A guerra que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
A guerra, que aflige com os seus
esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer
alterar e alterar muito
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por
nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra
prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros
homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas,
deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos
esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química direta da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo
povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque
usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a
humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo
no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do
Universo!
24-10-1917
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando
Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
[…] refira-se que Fernando Pessoa, Álvaro de Campos,
Ricardo Reis e Alberto Caeiro escreveram um número indeterminado de poemas,
talvez duas dezenas, sobre o tema da guerra, parte deles em 1915-1917. Neles o
autor aparece sempre não como um ideólogo ou um pensador político, mas como alguém
imparcial e “comovido com os sofrimentos inúteis dos povos e dos indivíduos”.
Esta apreciação é de Georg Rudolf Lind, no seu já aqui citado artigo de 1972 em
que se debruçou sobre apenas oito desses poemas (1981: 445‑447). Desde esse
estudo pioneiro, outros poemas e fragmentos de poemas sobre a guerra surgiram
da arca pessoana, com matéria suficiente para novos estudos sobre o mesmotema.Nãonosocupamosdesteassuntoaqui,massimdopensamentopolíticoousociológicodeFernandoPessoasobreaguerra.Foi,noentanto,comalgumasurpresaquecotejámosessapoesiacomasprosaspessoanassobreaGrandeGuerra.OpoetaFernandoPessoapreocupa-secomadorhumana,comasvítimasinocentesqueaguerrafaz,comoabsurdodasmortesvãsecomamonstruosadesumanidadequeaguerradespertanoshomens.Tenhamosemmentetrechosda“OdeMarcial”deÁlvarodeCamposouospoemasdoortónimocomo“Omeninodesuamãe”e“Tomámosaviladepoisdeumintenso bombardeamento”.16AlbertoCaeiro,porsuavez,condenaexpressamenteaguerra,todasasguerras,numpoemacaracteristicamentepacifista,“Aguerra,queafligecomseusesquadrõesomundo...”(Pessoa,1994:142)17.OraopensadoreensaístaFernandoPessoanuncasepreocupacomessesaspetos.Defendeodireitodaforça,porque‒diz–nãohánempodehaverumtribunalquejulgueasnaçõesouosEstados.18ABélgicamártirnãolheinspiracompaixão,porqueaBélgicaseria“umEstadoabsurdo”,semrazõesparaexistir.19Quantoaosgasesasfixiantesusadospelosalemães,justifica-os:“Repare-sequeaAlemanhalutapelavida,comtudocontrasi...”(inPizarro,2006:107).20Numtextoaqueadiantevoltaremos,PessoachamamesmoàAlemanha“gloriosoimpérioconstruídoasangueefogo, gloriosodedurezaeimpassibilidade”.ParaopensadorPessoa,aguerraématériadereflexãoracional,queeledizpretenderanalisarcomafriezadeumsociólogo,semcedênciasasentimentoshumanitáriosnempartisprispatrióticos.“Escrevocomosenãotivessealma,masapenaspensamento”–fazdizerPessoaaAntónioMorana“DissertaçãoafavordaAlemanha”(BNP/E3,28-18r,veraquiFig.3). Nessequadro,ossentimentos,asideiashumanitáriasouopacifismodesinteressamaPessoa,quesóosconsidera,eventualmente,comoobjetosdeanálisecrítica.Àdiferençadeoutrospoetasmodernistaseuropeus,Pessoanuncafez poesiabelicista ou exaltadora da guerra21, masna prosa
ensaísticaque produziu durante a Grande Guerra
assumiu uma clara insensibilidade aos horrores da guerra.
Notas:
16 A“OdeMarcial”,atribuídaaÁlvarodeCamposedeixadainédita,édatávelde1914-‐‑1915‒ver Pessoa(2014:152-163e620-625).Osoutrosdoispoemasforampublicadosapenasnadécadade1920(Pessoa,1926e1929),masLind(1981:440)sustentaque foram escritos durante a GrandeGuerra.Talhipótesenãoseconfirma,jáquepelomenosopoema“Tomámosaviladepoisdeumintensobombardeamento”estádatadonooriginalmanuscritode21‑6‑1929(BNP/E3,118-57r).
20OpiniãosemelhantefoientãoexpressaporJúlioDantas.Falandosobreosgasesdeclorousadoscomoarma pelos alemães,escreveu:“Um povo
como o alemão,quando joga,numa cartadasuprema,oseudestinoeasuavida,nãopodeescolher,generosamente,osprocessosdeextermínioqueadopta.[...]Devemosconcluir,porisso,queéignóbilaAlemanha?Não.Oqueéignóbiléaguerra”(Dantas,1915:609).
21Dúvidassobreestaafirmaçãopoderãosurgirlendoopoema“Napontadecadabaionetaluzemos olhos
de
Kant..."ʺ
(BNP/E3,
144X‑66r), publicado em Pizarro (2006:
104),
e
certos
trechos
de
rascunhoparaa “OdeMarcial”,como “Aveguerra,som daluz edofogo...”
(BNP/E3,64-‐‑42r), publicadoemPessoa(2014:359),masnãosão,anossover,casosclarosdepoesiaexaltadorada guerra.
Os
problemas políticos do tempo de Fernando Pessoa também o interessaram muito, pois
conforme ele próprio afirma, “todas as questões sociais , todas as perturbações
políticas, por pouco que com elas nos preocupemos, entram no nosso organismo
psíquico, no ar que respiramos psiquicamente, passam para o nosso sangue
espiritual, passam a ser, inquietamente, nossas como qualquer coisa que seja
nossa”.1 Por isso, Fernando Pessoa escreveu muitos textos sobre
várias questões sociais e perturbações políticas, e de que ele fala e critica também
nos seus textos literários, que estão reunidos
neste livro : a nível internacional, por exemplo o colonialismo inglês, a
escravização da Etiópia pela Itália, a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa de 1917, e o fascismo de
Mussolini. A nível nacional, a crise final da Monarquia, a instauração da República,
os Governos saídos da República, o consulado do Presidente Sidónio Pais, o seu
assassinato e o período subsequente, a intentona militar de 18 de Abril de
1925, a agonia da Primeira República, a Ditadura Militar, o Estado Novo,
Salazar, e outras personalidades políticas portuguesas (João Franco, Afonso
Costa, etc.).
Além de
literatura sobre política, Fernando Pessoa também escreveu ensaios sobre
política (já publicados). No entanto, nem mesmo nos seus ensaios sobre política
(como aliás sobre qualquer outro tema), existe um pensamento sistematizado, mas
antes uma mistura de assuntos, muito dispersos, sem sequência lógica, e por
vezes contraditórios. Fernando Pessoa tem textos que revelam ser um
nacionalista, e outros um internacionalista, uns em que mostra simpatia pelo
liberalismo, e outros em que o critica, e até mesmo em relação ao comunismo,
que ele critica em alguns dos seus textos, diz o seguinte : “Serve melhor à
pátria um grande poeta comunista ou imoral, que um pobre diabo que escreve
poemas elogiosos sobre a batalha de Aljubarrota” (apesar de Fernando Pessoa ser
um nacionalista). Nenhum dos seus textos sobre política permite extrair a
conclusão de que ele era desta ou daquela ideologia política, pois tanto pode
falar bem como mal de determinados assuntos políticos, como sucedeu por exemplo
em relação ao liberalismo. Conforme o próprio Fernando Pessoa afirma, um
escritor ao ocupar-se de política “deve fazer o possível, se quer estar de
acordo com o seu mister, por compensar a oscilação num sentido por uma
oscilação no oposto. O ideal de um escritor consciente do seu mister, e que
porventura escreva sobre política, é apresentar um dia os aspetos positivos, ou
negativos, de uma doutrina, no outro dia os aspetos positivos, ou negativos, da
doutrina oposta. Aos políticos pertence o estarem fixos num ou outro polo do
assunto. É este o mister deles, políticos.”2
Em todo o
caso, após mergulharmos a fundo na sua vasta obra, conseguimos extrair algumas
conclusões, bastando ler aliás a sua
obra literária: era contra as tiranias políticas, o totalitarismo, as guerras,
o comunismo, o fascismo, o salazarismo, o colonialismo, e o imperialismo, e apesar da sua educação inglesa, criticou
também o imperialismo britânico (por exemplo
nos poemas reunidos neste livro). Mesmo quase no final da sua vida,
quando a invasão da Etiópia era anunciada pelo regime de Mussolini, com o
argumento da existência de escravatura naquele país, escondendo esse argumento os
interesses económicos e políticos do imperialismo italiano, invasão essa que que
de facto chegou a acontecer, Fernando Pessoa criticou a Itália, conforme se
pode ver no seu poema Dizem que vão
apresentar, incluído no presente livro.
Inicialmente
Fernando Pessoa simpatizou com o período político autoritário que deu origem
ao Estado Novo em Portugal, cuja
defesa fez no seu texto O Interregno,
mas nele fazia a defesa de um “Estado de transição”, como a própria palavra indica,
interregno esse para serenar os ânimos, necessário para acalmar as lutas
existentes em Portugal entre Monárquicos e Republicanos, e as sucessivas quedas
de Governos, e para fazer face à onda de estrangeirismo e à quebra do orgulho
nacional, mas que conduzisse a um regime político que não se poderia basear na
força nem na autoridade, mas sim na opinião. Porém, ao verificar que o Estado Novo
continuava, Fernando Pessoa escreveu que “O
Interregno devia ser considerado como não existente”, e que “há que rever
tudo isso e talvez que repudiar muito”, e noutro texto disse sobre o texto O Interregno: “Dou esse escrito por não
escrito”. Ao ir conhecendo melhor aquilo que era o Estado Novo, tornou-se um crítico severo
desse regime político, e de Salazar, assim com das ditaduras fascistas na Europa,
como a de Mussolini, e de Hitler. Um dos melhores exemplos foi o seu empenho em
criticar a proibição das Associações Secretas, feita pelo Estado Novo, sobre a qual escreveu e polemizou, e que rompeu definitivamente
com o Estado Novo.
Notas:
1Sensacionismo e outros ismos, Lisboa, Ed. Imprensa Nacional Casa a Moeda,
2009, p. 187.
2BNP/E3,
92A – 7r
Fernando
Pessoa, Obra literária sobre política (org. de Victor Correia), Lisboa, Ed.
Sinapis, 2019.
Ainda que o assunto da ode
não seja imediatamente percetível, é importante estabelecer desde logo que
aquilo a que Reis renuncia logo no primeiro terceto, preferindo-lhes rosas e
magnólias, é à guerra. Ao contrário do que acontece noutros momentos da sua obra,afamaemcausanãoéaquiafamaqueresultadaatividadepoéticamasantes,comoo
comprovaaproximidadecomasoutrasduascoisasquenãointeressamaReis(apátriaeavirtude),afamaqueresultadasvirtudesmilitaresdemonstradasemdefesadapátria.Selida,aliás,ladoaladocomaoutraodeemquestão,umaodeemqueosdois
protagonistaspreferemmanteraconcentraçãonumjogodexadrezmesmoquandoapátria
quesupostamentedeveriamdefenderéinvadidaporumagressorestrangeiro,essacircunstânciapareceadquirirplausibilidade.Vendoaindaque,naterceiraestrofe,Reisdefendequenãoimporta“queumpercaeoutrovença”,talplausibilidadepassaacerteza.
Aodeé,deresto,maisumainvectivadirigidaaHorácio,nestecasoàexortaçãomarcialàmaneiradeTirteuqueéaodeIII.2e,muitoconcretamente,
ao
famosíssimo
décimoterceiroversodessaode:“doceebeloémorrerpelapátria”[dulceetdecorumpropatriamori](Od.,III.2).AsduasodesdeReis,aliás,evidenciamumaaversãoàatitudebélicacelebradaporHorácionessaodequeganhaemsercompreendidaàluzdeumacontecimentorecentíssimoaquandodaproduçãodelas,a1deJunhode1916:menosdetrêsmesesantes,a9deMarço,aAlemanhadeclararaoficialmenteguerraaPortugal.AocontráriodeHorácio,Reisnãoestáinteressadoemexibiroseupatriotismo,nãopretendealcançarafamaquesesegueaessaexibiçãoeencontramenosvirtudesemprocederdessemododoqueemcolherflores.Aguerraéinútil,poisavidacontinuaqualquerquesejaoseudesfecho.Assimsendo,épreferíveldeixarqueavida(eaguerra)onãocanse,passandoporelesemomodificar.AúnicacoisadequeReisnãoabdica,comoselênofinaldaode,éodesejodeindiferençaea“confiançamolle”(RR133)napassagemdotempo,aquiloque,justamente, constitui
aatitudequeAntónioMorarepudiaeaquiloquesobressaidolazer
a
que
os
jogadores
dexadrez,nasegundaodequeimportadiscutir,seconsagramcomindefectíveldevoção.
Ora,“OsJogadoresdeXadrez”(BNP51-25ra26r)édiferentedetodasasoutrasodesdeReisnamedidaemquenãoébemumaode:alémdenãodialogarcomumasegundapessoa,comoéhábito,Reisabusainvulgarmentedadescrição,contrariandoa tendêncianormalnasuaobra,talvezadquiridaporPessoao ter feito médico, para a prescrição.
Oepodo–éassimqueMoraserefereaopoema–começacomumaestrofequemaisnãoédoqueomotedasrestantes,namedidaemqueanunciademodomuitoabreviadooquedepoisserá descrito empormenor.Nessa estrofe,Reis diz ter ouvidocontar uma história antiga,“quandoaPérsia/tinhanãoseiqualguerra”(RR129),sobre“doisjogadoresdexadrez”que“jogavam/oseujogocontínuo”enquanto“ainvasãoardianaCidade/easmulheresgritavam”(RR130).Astrêsestrofesseguintessãoexclusivamentedescritivas,eapresentamadiferençaradicalentreatranquilidadedojogodexadrez(edosjogadoresquenelepermanecemconcentrados)eotumultodoquesepassavaàvolta.Assim,emcontrastecomasatrocidadesqueiamacontecendo(“ardiamcasas,saqueadaseram/asarcaseasparêdes, /violadas,asmulhereserampostas/contraosmuroscahidos,/trespassadasdelanças,as creanças/eramsanguesnasruas”),osjogadorespermaneciamfolgadamenteà“sombrade amplaarvore”fitando“otaboleiroantigo”erefrescando“asuasóbriasede”com“umpucarodevinho”.Emesmoqueomassacrelhesdesviasseaatençãodojogo,mesmoque“nasmensagensdoermovento/lhesviessemosgritos,/e,aoreflectir,soubessemcomacerto/queporcertoasmulheres/eastenrasfilhasvioladaseram/nessadistanciaproxima”,osjogadoresdexadrezrapidamente“volviam suaattentaconfiança/aotaboleirovelho”(RR 130).
Note-sequefazersucederàindiferençacomqueselidacomqueoquenoséexterior uma“attentaconfiança”aoutracoisaqualqueréexactamenteigualafazersuceder-lheuma“confiançamolle”(RR133),queéoqueReislhefazsucedernaúltimaestrofedaodequecomenteiantesdesta.Significaistoque aindiferençadosjogadoresdexadrez,como
adeReisemgeral,nãoépropriamenteaindiferençaestóica;àatitudedaindiferençasoma-seaatitudedaconfiança,sejaelaatentaoumole,numa
outra
coisa.
E,
tanto
na
ode
“Prefirorosas,meuamor,ápatria”comoem“OsJogadoresdeXadrez”,essaoutracoisaemquesedepositaaconfiançapertenceaumtempodiferente.SeaindiferençaqueReiseosjogadoresdexadrezmanifestamdizrespeitoaumpresentequelhessolicitaasvirtudesmarciais,aconfiançaque
se segue a essaindiferençaé direccionadaparaum
passado
qualquer,parauma“horafugitiva”(RR133)ouparaumtabuleirodexadrezquese
distingue
por
ser“antigo”ou“velho”(RR130).Astrêsestrofesqueseseguemrepresentam,decertomodo,essapassagemdaindiferençaàconfiança,enelasparecesersugeridoqueodeverdecada uméparacomojogoquejogaenadamais:
Quandooreidemarfimestáemperigo,
Queimportaacarneeoosso
Dasirmãsedasmãesedascreanças?
Quandoatorrenãocobre
Aretiradadarainhabranca,
Osaquepoucoimporta.
Equandoamãoconfiadalevaocheque
Aoreidoadversário,
Poucopesanaalmaquelálonge
Estejammorrendofilhos.
Mesmoque,derepente,sobreomuro
Surjaasanhudaface
D’umguerreiroinvasor,ebrevedeva
Emsangueallicahir
Ojogadorsolemnedexadrez,
Omomentoantesd’esse
Éaindaentregueaojogopredilecto
Dosgrandesindiff’rentes.
Caiamcidades,sofframpovos,cesse
Aliberdadeeavida,
Oshaverestranquilloseavitos
Ardemequesearranquem,
Masquandoaguerraosjogosinterrompa,
Estejaoreisemcheque,
Eodemarfimpeãomaisavançado
Promptoacompraratorre.(RR131)
Oquerealmenteéaflitivo,paraumjogadordexadrez,nãoésaberqueasirmãs,asmãeseascriançasestãoemperigo,que“lálonge/estejammorrendofilhos”ouqueacidadeestejaasersaqueada,masteroreiemxeque,nãopoderprotegeraretiradadarainhacomatorreounãoterpeçacomqueameaçaroreiadversário.Aprópriavidadojogadordexadrez,mesmoqueapoucosinstantesdefindar,nãoénadaemcomparaçãocomasolenidadedo “jogo predilecto/dos grandesindiff’rentes” a quese
deveentregar.
I - Questionário sobre o poema “Prefiro
rosas, meu amor, à pátria”, de Ricardo Reis.
1.
Compare a atitude do sujeito poético com a dos outros «humanos» (verso 13), tendo
em conta a oposição simbólica entre «rosas» e «magnólias», por um lado, e
«pátria» e «glória» e «virtude», por outro lado (versos 1 a 3).
2.
Interprete o sentido da segunda estrofe, à luz da filosofia de vida de Ricardo
Reis.
3.
Explicite, com base no conteúdo dos versos 7 a 18, dois aspetos que evidenciem
o modo como o sujeito poético perceciona a passagem do tempo.
Explicitação de cenários de resposta.
1. Compara
a atitude do sujeito poético com a dos outros «humanos», desenvolvendo dois
tópicos de resposta adequadamente:
‒
o sujeito poético opta pela adoção de uma atitude contemplativa/pela fruição do belo/natural/efémero («rosas» e
«magnólias»), recusando os valores da «pátria», da «glória» e da «virtude»;
‒
os outros «humanos» preferem a «pátria», a «glória»
e a «virtude», que representam o esforço/o
sofrimento/a entrega a causas (pessoais e sociais)/a constante busca de
superação.
2. Para
interpretar o sentido da segunda estrofe, à luz da filosofia de vida de Ricardo
Reis, devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente
relevantes:
‒
recusa das emoções fortes/busca da
tranquilidade/ataraxia («Logo
que a vida me não canse»–
v. 4);
‒
indiferença perante a passagem
do tempo («deixo / Que a vida por mim passe» – vv. 4-5);
‒
passividade/atitude contemplativa/ausência
de ação («Logo
que eu fique o mesmo.»– v. 6).
3. Para
explicitar o modo como o sujeito poético perceciona a passagem do tempo, com
base no conteúdo dos versos 7 a 18, devem ser abordados dois dos tópicos
seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒
passagem irreversível do tempo/tempo
perspetivado como duração,
patente na referência à repetição cíclica das estações do ano;
‒
circularidade do tempo cósmico,
o que é testemunhado na
natureza («Se a aurora raia
sempre» – v. 9; «Se cada ano com a primavera / Aparecem as folhas / E com o
outono cessam?» – vv. 10-12);
‒
preferência pelo momento
presente (carpe diem), através da valorização da «hora fugitiva» (v.
18);
‒
consciência da fugacidade
da vida («E a confiança mole /
Na hora fugitiva» – vv. 17-18).
II – Comentário do poema “Prefiro rosas, meu amor, à
pátria”, de Ricardo Reis
O comentário de um
texto literário orientado por tópicos de análise visa avaliar as competências
de compreensão e de expressão escritas.
Ao classificar o
comentário elaborado pelo examinando, o professor classificador deverá observar
o domínio das seguintes capacidades:
– compreensão do
sentido global do texto;
– interpretação do
texto através da identificação e da relacionação dos elementos textuais produtores
de sentido, na base de informação explícita e de inferências;
– seleção
diversificada de elementos textuais pertinentes e adequados ao desenvolvimento
dos tópicos enunciados;
– identificação de
processos retóricos/estilísticos e de aspetos formais, com avaliação dos
efeitos de sentido produzidos;
– relacionação do objeto
em análise com o seu contexto;
– construção de um
texto estruturado, a partir da articulação dos vários aspetos analisados;
– produção de um
discurso correto nos planos lexical, morfológico, sintático e ortográfico.
Elabore um
comentário do poema que integre o tratamento dos seguintes tópicos:
– importância das
marcas do tempo;
– relação
simbólica entre «rosas»-«magnólias» e «pátria»-«glória»-«virtude»;
– aspetos formais
e recursos estilísticos relevantes;
– traços gerais
da poética de Ricardo Reis.
Observação:
Relativamente ao terceiro tópico, são exigidos,
no mínimo, um aspeto formal e dois recursos estilísticos.
Explicitação de
cenário de resposta
Importância das marcas do
tempo
As marcas do
tempo, relevantes ao longo do texto, indiciam a centralidade da problemática do
tempo no poema. Assim:
– a predominância
dos verbos no presente do indicativo («Prefiro», «amo», «deixo», «importa», «raia»,
«Aparecem», «cessam», «Acrescentam», «aumentam» – vv. 1, 2, 4, 7, 9, 11, 12, 14
e 15), expressando o modo de ser e a filosofia do sujeito poético marcados pela
indiferença perante o correr do tempo («deixo / Que a vida por mim passe» – vv.
4-5);
– a representação
de um tempo que flui irreversivelmente, ainda que cíclico («a aurora raia sempre»
– v. 9; «Se cada ano com a primavera / Aparecem as folhas / E com o outono
cessam?» – vv. 10-12);
– a referência à
«hora fugitiva» (v. 18) como a única temporalidade vivenciada pelo sujeito
poético;
– ...
Relação simbólica entre
«rosas»-«magnólias» e «pátria»-«glória»-«virtude»
Pela sua beleza
fugaz e pela sua fragilidade, as flores simbolizam quer a beleza das coisas simples
e naturais quer a fugacidade e a precariedade da vida. Já «pátria», «glória» e «virtude»
correspondem a valores sociais, nobres e perenes, que conferem um sentido
elevado à existência e em nome dos quais luta o indivíduo numa tentativa de se
dignificar. Descrente de que essa busca de valores abstratos (o «resto [...]
que os humanos / Acrescentam à vida» – vv. 13-14) enriqueça a sua existência, o
sujeito poético rejeita tal busca e opta pela dedicação ao que é efémero, belo
e natural. (Em suma, a relação simbólica que se estabelece entre as flores
referidas e os valores enunciados é a de oposição entre natureza e sociedade.)
Aspetos formais e recursos
estilísticos relevantes
De entre os recursos
estilísticos presentes neste poema, salientam-se os seguintes:
– a apóstrofe
(«meu amor» – v. 1), pondo em evidência o destinatário do discurso poético;
– o hipérbato (v.
2), destacando a preferência pelo belo e efémero face aos valores sociais e morais;
– a anáfora
(«Logo que» – vv. 4 e 6), realçando a atitude de indiferença do sujeito perante
a vida;
– a antítese
(«perca» vs «vença» – v. 8; «Aparecem» vs «cessam» – vv. 11-12), salientando,
por um lado, o desinteresse do sujeito perante a derrota ou a vitória dos
«humanos», e, por outro, o carácter cíclico do tempo;
– a interrogação
(terceiro, quarto e quinto tercetos), correspondendo a um autoquestionamento retórico
do «eu», que afirma o seu modo de encarar a vida;
– a aliteração em
/s/ («canse», «passe», «vença», «Se», «sempre», «Se», «Aparecem», «cessam», «Acrescentam»,
«salvo», «indif’rença», «confiança» – vv. 4, 5, 8, 9, 10, 11, 12, 14, 16, 17), marcando
ao longo do poema uma toada melódica surda e sibilante;
– ...
Quanto aos aspetos
formais, salientam-se os a seguir indicados:
– composição
poética composta por seis tercetos, num total de dezoito versos;
– verso branco;
– estrofes
constituídas por um decassílabo e dois versos de seis sílabas;
– regularidade
métrica na construção de todos os tercetos (primeiro verso decassilábico e os
dois seguintes hexassilábicos);
– ...
Nota – Para a atribuição
da totalidade da cotação referente ao conteúdo deste tópico, é considerada
suficiente a apresentação de três elementos, sendo obrigatoriamente indicados
dois recursos estilísticos e um aspeto formal.
Traços gerais da poética de
Ricardo Reis
O poema revela
alguns traços representativos da poética de Reis. Exemplificando:
– a afirmação de
uma filosofia estoico-epicurista, patente na fruição que retira do instante e
na aceitação lúcida da inevitabilidade da morte;
– a preferência
pela efemeridade do presente, defendendo uma arte de viver assente no gozo moderado
do momento (seguindo o tema horaciano do carpe diem, furtando-se a
emoções intensas e a ideias que «Nada» lhe «aumentam na alma» – vv. 16 e 15);
– a atitude
contemplativa, o modo de estar distanciado e impassível, porque ciente da
fatalidade do destino e do devir humanos;
– arte poética
caracterizada pelo rigor neoclássico e sua complexidade sintática (conforme com
a formação classicista deste heterónimo de Fernando Pessoa);
- …
Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 138. 12.º Ano
de Escolaridade (Decreto-Lei n.º 286/89, de 29 de agosto). Curso Geral -
Agrupamento 4. Prova Escrita de Português A. Portugal, GAVE – Gabinete de
Avaliação Educacional, 2007, 2.ª fase
Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.
À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário,
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.
Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo do xadrez.
Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao reflectir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.
Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.
Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predilecto
Dos grandes indiferentes.
Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida,
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.
Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.
Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulsa dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.
O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória; a fama, o amor, a ciência, a
vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.
Ah! sob as sombras que sem querer nos
amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez,
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá por fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a
vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.
1-6-1916
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).
“A guerra que aflige
com os seus esquadrões o Mundo, Fernando Pessoa” in Folha de Poesia, José
Carreiro. Portugal, 11-07-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2019/07/a-guerra-que-aflige-com-os-seus.html
As
afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não
faças poesia com o corpo,
esse
excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua
gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são
indiferentes.
Nem
me reveles teus sentimentos,
que
se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O
que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não
cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O
canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não
é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O
canto não é a natureza
nem
os homens em sociedade.
Para
ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A
poesia (não tires poesia das coisas)
elide
sujeito e objeto.
Não
dramatizes, não invoques,
não
indagues. Não percas tempo em mentir.
Não
te aborreças.
Teu
iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas
mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem
na curva do tempo, é algo imprestável.
Não
recomponhas
tua
sepultada e merencória infância.
Não
osciles entre o espelho e a
memória
em dissipação.
Que
se dissipou, não era poesia.
Que
se partiu, cristal não era.
Penetra
surdamente no reino das palavras.
Lá
estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão
paralisados, mas não há desespero,
há
calma e frescura na superfície intata.
Ei-los
sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive
com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem
paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera
que cada um se realize e consume
com
seu poder de palavra
e
seu poder de silêncio.
Não
forces o poema a desprender-se do limbo.
Não
colhas no chão o poema que se perdeu.
Não
adules o poema. Aceita-o
como
ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no
espaço.
Chega
mais perto e contempla as palavras.
Cada
uma
tem
mil faces secretas sob a face neutra
e
te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre
ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste
a chave?
Repara:
ermas
de melodia e conceito
elas
se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda
húmidas e impregnadas de sono,
rolam
num rio difícil e se transformam em desprezo.
Carlos Drummond de Andrade,
A rosa do povo, 1945
Jorge de Sena
***
Uma das
constantes na obra poética de Carlos Drummond de Andrade é o questionamento da
própria poesia. Os versos transcritos retratam justamente a terceira
fase de labor artístico de Carlos Drummond, fase essa em que passado o
medo e a indignação oriundos dos tempos pós-guerra, ele resolveu mostrar sua
face oculta. Face essa em que ele se volta para um questionamento metafísico,
posicionando-se de forma reflexiva acerca de algumas questões voltadas para a
condição humana, tais como a morte, a vida, cujas respostas eram encontradas
por meio do próprio fazer poético. Para
ele, a palavra representava a matéria-prima para satisfazer os seus reais
objetivos, pois era nela que encontrava um campo fecundo para desenvolver “seus
experimentos”, digamos assim, enquanto cientista observador das questões
humanas.
No
contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que
se penetre “no reino das palavras”, presentes no poema, indicam que, para o
poeta de A rosa do povo, as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter
em conta o que é próprio da linguagem.
Um dos
temas mais relevantes do livro A Rosa do Povo é a questão social, presente em
poemas que discutem o contexto da Segunda Guerra Mundial ou a reificação na
sociedade burguesa. Contudo, os dois poemas que abrem a obra apresentam
temática metalinguística: “Consideração do Poema” e “Procura da Poesia”. Neste
último, o poeta acentua o caráter autônomo do universo poético: por mais que
trate de questões relativas ao mundo concreto, a verdadeira poesia não pode
prescindir do trabalho íntimo e constante com a linguagem.
Embora o
enunciado da alternativa correta afirme que “as intenções sociais da poesia não
a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem”, pode-se argumentar
que não são exatamente as “intenções sociais” que não dispensam as questões
relativas à linguagem. Antes pelo contrário: a essência da poesia, tal como
está no texto, faz de todos os outros temas e assuntos seus possíveis objetos.
Este poema
é dividido em duas partes. Na primeira, apresentam-se proibições sobre o que
não deve ser a preocupação de quem estiver pretendendo fazer poesia. Sua
matéria-prima, de acordo com o raciocínio exibido, não são as emoções, a
memória, o meio social, o corpo.
Na
segunda, parte explica-se qual é a essência da poesia: o trabalho com a
linguagem. O poema pode até apresentar temática social, existencial,
laudatória, emotiva, mas tem de, acima de tudo, dar atenção à elaboração do
texto, ou seja, saber lidar com a função poética da linguagem.
A
primeira estrofe do poema de Carlos Drummond de Andrade expressa uma proposta
de criação poética que difere da proposta poética romântica, pois há uma ideia
de que a poesia não deve ser buscada nos temas quotidianos ou sociais, ou seja,
a criação poética não pode ser encontrada na subjetividade do eu criador ou na
objetividade do real observado, mas deve ser o resultado de um esforço de
elaboração que passa pelo trabalho estético com as palavras.
Com isso,
vemos que a proposta de criação de Drummond difere daquela apresentada pelos
românticos em geral, pois estes defendiam a poesia como sinônimo de
"expressão da subjetividade".
Marlene Correia, “A
poética da pedra” in Drummond: a magia lúcida, Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Ed., 2002
“A Procura da Poesia, Carlos
Drummond de Andrade” in Folha de Poesia, José Carreiro.
Portugal, 04-07-2019. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2019/07/a-procura-da-poesia-drummond.html