SALGUEIRO
MAIA
Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com sua ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner
Andresen, Musa, 1.ª ed., 1994, Lisboa, Editorial
Caminho • 2.ª ed., 1995, Lisboa, Editorial Caminho • 3.ª ed., 1997, Lisboa,
Editorial Caminho • 4 ed., 2001, Lisboa, Editorial Caminho • 5.ª ed., revista,
2004, Lisboa, Editorial Caminho.
SALGUEIRO MAIA
Ficaste na pureza inicial
do gesto que liberta e se desprende.
Havia em ti o símbolo e o sinal
havia em ti o herói que não se rende.
Outros jogaram o jogo viciado
para ti nem poder nem sua regra.
Conquistador do sonho inconquistado
havia em ti o herói que não se integra.
Por isso ficarás como quem vem
dar outro rosto ao rosto da cidade.
Diz-se o teu nome e sais de Santarém
trazendo a espada e a flor da liberdade.
“Salgueiro Maia”, Manuel Alegre,
04-04-2012. Disponível em: https://manuelalegre.com/301000/1/002731,000014/index.htm
Os poemas de
Sophia de Mello Breyner Andresen e Manuel Alegre, dedicados a Salgueiro Maia,
oferecem duas perspetivas distintas, mas complementares, sobre a figura do
Capitão de Abril. Ambos os autores destacam a integridade, a abnegação e o
papel crucial de Salgueiro Maia na Revolução dos Cravos, mas com nuances que
enriquecem a nossa compreensão do herói.
"Salgueiro
Maia" de Sophia de Mello Breyner Andresen:
Este poema
foca-se na dimensão ética e moral de Salgueiro Maia. Através de uma estrutura
anafórica ("Aquele que..."), Sophia constrói um retrato idealizado do
homem justo e virtuoso. Destacam-se os seguintes aspetos:
- Respeito pelo vencido: Sublinha a nobreza de caráter
de Salgueiro Maia, que mesmo na vitória não humilhou ou explorou o
adversário. Este traço humanista é fundamental para compreendermos o
espírito do 25 de Abril, que se pretendia pacífico e reconciliador.
- Abnegação e desinteresse: O verso "Aquele que deu
tudo e não pediu a paga" enfatiza o altruísmo de Salgueiro Maia, que
agiu movido por ideais e não por ambição pessoal. Esta característica
contrasta com a postura de outros atores políticos que, após a Revolução,
procuraram proveitos e vantagens.
- Resistência à ganância e à
corrupção: Sophia
destaca a integridade de Salgueiro Maia, que se manteve imune às tentações
do poder e da riqueza. Esta postura é particularmente relevante no
contexto pós-revolucionário, marcado por tensões e disputas políticas.
- Fidelidade aos princípios: A citação de Fernando Pessoa
("Fiel à palavra dada à ideia tida") reforça a ideia de
coerência e retidão moral que pautou a vida de Salgueiro Maia. Esta
referência intertextual estabelece uma ligação entre o herói de Abril e a
tradição da poesia portuguesa, elevando a sua figura a um patamar
simbólico.
O poema de
Sophia é, assim, um elogio à virtude e à integridade, personificadas em
Salgueiro Maia. A linguagem é concisa e direta, com um ritmo marcado pela
repetição anafórica, que confere solenidade e força expressiva ao poema.
"Salgueiro
Maia" de Manuel Alegre:
Este poema
assume um tom mais épico e celebratório, enfatizando o papel de Salgueiro Maia
como líder e símbolo da liberdade. Destacam-se os seguintes aspetos:
- Pureza do gesto libertador: Alegre evoca a imagem de um
gesto inaugural e puro, que marca o início de uma nova era para Portugal.
A palavra "desprende" sugere um ato de libertação não apenas do
regime ditatorial, mas também das amarras do passado.
- Figura heroica e idealizada: Salgueiro Maia é apresentado
como um herói que "não se rende" e que "não se
integra" nos jogos políticos do poder. Esta imagem idealizada reforça
o seu estatuto de símbolo da resistência e da integridade.
- Conquista do sonho da
liberdade: O
verso "Conquistador do sonho inconquistado" sublinha a dimensão
utópica da Revolução dos Cravos, que procurava construir uma sociedade
mais justa e livre. Salgueiro Maia surge como o líder que concretiza esse
sonho.
- Ligação à cidade e à memória
coletiva: A
referência a Santarém, de onde partiu a coluna militar liderada por
Salgueiro Maia, e a imagem da "espada e a flor da liberdade"
criam uma forte ligação entre o herói, o território e os valores da
Revolução. O poema termina com uma nota de esperança e renovação,
sugerindo que o nome de Salgueiro Maia continuará a inspirar as gerações
futuras.
O poema de
Alegre é, assim, uma ode à liberdade e ao heroísmo, com uma linguagem mais rica
em imagens e metáforas. O ritmo é mais fluido e narrativo, evocando a marcha
vitoriosa de Salgueiro Maia rumo a Lisboa.
Em suma,
ambos os poemas celebram a figura ímpar de Salgueiro Maia, destacando a sua
integridade, coragem e papel fundamental na história de Portugal. Enquanto
Sophia enfatiza a dimensão ética e moral do homem, Alegre foca-se no seu papel
como líder e símbolo da liberdade. A leitura conjunta dos dois poemas
oferece-nos um retrato multifacetado e enriquecedor de um dos maiores heróis da
democracia portuguesa.
Gemini 2.0 Flash Experimental (Modelo de Linguagem). (2024). Resposta à pergunta sobre recensão literária
dos poemas sobre Salgueiro Maia. Data da consulta: 14-12-2024.
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