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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Certo poeta intrometeu-se aqui?, Vergílio Ferreira

 


1977

7-Julho (quinta). Que é que importa o meu «inconsciente»? Que é que importam as forças que me determinam, se eu as assumo depois da liberdade? Que importa o «inconsciente», se eu tenho consciência dele? Ninguém fala do inconsciente do cão — já o disse algures. E sobretudo o cão não fala dele. É no podermos falar dele, do «inconsciente», que verdadeiramente o homem começa. Mas se aí começa, o «inconsciente» é só um valor a ter em conta como o corpo (em) que somos. E se o inconsciente pode ser conhecido, ele é menos que isso, porque é já consciência. Disse.

 

*

 

Que era a morte para um grego, um medievo? Xenofonte desvaloriza muito a coragem de Sócrates, ao contrário da legenda que se impôs. Sócrates, com efeito, estava velho, ou seja, tinha à frente um destino de degradação. Entre morrer logo e esperar pela morte num corpo em destruição, preferiu a morte imediata. E assim recusou que os amigos o salvassem. Mas um grego e um medievo ou um qualquer outro para quem a morte não era o nada total, o fim da vida não a punha em questão. O que há de trágico na vida não é o podermos explicá-la (mas ela ainda o não é): é não podermos dar-lhe uma significação. O crente à beira da morte tem uma vergôntea a que se agarrar para não morrer afogado; nós afogamo-nos mesmo. O crente só põe em questão o além; nós pomos o aquém. E como não temos «além», prolongamos o «aquém» para lá de o já não ser. No fundo ninguém pode imaginar a morte, porque o nada é inimaginável. Por isso o preenchemos com a vida que ainda temos para quando já a não tivermos. Toda a moral e ordem humana assentam aí — no inimaginável da morte. É pensando nos vivos para depois de mortos que não desatamos todos a fazer doidices. O nosso nada é o nosso ser pensado para quando não tivermos ser. O nosso nada é a nossa imaginação de vivos. O fundamento das crenças está na impensabilidade da morte, ou seja, da inexistência do nosso «eu».

 

*

 

Na tarde obscura de névoa
passam os carros na rua.
A minha vida levo-a
donde ela continua.
E todo o sonho que sou
frente à morte que me ameaça
é ser a vida que passa
e não a de quem passou.
 
Mas sou eu que vou passando
nos que vão passando ali,
enquanto a vida vai estando
nos que estão depois aqui.
 
Escuro da minha sorte!
Quem me dera ter na mão
a vida que chega à morte
e a que não.

 

Bom. Certo poeta intrometeu-se aqui? Talvez. Penso como e não sei. Talvez com o ritmo? Imaginemos então um ritmo diferente. Por exemplo:

 

Na tarde que se alonga em frio e névoa
ouço passar os carros pela rua.
A vida que me deram essa levo-a
donde ela no entanto continua.
 
E todo o sonho que eu agora sou
diante da morte que sinto me ameaça
é ser a própria vida que ali passa
e não a vida de quem lá passou.
 
Mas afinal sou eu que vou passando
em todos os que vão passando ali,
enquanto a vida mesma essa vai estando
nos que depois também estarão aqui.
 
Desce do céu escuro a minha sorte.
Ah, quem pudesse ter na sua mão
a Vida que termina com a morte
e a que não.

 

Versos piores? Talvez não. De qualquer modo, se sim, o pior deles será então o «enchimento» que procurei e que assim mesmo estará a mais. Mas não há dúvida que agora já dificilmente lembram o tal poeta. Aliás, a última estrofe, numa e noutra versão, nada tem dele, sobretudo pela redução silábica do último verso. De qualquer modo, ainda, é agradável de vez em quando jogar à poesia, como deve sê-lo pintar ao domingo. Aliás, sobretudo, o tal poeta foi muitas vezes particularmente um «jogador». Mas o seu mérito é que foi ele quem descobriu as regras do jogo. Admitamos, todavia, que ele persiste nas duas versões pelo «jogo» que persiste dele. Suponhamos então uma versão mais livre em que o especiosismo da finesse se dissolva. Por exemplo:

 

Sob o céu de cinza na tarde que escurece
ouço os carros que passam.

E em cada um vai a vida de quem vai
e eu com ele.
Mas todo o meu sonho se desdobra
entre quem passa, fechado em si, sendo ele
e os que (Interrompido.)

 

Vergílio Ferreira, 07/07/1977

Conta-Corrente (1977-1979) II. Lisboa, Bertrand Editora, 1990 (3.ª edição), pp. 66-69

 

terça-feira, 4 de abril de 2023

E no seu nome esperarão as gentes (S. Mateus/Carlos Queirós)

 

Almanaque, abril 1960, p. 69



«E NO SEU NOME ESPERARÃO AS GENTES»

(S. Mateus, XII-21)

No ar azul da madrugada
Virias logo, se eu chamasse?
Encostarias Tua Face
À minha face enregelada?

Apagaria a Tua Mão
As cicatrizes que deixaram
Esses fantasmas que habitaram
A minha fruste solidão?

Quando notasses ao entrar,
Que tanto sofro por um nada,
No ar azul da madrugada
Sarar-me-ia o Teu Olhar?

Se eu Te contasse o meu desgosto
De quando a Infância me vem ver,
Ter de expulsá-la, pra viver,
Afagarias o meu rosto?

Vendo-me a alma condenada
A esta alheia expiação,
Virias dar-me o Teu perdão
No ar. azul da madrugada?

As minhas pobres confidências,
Olhos nos olhos, ouvirias?
Com Teu sorriso acalmarias
Minhas febris impaciências?

E se, com esta voz insone,
Jurasse que não creio em nada,
No ar azul da madrugada
Escreverias o Teu Nome?

CARLOS QUEIRÓS

“6 poemas religiosos: E no seu nome esperarão as gentes, por Carlos Queirós. Pudor, por Miguel Torga. Ressurreição, por Francisco Bugalho”, in Almanaque, abril 1960. Diretor: J.A. de Figueiredo Magalhães. Orientador gráfico: Sebastião Rodrigues. Disponível em: https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Almanaque/1960/Abr/Abr_item1/P69.html

 

Texto de apoio

Carlos Queirós foi um poeta português do segundo modernismo, que se identificou com a revista Presença e que teve uma relação de amizade e admiração com Fernando Pessoa. Ele publicou dois livros em vida: Desaparecido (1935) e Breve Tratado de Não Versificação (1941). Morreu em Paris em 1949, aos 42 anos¹²³.

O poema aqui reproduzido faz parte do livro Desaparecido, que foi elogiado por Pessoa na Revista de Portugal. O título do livro sugere uma sensação de ausência, de perda, de vazio, que se reflete na temática dos poemas. O poema «E NO SEU NOME ESPERARÃO AS GENTES» é um exemplo disso. Ele é inspirado num versículo do Evangelho de São Mateus, que diz: «E no seu nome esperarão as gentes» (Mateus 12:21). Esse versículo refere-se a Jesus Cristo, como o Messias esperado pelos povos.

O sujeito poético usa esse versículo como mote para expressar o seu anseio por uma presença divina que o console, que o cure, que o perdoe, que o escute, que o acalme e que escreva o seu nome no ar azul da madrugada. A madrugada é um símbolo de esperança, de renovação, de luz. A imagem do ar azul da madrugada que o poema evoca sugere um momento de silêncio e paz, uma calma que permite que a voz do poeta se eleve para encontrar Deus. O eu lírico suplica por uma conexão, um toque que possa sarar as cicatrizes deixadas pelas experiências que o trouxeram até esse momento.

O poema é escrito em forma de perguntas retóricas, dirigidas a Jesus Cristo, mas sem esperar uma resposta. O sujeito poético questiona se ele viria logo se ele chamasse, se ele apagaria as cicatrizes que deixaram os fantasmas da sua solidão, se ele sararia o seu olhar quando notasse o seu sofrimento por um nada, se ele afagaria o seu rosto quando ele contasse o seu desgosto de expulsar a infância para viver, se ele lhe daria o perdão por ter a alma condenada a uma expiação alheia e se ele escreveria o seu nome no ar azul da madrugada.

Essas perguntas revelam a angústia existencial do sujeito poético, a sua carência afetiva, a sua nostalgia da infância, a sua culpa por não crer em nada e a sua busca por um sentido para a vida.

Em suma, este é um poema que expressa a angústia existencial de um poeta modernista que se sente desaparecido no mundo e que busca uma presença divina que lhe dê conforto e esperança. É um poema que combina simplicidade e profundidade, emoção e razão, fé e dúvida.

 

Adaptado da conversação com o Bing, 31/03/2023

(1) Carlos Queirós Ribeiro – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Queir%C3%B3s_Ribeiro Acedido 31/03/2023.

(2) Carlos Queirós (PT 1907-04-05) Poemas selecionados - Escritas.org. https://www.escritas.org/pt/carlos-queiros Acedido 31/03/2023.

(3) DIA CARLOS QUEIROZ – Centro Nacional de Cultura. https://www.cnc.pt/dia-carlos-queiroz/ Acedido 31/03/2023.

 ***


Intertextualidade: crónica de António Lobo Antunes

Ilustração de Susa Monteiro


E no Seu Nome esperarão as gentes

Quando me sinto desinfeliz vem-me sempre à cabeça o poema de Carlos Queiroz chamado E no Seu Nome esperarão as gentes, que é uma citação de São Mateus. Isto dura desde os treze ou catorze anos, quando li o livro de poemas Desaparecido que descobri na biblioteca do meu pai. E no meio da desinfelicidade aparece-me logo a primeira quadra

No ar azul da madrugada
virias logo se eu chamasse?
Encostarias Tua face
à minha face enregelada?

Porque é que isto sempre me comoveu e ajudou tanto? Porque volto a ser logo o menino que fui e que o poema torna mais forte no meio da grande solidão que todos temos às vezes:

Se Te contasse o meu desgosto
de quando a angústia me vem ver
ter de expulsá-la pra viver
afagarias o meu rosto?

Esta é uma pergunta minha também. O meu desejo. E aqui, sentado a esta mesa cheia de papéis, escrevo isto comovidamente. Estes versos acompanham-me sempre no ar azul da madrugada, quando tudo me parece irremediável, sem qualquer solução. O que farei de mim, o que farei comigo? E depois, felizmente, voltam a paz e a esperança. Porque carga de água tudo me toca, uma voz, um olhar, um sorriso às vezes, uma senhora de idade a afastar-se de mim a remar com a bengala porque o passeio se transformou numa espécie de mar? Quando eu era pequeno tinha a Gija, uma camponesa galega que me deu tanto amor. Ajudava-me a despir, vestia-me o pijama, ficava ao pé de mim até eu adormecer. Desapareceu da minha vida de repente, não sei porquê, e durante anos e anos não a vi. Quatro meses antes de embarcar para a guerra casei-me, havia pessoas no adro da igreja a olharem, eu não via a Gija

(chamava-se Alice, eu não sabia dizer Alice)

não via a Gija desde os cinco anos, portanto há cerca de vinte e de súbito ela estava ali, no meio das tais pessoas a olharem, gorda, de cabelos brancos e

(como se explica isto?)

soube logo que aquela pessoa era ela. Larguei a noiva, corri para aquela senhora e abracei-a de uma maneira como nunca abracei ninguém. Tinha o mesmo cheiro, a mesma forma de me tocar

(posso estar a ser injusto mas acho que nunca ninguém me tocou como ela)

os mesmos olhos transbordantes de ternura. E ali ficámos, agarrados, comigo de novo tão pequeno, tão feliz. Gija. Gija Gija Gija. Os convidados do casamento espantados, as pessoas que olhavam espantadas e eu, muito maior do que ela, de repente pequeno, ao seu colo. Ao seu colo. Tinha um senhor ao lado, que era o marido que eu não conhecia, mas eu queria lá saber do marido. Éramos um do outro, Gija, e voltei a ser o menino de alguém. Voltei, com tanta força, a ser o menino de alguém. A ternura dela era a mesma, o amor por mim era o mesmo, só que estava cheia de lágrimas. Lembro-me tão bem de dizer-lhe

– Gija nunca deixei de ser o teu menino

e depois voltei para o casamento, para Tomar onde tinha sido colocado antes de ir para Angola, para longe de ti, eu que nunca devia ter saído do teu colo, tu que me amaste sempre incondicionalmente, com tanta pureza, tanta simplicidade, tanta, meu Deus, alegria. E eu que continuo a amar-te de uma paixão tão linda, eu que sempre, ao acontecer-me um desses problemas gravíssimos da infância, uma queda, a perda de um brinquedo, dizia logo

– Quero a Gija

e tudo se compunha outra vez. Foi a última ocasião que te vi, embora continue sempre a ver-te

E se com esta voz de insone

dissesse que não creio em nada

no ar azul da madrugada

escreverias o Teu nome?

embora continue sempre a ver-te, Gija. Não vais acreditar na quantidade de vezes em que penso em ti. Onde quer que estejas, que estupidez dizer isto, estás no Céu de certeza, o teu menino pensa em ti. Há uns anos fui a Compostela receber um prémio, ou seja à tua terra na Galiza. E no discurso de agradecimento, com o Presidente do governo lá deles

(isto passava-se na Catedral e era solene) dediquei-te o prémio e disse o teu nome. Tenho a certeza que estavas lá, com o meu pijama de menino na mão

– Temos que vestir o pijama, Toino

e que te sentia tão orgulhosa de mim. Quando um dia morrer vais vestir-mo outra vez, porque não posso aparecer nu diante do Senhor, ordenas a Deus

– Tome bem conta do meu menino, ouviu?

e esperas que Ele te garanta

– Claro que tomo, Gija

antes de te afastares e que, de vez em quando, virás espiar-me no medo que eu tenha desarrumado o cobertor e espirre, ordenando a São Pedro que ponha o olho em mim, porque o meu menino, você é Santo e percebe, não veio aqui para se constipar.

 

António Lobo Antunes, «E no Seu Nome esperarão as gentes», Visão, n.º 1331, de 6/9 a 12/9/2018, p. 7. Crónica disponível em: https://visao.sapo.pt/opiniao/ponto-de-vista/2018-09-13-e-no-seu-nome-esperarao-as-gentes/

 

Questionário sobre o excerto da crónica de António Lobo Antunes (desde “Quando me sinto desinfeliz (…)” até “(…) e tudo se compunha outra vez.”).


1. Em momentos de infelicidade, o autor lembra-se dos versos de um poema de Carlos Queiroz, pois

(A) produzem nele, simbolicamente, o mesmo efeito que Gija na sua infância.

(B) correspondem às perguntas que costumava colocar a Gija.

(C) proporcionam o mesmo conforto que a leitura dos textos sagrados.

(D) despertam nele emoções que transpõe, inevitavelmente, para a escrita.

2. No contexto desta memória de Lobo Antunes, entre outros aspetos, a evocação de Gija associa-se cumulativamente às ideias

(A) de honestidade e de subserviência.

(B) de proteção e de perdão.

(C) de amor e de compaixão.

(D) de segurança e de harmonia.

3. O advérbio «lá», utilizado na linha 35, apresenta uma ideia de

(A) desaprovação.

(B) indecisão.

(C) negação.

(D) indignação.

4. A partir da linha 41, o autor usa a segunda pessoa, quando se refere a Gija, para

(A) reproduzir, no seu discurso, as palavras que lhe dirigiu no dia do casamento.

(B) renovar os laços de união que foram perdidos após ter sido colocado em Angola.

(C) exprimir a convivência que com ela manteve de forma regular ao longo da vida.

(D) expressar a profunda comunhão com alguém que continua vivo na sua memória.

5. Nas orações «que nunca ninguém me tocou como ela» (linha 31) e «que eu não conhecia» (linha 35), as palavras sublinhadas são

(A) um pronome, no primeiro caso, e uma conjunção, no segundo caso.

(B) uma conjunção, no primeiro caso, e um pronome, no segundo caso.

(C) pronomes em ambos os casos.

(D) conjunções em ambos os casos.

6. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:

a) «de papéis» (linha 16);

b) «que aquela pessoa era ela» (linha 29).

7. Indique o valor aspetual veiculado por cada uma das expressões seguintes:

a) «Quando eu era pequeno tinha a Gija» (linhas 20 e 21);

b) «Desapareceu da minha vida de repente» (linhas 22 e 23).

 

Chave de correção:

1-A; 2-D; 3-C; 4-D; 5-B. 6. a) Complemento do adjetivo; b) Complemento direto. 7. a) (valor aspetual) imperfetivo; b) (valor aspetual) perfetivo.

Fonte: Exame Final Nacional de Português n.º 639 – Ensino Secundário, 12.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). República Portuguesa – Educação / IAVE– Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2019, 2.ª Fase (versão 1)

 


CARREIRO, José. “E no seu nome esperarão as gentes (S. Mateus/Carlos Queirós)”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 04-04-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/04/e-no-seu-nome-esperarao-as-gentes-s.html


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

E por vezes, David Mourão-Ferreira

“E por vezes” dito por Beatriz Batarda. Produções Fictícias, 2005

 

E por vezes

 

E por vezes as noites duram meses

E por vezes os meses oceanos

E por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos        E por vezes

 

encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes

 

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

 

E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se evolam tantos anos

 

David Mourão-Ferreira, Matura idade [1966-1972]. Lisboa, Arcádia, 1973



 

 

Questionário sobre o poema “E por vezes”, de David Mourão-Ferreira

1. Destaca a anáfora presente no poema.

1.1. Explicita os valores dessa anáfora.

2. Indica a ideia transmitida pelo sujeito poético neste poema.

3. Identifica o tempo verbal que predomina no poema.

3.1. Explicita o valor expressivo desse tempo verbal.

4. Identifica os recursos expressivos presentes nos versos seguintes.

a) "E por vezes sorrimos ou choramos"

b) "ao tomarmos o gosto aos oceanos"

5. Explica o sentido dos dois últimos versos do soneto.

6. Completa o texto lacunar acerca do poema "E por vezes".

choro   devagar,   espírito   experienciada   mudança   tempo

 

Neste poema, o sujeito poético reflete acerca da vivencia humana do ___. Assim, a passagem do tempo é ____ por cada pessoa consoante o seu estado de ____ - ora passa muito ____, ora passa depressa. Provocando em nós a ____ e o esquecimento. A consciência de que o tempo passa provoca em nós sentimentos fortes, que no levam ao ___ e ao riso.

 



Proposta de correção:

1. Repetição da expressão “E por vezes” no início de vários versos sucessivos.

1.1. A repetição da expressão "e por vezes" relaciona-se com a temática do poema: o tempo e a forma como o vivemos.

Por um lado, realça como ele nos surpreende e como parece extinguir-se ou prolongar-se, conforme o nosso estado de espírito; por outro, destaca a sucessão ininterrupta de vivencias que se convertem em memórias.

2. O sujeito poético transmite a ideia de que a perceção do tempo varia conforme o seu estado de espírito e o momento que está a viver.

3. O tempo verbal predominante é o presente do indicativo.

3.1. O presente do indicativo sublinha que essa ideia de que a perceção do tempo depende de cada indivíduo é uma verdade intemporal.

4. a) Antítese

b) Metáfora

5. Os dois últimos versos do soneto encerram-no transmitindo de forma muito clara a ideia que o atravessa.

De facto, o tempo é sentido psicologicamente, isto é, horas, minutos e segundos condensam-se ou diluem-se em função da importância e do significado de cada momento.

6. Neste poema, o sujeito poético reflete acerca da vivencia humana do tempo. Assim, a passagem do tempo é experienciada por cada pessoa consoante o seu estado de espírito - ora passa muito devagar, ora passa depressa. Provocando em nós a mudança e o esquecimento. A consciência de que o tempo passa provoca em nós sentimentos fortes, que no levam ao choro e ao riso.

 

Fonte: Projeto #EstudoEmCasa – Aula n.º 62 de Português dos 7.º e 8.º anos sobre os poemas "Impressão digital" (António Gedeão), "E por vezes" (David Mourão-Ferreira), 2021-06-25.

Assistir à aula da Professora Tereza Cadete Sampainho, em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7828/e553778/portugues-7-e-8-anos - inicia ao minuto 14’29’’

 







 


CARREIRO, José. “E por vezes, David Mourão-Ferreira”. Portugal, Folha de Poesia, 23-11-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/11/e-por-vezes-david-mourao-ferreira.html



terça-feira, 22 de novembro de 2022

Impressão digital, António Gedeão


 

 Impressão digital


 

 

 

 

5

 

 

 

 

 

10

 

 

 

 

 

15

 

 

 

 

 

20

 

 

 

Os meus olhos são uns olhos.

E é com esses olhos uns

que eu vejo no mundo escolhos1

onde outros, com outros olhos,

não veem escolhos nenhuns.

 

Quem diz escolhos diz flores.

De tudo o mesmo se diz.

Onde uns veem luto e dores

uns outros descobrem cores

do mais formoso matiz2.

 

Nas ruas ou nas estradas

onde passa tanta gente,

uns veem pedras pisadas,

mas outros, gnomos e fadas

num halo3 resplandecente.

 

Inútil seguir vizinhos,

querer ser depois ou ser antes.

Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho4 vê moinhos

D. Quixote vê gigantes.

 

Vê moinhos? São moinhos.

Vê gigantes? São gigantes.

 

António Gedeão, Obras Completas, 2.ª ed., Lisboa, Relógio D’Água Editores, 2007

_____________

NOTAS:

1 escolhos – simbolizam perigos ou obstáculos, uma vez que o seu significado objetivo é penhasco completamente escondido ou só à superfície do mar.

2 matiz – combinação de tons variados de uma mesma cor.

3 halo – zona ou círculo luminoso que envolve ou rodeia alguém ou alguma coisa.

4 Sancho – Sancho Pança e Dom Quixote são duas personagens da obra Dom Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes. Dom Quixote é um fidalgo sonhador e fantasioso, enquanto o seu escudeiro Sancho tem uma visão realista do mundo.

 

***

I – Conhece a opinião de Carminho sobre o poema “Impressão digital”, de António Gedeão:

 


Seleciona a opção correta para completares as afirmações.

1. A adaptação do poema a uma melodia foi

a) feita por um músico.

b) espontânea para Carminho.

 

2. Carminho considera que o poema aborda

a) a identidade do sujeito poético.

b) a pluralidade de opiniões.

 

Chave de correção: 1.b; 2.b.

Fonte: Projeto #EstudoEmCasa – Aula n.º 62 de Português dos 7.º e 8.º anos sobre os poemas "Impressão digital" (António Gedeão), "E por vezes" (David Mourão-Ferreira), 2021-06-25.

 

II - Esquema interpretativo do poema “Impressão digital”, de António Gedeão

 



Fonte: Projeto #EstudoEmCasa – Aula n.º 62 de Português dos 7.º e 8.º anos sobre os poemas "Impressão digital" (António Gedeão), "E por vezes" (David Mourão-Ferreira), 2021-06-25.

Assistir à aula da Professora Tereza Cadete Sampainho, em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7828/e553778/portugues-7-e-8-anos

 

***

III - Questionário sobre o poema “Impressão digital”, de António Gedeão

1. Explicita o contraste que o sujeito poético estabelece entre ele e alguns ("uns") e "os outros".

2. Identifica os recursos expressivos que concretizam esse contraste.

3. Explicita o sentido do verso «Cada um é seus caminhos.» (v. 18), relacionando-o com o título do poema.

4. Justifica a alusão a D. Quixote e a Sancho.

5. Relê a terceira estrofe do poema.

5.1. Classifica-a quanto ao número de versos.

5.2. Divide o terceiro verso dessa estrofe de acordo com as sílabas métricas, numerando-as.

 

Explicitação de cenários de resposta:

1. O sujeito poético destaca as diferenças entre a sua forma de ver a realidade e a dos outros.

Enquanto ele vê "no mundo escolhos", isto é, dificuldades e obstáculos, os outros não tem a mesma opinião. A realidade pode de facto ser encarada com o otimismo que vê "cores do mais formoso matiz" ou com o pessimismo de quem vê " luto e dores".

2. Esse contraste concretiza-se através de antíteses que opõem o otimismo ao pessimismo de forma metafórica, tal como se verifica nos seguintes versos: "uns veem pedras pisadas,/mas outros, gnomos e fadas".

3. O verso «Cada um é seus caminhos» sugere a ideia de que os percursos e as experiências que cada pessoa vai acumulando ao longo da vida determinam a sua individualidade. Neste sentido, são esses «caminhos» que constituem a sua «impressão digital», isto é, a sua singularidade.

Relaciona o título do poema de António Gedeão com a sua temática.

O título deste poema, "Impressão digital", refere-se à identidade exclusiva de cada ser humano e consequentemente remete para o tema nele abordado.

Ao longo do poema, o sujeito poético transmite a ideia de que cada ser humano vê a realidade de forma muito própria e individual, em função das suas experiências e da sua identidade. Da mesma maneira que cada ser humano tem a sua impressão digital, tem também a sua visão do mundo e da realidade.

Assim, segundo este poema, a perspetiva de cada ser humano depende claramente da sua identidade, sendo a sua "impressão digital".

4. D. Quixote e Sancho (Pança) são as personagens principais do romance de cavalaria de Miguel Cervantes.

A alusão a ambas prende-se com o facto de D. Quixote ter uma visão fantasiosa da realidade, enquanto Sancho era objetivo e via a realidade nua e crua.

São exemplos do que o sujeito poético pretende realçar: a diversidade de perspetivas.

5.1. Quintilha (quinteto)

5.2. «uns/ ve/em/ pe/dras /pi/sa/(das)» (7 sílabas métricas).

 

Adaptado de: 

Projeto #EstudoEmCasa – Aula n.º 62 de Português dos 7.º e 8.º anos sobre os poemas "Impressão digital" (António Gedeão), "E por vezes" (David Mourão-Ferreira), 2021-06-25. 

Prova Final de Português n.º 91 - 3.º Ciclo do Ensino Básico (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). Portugal, IAVE-Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2016, 2.ª Fase

 

GEDEÃO, António, pseud.
Impressão digital / [António Gedeão]. – 1955 Maio. 3. – [2] p. 1 f. ; 16,5 x 9,6 cm
Autógrafo a tinta azul, com emendas e acrecentos. – 1.º v.: «Os meus olhos s[ão] uns olhos.». Numerado com «15» e «[4]» nos cantos superiores direito e esquerdo. – Inclui, abaixo do título, a lápis, a nota de Natália Nunes: «[Public. em Movimento Perpétuo, 1956]». V. p. 11-12.
BN Esp. E40/cx. 13
Disponível em: https://purl.pt/12157/1/poesia/movimento-perpetuo/impressao-digital1.html



CARREIRO, José. “Impressão digital, António Gedeão”. Portugal, Folha de Poesia, 22-11-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/11/impressao-digital-antonio-gedeao.html