sábado, 14 de dezembro de 2024

Salgueiro Maia

 


SALGUEIRO MAIA

Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com sua ignorância ou vício

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse

 

Sophia de Mello Breyner Andresen, Musa, 1.ª ed., 1994, Lisboa, Editorial Caminho • 2.ª ed., 1995, Lisboa, Editorial Caminho • 3.ª ed., 1997, Lisboa, Editorial Caminho • 4 ed., 2001, Lisboa, Editorial Caminho • 5.ª ed., revista, 2004, Lisboa, Editorial Caminho.

 



SALGUEIRO MAIA

Ficaste na pureza inicial
do gesto que liberta e se desprende.
Havia em ti o símbolo e o sinal
havia em ti o herói que não se rende.

Outros jogaram o jogo viciado
para ti nem poder nem sua regra.
Conquistador do sonho inconquistado
havia em ti o herói que não se integra.

Por isso ficarás como quem vem
dar outro rosto ao rosto da cidade.
Diz-se o teu nome e sais de Santarém
trazendo a espada e a flor da liberdade.

“Salgueiro Maia”, Manuel Alegre, 04-04-2012. Disponível em: https://manuelalegre.com/301000/1/002731,000014/index.htm



Os poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen e Manuel Alegre, dedicados a Salgueiro Maia, oferecem duas perspetivas distintas, mas complementares, sobre a figura do Capitão de Abril. Ambos os autores destacam a integridade, a abnegação e o papel crucial de Salgueiro Maia na Revolução dos Cravos, mas com nuances que enriquecem a nossa compreensão do herói.

"Salgueiro Maia" de Sophia de Mello Breyner Andresen:

Este poema foca-se na dimensão ética e moral de Salgueiro Maia. Através de uma estrutura anafórica ("Aquele que..."), Sophia constrói um retrato idealizado do homem justo e virtuoso. Destacam-se os seguintes aspetos:

  • Respeito pelo vencido: Sublinha a nobreza de caráter de Salgueiro Maia, que mesmo na vitória não humilhou ou explorou o adversário. Este traço humanista é fundamental para compreendermos o espírito do 25 de Abril, que se pretendia pacífico e reconciliador.
  • Abnegação e desinteresse: O verso "Aquele que deu tudo e não pediu a paga" enfatiza o altruísmo de Salgueiro Maia, que agiu movido por ideais e não por ambição pessoal. Esta característica contrasta com a postura de outros atores políticos que, após a Revolução, procuraram proveitos e vantagens.
  • Resistência à ganância e à corrupção: Sophia destaca a integridade de Salgueiro Maia, que se manteve imune às tentações do poder e da riqueza. Esta postura é particularmente relevante no contexto pós-revolucionário, marcado por tensões e disputas políticas.
  • Fidelidade aos princípios: A citação de Fernando Pessoa ("Fiel à palavra dada à ideia tida") reforça a ideia de coerência e retidão moral que pautou a vida de Salgueiro Maia. Esta referência intertextual estabelece uma ligação entre o herói de Abril e a tradição da poesia portuguesa, elevando a sua figura a um patamar simbólico.

O poema de Sophia é, assim, um elogio à virtude e à integridade, personificadas em Salgueiro Maia. A linguagem é concisa e direta, com um ritmo marcado pela repetição anafórica, que confere solenidade e força expressiva ao poema.

"Salgueiro Maia" de Manuel Alegre:

Este poema assume um tom mais épico e celebratório, enfatizando o papel de Salgueiro Maia como líder e símbolo da liberdade. Destacam-se os seguintes aspetos:

  • Pureza do gesto libertador: Alegre evoca a imagem de um gesto inaugural e puro, que marca o início de uma nova era para Portugal. A palavra "desprende" sugere um ato de libertação não apenas do regime ditatorial, mas também das amarras do passado.
  • Figura heroica e idealizada: Salgueiro Maia é apresentado como um herói que "não se rende" e que "não se integra" nos jogos políticos do poder. Esta imagem idealizada reforça o seu estatuto de símbolo da resistência e da integridade.
  • Conquista do sonho da liberdade: O verso "Conquistador do sonho inconquistado" sublinha a dimensão utópica da Revolução dos Cravos, que procurava construir uma sociedade mais justa e livre. Salgueiro Maia surge como o líder que concretiza esse sonho.
  • Ligação à cidade e à memória coletiva: A referência a Santarém, de onde partiu a coluna militar liderada por Salgueiro Maia, e a imagem da "espada e a flor da liberdade" criam uma forte ligação entre o herói, o território e os valores da Revolução. O poema termina com uma nota de esperança e renovação, sugerindo que o nome de Salgueiro Maia continuará a inspirar as gerações futuras.

O poema de Alegre é, assim, uma ode à liberdade e ao heroísmo, com uma linguagem mais rica em imagens e metáforas. O ritmo é mais fluido e narrativo, evocando a marcha vitoriosa de Salgueiro Maia rumo a Lisboa.

Em suma, ambos os poemas celebram a figura ímpar de Salgueiro Maia, destacando a sua integridade, coragem e papel fundamental na história de Portugal. Enquanto Sophia enfatiza a dimensão ética e moral do homem, Alegre foca-se no seu papel como líder e símbolo da liberdade. A leitura conjunta dos dois poemas oferece-nos um retrato multifacetado e enriquecedor de um dos maiores heróis da democracia portuguesa.

 

Gemini 2.0 Flash Experimental (Modelo de Linguagem). (2024). Resposta à pergunta sobre recensão literária dos poemas sobre Salgueiro Maia. Data da consulta: 14-12-2024. Disponível em: https://gemini.google.com/app/33d40e789b812a69?utm_source=app_launcher&utm_medium=owned&utm_campaign=base_all

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