;
Demos embaixadores, ministros e escritores;
Demos pensadores, políticos e poetas;
Demos Homens e Mulheres desconhecidos que, nas
Américas e não só, pelo seu suor e pelas suas lágrimas, afirmaram e afirmam
Portugal aí;
Demos guarida ao último reduto da nacionalidade e
fomos ponto de impulso para as batalhas pela modernidade;
Demos homens e demos jovens que, por Portugal,
deixaram a sua vida num qualquer campo de batalha, e que, mesmo quando aí não
deixaram a vida, em muitos casos, deixaram partes de si próprios, do corpo ou
do espírito.
E tudo isto fizemos sem nunca impormos condições nem
moedas de troca.
Tudo isto fizemos “com um intenso orgulho na palavra
Açor”.
E, se tudo isso demos no passado, hoje continuamos a
dar.
Os Açores são terra de mar.
Damos dimensão estratégica e damos importância pela
terra que temos e pelo mar que trazemos.
Nesta nova fronteira, que já suscita a cobiça de
muitos, Portugal é o que é, porque os Açores são o que são.
Damos empenho e damos território na construção de
pontes e parcerias para a paz, para a ciência e para o conhecimento.
Damos testemunho de uma Autonomia que foi, é e quer
mais ser por causa dos desafios que já venceu, mas, sobretudo, por causa dos
desafios que quer vencer.
Damos presença em áreas de vanguarda da exploração e
do conhecimento espacial, reforçando a importância e a mais valia de Portugal.
E é por tudo isto, e por tanto mais, que não podem
restar dúvidas que, aqui, Portugal é diferente.
E não queremos que deixe de ser Portugal, mas também
não queremos que deixe de ser diferente.
Porque esta nossa diferença não nos diminui em nada.
Porque, no fundo, é esta nossa diferença, do que somos
como Povo e como Região, que faz Portugal mais forte!
E é por tudo isto que hoje digo, que hoje podemos
dizer,
Vivam os Açores!
Viva Portugal!»
Intervenção do Presidente do Governo Regional
dos Açores, Vasco Cordeiro, proferida em 2018-06-09, em Ponta Delgada, na
receção ao Corpo Diplomático, no âmbito das Comemorações do Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas.
http://www.azores.gov.pt/GaCS/Noticias/2018/Junho/Interven%C3%A7%C3%A3o+do+Presidente+do+Governo.htm
“Aqui Portugal é diferente” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 12-06-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/06/aqui-portugal-e-diferente.html
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